Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Críticas ao Partido dos Trabalhadores por não ter assinado o acordo contra o uso de fake news durante a campanha eleitoral, realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Críticas ao Partido dos Trabalhadores por não ter assinado o acordo contra o uso de fake news durante a campanha eleitoral, realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Publicação
Publicação no DSF de 18/10/2018 - Página 29
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • CRITICA, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, ASSINATURA, ACORDO, REALIZAÇÃO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), OBJETIVO, COMBATE, UTILIZAÇÃO, NOTICIA FALSA.

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso.) – Obrigada, Senador Airton Sandoval, que preside esta sessão.

    Eu estou aqui na tribuna, Sr. Presidente, porque, entre os diversos pronunciamentos que nesta tarde foram apresentados, um me chamou a atenção, o que tem sido recorrente na narrativa do Partido dos Trabalhadores: o vitimismo em relação às fake news. Isso quer dizer simplesmente que o PT está provando do seu próprio veneno, porque, em junho, quando o Tribunal Superior Eleitoral tratou de firmar um acordo com os partidos políticos para reprovar a distribuição de publicações falsas na disputa eleitoral deste ano, o PT se recusou a participar deste acordo que foi firmado por 31 partidos políticos, exceto o PT. Ora, se não quis se comprometer com a lisura e em não usar fake news no processo, por que agora reclama de estar sendo vítima das fake news ou das notícias falsas?

    Hoje, por exemplo, já há uma se espalhando por milhares de redes sociais: de que um muro na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) foi pichado com manifestações racistas e também com o símbolo nazista. Isso foi publicado no dia 11 de outubro, em pleno andamento deste segundo turno tão disputado, tão aguerrido e tão guerreado. Este fato do muro da UERJ aconteceu há dez anos – dez anos – e agora está sendo revivido como se fosse uma coisa atual. E quem tem o interesse de divulgar esse tipo de fake news, recorrendo a esse veneno que envenena um lado e envenena o outro? Pau que bate em Chico, bate também em Francisco. Mas a maior incoerência está exatamente em que o partido que reclama agora do vitimismo em relação ao impacto das fake news sobre a candidatura Fernando Haddad se negou a assinar um acordo com o TSE que visava exatamente a combater – combater –, fazer vigilância sobre as fake news no processo, Senador Airton Sandoval.

    Nós precisamos ter coerência nas atividades, nas atitudes e na postura que temos, em todas elas. As agressões... E aí a gente vê recorrentemente a repetição disso. Não só os partidos políticos firmaram este acordo para impedir o impacto das fake news, entraram também veículos outros. Assinaram esse documento o Google, o Facebook, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), ou seja, as instituições que estavam querendo, continuam desejando e continuam fazendo o seu trabalho de forma séria e responsável, assim como o TSE está fazendo.

    Eu também lamento profundamente a ameaça que a Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Rosa Weber, recebeu através de uma mensagem virtual. Isso não é admissível! Não podemos intimidar qualquer autoridade que seja. É inaceitável sob todos os aspectos! Mas temos que ver que essa moeda tem dois lados. E é preciso ver os dois lados dessa moeda que se chama fake news.

    Preciso também lembrar que aqui foram citadas e mencionadas várias agressões. Nenhuma agressão é aceitável numa campanha eleitoral. E nesta nós chegamos ao extremo do extremo de um candidato que hoje lidera as pesquisas quase ter sido assassinado, quase ter sido assassinado. É tão grave uma suástica na pele de uma pessoa quando três facadas quase mataram Jair Bolsonaro. E quem era o atacante? Quem era o agressor? Aqui, se eu não tivesse responsabilidade, poderia dizer: foi o partido tal e o partido tal, porque ele se dizia seguidor. Ele era militante. Aliás, eu estava na rede dele atacada, criticada como ter roubado projetos legislativos. Veja se isso pode acontecer numa mente sã. Mas é evidente que não era uma mente sã aquele agressor que, lá em Juiz de Fora, quase matou Jair Bolsonaro. Essa é a questão, mas isso não é mencionado. É grave a suástica. É gravíssimo facada num homem para matar. Aquelas facadas não eram para atemorizar. Eram para matar o candidato. Por um objetivo político? Não sei e não tenho autoridade para dizê-lo. A única autoridade que tenho é dizer a verdade de que isto aconteceu e este é o fato, porque a própria investigação não permitiu que o acusado viesse a público falar. A polícia não deixou. Também não posso suspeitar das razões que levaram a polícia a não permitir que ele falasse para a televisão, para a imprensa brasileira. Foi o ato mais grave de uma eleição. E o candidato ainda vive as sequelas daquela agressão em Juiz de Fora.

    Então, se existe violência, ela está dos dois lados dessa trincheira da disputa eleitoral. E essa choradeira, esse mi-mi-mi que aqui vem precisa ser visto pela coerência. Por que o partido não assinou o acordo que visava controlar e combater as fake news? Por quê? Porque imaginou que só ele poderia fazer isso, só ele poderia fazer o ataque ao adversário, mas agora experimenta o veneno que ele queria inocular no seu adversário político. Não adianta! Aqui se faz, aqui se paga. É assim que as coisas acontecem.

    E aqui me valho também – caros Senadores, já estou concluindo esta manifestação – porque isso tem sido recorrente aqui em relação ao impacto desse processo nesta eleição que está acontecendo aos olhos do mundo. Que Brasil é este?

    Eu espero que este Brasil saia um Brasil pacificado, porque não é o clima que nós estamos vivendo hoje que nós precisamos viver e conviver. É um clima de entendimento, de diálogo. Até o candidato que se negava antigamente, o partido, a reconhecer o diálogo respeitoso agora está propondo uma aliança com o País, unificar o País. Se tivessem feito isso anos atrás, em 2010, um pouco antes, 2009, o Brasil seria outro. Se nunca tivessem dito "nós e eles", o Brasil seria outro. Seria outro, haveria uma sucessão tranquila, uma transição serena, mas não isso que nós estamos vivendo agora.

    O "nós e eles" agora está valendo. E de novo é o mesmo veneno. O veneno que vale para um agora está valendo para outro. Por isso está ardendo, porque pimenta no olho do inimigo é colírio. É isso, Senador. E eles acham que não. E quando vem para si esse veneno, reclamam...

(Soa a campainha.)

    A SRª ANA AMÉLIA (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... batem pé, tudo mais.

    Quero respeitar o tempo, apenas recorrendo aqui a um texto primoroso da jornalista Miriam Leitão: "PT prefere manter a narrativa a encarar os erros". Quero que esse texto seja transcrito nos Anais do Senado, porque ela conclui esse artigo dizendo o seguinte:

As fake news contra o candidato Fernando Haddad já chegaram, segundo uma fonte ligada ao partido, à casa do milhar. Elas têm reflexo na candidatura. O problema mais sério é que essas mentiras patrocinadas estão atingindo a própria democracia. O país terá que ter antídotos mais eficientes. Mas o PT errará de novo se acreditar que foram as mentiras...

(Soa a campainha.)

... que criaram o problema atual. Foram as verdades que ele não tem conseguindo encarar.

    Repetindo, "Foram as verdades que ele, PT, não tem conseguido encarar". Essa verdade é que está em cheque, é que está sendo vista e é que está sendo entendida pela população brasileira hoje. Dita, aliás, por um dos líderes mais próximos do PT, Cid Gomes, num pronunciamento que fez segunda-feira em Fortaleza. Essa é a verdade, nada mais que isso. O veneno e o feitiço se viraram contra o feiticeiro. Simples assim.

    Muito obrigada, Presidente.

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELA SRª SENADORA ANA AMÉLIA.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

    Matéria referida:

     – "PT prefere a narrativa e encarar os erros", O Globo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/10/2018 - Página 29