Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa do ex-Presidente Lula e críticas ao suposto discurso de ódio e de incitação à violência do candidato à Presidência da República, Sr. Jair Bolsonaro .

Autor
Gleisi Hoffmann (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Gleisi Helena Hoffmann
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Defesa do ex-Presidente Lula e críticas ao suposto discurso de ódio e de incitação à violência do candidato à Presidência da República, Sr. Jair Bolsonaro .
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2018 - Página 36
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • DEFESA, RECONHECIMENTO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, CRITICA, DISCURSO, INCENTIVO, VIOLENCIA, AUTORIA, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ELEIÇÃO, JAIR BOLSONARO, RELAÇÃO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, quem nos ouve pela Rádio Senado, quem nos assiste pela TV Senado e também pelas mídias sociais, subo a esta tribuna hoje para fazer um desagravo aqui ao nosso Presidente Lula, que faz aniversário – 73 anos – agora, no próximo domingo.

    Lula está preso em Curitiba há sete meses. E, de novo, quero repetir aqui: preso num processo sem provas, portanto, injusto. Mas quero aproveitar a data de aniversário do Presidente para parabenizá-lo e fazer um desagravo – um desagravo pelas palavras grosseiras e violentas do candidato a Presidente da República, Jair Bolsonaro, palavras que proferiu no domingo, de forma agressiva, dizendo que o Presidente Lula iria apodrecer na cadeia.

    Não sei quem pensa que é Jair Bolsonaro. Ele não é a Justiça, não é juiz, não é julgador parar fazer uma assertiva como essa.

    Eu ainda quero acreditar que os nossos tribunais, apesar de reações muito moderadas quando atacados, às vezes até meio acuados, possam defender a Constituição, o devido processo legal e permitir a todos um julgamento digno, decente e justo, que é o que nós queremos para o Presidente Lula.

    Portanto, faço aqui um desagravo a ele e um desagravo também pelos ataques que ele vem recebendo nessa campanha presidencial – ataques de ódio, de incitação ao ódio contra Lula e seu partido, o PT.

    Eu fico me perguntando: por que tanto ódio na política? Por que tanto ódio contra uma pessoa, contra um partido, contra uma instituição? Seria importante nós fazermos uma reflexão sobre o que é esse partido, mas, principalmente, sobre o que esse Presidente significou para o Brasil.

    Não vai aqui nenhuma ode ao personalismo, mas apenas o reconhecimento a um homem simples que chegou à Presidência e que, no meu entender, foi o melhor Presidente da República que o País já teve para a maioria do povo brasileiro, para o povo pobre brasileiro.

    Foi o Presidente que gerou mais de 20 milhões de empregos quando dirigiu este País. Foi o Presidente que valorizou a renda do povo brasileiro. O salário mínimo teve aumento real durante 11 anos consecutivos acima da inflação. Isso não é pouca coisa para um país em que 50% da população tem renda média familiar de até dois salários mínimos.

    Dois salários mínimos, para nós que somos Senadores é muito pouco. Talvez, a gente gaste isso a cada dez dias no supermercado, ou menos. Há Senadores que gastam isso num jantar. Contudo, dois salários mínimos, para 50% da população brasileira, é a renda mensal familiar, Senador Requião; é a renda que as pessoas têm para comer, para pagar as suas contas.

    Então, quando o salário mínimo era muito achatado, as pessoas sofriam muito. Com a sua política, o Presidente Lula fez com que a renda do povo brasileiro pudesse ser melhorada e as pessoas pudessem ter uma vida mais digna.

    Ele foi o Presidente do Bolsa Família, exatamente do Bolsa Família, um programa compensatório, sim, mas necessário num país de dimensões continentais, com 200 milhões de habitantes e que tinha quase 40 milhões de pessoas que passavam fome, Senador Cidinho, que passavam fome, que comiam duas vezes por dia; às vezes, comiam uma; às vezes, passavam um dia sem comer. Não deve haver coisa mais triste na vida do que a fome. Eu nunca passei, Senador Cidinho, mas deve ser muito triste, e, como o Presidente Lula passou, ele criou um programa para proteger essas famílias. Hoje é com espanto que eu vejo o candidato que gosta de falar impropérios dizer que vai dar décimo terceiro ao Bolsa Família, logo o programa que ele disse que era dispensável, que era o programa que impedia que o Nordeste tivesse empregadas domésticas. Só alguém com muito preconceito na cabeça, alguém que não viveu a pobreza, que não sabe o que é a dor de você ter filho para sustentar e não ter dinheiro dizer uma coisa dessa. Mas ele disse.

    Foi o Presidente Lula que proporcionou ao Brasil crédito mais barato, que proporcionou às pessoas poderem comprar, fazer uma prestação, ir a uma loja trocar o eletrodoméstico – o fogão, a geladeira, a televisão –, mas também fazer uma prestação para comprar um carro, fazer a prestação para comprar uma casa. Muita gente não tinha condições, o acesso a ter crédito. Foi ele. Talvez por isso ele deva pedir desculpas.

    Deve pedir desculpas também porque foi ele quem proporcionou a construção de mais de 1 milhão de cisternas no Nordeste brasileiro, o Nordeste sempre prejudicado pela seca extrema. Aliás, na última seca que nós tivemos, não tivemos a migração de nordestinos para o Sudeste. Sabe por quê? Porque nós tínhamos as cisternas, porque foram perfurados poços, e porque a transposição do São Francisco começou a funcionar. Foi Lula que fez isso. Talvez por isso o senhor tenha que pedir desculpas, sim, Presidente Lula.

    Foi o senhor também que proporcionou que a agricultura familiar tivesse renda, não só pelo Pronaf, que é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, que antes não tinha, mas pelo Compra Direta, que proporcionou que os agricultores familiares pudessem vender os alimentos produzidos para órgãos públicos, principalmente, também, através da merenda escolar, o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Isso ajudou os nossos agricultores.

    Foi também o Presidente Lula – e por isso ele deve pedir desculpas – que proporcionou que quase todo o País tivesse energia elétrica para as pessoas, proporcionando ao pequeno agricultor ter o freezer, proporcionando ao pequeno agricultor ter um motor potente para ajudar na sua produção, porque antes não tinha. Também não tinha importância, porque os governantes que estavam lá não sabiam o que era morar no interiorzão.

    O Senador Requião, que está aqui, foi Governador do Paraná e fez um programa exatamente assim antes. Aliás, o Presidente Lula se baseou nesse programa, que foi a interiorização da energia elétrica no Estado do Paraná, que V. Exa. fez através da Copel, uma empresa pública. Hoje a Copel está entregue para os investidores externos, infelizmente, assim como querem fazer com a Eletrobras.

    Foi também na época do Presidente Lula que nós discutimos as melhorias para a educação. Foi apresentada a proposta do piso nacional dos professores, a proposta de creches, da universalização da pré-escola. Mas houve o Prouni, em que o filho do trabalhador pôde ir para uma universidade privada. Antes, não havia. Conheço muitas pessoas e, aliás, nesta campanha, muitas vieram me dizer: "Olha, sou cotista do Prouni, me formei em direito"; "Sou cotista do Prouni, me formei em medicina". Houve o Fies, que é o financiamento estudantil, as escolas técnicas, tudo isso...

    Talvez por isso, Presidente Lula, o senhor tenha que pedir desculpas.

    Eu não entendo como um Presidente que colocou o Brasil no mapa mundial de forma altiva e ativa, um Presidente que articulou os Brics, que articulou um banco dos Brics, que teve tantas interferências positivas no cenário internacional, seja tão criticado. Um Presidente que proporcionou tantos investimentos internos, usinas hidrelétricas, investimentos na Petrobras, investimentos que melhoraram a vida das pessoas nas estradas, esteja sendo tão criticado e tão odiado. Acho que é por isso que o senhor tem que pedir desculpas.

    Mas quero lhe dizer, Presidente Lula, que nós temos o maior orgulho de tê-lo como nosso companheiro, como nosso líder político, como filiado ao nosso partido, como Presidente de honra do PT. O senhor orgulha a maioria do povo brasileiro, que é o povo que o senhor beneficiou. Pode ter certeza.

    Fizeram uma campanha sórdida, suja, nesse processo eleitoral, e agora nós descobrimos como: através dos subterrâneos da internet, através do WhatsApp, com notícias falsas. E por que é tão fácil mandar notícias falsas pelo WhatsApp? Porque é difícil fiscalizar o WhatsApp. Sabe por quê, Senador Cidinho, que preside esta sessão? Porque o WhatsApp é um instrumento de comunicação interpessoal. Então, ele tem uma forte proteção de privacidade, para que a minha comunicação com o senhor ou com outra pessoa não seja invadida. Mas o que aconteceu? Esta comunicação está sendo utilizada para fazer difusão em massa, através da criação de grupos de WhatsApp, e grupos que se multiplicam. Então, dessa maneira é possível difundir mentiras e distorções para milhões de usuários, sem que a comunicação possa ser notada por terceiros, por fiscalização de quem quer que seja. Portanto, sem que haja o contraditório.

    Então, a mensagem que chega para o senhor, centenas de vezes a mesma, repetida, e não tem ninguém para rebater, torna-se verdadeira e as pessoas acabam acreditando. E ela forma opinião. E quando forma opinião, num processo eleitoral, forma decisão de voto. Aí o voto é distorcido, é fraudado. Por quê? Porque ele é manipulado. Utiliza-se um instrumento que não podia ser utilizado, com cadastros de pessoas que não estavam autorizados a serem utilizados, e pior de tudo com caixa dois. Foi isso que fizeram.

    Então, você discordar, na política, de uma pessoa, de um partido, não gostar está tudo correto, é da democracia; mas você odiar, pregar o extermínio, fazer da pessoa ou do partido um inimigo a ser combatido, só pode acontecer através de um mecanismo como esse.

    Eu já acusei, desta tribuna, a campanha do candidato Jair Bolsonaro. Aliás, não só acusei daqui – para ficar registrado nos anais da Casa –, como também nós apresentamos uma ação judicial de investigação eleitoral que eu espero que seja rapidamente processada e julgada, para que a gente não incorra em problemas...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... no processo eleitoral e na eleição de domingo.

    Eu ouvi a Presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ela nos falou também, quando estivemos lá, que a justiça tem seus prazos e seus tempos. Mas a Justiça Eleitoral deveria observar os prazos da política, os tempos da política.

    Eu não queria nada mais nada menos do que os tempos e os prazos que foram utilizados pelo Judiciário brasileiro para julgar o Presidente Lula, que foram muito rápidos! Aliás, o prazo e o tempo que foi utilizado para cassar o registro do Presidente Lula, quando nós o registramos como candidato a Presidente. Era isso que eu queria, porque aí a gente teria condições de evitar um mal maior; teria condições de saber o que está acontecendo e como a opinião pública está sendo manipulada.

    Este candidato que manipula a opinião pública, através de notícias falsas e através da internet, mais especificamente de WhatsApp, é o mesmo que brada e que vocifera que vai matar, prender, fazer e acontecer. Aliás, alguém na condição dele, um candidato a presidente, na antevéspera da eleição, com um bom desempenho na pesquisa eleitoral, teria que fazer um discurso pacificando o País, chamando o País ao acordo, para poder governar de forma a levar o País ao desenvolvimento. Ele faz ao contrário: diz que vai prender se as pessoas não saírem.

    Falou isso, falou isso do Fernando Haddad, que, se o Fernando Haddad não sair do País, vai prender; falou isso do Senador Lindbergh que, se não sair, vai prender; e depois ainda falou, em alto em bom tom – aqui o Senador Jorge Viana tratou disso, a Senadora Vanessa também –, que tinha que exterminar os vermelhos.

    Quero dizer que nós entramos com uma notificação judicial ao candidato Jair Bolsonaro dizendo que, se alguma coisa acontecer a Fernando Haddad ou a Lindbergh Farias, a responsabilidade é dele, única e exclusivamente dele, objetivamente dele e subjetivamente dele em relação a todos os crimes políticos que acontecerem neste País: a todo militante nosso ou de outra organização que sofrer violência ou que for morto.

    É sua? Sim, Jair Bolsonaro, porque você é um valentão, um poltrão, fica falando um monte de imbecilidade, não lidera absolutamente nada, mas libera as pessoas a fazer e a ter ações odientas, ações violentas.

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Então, um ser como você tem que ser limitado. Por isso que nós queremos que as investigações sejam rápidas. O tempo dos tribunais tem que ser o tempo da política e por isso que quero aqui deixar registrado que nós entramos com essas ações e queremos que o Judiciário brasileiro, diante da sua responsabilidade, possa realmente julgar, porque a reação moderada que nós estamos vendo dos tribunais, inclusive nas suas ofensas, nas próprias ofensas que sofrem, é algo que é estarrecedor.

    Quero lembrar que nos anos 30, um cabo do exército alemão, Adolf Hitler, fez uma campanha muito semelhante à que faz Jair Bolsonaro, dizendo que ia resolver tudo com uma linguagem violenta, que ia colocar ordem na Alemanha, e nós sabemos a ordem que ele colocou, exterminando milhões de judeus, exterminando homossexuais, ciganos, democratas, obrigando ao trabalho escravo e uma guerra que matou milhões de pessoas.

    E não podemos esquecer nunca que foi exatamente a moderação ou a passividade das instituições, inclusive dos tribunais alemães, que pavimentou o caminho do nazismo.

    Então, que isso fique registrado, porque nós estamos às portas de ter uma situação parecida com essa. Não vamos ter, porque nós estamos reagindo e vamos ganhar esta eleição. Nós vamos para a rua. Nós construímos a democracia a duras penas neste País e vamos lutar por essa democracia e lutar pelos direitos do povo brasileiro. Nós temos essa responsabilidade.

    Portanto, no dia 28, nós vamos estar nas urnas, sim,...

(Soa a campainha.)

    A SRª GLEISI HOFFMANN (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – ... lutando.

    E falo aqui, não porque nós tenhamos medo de Jair Bolsonaro. Não temos medo. Aliás, dizem que cão que late demais não morde; então, nós não temos medo. Nós já enfrentamos muita coisa nas nossas vidas e vamos enfrentar mais eles. Mas é importante este País saber com quem está lidando. É importante este País saber as características deste candidato e o que ele pode significar para a democracia brasileira, independentemente do resultado da eleição.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2018 - Página 36