Discurso durante a 123ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta contra o avanço da extrema direita no Brasil.

Autor
Roberto Requião (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SISTEMA POLITICO:
  • Alerta contra o avanço da extrema direita no Brasil.
Aparteantes
Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, Lídice da Mata, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 24/10/2018 - Página 42
Assunto
Outros > SISTEMA POLITICO
Indexação
  • COMENTARIO, CRESCIMENTO, POLITICA, VINCULAÇÃO, NAZISMO, FASCISMO, NACIONALISMO, LIBERALISMO, REFERENCIA, ELEIÇÕES, AVISO, DILMA ROUSSEFF, PERIODO, GESTÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, RESULTADO, CANDIDATURA, JAIR BOLSONARO, DISPUTA, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APREENSÃO, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA PUBLICA, CRITICA, ARGUIÇÃO, POSSIBILIDADE, IMPLANTAÇÃO, COMUNISMO.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso.) – A minha intenção hoje é abordar questões que fazem parte do cotidiano brasileiro nessa véspera de eleição: nazismo, fascismo, nacionalismo e desenvolvimentismo. Talvez todas as palavras tenham sido ditas, às vezes em tom furioso, outras, em inflexões moderadas, e nem por isso menos contundentes, mas, ainda assim, é preciso falar. Nessas horas, calar-se equivale à coautoria do crime, como atenuá-lo corresponde a praticá-lo.

    Em fevereiro de 2011, no primeiro discurso que fiz desta tribuna, no exercício do mandato que agora se encerra, apontava uma contradição original, liminar, entre o neoliberalismo e a democracia. Considerava que o avanço das reformas neoliberais, a financeirização da economia, com a transformação até mesmo de nossas vidas em commodities negociáveis nas bolsas, levariam inevitavelmente à precarização das instituições democráticas e ao despertar do autoritarismo. Afinal, para que o reino do mercado se estabelecesse em toda a sua plenitude, as instituições democráticas deveriam necessariamente ser enfraquecidas. Como o mercado representasse os interesses minoritários da sociedade, para se impor à maioria, precisava subjugar o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e os mecanismos de controle da economia, assim, como era necessário precarizar o mercado de mão de obra com reformas trabalhistas e previdenciárias, além, é claro, do enfraquecimento do movimento sindical e da criminalização dos movimentos sociais.

    E, para que tudo isso se transformasse em realidade, seria essencial o concurso da mídia, o controle da opinião pública, especialmente para que todas as desgraças consequentes do domínio do mercado sobre a vida pública e econômica fossem atribuídas aos políticos, à corrupção dos políticos, às políticas compensatórias, aos ideais libertários e sociais da esquerda brasileira.

    Naquele discurso, quase oito anos atrás, dizia mais: dizia que todo avanço obtido em oito anos do Governo Lula seria pulverizado caso a política econômica da Presidente recém-empossada, Dilma Rousseff, não se opusesse fortemente à ortodoxia e aos fetiches neoliberais. Seguindo nessa toada, alertava que caminhávamos, sem qualquer dúvida que fosse, para a completa prevalência dos interesses do mercado, da globalização financeira sobre os interesses nacionais, democráticos e populares.

    Naquele discurso, para arrematar essas inquietações e cutucar os sentimentos desta Casa, especialmente, para tentar despertar os pares da então triunfante e enganosamente poderosa maioria, dizia que aquele era o ambiente ideal para o aquecimento do "ovo da serpente", o ovo do autoritarismo, espelhando-me no clássico de Ingmar Bergman, síntese genial do nascimento de todas as hidras nazifascistas.

    O que falei há oito anos não era uma profecia. Não tenho esse dom. Apenas observava os acontecimentos à luz da história. Mas, seja como for, temos aí a candidatura de Jair Bolsonaro. Na verdade, não é bem uma candidatura; é um movimento, uma procissão de brasileiros desiludidos com a política, revoltados com a corrupção, apavorados com a perda de status, temerosos da pobreza, indignados com a violência, desesperados com a falta de perspectivas, vítimas do desemprego, do subemprego, dos salários baixos, do achatamento do poder aquisitivo, além, é claro, de arrebanhar com todo o séquito, todo tipo de séquito, bandidos, proxenetas, rufiões, atores pornôs que marcham ombro a ombro com os defensores dos bons costumes e da família, um cortejo, um séquito habilmente explorado nos últimos anos pelos meios de comunicação – as Organizações Globo à frente –, estimulado pela conivência dos nossos liberais, social-democratas e pelo ciúme doentio do príncipe dos sociólogos e manipulados por um Judiciário e um Ministério Público parcialíssimos, vesgos por seu parti pris político e ideológico. Todas as frustrações reunidas, galvanizadas por uma ideia difusa de revanche, de troco, de vingança.

    Mas eis a suprema ironia: essa marcha dos insatisfeitos acabou sendo capturada pelos próprios causadores da crise. Assim, vemos uma inusitada tríplice aliança reunindo expoentes do autoritarismo, alguns deles muito próximos do que poderíamos classificar como fascismo, os ultraliberais do mercado, desde oportunistas, tipo Paulo Guedes, até economistas do PSDB, e o povaréu revoltado, de cujo descontentamento fazem-se as massas do capitão.

    Para mim, isto é inédito: a aliança entre expressivos contingentes da classe média, trabalhadores e lideranças relevantes das Forças Armadas com o liberalismo mercantilista.

    Qual é o elo de um general heleno com o guru econômico do capitão, que pretende privatizar e entregar tudo, desmantelando o Estado Nacional pedra por pedra?

    Que Estado sobrará, senhores militares, para sustentar os objetivos nacionais permanentes previstos na Constituição? Ou isto já não importa mais?

    Que ponto de contato pode existir entre os que clamam por emprego, salário, segurança, saúde, educação, dignidade e respeito e um programa econômico que não reserva espaço para estas demandas e que, pelo contrário, prega arrocho fiscal, contenção radical de gastos e suspensão dos investimentos públicos? Nunca vi, Senador Cidinho, nada igual!

    Vejam, se Trump – um direitista para ninguém botar defeito – expressou de um lado algo semelhante nas eleições presidenciais norte-americanas ao reunir as massas descontentes antissistema, de outro lado, apresentou um programa com forte marca nacionalista, em alguns aspectos antimercado e antiglobalização financeira. Mesmo a adesão ao Brexit vem de parcelas da população também antimercado, antissistema e que se opunham ao arrocho fiscal imposto pelo Banco Central europeu.

    É aí que fico definitivamente pasmo! O mesmo desgosto, a mesma revolta, o mesmo desencanto, as mesmas manifestações antissistema são, aqui no Brasil, abduzidas pelo ultraliberalismo. Isto não vai dar certo! Não dá liga, vai dar chabu!

    O SR. PRESIDENTE (Cidinho Santos. Bloco Moderador/PR - MT) – Senador Requião, só um aparte.

    Quero registrar a presença, antes que o pessoal saia, dos estagiários de todos os Estados do Brasil que estão presentes, em um programa de estágio, em visita à Câmara e ao Senado Federal.

    Sejam todos bem-vindos aqui, jovens das mais...

(Manifestação da galeria.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Vamos lá, Presidente Cidinho.

    O SR. PRESIDENTE (Cidinho Santos. Bloco Moderador/PR - MT) – Que estão tendo o privilégio de assistir o seu discurso.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Como essas massas de descontentes que se enfileiram ao tropel autoritário vão reagir quando as privatizações repetirem o desastre fernandista que levou de roldão a Vale, as teles, as ferrovias, sem um tostão de lucro para os brasileiros, sem abater centavo da dívida, sem gerar empregos, sem aquecer a economia, sem estimular a produção? Pior, obrigando o País, logo em seguida, a esmolar recursos do Fundo Monetário Internacional.

    Se disso poucos se lembram, mirem, então, a vizinha Argentina para saber como é. Como essas massas vão reagir à privatização da Petrobras, do sistema energético, dos recursos hídricos, do Banco do Brasil, da Caixa, do BNDES, da Embrapa, dos portos e aeroportos...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – ... das riquezas do subsolo? Quando a venda de todos os bens da viúva não resultar em nada para a geração de empregos, para o avanço da qualidade de vida, para a diminuição dos juros, para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, para a saúde, para a educação, para a redução da violência e para a retomada da industrialização? Como reagirão os brasileiros com essa esterilização dos mais de R$500 bilhões, que, segundo calcula o Sr. Paulo Guedes, advirão da liquidação em regra total do patrimônio público nacional? Será que, ainda antes das eleições, haverá tempo para despertar esses brasileiros que engrossam as hordas bolsonaristas da arapuca que eles armaram, os neoliberais? Da treta que engatilham o mercado, os bancos e os capitais transnacionais e os interesses geopolíticos norte-americanos?

    Quando as classes médias desse País, que formam grande parte das hostes de Bolsonaro, vão perceber que são apenas bucha de canhão, a massa de manobra do mercado, dos homens mais ricos do Brasil e do capital financeiro nacional e internacional?

    Diante disso, ainda mais uma vez, manifesto a minha estupefação. Há muita gente construindo paralelos entre os bolsonaristas e os movimentos fascistas europeus das décadas de 20, 30 e 40. Nada a ver, Senadora Gleisi. O nazismo, o fascismo, o franquismo, o salazarismo, os quislings, da Noruega, são fortemente nacionalistas, anti-imperialistas e defendem com toda radicalidade o Estado nacional, as empresas nacionais, o capital nacional, os trabalhadores nacionais, o mercado nacional.

    Se abstrairmos os aspectos autoritários, que podem aproximar o candidato do PSL dos movimentos que citei, pouco resta que os identifique ou avizinhe-os. Assim, querer associar as propostas de Horace Greeley Hjalmar Schacht com as de Paulo Guedes, por exemplo, além da impropriedade de se comparar o economista do milagre alemão com o especulador, medíocre e limitado, é não conhecer economia e muito menos história.

    Por diversas vezes, nesses quase oito anos, externei preocupações com as manifestações políticas tardias, extemporâneas em nossa sociedade. Aquelas irrupções retardadas, fora de propósito ou sentido, que, como um eco distorcido, dissonante da história, ribombam em espaço e tempo desajustados.

    Eis que a candidatura de Bolsonaro também reproduz essa atemporalidade ao trazer à cena política nacional o espectro do comunismo, a ponto de o candidato ameaçar os vermelhos com a prisão ou a expulsão do País.

    Deus meu, Senadores e Senadoras! Existe coisa mais destrambelhada, mais delirante do que ressuscitar aqui no Brasil o fantasma do comunismo, quase 30 anos depois do fim da Guerra Fria? Que loucura é essa que estamos vivendo?

    Fico impressionado e pergunto: por que a direita brasileira decidiu tirar do fundo do baú a ameaça vermelha? O que está por trás disso? A procura do inimigo para excitar o imaginário popular e religioso e desviar a atenção do povo dos verdadeiros adversários dele – povo – e do País?

    Essa mobilização de milhões de brasileiros, especialmente entre católicos e evangélicos, contra um perigo vermelho inexistente é uma das mais canalhas, safadas, sórdidas manobras de nossas elites para impor sua agenda neoliberal anti-Brasil, antitrabalhadores e antidemocrática.

    A coisa chega a um ponto de fanatismo e estultícia que, semana passada, Senador Humberto Costa, um grupo de manifestantes católicos, aqui em Brasília, insurgiu-se contra a iluminação cor-de-rosa da Catedral neste outubro cor-de-rosa de combate ao câncer de mama, dizendo que aquela rosa era na verdade "vermelho comunista" e passou a exigir da Arquidiocese que o apagasse. Não têm limite a burrice e estultice.

    Mas essas besteiras, essas asnices são secundárias, folclore de um tempo tenebroso, escuro e inculto. Porque o que interessa é a soberania do País, a defesa patriótica de nossas riquezas, o relançamento da economia, a reindustrialização, os direitos dos trabalhadores, o Estado do bem-estar social, o emprego, os salários, os investimentos em saúde, educação, infraestrutura e segurança. O resto é manobra diversionista. Quem viver verá.

    Ah, sim, antes que termine, Senador Cidinho: será que o Judiciário e o Ministério Público não entenderam até agora que fazem parte de um sistema em crise, que eles não pairam no éter, apartados de tudo, divinamente apartados, divinamente entronizados nas nuvens, não perceberam isso ainda? Quando S. Exas. descerão à terra dos homens para ver o que acontece aqui entre nós – nós, os mortais?

    Para concluir, quero fazer uma autocrítica. Tempos atrás, fiz um discurso me suportando na história e no folclore alemão. Eu dizia, repetindo os alemães: "Havia juízes em Berlim". Peço as escusas dos Srs. Senadores, dos ouvintes da Rádio e da TV Senado. Retiro o que disse: no Brasil hoje não existe mais isso.

    Obrigado, Senador, pelo tempo.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – V. Exa. me concede um aparte?

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senadora Gleisi.

    A Srª Gleisi Hoffmann (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PR) – Muito rápido, Senador Roberto Requião. Eu só queria parabenizar V. Exa. pelo brilhante discurso que fez, por tudo que nos trouxe aqui da história e das reflexões.

    Na realidade, a gente sai daqui convictos de que o que nós temos no País é um projeto de Hitler piorado e a certeza de que o neoliberalismo, o liberalismo econômico não combina com a democracia. Por isso, as elites deste País não estão nem aí com os direitos democráticos, com os direitos do povo; o que querem é resguardar os seus ganhos, os seus direitos, e vão se utilizar de qualquer ação e de qualquer forma para conquistarem o que querem. É lamentável a gente assistir isto: que esse projeto de Hitler piorado é exatamente fruto da ganância da elite que quer o neoliberalismo no Brasil.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senador Humberto.

    O Sr. Humberto Costa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Eu queria só parabenizar V. Exa., dizer da lucidez das palavras de V. Exa. e dizer, inclusive em comparação com outros líderes internacionais que representaram medidas ou governos autoritários, que esse Jair Bolsonaro, se for eleito – e eu não acredito que vá ser; acredito que o Brasil vai ter algum momento, daqui para domingo, em que vai ter um estalo e compreender o que pode estar fazendo, tenho certeza de que isso vai acontecer –, mas se ele fosse...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Humberto Costa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... seria um exemplo de um governante, diferentemente de alguns que já foram colocados como déspotas esclarecidos, esse é uma figura tosca, um analfabeto funcional...

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Um déspota obscurecido.

    O Sr. Humberto Costa (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Talvez, seria uma classificação melhor.

    Eu resisto a acreditar que o povo brasileiro vai cometer uma insanidade como essa.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senadora Vanessa Grazziotin com a palavra.

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Muito obrigada, Senador Requião.

    Da mesma que meus colegas, eu solicitei o aparte para cumprimentá-lo. E cumprimentá-lo não só por este pronunciamento, mas pela forma, Senador Requião, como V. Exa. tem se portado aqui no Senado Federal e em toda a sua vida política.

    Acho que V. Exa., melhor do que qualquer um de nós, sabe da gravidade do momento em que nós vivemos, quando V. Exa. diz que procura ainda explicações para a o fato de que o comunismo voltou a assombrar as pessoas.

    Senador Requião, eu sou daquelas pessoas que foram criadas ainda em um governo de exceção, em que as liberdades não existiam, imaginando ou achando que comunista comia criancinha. Pois nós estamos voltando a isso, estamos voltando a isso, ao ponto em que esse candidato disse o seguinte: "Ou rezam na nossa cartilha ou se preparem para apodrecer na cadeia ou então para sair do País".

    É lamentável, Senador Requião. Mas eu creio que são pessoas como V. Exa. que persistem, que insistem em trazer a verdade, por mais que elas possam, muitas vezes, não ser assim tão populares. Mas é por isto, Senador Requião, que eu acredito que a gente ainda possa viver dias de reação: porque ou a gente promove uma reação no País ou então eu não sei exatamente para onde estão nos levando, para onde vão levar o nosso País e a nossa jovem democracia.

    Então, cumprimento V. Exa. pela coragem, pela tenacidade e pela lucidez com que levanta e coloca sempre os problemas do País, que são os problemas do povo.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senadora Vanessa...

    A Srª Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Pois não.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – ... depois da Glasnost, que é o degelo, e da Perestroika, quando o comunismo desaparece na União Soviética, todos aqueles elementos psicológicos implantados durante a Guerra Fria ainda permaneceram. Não existe mais comunismo à moda soviética, stalinista, antiga; não existe de forma alguma, mas existe ainda na matriz de opinião pública. E nós estamos vivendo uma guerra híbrida de interesse geopolítico dos países avançados, do capital financeiro e de pessoas muito ricas, para tomarem o poder na América Latina e no Brasil contra os interesses nacionais, os interesses nacionais permanentes previstos na Constituição, desenvolvimento, soberania. O processo civilizatório fraterno que estamos vivendo está sendo ameaçado. E o Bolsonaro, perdoem–me franqueza, é um avatar, é uma figura criada pela mídia com um raciocínio completamente desencontrado, que não diz rigorosamente coisa com coisa e que está sendo um instrumento desse processo.

    Mas eu fico aqui me perguntando: por exemplo, o Gen. Heleno é um dos seus preceptores; o Gen. Heleno foi o general que se revoltou com a Raposa Serra do Sol, porque ele achava que era um artifício colocado para futuramente separar aquela área indígena do Brasil para exploração de interesses financeiros geopolíticos de outros países; o Gen. Heleno, mentor, diz ele, do Bolsonaro, pode dialogar com as maluquices do Paulo Guedes? Nós estamos vivendo uma contradição incrível, e eu, primeiro, acredito, como o Senador Humberto Costa, que o Brasil pode acordar nesses últimos dias, mas não acredito que o Brasil se submeta à escravização por interesses geopolíticos e econômicos de todo um processo nacional de criação, de criação civilizatória, de organização social, com mil erros que têm que ser corrigidos, mas nunca nos submetermos à condição de país de segunda categoria.

    Senadora Lídice da Mata, com prazer.

    A Srª Lídice da Mata (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – V. Exa., como sempre, dá um tom e dá o tom...

(Soa a campainha.)

    A Srª Lídice da Mata (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - BA) – ... do momento em que nós vivemos no País. Eu pude assistir ao seu pronunciamento do gabinete, porque a Bancada da Bahia – o Senador Roberto está chegando aqui também – está reunida para tratar do regime automotivo do Nordeste, uma medida provisória que há na Casa. Mas eu pude ver a lucidez com que V. Exa. abordou este momento tão delicado por que nós estamos passando.

    Sem dúvida nenhuma nós temos que denunciar tudo que está vindo no sentido de ameaçar a democracia e os pilares da soberania nacional. E V. Exa. continua sendo uma pessoa imprescindível nessa nossa luta em defesa da soberania nacional.

    Eu não tenho dúvida de que, mesmo fora do Senado Federal ou no Senado Federal até o último dia, estará alertando para todos os riscos que o Brasil corre neste momento. E, fora do Senado Federal, terá que continuar nos liderando na luta pela soberania do nosso País.

    Então, eu acredito, como V. Exa. falou, que haverá, sim, vozes no Brasil capazes de impedir o desejo de todos aqueles que querem vender os interesses do Brasil, que querem nos transformar – um país com a importância que tem – num apêndice da economia dos Estados Unidos ou de outras nações que tenham a mesma tendência de dominação. Portanto, eu quero parabenizar, mais uma vez, V. Exa., que tem sido, em todo o seu mandato aqui no Senado Federal, em todos os momentos, uma grande referência dos interesses nacionais e dos interesses da democracia brasileira.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senadora, o Brasil não começou dia 7 e não acaba dia 28. É uma luta continuada pela prevalência dos interesses nacionais, pela nossa soberania, pela consecução dos objetivos nacionais permanentes; um país desenvolvido, fraterno e não um produtor de commodities com um povo semiescravizado, como estão pretendendo fazer de nós agora.

    Eu diria, para complementar, que a política econômica proposta pelos economistas do Bolsonaro é exatamente a política econômica do Temer, do Meirelles, da Ponte para o Futuro, que nos deixou neste caos em que estamos vivendo.

    Obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/10/2018 - Página 42