Discurso durante a 124ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à cidade de Manaus pelo seu 349º aniversário de fundação.

Manifestação de apoio ao candidato Fernando Haddad.

Autor
Vanessa Grazziotin (PCdoB - Partido Comunista do Brasil/AM)
Nome completo: Vanessa Grazziotin
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem à cidade de Manaus pelo seu 349º aniversário de fundação.
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Manifestação de apoio ao candidato Fernando Haddad.
Publicação
Publicação no DSF de 25/10/2018 - Página 15
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MANAUS (AM).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO, AUTORIA, PESQUISADOR, POLITICA, RELAÇÃO, ESCOLHA, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, COMENTARIO, SITUAÇÃO, DEMOCRACIA, BRASIL, CRITICA, CONDUTA, JAIR BOLSONARO.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM. Pronuncia o seguinte discurso.) – Muito obrigada, Sra. Senadora, Srs. Senadores, companheiros e companheiras.

    Senadora, antes de iniciar o meu pronunciamento sobre este importante momento por que passa o País, eu quero entrar aqui e fazer um pronunciamento, que, aliás, eu deixei aí em cima da mesa, sobre os 349 anos que a minha querida cidade de Manaus completa no dia de hoje.

    Quando V. Exa. falava a respeito desse projeto de levar o Sul ao Norte do País – o Sul vai ao Norte –, eu aqui me recordo, Senadora Ana Amélia, de que meu pai, que era gerente de um banco público, perfeitamente estabelecido, trocou Santa Catarina, o Sul do País, para ir à Amazônia brasileira e trabalhar na direção de tantas empresas que lá se instalaram. Portanto, eu fui ao Amazonas e me mudei juntamente com minha família ainda muito menina. Aprendemos muito com a cidade, mas principalmente com meu pai, a reconhecer, a respeitar aquela gente do Norte do País, Senadora.

    Mesmo sendo uma cidade com tantas dificuldades, a gente via nas pessoas um nível de solidariedade, um nível de amizade que, sinceramente, em poucos lugares do Brasil e do mundo se vê. Eu costumo dizer que o povo manauara tira do seu prato para colocar no prato do vizinho.

    O povo manauara, muitas vezes, fazendo uma economia ou tendo uma pequena economia, diante de algumas opções como, por exemplo, comprar algum imóvel novo, comprar um aparelho de televisão novo, uma geladeira nova ou fazer uma festa para comemorar o aniversário de um filho e reunir os parentes, reunir os amigos, reunir uma rua inteira, ele prefere a segunda opção: ele faz a festa e reúne os seus amigos, a quem ele trata como se fossem os verdadeiros familiares.

    Então, eu não poderia, como tenho feito todos os anos, aqui no Senado Federal, deixar de fazer e de render uma homenagem à nossa querida cidade de Manaus, uma cidade que, ao longo de mais de três séculos, vem crescendo e superando obstáculos.

    A cidade de Manaus era apenas um forte feito de pedra e barro que os portugueses usavam para proteger o norte do Brasil das invasões espanholas. Em volta desse forte, moravam várias tribos indígenas: o povo baré, os baniuas, os passés e também uma tribo chamada Manaós, que acabou dando origem ao nome da cidade Manaus. Eram tribos que lutavam contra a colonização portuguesa e que têm, na figura do índio Ajuricaba, o maior símbolo de resistência. Preso, acorrentado e transportado para ser vendido como escravo em Belém, Ajuricaba se atirou nas águas que tanto amava. Mergulhou para a morte e para a imortalidade. Preferiu a morte à escravidão.

    Em meio a toda essa luta e para garantir o seu domínio na região, os portugueses criaram, em 1669, o Forte São José da Barra. É justamente em torno desse forte que surge o arraial que deu origem à cidade Manaus. Em 3 de Março de 1755, criou-se então a Capitania de São José do Rio Negro. Em 1832, ocorre a elevação à categoria de vila do antigo forte, com o nome Vila da Barra ou também Vila de Manaós, em homenagem à nação indígena, que bravamente lutou contra a colonização portuguesa. Em 1856, foi trocado o nome da Vila da Barra por cidade de Manaus.

    No período de 1879 a 1920, a Região Norte brasileira viveria o seu melhor momento e o Brasil experimentaria também um dos seus grandes ciclos econômicos, ou seja, o primeiro ciclo da borracha. Depois do fim do ciclo da borracha, Manaus e o Amazonas passaram a viver tempos muito difíceis do ponto de vista econômico e com reflexos sociais extremamente danosos.

    Somente na década de 1960 é que a nossa querida cidade de Manaus voltou a ter um novo período de desenvolvimento, dessa vez com a criação e com a instalação da Zona Franca de Manaus, sendo este o mais bem-sucedido modelo de desenvolvimento regional do País. É um modelo de desenvolvimento baseado em incentivos fiscais, mas que se mostrou, nesses mais de quarenta anos, que é importante não apenas para integrar economicamente a Região Norte à Região Sul, mas que é muito importante, que tem sido muito importante, eficaz e eficiente também no processo de preservação do meio ambiente.

    Sra. Presidente, amar essa querida cidade de Manaus é respeitar a sua história, é conhecer os seus detalhes e saber que os nossos destinos estão para sempre entrelaçados. Amar uma cidade é conhecer o seu potencial, atender às suas necessidades e revelar o melhor que ela pode ser. Amar uma cidade, localizada no meio da maior floresta tropical do Planeta, é se reconhecer no tempo e no espaço.

    Eu aqui repito o que falei no início do meu pronunciamento: cheguei a Manaus ainda menina junto com a minha família. Lá eu estudei, lá eu comecei a trabalhar, lá eu me formei na universidade, casei e tive a minha querida filha, Rafaela, que, aliás, também estudou lá e se formou médica, fez Medicina na mesma universidade em que me formei em Farmácia, que é a Universidade Federal do Amazonas. Foi lá também que comecei a dar os meus primeiros passos na militância política e, logo em seguida, me filiei ao meu partido, ao qual pertenço até hoje, o PCdoB. Era final ainda de uma ditadura militar. E, como estudante, eu me lembro, com muita alegria, da participação em memoráveis manifestações públicas em defesa da democracia, em defesa da Amazônia, pela redemocratização do País, pelas Diretas Já, a luta pela meia passagem de ônibus, pela educação pública gratuita, contra o Acordo MEC-USAID e pela democratização das universidades públicas.

    Eu tive a honra de ter sido a primeira mulher a presidir o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Amazonas, à época chamada UA (Universidade do Amazonas), porque éramos uma fundação.

    Formada farmacêutica, tive diversos trabalhos na cidade: primeiro, trabalhei como autônoma: montei minha farmácia e atuei durante alguns anos. Em seguida, fui dar aula, ser professora da rede pública estadual. E, desde essa hora, tive também uma atuação decisiva no movimento sindical, até que cheguei à câmara de vereadores de Manaus, a Câmara Municipal, onde por três mandatos adquiri um profundo conhecimento sobre a cidade. Depois, vieram os três mandatos que desempenhei como Deputada Federal e, agora, desempenho e concluo o meu mandato como Senadora da República.

    Portanto, eu sou muito grata ao meu querido Estado do Amazonas e muito grata à cidade que me abrigou. Digo para todos e todas que sabem que eu não nasci lá que muito mais importante que você nascer em algum lugar é você escolher o lugar para ser a sua cidade, para ser o seu lugar, para ser o lugar pelo qual você lutará para melhorar as condições de toda a gente que vive naquele ambiente.

    Manaus talvez seja uma das cidades mais problemáticas por conta da explosão demográfica que sofremos, porque, até o início dos anos 70, Manaus tinha uma população que não chegava a 300 mil habitantes e hoje nós temos uma população superior a 2 milhões de habitantes. Crescemos como nenhuma outra cidade cresceu no País, de forma tão rápida e, obviamente, de forma desordenada. E o que ficou de herança foi uma cidade com debilidades, deficiências no saneamento básico, deficiência no planejamento urbano. Enfim, são deficiências que aos poucos são trabalhadas para melhorar a qualidade de vida da nossa gente.

    Mas, Sra. Presidente, é por esses tantos encantos que não apenas vêm da cidade que fica à margem do encontro das águas, onde os maiores rios do Planeta se juntam, o Rio Solimões com o Rio Negro, ambos formando o maior rio do Planeta, que é o Amazonas – o maior rio do Planeta: o Rio Amazonas –, não só por isso, pelas suas belezas naturais, mas também pela sua beleza e pelo seu calor humano, uma cidade de tantos encantos. E é por todos esses encantos da nossa querida, linda e hospitaleira Manaus, que me recebeu tão bem, que eu não poderia deixar, no seu aniversário, de estar aqui fazendo uma homenagem singela, mas uma homenagem sincera a todos aqueles que têm feito de Manaus uma das melhores cidades para se viver apesar de todos os seus problemas.

    Portanto, eu encerro aqui esta primeira parte do meu pronunciamento agradecendo à gente querida da minha cidade, à gente querida do meu Amazonas. E digo que lutar sempre vale a pena. O que não podemos fazer jamais é desistir da luta. E em qualquer lugar em que estejamos, termos as condições de continuar a luta.

    Portanto, Senadora Ana Amélia, eu também não estarei aqui na próxima legislatura, mas nada me tirará do seio da luta. Onde quer que eu esteja, certamente, seguramente eu darei continuidade à luta da nossa gente, à luta do nosso Amazonas, da defesa da nossa Zona Franca, da defesa do desenvolvimento, mas de um desenvolvimento inclusivo, que respeite e garanta uma qualidade de vida a todas as pessoas.

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senadora Vanessa...

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Pois não, Senadora.

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – ... eu sou testemunha desse envolvimento, e apenas nesse caso V.Exa. aceitará, porque eu sou autora de um projeto em que o Senador Omar Aziz também está trabalhando e os Senadores da Amazônia, porque, quando nós criamos o Código Florestal, nós tratamos situações completamente diferentes como se iguais fossem na questão das reservas ambientais, tratando a zona rural como se urbana fosse e vice-versa. Então, as cidades, como Manaus, por exemplo, ou Joinville, ou mesmo Porto Alegre, que têm um rio bordeando a cidade – em Manaus é um caso muito, muito evidente disso –, as áreas consolidadas, com construções centenárias... Imagine uma capital com mais de 300 anos, como é a sua Manaus. Como é que você vai desmanchar ou destruir e demolir prédios históricos que ali estão, que foram instalados quando a cidade foi criada? Então essas áreas consolidadas, dando um período temporal, têm que ser consideradas para efeito da questão da lei de preservação ambiental.

    Então essa lei é importante para Manaus. Ela está aqui numa das Comissões, a de Infraestrutura, e eu deixo uma contribuição.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Perfeito.

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Acho que é importante. V.Exa. também terá, porque preserva exatamente aquilo que é bonito de Manaus, a sua história e também essas edificações, que fazem parte. Menos mal que o belíssimo Teatro Amazonas não está na beira da água, mas é um teatro que encanta a todos.

    Então, parabéns mais uma vez, Senadora Vanessa. Apenas quis dar uma informação, porque esse projeto terá impacto sobre Manaus e as outras cidades que são também cidades ribeirinhas.

    Cumprimento a Senadora Vanessa Grazziotin.

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Agradeço, Senadora. Não tendo aqui a procuração dos meus colegas, quero fazer este agradecimento a V. Exa., pelo reconhecimento, pela homenagem a Manaus, não apenas em meu nome, mas em nome de toda a nossa Bancada do Amazonas, em nome do Senador Eduardo Braga e em nome do Senador Omar Aziz, que como eu também, hoje, estão em festa, comemorando os 349 anos da nossa querida cidade de Manaus.

    Mas, Sra. Presidente, senhoras e senhores, eu quero, nesta metade do meu pronunciamento, o último que farei antes do dia do segundo turno, o dia das eleições, que acontecerá agora no próximo dia 28, eu quero me dar ao direito, até porque vejo isso como um dever, de ler um artigo, porque, no momento em que li o artigo, fiquei extremamente impactada. E ontem mesmo eu dizia, fiz certa comparação, que aliás não sou apenas eu, vários dos meus colegas têm vindo à tribuna e têm lembrado muito episódios que antecederam a eleição de Hitler como Presidente da Alemanha.

    Para alguns pode até parecer forte ou esdrúxula essa comparação, mas, na realidade, não é. 

    Então, quando li esse artigo, fiquei extremamente impactada. Por isso, faço questão de lê-lo, porque quero levar ao conhecimento de toda a Nação brasileira e daqueles que nos acompanham. Esse artigo pode ser encontrado no site do Jornal El País. O Jornal El País é espanhol, que tem suas sucursais instaladas em grande parte dos países do mundo.

    Nesse site brasileiro, foi publicado um artigo, assinado por Oliver Stuenkel. Ele é um pesquisador, um cientista político, graduado, especializado e doutorado na área da pesquisa, e escreveu um artigo que se encaixa na situação política em que nós estamos vivendo, Senador Pedro Chaves, como uma luva.

    Então, quero, se V. Exa. me permitir, fazer uma leitura. Vou procurar reduzir, mas, desde já, peço à taquigrafia que coloque nos Anais do Senado Federal este artigo, a sua íntegra, como se fosse lido, porque, repito, considero algo extremamente grave, e estamos diante de uma decisão muito importante. Numa decisão sobre a escolha para Presidente da República, geralmente se escolhe o candidato a ou b. Agora não. Nós estamos na iminência de escolhermos se queremos ou não continuar a viver numa Nação democrática.

    Digo isso não baseada naquilo que penso, não baseada nas minhas opiniões, mas digo isso baseada em toda a conduta do candidato Bolsonaro durante os seus 28 anos como Deputado Federal. Digo isso baseada nos seus últimos pronunciamentos, inclusive no último domingo, quando disse que, se ele vencer as eleições, agirá com mão de ferro, em outras palavras, e que, no País que ele vai dirigir, os vermelhos, a quem ele se refere, que são todos aqueles que defendem o socialismo, que defendem uma Nação mais igualitária e mais justa, que esses terão que rezar sob a sua cartilha: ou deverão sair do País, ou serão presos.

    Então, lamentavelmente, trata-se de alguém que criminaliza, do nada, entidades que são legalmente estabelecidas, como organizações não governamentais, como o Movimento dos Trabalhadores sem Terra, como o Movimento dos Trabalhadores sem Teto, que são movimentos organizados no Brasil inteiro, com aquelas milhares de famílias, que não têm teto para viver e para morar.

    Enfim, passo agora a ler este artigo, cujo título é: Por que votamos em Hitler.

    Diz o seguinte o artigo:

Ao longo da década de 1920, Adolf Hitler era pouco mais do que um ex-militar bizarro de baixo escalão, que poucas pessoas levaram a sério. Ele era conhecido principalmente por seus discursos contra minorias, políticos de esquerda, pacifistas, feministas, gays, elites progressistas, imigrantes, a mídia e a Liga das Nações, que foi a precursora das Nações Unidas.

Em 1932, porém, 37% dos eleitores alemães votaram no partido de Hitler, [e] a nova força política dominante [passou a ser essa] no país. Em janeiro de 1933, ele tornou-se chefe de governo.

E por que tantos alemães instruídos votaram em um patético bufão que levou o país ao abismo?

Em primeiro lugar [responde o autor do artigo], os alemães tinham perdido a fé no sistema político da época. A jovem democracia não trouxera os benefícios que muitos esperavam. Muitos sentiam raiva das elites tradicionais, cujas políticas tinham causado a pior crise econômica na história do país. Buscava-se um novo rosto. Um antipolítico, portanto, promoveria mudanças de verdade. Muitos dos eleitores de Hitler ficaram incomodados com seu radicalismo, mas os partidos estabelecidos não pareciam oferecer boas alternativas.

Em segundo lugar, Hitler sabia como usar a mídia para os seus propósitos. Contrastando o discurso burocrático da maioria dos outros políticos, Hitler usava um linguajar simples...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) –

...espalhava fake news, e os jornais adoravam sugerir que muito do que ele dizia era absurdo. Hitler era politicamente incorreto de propósito, o que o tornava mais autêntico aos olhos dos eleitores. Cada discurso [seu] era um espetáculo. Diferentemente dos outros políticos, ele foi recebido com aplausos de pé onde quer que fosse, empolgando multidões, como [ele próprio] escreveu em seu livro [denominado, intitulado] Minha Luta. [...]

Em terceiro lugar, muitos alemães sentiram que seu país sofria com uma crise moral, e Hitler prometeu uma restauração. Pessoas religiosas, sobretudo, ficaram horrorizadas com a arte moderna e os costumes culturais progressistas que surgiram por volta de 1920, época em que as mulheres se tornavam cada vez mais independentes, e a comunidade LGBT em Berlim começava a ganhar visibilidade.

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) –

[...] Em quarto lugar, apesar de Hitler fazer declarações ultrajantes – como a de que judeus e gays deveriam ser mortos –, muitos pensavam que ele só queria chocar as pessoas. Muitos alemães que tinham amigos gays ou judeus votaram em Hitler, confiantes de que ele nunca implementaria suas promessas. Simplista, inexperiente e muitas vezes tão esdrúxulo, que até mesmo seus concorrentes riam dele, Hitler poderia ser controlado por conselheiros mais experientes, ou ele logo deixaria a política. Afinal, ele precisava de partidos tradicionais para governar.

Em quinto, Hitler ofereceu soluções simplistas que, à primeira vista, faziam sentido para todos. O problema do crime, argumentava, poderia ser resolvido aplicando a pena de morte com mais frequência...

(Interrupção do som.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) –

... e aumentando as sentenças de prisão. Problemas econômicos, segundo ele, eram causados por atores externos e conspiradores comunistas [ou seja, usava o mesmo discurso anticomunista que usa esse candidato Bolsonaro aqui no Brasil]. Os judeus – que representavam menos de 1% da população total – eram o bode expiatório favorito. Os alemães "verdadeiros" não deviam se culpar por nada. Tudo foi embalado em slogans fáceis de lembrar: "Alemanha acima de tudo" [olha a coincidência: essa era a palavra de ordem de Hitler, "Alemanha acima de tudo", como Bolsonaro usa a palavra de ordem "Brasil acima de tudo". Além disso, ele usava] "Renascimento da Alemanha", "Um povo, uma nação, um líder."

Em sexto lugar, as elites logo aderiram a Hitler, porque ele prometeu – e implementou – um atraente regime clientelista, cleptocrata, que beneficiava grupos de interesses especiais. Os industriais ganharam contratos suculentos, que os fizeram ignorar as tendências fascistas de Hitler.

Em sétimo, mesmo antes da eleição de 1932, falar contra Hitler tornou-se cada vez mais perigoso. Jovens agressivos, que apoiavam Hitler, ameaçavam os oponentes, limitando-se inicialmente ao abuso verbal, mas logo passando para a violência física. Muitos alemães que não apoiavam o regime preferiam ficar calados para evitar problemas com os nazistas.

Doze anos depois, com 6 milhões de judeus exterminados e mais de 50 milhões de pessoas mortas na Segunda Guerra Mundial, muitos alemães que votaram em Hitler disseram a si mesmos que não tinham ideia de que ele traria tanta miséria ao mundo. [Diziam] "Se soubesse que ele mataria pessoas ou invadiria outros países, eu nunca teria votado nele", contou-me um amigo da minha família. [Outro] "Mas como você pode dizer isso, considerando que Hitler falou publicamente de enforcar criminosos judeus durante a campanha?", perguntei. "Eu achava [foi a resposta] que ele era pouco mais que um palhaço, um trapaceiro", minha avó, cujo irmão morreu na guerra, responderia.

De fato, uma análise mais objetiva mostra que, justamente quando era mais necessário defender a democracia, os alemães caíram na tentação fácil de um demagogo patético que fornecia uma falsa sensação de segurança e muito poucas propostas concretas de como lidar com os problemas da Alemanha em 1932. Diferentemente do que se ouve hoje em dia, Hitler não era um gênio. Não passava de um charlatão oportunista que identificou e explorou uma profunda insegurança na sociedade alemã.

Hitler não chegou ao poder porque os alemães eram nazistas ou antissemitas, mas porque muitas pessoas razoáveis fizeram vista grossa. O mal se estabeleceu na vida cotidiana porque as pessoas eram incapazes ou sem vontade de reconhecê-lo ou denunciá-lo, disseminando-se entre os alemães porque o povo estava disposto a minimizá-lo. Antes de muitos perceberem o que a maquinaria fascista do partido governista estava fazendo, ele já não podia mais ser contido. Era tarde demais.

    Então, feita essa leitura, eu quero, neste minuto, Senadora Kátia, mais uma vez chamar a atenção da Nação brasileira pelo que disse a vida inteira e pelo que continua dizendo o candidato Bolsonaro.

    Aliás, há uma matéria, no dia de hoje que mostra que ontem...

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ... uma representação da bancada da bala – veja, até um dia desses, todo o Brasil falava da bancada da bala com temor. Hoje não; hoje, fala-se da bancada da bala como sendo aquela que rapidamente vai assumir o poder em nosso País. Pois bem, esses, que representam a bancada da bala, estiveram em número de 30, ontem, em Brasília, e conseguiram o compromisso do candidato, caso ele seja eleito, de votar ainda este ano o relaxamento da lei do Estatuto do Desarmamento. Para quê? Para levar armas às pessoas.

    E o que é que os cientistas dizem, os estudiosos? Que, mais arma, mais morte e mais violência.

    Então, eu quero aqui fazer um apelo, um apelo não em nome de candidato. Tenho ouvido, Senadora Kátia, vários subirem à tribuna e falarem das inúmeras críticas que Haddad tem recebido e que o seu Partido tem recebido. E tem que receber mesmo – tem que receber.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Cid Gomes, Senadora Kátia, que é irmão de Ciro Gomes, talvez tenha feito, publicamente, uma das maiores críticas ao Partido dos Trabalhadores. E são críticas que têm que ser feitas e têm que ser bem recebidas, penso eu, pelo Partido dos Trabalhadores. Agora, ao final das críticas, o que eles dizem? "Mas por tudo que acontece no País e pelas opções que temos, eu voto em Bolsonaro."

    Marina Silva declarou: "Eu voto em Haddad."

    Não. Jamais. Bolsonaro? Ele não. Jamais.

    Desculpem-me. É que eu falei tanto em Bolsonaro, no meu pronunciamento inteiro, que acabei pecando aqui e cometendo um ato falho. E peço perdão a mim mesma. Ele não! Ele jamais!

    Então, para concluir, eu digo o seguinte: críticas duras são feitas e têm que ser feitas, mas a hora, agora, é de escolher entre o caminho da democracia, o caminho do respeito às liberdades, ou o caminho da truculência.

(Soa a campainha.)

    A SRª VANESSA GRAZZIOTIN (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Eu sou do Partido Comunista do Brasil; eu defendo o socialismo, porque defendo – e defendi a minha vida inteira – uma sociedade mais justa. E quero continuar defendendo os princípios que eu acho melhores para a nossa gente, para a nossa sociedade. E quero ter a possibilidade de continuar essa luta e essa defesa onde quer que eu esteja, dentro dos limites e princípios legais, dentro da normalidade, dentro da passividade, sem violência, mas quero continuar a ter o direito de falar o que penso. E é isso que está em risco, é isso que está em jogo.

    Para se colocar em prática uma agenda recessiva, uma agenda de retirada de direitos, esse candidato chamado Bolsonaro diz que de um tudo poderá fazer. Então, eu peço aqui o apoio de todos, para que pensem – e até domingo há muito tempo para pensar –, para que possamos continuar construindo um País melhor, um País que caminhe e que supere as suas crises dentro do caminho da democracia.

    Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/10/2018 - Página 15