Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cobrança de um posicionamento das instituições do Estado brasileiro a respeito dos discursos de ódio e de incitação à violência nestas eleições.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Cobrança de um posicionamento das instituições do Estado brasileiro a respeito dos discursos de ódio e de incitação à violência nestas eleições.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2018 - Página 25
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • APREENSÃO, MOTIVO, SITUAÇÃO, VIOLENCIA, DESRESPEITO, VITIMA, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), ROSA WEBER, MINISTRO, AUTORIA, CORONEL, EXERCITO, FILHO, DEPUTADO FEDERAL, JAIR BOLSONARO, DEFESA, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, PUNIÇÃO, AGRESSOR, ENFASE, ATO, INCITAMENTO, AGRESSÃO, AUSENCIA, DEMOCRACIA, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    A SRª REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI. Pronuncia o seguinte discurso.) – Obrigada, Sr. Presidente.

    Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, infelizmente, o assunto não poderia deixar de ser eleições, principalmente diante de tudo que já ouvimos aqui, embora haja ainda mais coisas que ninguém disse aqui.

    O certo, Sr. Presidente, é que nós estamos vivendo tempos sombrios. Os pit bulls estão soltos; ninguém mais segura pit bull nas ruas. Jornalistas são agredidos apenas porque estão passando no final de uma passeata, quando já estava aberto o trânsito de carros. E só porque o carro da moça era vermelho? Ela diz que só pode ser por isso, pois quebraram os vidros dos carros e agrediram a moça, uma jornalista do jornal O Dia do Piauí. 

    Mas as instituições estão caladas. Foi dito aqui!

    O que disse o filho do Bolsonaro – e ele o repetiu na Câmara hoje – foi que vão colocar dez novos Ministros e que querem ver quem é que vai ter coragem de declarar a inconstitucionalidade de qualquer ação do Governo. Disse hoje!

    O outro diz que a gente vai embora ou vamos presos. E ninguém diz nada?! A "gente" a que eu me refiro somos nós da esquerda.

    "Os movimentos sociais serão enquadrados como terroristas". E ninguém diz nada?!

    Mas há uma fala que é muito pior do que a fala do Bolsonaro ou do que a fala do filho dele; é a fala do Coronel Carlos Alves.

    Não sei se... Seria interessante se a gente pudesse exibir vídeos aqui.

    É estarrecedora! Ele chama a Ministra Rosa Weber de vagabunda, de salafrária, de corrupta; diz que o STF é um bando de canalhas. Está aí o vídeo rolando!

    Eu não estou escandalizada com o que ele diz, não; estou escandalizada com o silêncio ensurdecedor das instituições, principalmente do STF e do TSE.

    Ministra Rosa Weber, se a senhora se cala, está assumindo isso que ele disse da senhora. E, se ele faz isso com a senhora, o que ele vai fazer comigo? A ameaça está feita: ou eu vou embora, ou eu vou presa. E o STF não diz nada?!

    Aquele senhor, o coronel, no mínimo, tinha de estar preso. E ainda diz, batendo no peito, que está falando em nome de seus superiores – e disse barbaridades! Acho que todos deveriam assistir àquele vídeo para ver o Pais que vem aí.

    Então, se o STF e o TSE não dizem nada, como é que fica? A quem a gente vai recorrer? Quem vai nos socorrer? O TSE é muito rápido em tirar matéria do site da UNE. Parece que, na hora em que a petição chega, a resposta já está pronta para mandar tirar o site do ar.

    É muito grave isso, é muito grave mesmo. Vou fazer aqui uma leitura poética, de um poeta do meu Estado, Dario Castro, que é filho do Senador eleito Marcelo Castro, que vem para esta Casa no ano que vem. Ele fez uma declaração de voto em forma de poesia, muito interessante, porque dá para saber em quem ele vai votar, sem dizer.

    Escolhi ler este poema. Depois, eu faço a conclusão, voltando ao assunto anterior. Ele diz assim:

Eu Não Vou Ficar Calado [Repetindo: é Dario Castro, filho do Senador Marcelo Castro, eleito na nossa chapa, agora, lá no Piauí]

Eu vou eleger a esperança

Contra o ódio, o medo e a insegurança

Eu vou eleger a paz e a união

Contra a violência e a discriminação

Eu vou eleger a sinceridade

Contra a mentira e a maldade

Eu vou eleger a cidadania

Contra quem nos julga por posses ou etnia

Eu vou eleger a liberdade das pessoas de bem

Contra andar armado e continuar refém

Eu vou eleger, sempre, a mensagem do amor

Contra homenagem a torturador

Eu vou eleger a cultura e a educação

Contra o boicote e a perseguição

Eu vou eleger as mulheres, sim

Contra a fraquejada de homens ruins

Eu vou eleger a solidariedade e, juro, com bravura

Contra quem diz: "pobre não tem futuro. Tem que fazer laqueadura"

Eu vou eleger a nossa beleza e a nossa graça

Contra quem aplaude a "branqueada da raça"

Eu vou eleger a nossa bandeira, exaltá-la

Contra a mordaça, o coturno e a bala

Eu vou eleger o debate esclarecedor

Contra o abate num bar em Salvador

Eu vou eleger o Brasil que nos ampara

Contra tudo que nos separa

Eu vou eleger, emocionado, o futuro

Contra o nosso passado obscuro

Eu vou eleger a verdade, os fatos, trazê-los à luz

Contra os milhões pagos para espalhar fake news

Eu vou eleger a caneta

Contra a ponta da baioneta

Eu vou eleger o professor

Contra o sentimento opressor

Eu vou eleger um tocador de violão

Contra quem faz metralhadora com as mãos

Eu vou eleger você, cidadão

E você? O que vai eleger nessa eleição?

    Achei o poema muito pertinente e resolvi lê-lo na minha fala da tribuna.

    Quero também me solidarizar com o Senador Acir Gurgacz. Acho que virou moda, neste País, achar o criminoso e, depois, engendrar o crime. Isso ficou normal. A gente vai aceitando isso.

    E, nesse aceitar, quero chamar a atenção dos meus pares, porque ele disse que vai expulsar os "vermelhos", vai prender ou vai matar, mas nós sabemos que, se ele for eleito, nós vamos ser cassados como bicho. Quando não houver mais vermelhos, ele vai cassar os azuis, os amarelos, porque ele quer a purificação da raça. Vai ficar um só pensamento. Então, acho que a gente devia se preocupar.

    É impossível esta Casa ficar calada diante de tanta aberração, porque, quando você se cala, está dizendo que está certo! Está certo dizer que vai fechar o STF com um cabo e um soldado! Aliás, lá já tem um general que o Presidente levou. Pode ser que ele seja quem vai comandar o fechamento do STF. Está certo dizer que vai enquadrar todo um movimento como terrorista?

    Então, minha gente, eu estou fazendo um apelo: vamos nos manifestar como Casa. Se não for como Casa, individualmente! Mas a gente não pode aceitar, porque é aquela história de um poema que existe também aí – um é Maiakovski, outro é Eduardo Galeano –, que está dizendo: "levaram o comunista, levaram o operário, levaram o professor e depois, quando não tinha mais ninguém para levar, levaram a mim". Não tem escapatória. Instalada uma ditadura, é para todo mundo! Ele não vai saber quem votou nele! Não adianta dizer: eu votei no Bolsonaro. Ele não vai saber, ele vai cassar todo mundo; um grupinho que estiver numa praça tocando violão.

    Então, eu quero pedir pela memória de Rubens Paiva; de Zuzu Angel; de Stuart, o filho da Zuzu; de Vladimir Herzog; de Alexandre Vannucchi e dos 434 que nunca se soube onde foram parar, na ditadura militar – devem ter sido jogados de cima de um avião, em alto mar. Eu estou fazendo este apelo: manifestemo-nos! Ainda é tempo! Não é possível que a gente queira eleger a barbárie. Se esse homem ganha essa eleição, nós vamos ser governados por milicianos. É uma milícia essa família, que vai cassar todo mundo que discordar uma vírgula dele. Então, é esse o meu apelo.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2018 - Página 25