Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta a respeito dos supostos riscos à democracia da candidatura do Sr. Jair Bolsonaro à Presidência da República.

Agradecimento ao povo do Estado de Pernambuco (PE) pela reeleição do orador do cargo de Senador.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Alerta a respeito dos supostos riscos à democracia da candidatura do Sr. Jair Bolsonaro à Presidência da República.
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Agradecimento ao povo do Estado de Pernambuco (PE) pela reeleição do orador do cargo de Senador.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2018 - Página 17
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • CRITICA, JAIR BOLSONARO, DEPUTADO FEDERAL, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, FERNANDO HADDAD, GESTÃO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), MOTIVO, REFORÇO, DEMOCRACIA, RESPEITO, DIREITOS HUMANOS.
  • AGRADECIMENTO, POVO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), MOTIVO, REELEIÇÃO, ORADOR, CARGO, SENADOR.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Pronuncia o seguinte discurso.) – Queria inicialmente dizer a V. Exa. que V. Exa. está na Presidência. Se V. Exa. quer falar, ou se inscreve ou pede aparte lá embaixo.

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Não precisa V. Exa. me dar ordem nem dizer o que eu devo fazer na Presidência.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – E V. Exa. também não precisa...

(Tumulto no recinto.)

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – V. Exa. não precisa me dar ordens aqui, Senador!

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Sra. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes que nos acompanham pela Rádio Senado.

    Estivemos ontem lá no Tuca, num grande evento, um evento dos mais emocionantes que eu já vivi na minha vida, com a presença de centenas de artistas, intelectuais, líderes sociais, religiosos, pela virada democrática que vai levar Fernando Haddad à Presidência da República.

    Tive a oportunidade de, ao lado de outros ex-Ministros da Saúde, entregar um manifesto, com milhares de assinaturas de profissionais dessa área, em defesa do SUS, que é defendido por Fernando Haddad, ao contrário do que faz o seu adversário.

    Foi também expressivo registrar a manifestação da sociedade civil em favor da democracia, democracia essa que vem sendo atacada violentamente por Bolsonaro e seus asseclas, não bastassem os ataques constantes às mulheres, aos negros, aos homossexuais, aos nordestinos, às instituições republicanas e aos adversários políticos, que também agora são atacados de forma virulenta.

    O filho de Bolsonaro, candidato mais votado de toda história para Deputado Federal, diz que se fecha o STF com um cabo e um soldado. Coisa semelhante ele escreveu num artigo seu, no jornal Hora Extra, no Rio de Janeiro, em que estão lá repetidas ideias semelhantes.

    No mesmo dia em que esse vídeo circulou, o próprio Bolsonaro avisou aos seus seguidores que vai prender e isolar seus opositores.

    O PT governou o Brasil por 13 anos e jamais diminuiu a democracia. Ao contrário: todas as instituições foram reforçadas em sua autonomia, como o Ministério Público e a Polícia Federal. Demos o maior arcabouço jurídico da história de combate à corrupção e em favor da transparência. O que se vê agora é completo desrespeito ao Congresso, ao Judiciário, ao Ministério Público, à imprensa e aos adversários políticos. Incrível que essas mesmas instituições assistam a todos esses ataques impassíveis, como se nada estivesse acontecendo.

    Lá fora, esse risco já é sentido. A imprensa internacional considera catastrófica para o Brasil uma eventual eleição de Bolsonaro. O País estará isolado do resto do mundo, retrocedendo anos nos avanços que experimentou.

    A reação na sociedade já ocorre em todos os cantos do País. A população está chocada com tantas ameaças, com tanto ódio, com tanta violência.

    Hoje mesmo, no Rio, artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque estarão liderando um grande movimento pela democracia, um "Ato da Virada", no Rio de Janeiro.

    Nós, em Pernambuco, faremos, na próxima quinta-feira, um grande evento com Fernando Haddad, também para garantirmos esta vitória no segundo turno, que não é uma vitória do PT nem de Fernando Haddad; é uma vitória da democracia; é uma vitória da Constituição; é uma vitória da civilização contra a barbárie.

    E, hoje, aqueles que vão votar em Jair Bolsonaro não podem, depois, ter a desculpa de não saber quem ele era. São as suas palavras, como candidato, que mostram o que ele quer. E, pasmem, já existe um Bolsonaro atuando no mundo: o Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, é um exemplo de que o fascismo existe e de que as palavras têm que ser entendidas como palavras reais.

    Em dois anos de mandato nas Filipinas, foram assassinadas 13 mil pessoas. Nas Filipinas, assim como Bolsonaro quer fazer aqui, autoridade policial que matar alguém não será de nenhuma forma punida. Ao contrário, lá há uma recompensa: quanto mais se mata, mais se ganha dinheiro como autoridade policial.

    Naquele país, a violência é feita em nome do combate às drogas. Diz-se que são os traficantes que são assassinados. Aqui, no Brasil, vão ser contra os que fazem oposição a esse projeto de ditador que é Jair Bolsonaro.

    Eu fui Deputado com ele, Presidenta, durante quatro anos. Um Deputado obscuro, uma pessoa despreparada, encarado como folclórico, que abria a boca apenas para dizer asneiras contra a liberdade e a democracia. É uma pessoa que não tem a estatura política para governar este País. E só o ódio que existe em pessoas que estão absolutamente de olhos vendados para a realidade faz com que elas votem num cidadão como esse.

    Pois bem: ele falou, no domingo, que aqueles vermelhos vão amargar a cadeia ou o exílio. Na ditadura se dizia coisa semelhante. Quem iria ser preso, quem iria sofrer os processos da ditadura eram os comunistas. Quantos foram os não comunistas que foram presos, que foram torturados, que foram perseguidos, que foram expulsos da universidade, que foram cassados do serviço público, que foram cassados de mandatos parlamentares legitimamente conquistados pelo voto popular?

    Pois bem: este cidadão que aí está tem um absoluto e total desprezo pela democracia. E, enquanto não é tarde... Restam-nos quatro dias para a realização da eleição, e cada eleitor brasileiro vai ter que fazer uma escolha no próximo domingo.

    Nós vamos votar pela liberdade, pela democracia, pelo respeito aos direitos humanos, às pessoas deste País, ou nós vamos dar um cheque em branco a um lunático, a uma pessoa que o próprio General Geisel considerou como sendo um mau militar, uma pessoa que tinha posições mais radicalizadas do que os ditadores daquela época de 74, 75 e 76?

    Como pode o Brasil, a não ser que esteja dominado por um verdadeiro transe, eleger alguém com essas características, que é assessorado por quem nós estamos vendo?

    O ódio ao PT não pode ser justificativa...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... para aqueles que dizem defender a democracia se esconderem, ou por temor ou por outra razão qualquer que seja, estarem sufragando essa proposta, que é o fim da democracia no nosso País.

    Muitos comentaram que nós vivemos nesta eleição o fim da Nova República, mas poderemos estar vivendo o fim de todas aquelas conquistas que foram obtidas com muita luta pelo povo brasileiro: a luta dos que foram mortos, a luta dos que foram torturados, a luta dos que foram perseguidos na ditadura militar, para, agora, pelo voto, colocarmos no poder pessoas que pensavam da mesma maneira.

    Quero concluir aqui a minha fala agradecendo ao povo de Pernambuco, que me reconduziu a este Senado, dando-me 1,7 milhão de votos, colocando-me inclusive como o Senador mais votado daquela eleição.

    Quero aproveitar aqui para reafirmar o meu compromisso de, aqui no Senado, em nenhum momento, em nenhuma hora, em nenhum segundo, abrir mão das minhas convicções democráticas e do desejo de democracia do povo de Pernambuco, da sua tradição histórica e libertária, que vamos, se Deus quiser, mantê-la sob um governo democrático, um governo de conciliação nacional, mas, se a história quiser, e os covardes assim quiserem, que o eleito seja esse tresloucado, pode ter certeza de que, desta tribuna, aqui estarei para defender a liberdade, a democracia, e denunciar o autoritarismo que, em escala, virá ao nosso País, caso esse cidadão vença a eleição.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2018 - Página 17