Pronunciamento de Jorge Viana em 23/10/2018
Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Reflexão a respeito da atual conjuntura política e social do Brasil e defesa da conscientização dos eleitores sobre a importância do voto nestas eleições.
- Autor
- Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
- Reflexão a respeito da atual conjuntura política e social do Brasil e defesa da conscientização dos eleitores sobre a importância do voto nestas eleições.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/10/2018 - Página 30
- Assunto
- Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
- Indexação
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- COMENTARIO, ASSUNTO, SITUAÇÃO, POLITICA SOCIAL, PAIS, BRASIL, INFLUENCIA, POPULAÇÃO, ELEITOR, CRITICA, ABUSO, UTILIZAÇÃO, INTERNET, MOTIVO, AUSENCIA, TOLERANCIA, DIVULGAÇÃO, NOTICIA FALSA, VITIMA, ORADOR, CANDIDATO, SENADO, REGISTRO, NECESSIDADE, APURAÇÃO, INTERFERENCIA, ELEIÇÃO, EXCESSO, FINANCIAMENTO, PODER ECONOMICO, REALIZAÇÃO, EMPRESA, DEFESA, CANDIDATURA, PROFESSOR, FERNANDO HADDAD, DISPUTA, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Cidinho Santos, Senadoras e Senadores, eu estava inscrito para relatar uma audiência que tivemos hoje com a Presidente do TSE, Ministra Rosa Weber – eu, Senador Cristovam, Senador Randolfe Rodrigues e Senador Otto Alencar –, mas enquanto presidia a sessão, recebi a notícia, Senadora Kátia Abreu, Senadora Gleisi, Senador Requião, de que definitivamente agora o Supremo Tribunal Federal, que já tinha me dado uma liminar, uma decisão que me inocentava, como fez com V. Exa. e com outros colegas, depois de anos em que se fica sob suspeição, sujeito a todo tipo de manipulação, como foi feito na eleição... Agora, passa o período da eleição e hoje à tarde, há poucos minutos, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal me passa um atestado de bons antecedentes, de que eu sou um Senador ficha limpa.
Não é fácil, nestes tempos que o Brasil atravessa, lidar com a suspeição. Eu fui Prefeito de Rio Branco. Procurei, com dedicação e uma boa equipe, dedicada também, trabalhando quatro anos, melhorar a cidade em que eu nasci. Essas melhoras, essas mudanças, estão lá. Elas também aconteceram nas pessoas. Dois anos depois – naquela época não havia reeleição –, eu fui eleito Governador do Acre, com 38 anos. Governei o Acre, minha terra, fui reeleito com o maior percentual de votos no Brasil naquele ano, no primeiro turno, e depois conseguimos fazer um governo muito melhor do que o primeiro mandato de governador, porque foi difícil organizar o Acre, com salários atrasados e crime organizado atuando. Mas conseguimos unir o Acre de ponta a ponta, fazer o Acre prosperar. Nós tínhamos perto de 40 mil pessoas trabalhando quando eu assumi o governo. Quando eu encerrei, depois de oito anos, já havia quase 100 mil pessoas com trabalho, com carteira assinada. O Acre também saiu das páginas policiais e foi para as páginas de opinião, em alguns casos até de exemplo, tirando a educação do último lugar, pondo nos destaques.
Fui trabalhar na iniciativa privada depois, por três anos e meio. Foram-me dadas oportunidades importantes, até do ponto de vista material. Talvez, não sei se merecedor, pela capacidade de gestão, pela experiência de vida, pela visão que eu tenho de mundo. Eu procuro estudar sempre, aprender sempre... Deu até para ganhar dinheiro, organizar minha vida, da minha família...
E depois fui eleito Senador da República. Muito me honra estar aqui ainda, falando como Senador da República. Oito anos aqui no Senado, o único do meu Estado – oito anos –, eleito pelo Diap como um dos cabeças do Congresso.
Procurei honrar a Vice-Presidência, que ocupei por quatro anos, e honrar o povo do Acre, do Brasil, dando a minha contribuição, sendo o que menos gastava, do meu Estado, os recursos públicos aqui, o que mais apresentava projeto, o que mais estava presente no Plenário, o que mais estava presente nas Comissões...
Procurei cumprir, com toda a minha capacidade e dedicação, bem este mandato.
Mas, nesse período, o Brasil já vivia a intolerância, o ódio, a enganação, a manipulação. E eu não estou aqui justificando nada; eu estou tranquilo, sereno e em paz, porque respeito e vou respeitar sempre o resultado das urnas. Não estou aqui discutindo culpados, não estou aqui criticando a posição dos que votaram; ao contrário, minha preocupação aqui não é, de fato, nenhuma com os eleitos; a minha preocupação é e vai ser, principalmente agora, com os que votam, com os que estão votando – esses me preocupam. Meu espírito público vai seguir com mandato ou sem mandato. E, como meu mandato se encerra dia 31 de janeiro, vai seguir sem mandato. Não nasci com mandato, e a minha vida não vai seguir necessariamente com mandato, mas a luta por um Acre melhor para todos, vai seguir como questão de vida para mim. Foi sempre assim para trás, será sempre assim para frente. E a mesma coisa com o Brasil.
Mas hoje eu queria deixar bem claro que aqueles que manipularam, durante a campanha, tentando me tachar como um político que tinha processo, um político condenado, um político que dependia da imunidade parlamentar... Eu nunca dependi de imunidade nenhuma. Fui prefeito, governador, sou Senador e não tenho um único processo contra mim – nenhum! Quem agora atesta é o Supremo Tribunal Federal, neste dia 23 de outubro de 2018. Isso eu falo para prestar conta para a opinião pública do Acre e do Brasil que me conhece, para os servidores do Senado, para os colegas do Senado. Mas essa decisão final veio, quem sabe, tardiamente neste Brasil de eleição fake news.
E foi isso que nós fomos fazer hoje, tratando com a Ministra Rosa Weber, Presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Nós não fomos lá atrás de questionar resultado de eleição. Foi uma ação suprapartidária. O Senador Cristovam, ex-governador, ex-ministro, ex-Reitor da UnB, uma pessoa que tem atitudes aqui, em muitos casos, divergentes das minhas; o Senador Randolfe, reeleito Senador; o Senador Otto, que é Senador, que nem disputou a eleição; e eu. Fomos lá preocupados com o Brasil, preocupados com o uso deste recurso que nós conquistamos no mundo: a internet, a comunicação interativa.
Eu estudo essa área, eu trabalho nessa área. Eu sei que isso é uma grande conquista do mundo, a possibilidade de nos comunicarmos em tempo real, usando os recursos dessa revolução tecnológica, da conectividade, da interatividade. Mas a ação criminosa que nós temos visto, aconteceu nos Estados Unidos, na eleição. Até hoje está sob suspeição – a eleição do Donald Trump – de que houve interferência russa na eleição do Presidente Trump com Hillary Clinton. E, aqui no Brasil, eu não tenho nenhuma dúvida de que esta eleição não vai acabar nunca. Se a última eleição, em 2014, ficou sob suspeição levantada pelo candidato perdedor Aécio Neves e gerou um impeachment, gerou um processo no Supremo... Desculpem-me: gerou um processo no TSE, que depois levou a um julgamento da chapa Dilma-Temer... E essa eleição de domingo próximo? É a história que está sendo escrita. É a história.
Eu sempre aprendi, desde garoto, no Acre, um Estado pequeno, na fronteira com o Peru e com a Bolívia, que, para chegar à Presidência da República, a pessoa tem que ser direita; tem que ter uma história de vida exemplar. Pelo menos deveria ser assim na democracia. Duzentos e oito milhões de brasileiros, na hora de escolher uma pessoa, homem ou mulher, um cidadão brasileiro ou uma cidadã brasileira, para presidir o País, penso eu que deveríamos estar escolhendo o melhor. O melhor, com as melhores propostas, as melhores posições... É isso que nós estamos fazendo, neste momento, no Brasil? É isso que vamos fazer no domingo?
Eu tenho lido as frases...
(Soa a campainha.)
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... as posições... Posições medievais. Medievais. São teses do século XIX. Triste Brasil! Triste povo brasileiro!
Eu me preocupo com quem vai votar.
Eu não estou aqui fazendo da tribuna um palanque. Eu estou apenas dizendo que nós fomos lá, à Ministra, hoje, com um propósito: que se apure. Que a Polícia Federal, com isenção... Que o Centro de Combate à Guerra Cibernética do Exército, que eu visitei, como membro da Comissão de Ciência e Tecnologia – sei que faz um trabalho sério... Que se associem com as empresas – Facebook, WhatsApp e outras –, para apurar se houve interferência econômica e empresarial nas eleições. É simples de fazer, mas leva tempo. Por isso que eu falo que essas eleições do próximo domingo dificilmente vão ter fim. Elas vão deixar, talvez, tanta ferida na democracia e na vida nacional, que posso falar aqui – sem querer isso: pode ser que o pior ainda esteja por vir. Certamente o pior pode estar por vir.
Tomara que, o quanto antes, o Brasil volte a ser aquele País do qual a gente falava: bonito por natureza, com um povo fantástico, de todas as cores; um povo amigo, invejado pelo mundo. É isso que eu sonho para o Brasil. Mas nós não estamos mais assim.
O Brasil está doente, e acho que a nossa sociedade também está doente. A intolerância é que está vencendo; o ódio é que está vencendo; a brutalidade... As ideias antipedagógicas são as ideias que estão vencendo.
Algum tempo atrás, a discussão mais importante numa eleição era esperança, era proposta, era fé, era mudança – no bom sentido. Agora, parece que o que conta na eleição é quem vai ser destruído, quem vai ser derrotado, quem vai ser pisado, quem vai ser desmoralizado. E, no fundo, tempos assim só podem ser vividos se cada um de nós tiver um pouco de culpa. Por isso que eu sempre fui crítico ao meu Partido, ao Congresso, às instituições.
Nós vivemos uma crise, mas essa crise também está no seio da sociedade, está num certo inconformismo das pessoas, de querer ser o que não podem ser; de inveja, de enfrentamento.
Talvez a revolução tecnológica tenha tirado do anonimato pessoas de última, pessoas que são escória, pessoas que existem em toda a sociedade do mundo; pessoas que pregam o ódio; pessoas que não conseguem conviver em harmonia com ninguém, que são revoltadas com a vida. E, agora, no anonimato das redes sociais, elas destroem a honra de pessoas, elas passam a ser importantes e até seguidas. Esse é o Brasil que nós estamos vivendo hoje.
Então, eu queria aqui dizer que, na nossa ida lá, suprapartidariamente... Nós não falamos em nome de candidatos, mas nós falamos muito da vontade de ver um Brasil unido, um Brasil que possa ser uma referência para o mundo, por conta da sua beleza, por conta dos seus recursos naturais; por conta das suas riquezas naturais, por conta do seu povo, por conta dos Estados que o compõem, das regiões que o compõem. O Brasil tem que voltar a ser esperança para o mundo, e não preocupação para o mundo.
Nós estamos vivendo uma tragédia, uma insensatez. É como se estivéssemos vivendo o Coliseu romano, onde todo dia alguém tem que ser morto, alguém tem que ser destruído, para a alegria de alguns e tristeza de outros. Esses são os tempos terríveis...
(Soa a campainha.)
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... que eu espero que passem logo – que eu espero que passem logo.
Esta eleição não vai terminar nem com o dia 28, o dia da votação, nem com o dia da posse. Eu não estou aqui falando ameaça nenhuma. Eu estou aqui fazendo uma análise, com a minha vivência. Por quê? Porque os fatos criados durante esta campanha estão aí, para todo mundo ver.
Nós precisamos de um Presidente da República que pacifique o País. Nós precisamos de um Presidente da República que tenha coragem de dar passo atrás, para que se possa dar passo para frente; que dialogue com todos os setores; que não acirre mais ainda essa divisão nacional. Por isso que o Prof. Haddad, ministro sete anos, ex-Prefeito de São Paulo, um exemplo de uma família brasileira classe média: ele, sua esposa, que até me ajudou na época em que eu trabalhava no Governo do Acre; foi lá... Seus filhos, que estudaram em escola pública. É essa opção.
Eu respeito quem pensa diferente, mas será que as pessoas estão pensando? Quantos brasileiros foram iludidos com esse bombardeio de milhões de fake news? Eu fui vítima de fake news. Não estou pondo isso na conta do resultado da eleição – de jeito nenhum. Só estou dizendo que eu fui vítima no meu Estado, mesmo as pessoas me conhecendo. Mas, e as novas gerações, Senador Cidinho? Não conhecem a minha história. Elas conhecem as versões. Quantas pessoas acreditaram que eu estava condenado pelo Supremo? Agora estou inocentado! Adianta, depois da eleição? Ajuda, depois da eleição?
Então, um Brasil que se divide dessa maneira, que troca o lógico pelo ilógico, o racional pelo irracional, a verdade pela mentira, a paz pela agressão... Isso não vai dar certo. Não é esse o caminho. É lamentável. Poderia ser o dia da esperança, o próximo domingo; mas, para mim, será o dia da preocupação, que vai aumentar.
Eu, como brasileiro, quero ajudar a pacificar o País. E nós estamos oferecendo o nome do Prof. Haddad. Não é para fazer aquilo que nós fazíamos nos nossos governos; é para fazer melhor. Nós fizemos coisas boas, mas também cometemos erros. Mas há muita coisa boa que dá para a gente fazer, que não foi feita. E há muita coisa que foi errada, que a gente não precisa fazer de novo.
Mas, gente, é só pensar um pouco: como era a sua vida em 2003? Você, que está me assistindo ou me ouvindo, pela Rádio ou pela TV Senado: como é que era a sua vida em 2003? Eu não estou dizendo que o mundo começou, ou o Brasil, em 2003 não. Eu sou daqueles que falam: olha, o Presidente Fernando Henrique cumpriu lá a sua missão, deu a sua parcela de colaboração, independentemente de eu divergir do Governo. Mas eu era governador e sei que algumas coisas boas que eu fiz foram por conta da ajuda que ele, inclusive, me deu – o Governo do PSDB. Mas, de 2003 até 2014, como foi sua vida? Ela melhorou? Você mudou para melhor a sua vida?
E, agora, entra-se numa campanha de ódio, como que passando uma borracha na verdade, naquilo que se conquistou de 2003 até 2014.
Eu queria que cada um parasse assim, antes do dia da eleição, e refletisse: "O que é que aconteceu na minha vida e da minha família?"
(Soa a campainha.)
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Se a ampla maioria foi: "Foi uma desgraça, minha vida piorou, minha família também piorou, meus filhos não estudam, todo mundo... ", eu ficaria calado aqui.
Até 2014, era pleno emprego no Brasil. Até 2014, as pessoas estavam melhorando de vida. Depois o Brasil entrou num confronto de brasileiros contra brasileiros, de enfrentamento da própria democracia, e nós estamos colhendo os frutos dessa intolerância. E do pior jeito.
A diferença do remédio para o veneno é o tamanho da dose. E eu não tenho nenhuma dúvida, que fique constando aqui nos Anais do Senado – não é nenhuma ameaça: o Brasil quer curar a doença com veneno. A dose é cavalar. Uma pessoa que prega o ódio, que fala em matar 30 mil pessoas, que fala que tortura é uma coisa boa, civilizada, um princípio a ser homenageado, não pode presidir uma nação no século XXI. Não se trata de intolerância. São os fatos! É a prática, é o exemplo, é a pedagogia destes tempos sombrios, terríveis. E eu lamento que haja quase que como uma cegueira coletiva.
Eu vou seguir calmo e tranquilo, em paz. E, quando encontrar alguém que possa cair na real, entender e ler melhor o que aconteceu, eu vou estar pronto para abraçar. E, nesse momento, quando encontrar alguém que pensa diferente de mim, eu vou respeitar, mesmo divergindo completamente da posição que assume. É assim que eu acho que nós vamos vencer estes tempos, tentando entender que nós somos anjos de uma asa só, cidadãos, anjos de uma asa só, que, para voar, temos que estar abraçados com o outro, mesmo que ele divirja da gente.
Então, que Deus possa abençoar o Brasil, para tomar a melhor decisão no domingo.
Mas eu lamento dizer que, se essa decisão boa não for tomada, tempos terríveis virão pela frente.
(Soa a campainha.)
O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Obrigado, Sr. Presidente.