Discurso durante a 121ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Posicionamento contrário ao projeto de lei que permite a privatização da empresa de distribuição e geração de energia do Estado do Amazonas (AM).

Comentário acerca da mudança de cores na campanha eleitoral de Fernando Haddad à presidência da República.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINAS E ENERGIA:
  • Posicionamento contrário ao projeto de lei que permite a privatização da empresa de distribuição e geração de energia do Estado do Amazonas (AM).
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Comentário acerca da mudança de cores na campanha eleitoral de Fernando Haddad à presidência da República.
Aparteantes
Ana Amélia, Lídice da Mata.
Publicação
Publicação no DSF de 17/10/2018 - Página 29
Assuntos
Outros > MINAS E ENERGIA
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • CRITICA, PROJETO DE LEI, OBJETO, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA, PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, ENERGIA ELETRICA, LOCAL, ESTADO DO AMAZONAS (AM), COMENTARIO, EXCESSO, PREÇO, MOTIVO, ORIGEM, ENERGIA, USINA TERMOELETRICA, RESULTADO, SUBSIDIO, EMPRESA PRIVADA.
  • COMENTARIO, ALTERAÇÃO, COR, CAMPANHA ELEITORAL, FERNANDO HADDAD, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CRITICA, CANDIDATO, JAIR BOLSONARO, PROPOSTA, PREVIDENCIA SOCIAL, TRABALHADOR, ZONA URBANA, ZONA RURAL, DEFESA, BANCOS, EMPRESARIO.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso.) – Presidente, Senador Cristovam, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, companheiros e companheiras, eu quero iniciar esta minha breve participação da tribuna, Sr. Presidente, falando novamente da pauta de votação do dia de hoje.

    Continua na pauta o Projeto de Lei da Câmara de nº 77, de 2018, um projeto, Sr. Presidente, que, se aprovado, viabilizará a privatização da empresa de distribuição e geração de energia do meu querido Estado do Amazonas. O Projeto de Lei 77, de 2018, era para ter sido votado, segundo vontade do Governo Federal de Michel Temer e toda a sua base aliada, ainda antes do período do primeiro turno destas eleições.

     Conseguimos que esse projeto ficasse para depois e, mais uma vez, Senador Cristovam, eu quero, daqui desta tribuna, fazer um apelo ao Presidente do Senado Federal, Eunício Oliveira, que tem sido muito firme em suas posições, e a V. Exas., os meus colegas Parlamentares: nós não podemos votar um projeto de tamanha envergadura num momento em que o Brasil se prepara para tomar uma das suas principais decisões, que é a eleição, a escolha de quem será o futuro Presidente do Brasil.

    Esse projeto é extremamente grave, Srs. Senadores, Sras. Senadoras. Grave, porque grave é a situação da empresa de distribuição de energia e geração, a Amazonas Energia.

    E eu explico por que: o Estado do Amazonas, apesar de estar interligado ao sistema nacional de energia elétrica, só tem a sua interligação feita ao Município de Manaus e alguns pouquíssimos Municípios da região metropolitana. A maior parte das cidades do Estado do Amazonas tem a sua energia gerada a partir de pequenas usinas termelétricas, a partir do uso do óleo diesel, Sr. Presidente, que é uma energia extremamente cara. É muito mais caro o custo para a geração e distribuição do que o valor, Senadora Regina, cobrado dos usuários. Portanto, privatizar a Amazonas Energia nessa situação significa dar a garantia de subsídios para que empresas privadas recebam lucros, Sr. Presidente, porque eu aqui estou dizendo: o custo de produção e distribuição da Amazonas Energia, Senador Cristovam, para V. Exa. ter uma ideia, é, em média, de R$1,2 mil a R$1,3 mil. Pois bem, os usuários, aqueles que utilizam energia elétrica, pagam em torno de R$250 a R$300 o megawatt, ou seja, o Governo, a população brasileira entra com mais de R$1 mil de subsídios. E é essa empresa que querem privatizar. Aí eu pergunto: é correto cobrar de todos os consumidores brasileiros que paguem o lucro de empresas privadas? Não podemos, Sr. Presidente!

    Além do mais, este Projeto 77 busca sanear a situação financeira da empresa Amazonas Energia. E sanear de que forma? Jogando a dívida, que supera a casa dos R$20 bilhões, para ser paga pelos consumidores, em grande parte, e a outra parte pelo próprio Governo Federal.

    Então, mais uma vez, eu faço um apelo: não dá para se votar este projeto de lei no dia de hoje, porque nós não podemos deixar que a Amazonas Energia, repito, que é uma empresa deficitária, seja privatizada, Sr. Presidente. Então, faço o apelo novamente ao Presidente Eunício e ao Plenário desta Casa para que não votemos esse projeto de lei pelo menos até o resultado das eleições presidenciais.

    Mas, Sr. Presidente, em relação às eleições, eu quero dizer que ouvi com muita atenção todos os pronunciamentos feitos aqui a respeito das eleições. E mais do que isso, Sr. Presidente: ouvi aqui – veja V. Exa., olhe os argumentos que utilizam – que, agora, a candidatura do Haddad está mudando de cor, a candidatura do Haddad está abandonando a Bandeira do Brasil. Isso é argumento, Sr. Presidente? Eu queria que essas pessoas, em vez de subirem à tribuna para falar essas bobagens, falassem a respeito das ideias e do programa de Bolsonaro, que defende uma previdência, Senadora Lídice, diferenciada entre trabalhadores da cidade e trabalhadores do campo, que defende – esse candidato –, Senadora Regina, que mulher deva receber um salário menor porque engravida, porque tem que cuidar desses filhos.

    Isso seria muito mais producente para com a sociedade brasileira.

    Mas vamos lá, Sr. Presidente. Eu peguei aqui a propaganda...

(Intervenção fora do microfone.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Lamentavelmente, Senadora Ana Amélia. Após a conclusão do meu pronunciamento, eu concederei o aparte a V. Exa. Portanto, V. Exa. terá o direito.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – É porque...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Não, terá o direito; mas, assim como fez o Senador Cristovam, que esperou V. Exa. concluir para que lhe desse o aparte, da mesma forma eu agirei.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Tenha certeza de que não direi bobagens, Senadora.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Da mesma forma eu agirei com V. Exa. Eu não citei o seu nome. Se a carapuça lhe serviu, paciência, Senadora Ana Amélia. Repito aqui.

    Então, veja bem: aqui a campanha de Lula à Presidência da República em 1998 – quando, aliás, quem venceu as eleições foi Fernando Henrique Cardoso, não foi Lula –, olhe as cores da campanha do Presidente de Lula. Porque não basta falar, tem que mostrar o que fala.

    Mas vamos seguir a campanha vitoriosa de Lula no ano de 2002, quando foi eleito Presidente do Brasil: as cores da Bandeira brasileira, Senadora Regina. Está aqui: campanha de 2002. E, ao lado, o símbolo do seu partido, vermelho, o Partido dos Trabalhadores.

    Aliás, o meu partido também tem um símbolo vermelho. Eu não sou do PT, eu sou do PCdoB. Mas está aqui, olhe: as cores da campanha vitoriosa, Senadora Lídice, de Lula em 2002.

    Mas vamos para 2006. Da mesma forma, reeleição do Presidente Lula. O número 13, aliás, não era nem posto em vermelho, era verde e amarelo, cores da Bandeira do Brasil.

    Aliás, no meu Estado, Senador Cristovam, sabe qual é a cor da minha campanha, como foi a cor de todas as campanhas de todos os candidatos ao Senado? As cores da bandeira do nosso Amazonas: azul, vermelho, branco. Essas são as cores da nossa bandeira, são as cores que nós utilizamos.

    Está aqui: campanha de 2006.

    Mas vamos lá, com a Presidente Dilma. Está aqui a campanha da Presidente Dilma, o símbolo da sua campanha: verde e amarelo. Campanha que levou à vitória Dilma nas eleições de 2010.

    E vamos às eleições de 2014. Nas eleições de 2014, reeleição da Presidente Dilma: verde e amarelo. E qual é o problema? Não querem agora que o Haddad use? Que Haddad e Manuela usem as cores verde e amarelo? Não?

    Eu acho que quem fala nisso deveria dizer e explicar o que é que significa aquele vídeo em que o candidato Bolsonaro faz continência à bandeira americana. É isso que deveriam vir a esta tribuna explicar. Deveria vir a esta tribuna quem defende o Brasil, a nossa soberania e explicar o significado da defesa de Bolsonaro quando ele diz, Senadora Lídice, que a Amazônia é muito rica, portanto tem que partilhar a sua governança com o capital internacional, com outros países, porque é muito rica, e o Brasil não dá conta de cuidar sozinho da Amazônia. Deveriam vir aqui e explicar isso, e não espalhar essas bobagens, porque isso é bobagem. Vamos analisar o programa de um candidato e vamos analisar o programa de outro candidato.

    Aliás, no dia de ontem, o Ibope e a Rede Globo de Televisão divulgaram uma nova pesquisa que mostra um quadro de estabilidade...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... desde o início do segundo turno, em relação à intenção de votos. Coloca o candidato Bolsonaro em torno de 15 a 18 pontos na frente do candidato Haddad, o que não significa, Sras. Senadoras e Srs. Senadores, a vitória iminente dessa candidatura que hoje está à frente, porque dez dias num processo eleitoral é um tempo significativo, é um tempo em que nós poderemos ver mudanças significativas na opinião da população brasileira. Porque, vejam, foram divulgados com muita ênfase os números sobre a intenção de votos; mas existem outros números que foram pesquisados cuja divulgação não é feita de forma tão alardeada. Eu aqui quero me referir ao estudo feito na pesquisa Ibope sobre o que representa e defende uma candidatura em relação a outra. Veja a que a própria população liga a candidatura de Bolsonaro: a candidatura de Bolsonaro é aquela que defende mais os interesses dos ricos. Isso é o que foi mostrado na pesquisa das mesmas pessoas que, na maioria, optaram pela candidatura de Bolsonaro, ou seja, optaram pela candidatura de Bolsonaro, mas têm muito claro que é Bolsonaro que representa os interesses dos ricos, os interesses dos bancos, os interesses dos grandes agricultores, os interesses do empresariado – é isso que mostrou a pesquisa Ibope –, enquanto eles associam a candidatura de Haddad à defesa dos pobres, à defesa dos trabalhadores, à defesa das mulheres.

    E por que esse candidato que defende ricos, que defende banqueiros, que defende os grandes produtores, os latifundiários, está na frente? Porque faz uma campanha suja, uma campanha não mostrando os seus méritos, mas procurando denegrir o adversário. É essa a campanha que ele faz: um tal de um kit gay... Ele teve a ousadia e a cara de pau – e por isso foi punido pelo Tribunal Superior Eleitoral – de levar à Rede Globo de Televisão um livro que ele diz ser o livro do MEC. Nunca foi. Nunca foi! O Senador Cristovam está concordando. Nunca foi. Então, ele cresce perante a opinião pública não mostrando os seus adjetivos, mostrando o que tem de bom e o programa que defende; não, ele cresce em cima da mentira, em cima da manipulação, em cima da inverdade. Estão tentando transformar esse cidadão Bolsonaro, que o Brasil conhece, e com quem convive há 28 anos, em uma figura que ele nunca foi.

    Aliás, há uma propaganda na televisão em que ele fala da filha dele. Ele mostra a filha dele e simula um choro – na minha terra, diz-se "lágrimas de crocodilo" – dizendo que foi uma bênção ele ter aquela menina. Não, esse não é o Bolsonaro. O Bolsonaro é aquele da entrevista do início da campanha, que falou dos seus quatro filhos homens, e que na quinta ele deu uma fraquejada e veio uma mulher – porque ele deu uma fraquejada. Esse é o verdadeiro Bolsonaro!

    Então, eu tenho certeza de que, nesses dez dias, muitas coisas vão acontecer neste Brasil, muitas coisas virão à tona.

    E por que o povo brasileiro diz que Bolsonaro é que defende os interesses dos ricos? Está aqui. Está aqui no jornal Folha de S.Paulo, publicado recentemente, no último dia 9 do mês de outubro: "Bolsonaro e Guedes recrutam executivos para sua equipe", para os seus ministérios. E quem é que eles estão recrutando? Os CEOs, ou seja, os dirigentes de empresas financeiras, de bancos, como o Bank of America para a América Latina; como dirigentes da Bozano investimentos; do Banco Santander; do Goldman Sachs. São essas as figuras que eles estão escalando para compor seus ministérios: esses técnicos.

    E mais, está aqui: Guedes – possivelmente isso está nos jornais do dia de hoje – é esse economista que defende, Srs. Senadores, o orçamento base zero. O que significa o orçamento base zero? Sem nenhuma vinculação. Sem nenhuma vinculação para saúde, sem nenhuma vinculação para a educação – base zero! –, para políticas sociais, de assistência social no Brasil.

    Então, esse Guedes é cogitado, e é ele quem dá as cartas, para...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... ser o Ministro da Fazenda, o ministério que iria se fundir possivelmente, segundo eles, com o do Planejamento.

    Mas os técnicos vão além disso, e isso está nos jornais também: para a Justiça ele deve indicar, caso seja eleito – e, se tudo der certo, não será eleito, porque acredito que formaremos uma grande frente em defesa da democracia e das liberdades no Brasil, que correm risco com a possibilidade de vitória de Bolsonaro –, veja, para Ministro da Justiça, Gustavo Bebiano. E quem é? Um grande jurista? Não, o Presidente do seu partido, o PSL.

    Para a Casa Civil, o Deputado Onyx Lorenzoni; para o Ministério da Educação, Senador Cristovam, o dirigente da Associação Brasileira de Educação à Distância Stavros Xanthopoylos, acho que é um nome grego – para o Ministério da Educação. E quem é ele? É membro da Associação Brasileira de Educação a Distância. Talvez seja por isso que essa candidatura de Bolsonaro defende o ensino à distância já desde o ensino fundamental, Senador Cristovam. Ensino a distância para uma criança de sete, oito, nove anos de idade – e eu não estou inventando nada aqui, eles é que estão defendendo isso.

    Mas segue adiante: para o Ministério dos Transportes, um ministro general; para o da Defesa, outro ministro general; e, para a Agricultura, quem? O Presidente da UDR (União Democrática Ruralista), a UDR, que é contra a reforma agrária. Eu não fui Deputada Constituinte, mas a Senadora Lídice foi Deputada Constituinte e lembra o que era a UDR à época.

    Então, é por conta disso que a população liga Bolsonaro aos ricos, aos banqueiros, aos grandes latifundiários. Mas por que a maior parte ainda manifesta intenção de voto nessa candidatura? Pelas mentiras que apresentam.

    Eu não quero aqui entrar no mérito sobre se o Partido dos Trabalhadores deve ou não fazer crítica ou autocrítica, se fez ou não fez. Aliás, eu não quero entrar no mérito do que disse Cid Gomes. Não quero entrar no mérito, mas quero dizer o seguinte: mesmo diante das duras críticas que Cid Gomes fez ao Partido dos Trabalhadores, ele declarou: "O nosso voto crítico, apoio crítico é à candidatura de Haddad". E por quê? Porque o que está em risco no Brasil é a democracia, são as liberdades.

    Bolsonaro, esse candidato, é aquele que disse – e isto não é fake, não é invenção – que "o erro da ditadura foi ter apenas torturado e não matado". Esse é o candidato que passou 28 anos na Câmara dizendo que no Brasil não houve golpe, que não havia ditadura, que houve uma revolução; um candidato que teve o desplante, Senadora Regina, quando eu era Deputada Federal e a equipe da Anistia buscava os corpos dos torturados e mortos do Araguaia, ele, o então Deputado Bolsonaro, de mandar fazer cartazes e os pregar em cada um dos nossos gabinetes. Ele teve o desplante de colar um cartaz na porta do meu gabinete, como também no de todos os outros Deputados e Deputadas, com os dizeres seguintes: "Quem procura osso é cachorro", ou seja, contra a ação democrática do Governo de amparar as famílias, de buscar, pelo menos, os corpos de quem foi torturado e morto durante a ditadura militar.

    Esse cidadão não é aquele que defende o combate à corrupção, não. É aquele que quer colocar a corrupção embaixo do tapete – embaixo do tapete. E olha, eu digo que pode até ser que críticas e autocrítica têm que ser feitas, mas outra coisa também tem que ser feita pelos adversários: reconheçam os avanços do Governo, reconheçam que, pela primeira vez na história do Brasil, um Presidente da República nomeou sempre o primeiro colocado na lista tríplice, Senadora Lídice...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... para o Ministério Público Federal; pela primeira vez, depois de muito tempo, a Polícia Federal teve autonomia para trabalhar. Será que terão com Bolsonaro? Eu não tenho dúvida de que não terão, eu não tenho dúvida nenhuma.

    Por isso, eu quero aqui, antes de conceder os dois apartes que me são solicitados, o da Senadora Ana Amélia e o da Senadora Lídice, fazer uma conclamação. Nós não estamos só diante de duas candidaturas à Presidência da República, não! Nós estamos diante da possibilidade de continuarmos ou não vivendo numa sociedade democrática, numa sociedade onde as pessoas podem subir a uma tribuna, falar, criticar e, por isso, não serem ameaçadas – e por isso não serem ameaçadas.

    Vamos aqui citar quantos casos de violência de partidários de Bolsonaro, mostrar a moça, a senhora que foi...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... com o símbolo do nazismo; mostrar o capoeirista, seu conterrâneo, que foi morto com 12 facadas. E, num primeiro momento, quando perguntado sobre isso, sobre a violência de seus correligionários, o que ele respondeu? Está nos jornais de hoje também. Ele respondeu: "Não tenho nada a ver com isso. Não tenho nada a ver com isso. Isso não é coisa que eu fiz." Até que foi chamado à atenção pela sua equipe – foi chamado à atenção pela sua equipe – e disse assim: "Eu dispenso o voto e qualquer aproximação de quem pratica a violência". Mas, no dia 9 de outubro, ele perguntou, respondendo a um questionamento: "E o que isso tem a ver comigo? O que isso tem a ver comigo?". E à Rede TV também, recentemente, ele disse: "Eu não empregaria uma mulher com o mesmo salário do homem, não empregaria".

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Disse mais, no ano de 2011, abro aspas, fala dele, Bolsonaro: "Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí" – fecho aspas. Esse é o verdadeiro Bolsonaro que muitos grupos poderosos – muitos grupos poderosos – estão querendo desconstruir para construir uma figura que não existe, apenas para vencer as eleições – apenas para vencer as eleições.

    Senadora Ana Amélia, concedo um aparte a V. Exa.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senadora Vanessa Grazziotin, mesmo que V. Exa. não tenha citado o meu nome, mas ficava claro, límpido, translúcido, que a senhora estava se dirigindo a mim falando que eu falei bobagens da tribuna.

    V. Exa. fala que o candidato... E não sou aqui advogada, minha posição é absolutamente de um apoio espontâneo e também com visão crítica sobre a candidatura Bolsonaro, ponto. É para ficar muito claro. Minha independência continua. Já reafirmei oficialmente: no segundo turno votarei em Bolsonaro.

    Quero dizer que a continência que a senhora levantou feita pelo candidato à bandeira americana, a reverência é a mesma que V. Exa. teve quando foi à Coreia do Norte e se curvou à bandeira da Coreia do Norte, a bandeira vermelha da estrela amarela. Curvar-se a uma bandeira é curvar-se a uma nação independente da ideologia, do lado em que esteja.

    Agora, veja só a sua contradição. V. Exa. faz a crítica como se fosse uma subserviência ao capitalismo americano, mas veja do lado de que, graças a esse capitalismo, o Brasil é beneficiado com milhares e milhares de empregos de companhias americanas que estão salvando o Brasil da crise.

    Eu queria lhe dizer também que – veja só de novo a incoerência – o Presidente de um banco americano, o Banco de Boston...

(Soa a campainha.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... foi chamado por Lula, em 2013, quando assumiu a Presidência da República, para ocupar a Presidência do Banco Central, ex-Presidente do Banco de Boston, portanto, uma instituição norte-americana, para ficar durante oito anos de mandato de Lula como Presidente do Banco Central, controlando a política monetária do Brasil. Onde está a coerência?

    É a mesma coisa curvar-se à bandeira de Cuba como faz V. Exa. e admitir as atrocidades que Fidel Castro cometeu e não reconhecer isso, as atrocidades maiores... Hoje, nesse contrato com os médicos, o Governo cubano explora os médicos no trabalho dos médicos cubanos no Brasil e se apropria da maior parte do dinheiro do trabalho dos médicos – o Estado cubano. Isso é justo, Senadora Vanessa Grazziotin? Está correto isso, essa exploração mercantilista transformando em escravos da Medicina os médicos cubanos que vêm trabalhar no Brasil? Eu acho que isso não está certo, Senadora.

    Eu queria dizer também – V. Exa. lembrou que o candidato tem citações machistas ou de outra natureza.

(Soa a campainha.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Se caísse na boca de um antipetista aquilo que Lula disse sobre a Senadora Fátima Bezerra, sobre Jandira Feghali, há um tempo, "que tinham não sei o quê", dando uma definição nordestina de uma expressão que eu não vou usar, mas eu sei qual, e V. Exa. sabe qual é, e todos sabem qual é, mas eu não vou usar. "Aquelas que tem isso", disse o Lula em alto e bom som. Ninguém achou que aquilo era uma atitude machista ou que estava atacando as mulheres, ninguém defendeu as mulheres, como quando ele ironizou os pelotenses quando foi gravar um vídeo para o candidato lá em Pelotas, gravou lá no Salão Verde da Câmara dos Deputados.

    Senadora Vanessa, desculpe-me, mas a verdade dói, a verdade é crua. É essa a questão, é esse o contraponto. É apenas esse o contraponto e a Bandeira brasileira está sendo usada de novo para enganar a...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Senadora, eu primeiro agradeço o aparte de V. Exa.

    Eu acho que o que marca as nossas relações é o respeito. E isso é muito importante, Senadora. V. Exa. tem uma opinião diametralmente contrária a minha, e eu contrária à de V. Exa., mas nós convivemos.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – É verdade.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – E convivemos com muito respeito uma para com a outra.

    Lamentavelmente, não é essa a realidade do candidato Bolsonaro que nunca teve essa convivência com seus pares. Basta ver os inúmeros vídeos, basta ver os inúmeros pronunciamentos. Então, acho até que nós temos que sair dos simbolismos e falar dos conteúdos.

    Por exemplo: V. Exa. cita o exemplo do Presidente do Banco Central da época do Presidente Lula. Mas nunca o Presidente Lula defendeu o orçamento base zero. Pelo contrário, fortaleceu a vinculação da aplicação dos recursos na área de saúde, na área da educação. Então, essa é a diferença.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Essa é a diferença entre um e entre o outro.

    Lamentavelmente, eu nunca estive na Coreia do Norte. Eu gostaria e quero... Vou fazer um grande esforço ainda para conhecer a Coreia do Norte. Recentemente, dois Senadores estiveram lá. Eu até iria participar e não pude. Eu gostaria de ir. Também não vejo isso como um problema.

    O problema maior é o conteúdo, foi o que ele falou a respeito da Amazônia. E eu digo isso, porque sei que V. Exa. é uma defensora da Amazônia. E o que Bolsonaro disse? Que o Brasil não tem capacidade para cuidar da Amazônia. Se não tem capacidade, então tem que compartilhar a governança da Amazônia com outros países. Isto, sim, é uma atitude de lesa-pátria.

    Isto aqui, Senadora, é bobagem. Está aqui, olha. Eu mostrei: em 1998, verde e amarelo para o Lula; em 2002, verde e amarelo para o Lula; em 2006, verde e amarelo para o Lula. O problema sabe qual é?

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – É que o candidato chamado Bolsonaro, que é a verdadeira personificação da violência, quer vincular a candidatura de Haddad à violência. Eu pergunto aos senhores e às senhoras: em 14 anos de governo, qual foi o problema que o Brasil teve de guerra civil, de convulsão social? Nunca tivemos, porque isso permeou as realizações...

    Volto a dizer: não sou do Partido dos Trabalhadores e não quero discutir se ele tem ou não que fazer crítica ou autocrítica. Mas quero dizer que muitas coisas também, quem foi oposição esse tempo inteiro ao Governo de Lula e de Dilma, tem que reconhecer: que eles, mais do que nunca, avançaram na pauta do combate à corrupção. De onde vem a Lei da Transparência? De onde vem a Lei da Delação Premiada? De onde vem a nomeação do primeiro da lista? Isso não era prática dos anteriores.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Não era prática comum dos anteriores.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senadora...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Então, contribuiu muito, muito mesmo, para que isso acontecesse no Brasil.

    Então, é esse... É por isso que eu acho que, em dez dias, nós podemos...

    Vou concluir, Senador. Vou só conceder um aparte à Senadora Lídice da Mata para concluir.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – V. Exa. nem falou na facada, o que foi, nessas últimas eleições presidenciais, um ato de violência.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Foi um ato de violência.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Quase matou o candidato.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Foi um ato de violência. Todos os candidatos, inclusive, pararam suas campanhas. Ciro Gomes parou sua campanha, Haddad parou sua campanha, em solidariedade. Todos pararam.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – O Alckmin também.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Não vamos nem falar em corrupção, em condenado, porque aí a gente vai ver que o próprio partido do Alckmin, o PP (Partido Progressista), tem um número muito maior de condenados que outros partidos.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Senadora Lídice, concedo um aparte a V. Exa.

    A Srª Lídice da Mata (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – Senadora Vanessa Grazziotin, V. Exa. traz à tona um debate que é próprio desta Casa, como a Senadora Ana Amélia trouxe, que é o debate sobre o segundo turno das eleições. E, nesse contexto, quero chamar a atenção para uma questão que a senhora levantou, que são as chamadas fake news, que não passam, na nossa língua pátria, de mentiras, ou seja, está se usando uma ferramenta, que é a mentira, como instrumento de campanha para desconstruir, ou melhor, para construir a imagem de um candidato negativamente. E isso é uma característica clara da campanha de Bolsonaro.

(Soa a campainha.)

    A Srª Lídice da Mata (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – Tanto é assim que, por mais de uma vez, a sua campanha foi repreendida pelo Tribunal Superior Eleitoral para que parasse com essa postura, especialmente agora, impedindo que continuasse a veiculação do chamado kit gay, que nunca existiu e que se trata apenas de um nome de marketing para afirmações de uma opinião política a respeito dele.

    Nunca existiu kit gay no Ministério da Educação. Isso foi inventado, criado e está sendo colocado contra um candidato e disseminado em diversas igrejas e denominações religiosas para transformá-lo num verdadeiro demônio, demonizando a sua imagem. Então, é claro que isso precisa ser denunciado.

    Nós temos que discutir no segundo turno, sim, as características e propostas de dois candidatos, mas tirando as mentiras...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A Srª Lídice da Mata (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – ... para que o povo brasileiro possa exercer livremente o seu direito de escolha.

    E nós nunca anunciamos que não vamos respeitar o direito de escolha do povo brasileiro. O Sr. Bolsonaro, sim, disse que só há um caminho que ele pode reconhecer, que é o caminho da sua própria vitória. Ora, isso é absolutamente surpreendente e inconstitucional, porque é o anúncio do rompimento com um princípio básico da Constituição brasileira.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Eu agradeço e incorporo o aparte de V. Exa., Senadora Lídice, apenas comentando essa sua última observação.

    Eu também sou daquelas que acha que resultado nós temos de aceitar e trabalhar. Quem não acha isso é Bolsonaro, que disse que não trabalhava com outra possibilidade que não fosse a sua própria vitória.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Então, concluo o meu pronunciamento fazendo um chamamento, Senadora: essas eleições vão além de escolher o candidato A ou B para ser o futuro Presidente do Brasil; é uma eleição em que nós vamos escolher se queremos continuar vivendo em um regime democrático ou não. E aí repito: Bolsonaro é aquela mesma pessoa que disse que o erro do regime militar foi só ter torturado; que deveria, sim, ter matado mais de 30 mil pessoas. É esse candidato que fica jogando para o seu adversário a imagem de violência. É esse!

    Mas tenho certeza de que, nesses dez dias que nos restam, a população brasileira vai saber quem de fato é, quem realmente é e o que realmente quer esse candidato chamado Jair Bolsonaro.

    Obrigada, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/10/2018 - Página 29