Discurso durante a 124ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a participação de S. Exª. como candidata a Vice-Presidente da República na chapa de Ciro Gomes.

Autor
Kátia Abreu (PDT - Partido Democrático Trabalhista/TO)
Nome completo: Kátia Regina de Abreu
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Reflexão sobre a participação de S. Exª. como candidata a Vice-Presidente da República na chapa de Ciro Gomes.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 25/10/2018 - Página 29
Assunto
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Indexação
  • DEFESA, CIRO GOMES, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PREJUIZO, AUSENCIA, APOIO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO (PSB), PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, CANDIDATURA, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, POSSIBILIDADE, DEBATE, CONHECIMENTO, PROBLEMA, POPULAÇÃO, SAUDE, SEGURANÇA, EDUCAÇÃO.

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO. Pronuncia o seguinte discurso.) – Obrigada, Senadora Ana Amélia.

    Antes de iniciar o meu pronunciamento, quero dizer pessoalmente da minha satisfação, da minha honra em ter convivido com V. Exa. aqui nesta Casa. Sinto muito que não vá continuar nos próximos oitos anos. Foi uma opção que V. Exa. fez, assim como eu, ao se candidatar à Vice-Presidente de Geraldo Alckmin e eu, à Vice-Presidente de Ciro Gomes. Eu ainda tenho mais quatro anos, mas infelizmente V. Exa., que tinha uma eleição muito segura, muito tranquila, um amor imenso do povo do Rio Grande do Sul, decidiu ajudar também, contribuir com o País. Vai fazer muita falta aqui, muita falta – a sua personalidade, o seu caráter... Em que pese possamos discordar em algumas áreas, sempre respeitosamente, a senhora sempre respeitou aqui a opinião dos colegas Senadores, e, de fato, o radicalismo não nos levará a nada. O radicalismo é parente da ignorância, é parente do preconceito e da falta de sabedoria.

    Então, quero aqui clamar pelo Rio Grande do Sul, que quatro anos passam rápido, e quem sabe V. Exa., pelo gosto do povo do Rio Grande, possa estar aqui de novo conosco, honrando esta Casa e o seu Estado.

    Muito obrigada pelo seu apoio e pela sua amizade.

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Muito obrigada pela reverência, Senadora Kátia Abreu. Eu fico honrada porque V. Exa. como Líder e eu combatemos o bom combate. Foi uma alegria muito grande, numa situação completamente diferente daquela dos nossos embates aqui no Congresso, dos movimentos quando V. Exa. foi Ministra da Agricultura e em tantas outras atuações exemplares, mas a convivência na campanha eleitoral, nos debates aos quais participamos, não só na ONU Mulheres, em que estivemos, junto com o jornal El País, com a ONG Locomotiva, como também no debate da TV Cultura, no Roda Viva e em outros momentos...

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – No SBT...

    A SRª PRESIDENTE (Ana Amélia. Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – No SBT estivemos juntas também e na Rede TV.

    Foram momentos extraordinariamente ricos, em que nós pudemos demonstrar à sociedade brasileira que estávamos mesmo fazendo um trabalho em favor do Brasil. Não havia nenhum interesse de poder, nenhum interesse outro que não fosse o interesse nacional. Então, foi realmente uma grande honra. E fiquei muito honrada, como a senhora deve ter ficado, com o comentário de um jornalista num jornal de São Paulo, que falou de como saíram as pessoas desta campanha, as que saíram maiores e as que saíram menores. V. Exa. estava lá; Eduardo Jorge estava lá; Alckmin estava lá; eu estava lá também; Ciro Gomes estava lá também. Então, acho que combatemos o bom combate, fizemos a nossa parte, Senadora Kátia Abreu, e podemos dizer que saímos dessa campanha de cabeça erguida.

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – Exatamente, Senadora.

    Muito obrigada por tudo, muito obrigada pela sua amizade, pela sua confiança e pela contribuição que sempre me deu nesta Casa.

    Eu vim à tribuna hoje exatamente para falar sobre a minha participação nas eleições 2018, no primeiro turno das eleições presidenciais. E quero dizer aqui, sem nenhuma ofensa, sem nenhum ataque, que os candidatos a Presidente poderiam ter imitado um pouco mais os vices, as vices, especialmente as mulheres. Não somos melhores do que ninguém, mas, graças a Deus, decidimos combater o bom combate, debater as boas teses, falar sobre coisas estruturais para o País, coisas com relação às mulheres, com relação à segurança pública, à saúde, porque é disso que as pessoas querem saber.

    Desse acusatório, dessa santa inquisição eleitoral que nós estamos vivendo nos Estados e que estamos vivendo no Brasil o eleitor está enojado, o eleitor está cansado, porque, quando ele se senta à frente da televisão para ver um debate ou uma sabatina, ele quer saber o que aquele candidato tem para ele, para a sua família, para o bem-estar da população. Então, são pessoas que... Cada um tem um tipo de problema e quer ouvir do candidato se, por um acaso, ele vai falar sobre o problema que lhe diz respeito. O eleitor quer votar em soluções para os problemas, e não em benefício próprio, financeiro, econômico ou por um emprego. Claro que as pessoas querem emprego de uma maneira geral, para a população, mas as pessoas querem que o candidato diga a elas a que veio, para que nós possamos ter uma interlocução e um ouvido mais afinado com a população.

    E nós, políticos, temos que fazer o mea culpa sempre, para melhorar essa atenção e esse fio condutor com o eleitor. Às vezes, nós erramos; às vezes, nós falhamos em não ouvir direito o que as pessoas querem dizer, os seus clamores, as suas rebeldias, os seus incômodos; às vezes, o dia a dia nos engole no trabalho e pecamos por não compreender o clamor das ruas.

    Mas também não quero tirar aqui a condição de superioridade de alguns candidatos com relação a tempo de televisão, com relação a questão financeira de alguns partidos. E isso influencia? Influencia muito, influencia sim. Então, são questões que nós temos que corrigir aqui, no Congresso Nacional –esses desacertos, esses exageros e essas exorbitâncias com relação à questão financeira e à questão de tempo de comunicação, tempo de tevê, tempo para se expressar ao eleitor. Felizmente, os órgãos de comunicação, os veículos de comunicação contribuíram muito convidando para dezenas e dezenas de debates e de sabatinas.

    Então, eu quero dizer que o jogo da política, como diz Ciro Gomes, meu candidato a Presidente da República, não é jogo para menino, é um jogo pesado em que, às vezes, as pessoas jogam com armas sujas, com armas proibidas, mas utilizam-se delas e nada acontece, porque as provas são difíceis de serem constatadas. Mas há um jogo sujo também do controle político e de alianças espúrias, escuras, feitas na calada da noite, sem o farol do sol, que acabam atrapalhando a melhor proposta para o Brasil.

    Eu quero dizer, a respeito de Ciro Gomes, que ele foi duramente golpeado – e eu me sinto juntamente golpeada, bem como todos os nossos eleitores – com relação à nossa aliança no primeiro turno. Nós tínhamos uma aliança factível, uma aliança líquida e certa, muito bem combinada e muito bem estruturada com o PSB, e, na verdade, nós fomos atropelados, no meio do caminho, por uma proibição, por uma questão nos Estados, por uma aliança do PSB com o PT, o que tirou de Ciro Gomes a possibilidade de ter um tempo maior para se expressar.

    A mesma coisa com os demais partidos que nos procuraram para uma aliança. O próprio Presidente da República interferiu diretamente ameaçando partidos se coligassem com Ciro Gomes. E foram proibidos de coligar com Ciro Gomes também evitando que ele tivesse tempo de televisão – e não só tempo de televisão, porque isso não é tudo, mas a capilaridade na base, porque esses partidos têm líderes nos Estados que nos ajudariam muito a disseminar o nosso projeto e os nossos planos. Tanto que, em todos os debates, as pessoas respondiam, nas qualitativas, que sempre Ciro Gomes, nos debates e nas entrevistas, crescia dentro dos grupos.

    Mas por que isso não representava e não aparecia nas pesquisas? Porque lá na base nós não tínhamos líderes políticos que reverberassem as suas teses. Nós tínhamos poucos Prefeitos, poucos candidatos a Governadores, pouquíssimos Deputados eleitos. Nós não tínhamos quem de fato pudesse continuar levando e, como diz o outro, martelando as nossas ideias, para que as pessoas que têm mais o que fazer do que ficar só pensando em política pudessem ficar lembrando dos projetos de Ciro Gomes.

    Então, de fato, nós tivemos um prejuízo enorme com isso, mas eu estou muito orgulhosa, muito feliz – faria tudo de novo – por participar da chapa como candidata a Vice-Presidente do meu País, na chapa do PDT, com Ciro Gomes. Eu nunca poderia imaginar que uma moça humilde, vinda lá do Tocantins, do interior do Tocantins, com todas as resenhas que poderiam acontecer na minha vida, poderiam ser negativas, e eu consegui, com o apoio popular, com a minha fé em Deus, chegar aonde eu não poderia imaginar no passado: ser candidata a Vice-Presidente da oitava economia do mundo. Eu falo ainda hoje, já perdemos as eleições, mas eu ainda me sinto emocionada quando me lembro de que eu tive esse prestígio, de que eu tive essa honraria, convidada pelo meu partido, por Ciro Gomes, para participar das eleições –coragem para poder lutar...

    Não pensei duas vezes quando fui convidada, porque eu já apoiava Ciro Gomes, eu já acreditava nos seus projetos, acreditava e tinha a convicção de que ele era a melhor opção para o Brasil em termos de preparo, em termos de união das forças políticas, em termos de acomodar o País e pacificar o País.

    Então, eu aprendi muito com ele, participei de grandes debates e sabatinas em instituições importantes por todo o Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, onde funciona a maioria das entidades de classes, quer seja patronal ou dos trabalhadores. Percorri o interior deste Brasil urbano que eu pouco conhecia. Eu sempre tive uma familiaridade maior com o setor agropecuário, mas percorri cidades grandes do País, cidades maravilhosas que estão contribuindo com o País, no Estado de São Paulo, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, na Bahia, no Nordeste. Visitei essas cidades todas e eu fiquei orgulhosa de ver, cada vez mais, o Brasil que nós temos; pessoas fortes, corajosas, trabalhadoras e que estão lutando e torcendo pelo Brasil, que querem que o Brasil avance, têm os seus rancores, têm os seus dissabores.

    Eu percebi que, durante toda a campanha, Senadora Ana Amélia – não sei se concorda com a minha opinião –, dois temas prevaleceram muito nesse debate nacional que foi a corrupção e a violência contra as pessoas, os assassinatos, a bandidagem, as quadrilhas, o tráfico de drogas, o tráfico de armas, o desassossego das famílias, a captura de jovens pelo tráfico de drogas e armas, pelas quadrilhas organizadas, pelas milícias. Nós estamos vivendo em um verdadeiro inferno.

    Então, nós conseguimos e constatamos essa dor que as famílias do Brasil estão sentindo, e não é diferente no meu Tocantins, que eu conheço como a palma da mão os 139 Municípios e praticamente todos os assentamentos, distritos e povoados. Nós estamos todos sem dormir à noite. Chega ao ponto de pessoas que moram, às vezes, em um prédio de 20 andares, que moram lá em cima, nas alturas, ainda terem medo da violência. Imagine quem mora nos bairros pobres, quem mora na periferia, quem mora nas favelas... Como é que essas mães estão vivendo?

    Então, a violência foi um ponto alto nessa campanha, e Ciro Gomes tinha um projeto maravilhoso, extraordinário, construído com os melhores especialistas do Brasil para solucionarmos a questão da segurança pública e a questão da corrupção, que é muito uma questão de vergonha na cara, óleo de peroba, como se diz no meu Estado. As pessoas precisam se aquietar. Os líderes políticos, empresariais de todo o País, de todos os setores, precisam tomar vergonha na cara, ter respeito pelas pessoas, voltar ao tempo antigo, quando valia o fio do bigode, quando valia a palavra, quando valia o espírito público, quando valia deixar o seu nome na história por um projeto, por uma causa, por uma luta e não o patrimônio que você acumulou.

    No Brasil, hoje, quem não tem patrimônio, quem não tem dinheiro é, muitas vezes, malvisto pela sociedade, como uma pessoa que não teve sucesso. Nós temos que perguntar aos políticos, a muitos políticos: interessa a você ter um nome admirável, como tantos que passaram por esta Casa, ou deixar uma fortuna incalculável à custa de que e à custa de quem?

    Então, nós precisamos lembrar que o dinheiro é a atividade meio. Nós precisamos deixar de imaginar que o dinheiro é a atividade fim; é atividade meio para que a gente consiga a atividade fim do bem-estar pessoal, das suas realizações, do seu talento.

    Então, a classe política precisa dar o exemplo, primeiramente, não só o Congresso Nacional, o Executivo, mas também o Judiciário, que nós sabemos de distorções que há em todo o Brasil. Em todo lado, para todo lado aonde se vai, nós ainda estamos vendo ser praticada a corrupção, os bochichos, as conversas. As pessoas não perderam a coragem, não têm medo de roubar, ainda acham que vão sair impunes, porque, se eu não tenho dinheiro, um carrão, um avião, uma mansão, uma casa de praia, eu não sou bem-sucedido. E nós precisamos entender. Como a Senadora Ana Amélia, que é um exemplo para nós de uma pessoa de caráter, uma pessoa de excelência, amada pelo seu Estado, admirada por todo o País pelo trabalho que faz aqui e não pelo dinheiro que acumulou ou que tenta acumular todos os dias.

    Quem é que não quer uma vida boa? Todo mundo quer uma vida tranquila, pagar suas contas em dia, poder andar bonitinha, poder andar arrumada, um carro bom para dirigir, mas não precisa de luxo e exorbitância, nem do nome sujo no SPC, viu? Nem o nome sujo no SPC ninguém quer ter.

    Então, estes dois pontos, segurança pública e corrupção, mobilizaram o coração dos brasileiros.

    E o terceiro ponto, que, com muita satisfação, eu observei, Senadora Ana Amélia, é que as mulheres foram a bola da vez nessa eleição.

    Eu sou psicóloga de formação, em que pese seja uma mulher do interior, seja da roça, mas eu gosto de estudar e observar o comportamento humano, o comportamento das pessoas.

    Nas últimas eleições, nós já tivemos eleições que foram o momento do meio ambiente, nós tivemos outra eleição que foi o momento da agropecuária, todos os candidatos enalteciam, exaltavam a agropecuária assim como os que enalteciam o meio ambiente na outra eleição. E nesta eleição todos os candidatos passaram então a dar uma atenção especial às eleitoras mulheres porque, além de serem maioria, o tema que está, o clamor das mulheres hoje, em primeira mão, a violência pessoal, a violência física, a violência emocional e mental que as mulheres estão sofrendo todos os dias com assédio sexual nos seus empregos, as afrontas, os desrespeitos, a violência dentro de casa, a pancadaria mesmo, o murro no rosto, o empurrão, o chute de covardes que não têm coragem de dialogar e têm medo do crescimento da mulher ao cúmulo do feminicídio.

    Essas questões pautaram os eleitores, apesar de tardiamente, a mulher já vem sofrendo há muito tempo, mas nunca é tarde para começar. Esta foi a eleição das mulheres.

    Eu espero, com isso, não o oportunismo de uma eleição. Eu tenho certeza de que, assim como as outras eleições pautaram o meio ambiente, pautaram a agropecuária e essas duas áreas avançaram e evoluíram, nós amadurecemos muito na área ambiental, nós evoluímos muito na área agropecuária, a população hoje entende muito sobre a produção agropecuária e agora as mulheres – nós mulheres – seremos a bola da vez nos próximos quatro anos, no sentido de resolver problemas. Nós não queremos só ser elogiadas, nós queremos mão na massa, nós queremos as coisas solucionadas. O Governo Federal, com o próximo Presidente, vai permitir que as empresas privadas continuem pagando menos 25% de salário para as mulheres, contrariando a lei? Cadê a fiscalização do Ministério do Trabalho? Nós queremos que essas empresas tenham a consciência voluntária de entender o bem que irá fazer às mulheres e ao País, da civilidade de remunerar as mulheres no mesmo cargo, de acordo com o salário dos homens.

    Nós esperamos essa atitude espontânea, mas também temos uma fiscalização apropriada, que é o Ministério Público, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho, para fazer essa fiscalização em todas as empresas do País. Mas creio que os empresários vão amadurecer muito nesses próximos quatro anos.

    E, com relação ao machismo, que nós temos que combater com veemência nas escolas, começando desde pequenos. As crianças já nascem amando as mães, que são mulheres. O que acontece no meio do caminho que isso é desvirtuado? Por que o desrespeito, a desconsideração e o machismo evoluem de acordo com a idade das crianças? Elas já nascem com a boa índole no sentido de amar uma mulher. Por que nós não vamos, cada dia que passa, nas escolas, dentro das famílias combater esse preconceito odioso contra as mulheres do nosso País? Se nós queremos ser um país de Primeiro Mundo, uma das questões importantes, além do PIB per capita, da remuneração, dos índices de escolaridade, é como são tratadas as mulheres neste País.

    Esse é um ponto de civilidade e de superioridade de uma nação: como trata os idosos, como trata as crianças e adolescentes e como trata as mulheres. Isso é um grande sinal de civilização, de civilidade e de mundo desenvolvido. Então, espero que tudo isso se resolva.

    Durante a campanha, tivemos esses problemas discutidos sobre...

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – ... as mulheres, sobre a violência, sobre a saúde, sobre a educação e, eu digo, sobre os juros, que são assuntos, Senadora, que não são o fim do mundo para resolver. Com vontade política, organização e planejamento, é possível. Nós temos instrumentos legais, sem interferir na iniciativa privada, para fazer valer a regulação e a autoridade moral do Estado brasileiro e para fazer com que os juros, no Brasil, possam cair de patamares. Por que não aprovamos ainda o Cadastro Positivo, que vai gerar concorrência entre os bancos? Por que não aprovamos a distribuição da carteira de cartão de crédito das unidades bancárias? Hoje, cada uma é dona da sua carteira. Isso, no Primeiro Mundo, não é mais assim. A concorrência, a distribuição e a participação de vários bancos são o que faz um poder oferecer um serviço mais barato do que outro.

    A questão da saúde é uma questão de gestão e vergonha na cara.

    A questão da educação é um compromisso verdadeiro com a civilidade, com o País, com as futuras gerações de não querer ser um país medíocre, um país mesquinho, um país onde as pessoas não têm conhecimento. Nós temos é que puxar para nós. É uma vergonha, para nós, termos ainda níveis e índices de educação como estão. Nós temos uma profissão que se chama professora e professora e que ganha uma miséria no País. Ninguém quer ser professor. Ninguém está hoje indo para essa profissão, porque ganha menos, às vezes, do que outras profissões que não são tão grandes e maiores, como a educação. Então, R$2,7 mil? Isso é salário, Senadora? Quem aqui dentro do Senado Federal, na função menos importante – não é menos importante, mas mais simples –, quem é que ganha R$2,7 mil no Congresso Nacional? E os nossos professores ganhando essa miséria! Que compromisso é esse com a educação? É claro que os Prefeitos não conseguem pagar mais, os Governadores não conseguem pagar mais. É por isto que nós temos que repactuar o pacto federativo: para que nós possamos dar salário decente aos professores. Aí, sim...

    Não estou aqui bajulando. Não tenho eleição – só daqui a quatro anos, pois ainda tenho mandato. Mas, se querem falar sério sobre educação, entre tantos outros compromissos, cadê a remuneração dos professores? É preciso fazer com que as pessoas se interessem de fato em ser grandes professores.

    Para mim, na minha avaliação, o grande problema gravíssimo para se resolver no País é a questão fiscal. Há 13 milhões de desempregados, 63 milhões de pessoas no SPC, milhares de empresas fechando ou diminuindo de tamanho porque não têm capital de giro. Com o capital de giro que existe, os juros são para matar qualquer um. Nos últimos 12 meses, fecharam centenas de indústrias neste País. Nós estamos com as micro e pequenas atingidas de morte. A informalidade está chegando a quase 34 milhões de pessoas. O que fazer com tudo isso? O que fazer para que o Brasil retome o emprego, retome o desenvolvimento? Que as empresas possam ganhar sangue novo; que elas possam se curar da anemia que estão sofrendo – as empresas estão todas anêmicas por falta de recursos –, com juro que seja decente e compatível com o trabalho. Que nós possamos voltar a gerar emprego para as pessoas. O problema é a questão fiscal, é o rombo que o Brasil tem hoje e que chegará a quase R$150 bilhões no final do ano.

    E o que nos machuca, o que agrava a situação do País é a pobreza, que aumentou exorbitantemente. As pessoas voltaram a passar fome; alguns, a comer uma refeição por dia; outros não comem nem uma refeição por dia. Há aqueles que têm duas refeições mal feitas, sem conteúdo e sem aquilo de que necessitam para ter uma boa nutrição. Nós estamos vendo índices abaixo da linha da pobreza, da extrema pobreza. São números que já não se viam mais no Brasil.

    Nós precisamos trabalhar duramente com relação a tudo isso, a essa questão fiscal, que é o ponto mais importante. É o que a população, é claro, é óbvio, menos discute, porque isso é muito complexo e é coisa para economista e para os burocratas resolverem – e precisam resolver, porque o povo sabe é falar de violência, de fome, de saúde, que não tem, de educação de má qualidade. Isso o povo entende direitinho, mas o que está causando tudo isso, um dos motivos, é a questão fiscal, é o rombo.

    Nós estamos gastando...

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – ... muito mais do que nós recebemos.

    Eu quero encerrar e ir para o final da minha fala, Sr. Presidente, agradecendo aqui a tolerância e dizendo que, nesses próximos quatro anos, o meu foco continuará sendo o Brasil e o meu Tocantins, a nossa região do Matopiba. Quero me dedicar com bastante profundidade, com bastante força, amor à causa, às causas do País, às causas do meu Tocantins, às causas do Matopiba.

    Conheço praticamente o Brasil inteiro. Conheço os problemas de cada Estado, de cada região, especialmente do meu Estado, da minha região, do Matopiba. Quero ser aqui uma Parlamentar independente. Já declarei várias vezes que não voto em Bolsonaro e não voto em Haddad. Eu votarei em branco. E isso não me diminui em absolutamente nada, porque lá na urna tem a opção em branco. Eu não vou dar o meu voto para um projeto em que eu não acredito.

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – Como Senadora da República, não aconselho isso à população. Que cada um faça as suas escolhas! Mas, como Senadora que ficará aqui por quatro anos, que tem a obrigação moral e mandatária de fiscalizar o Executivo, se nenhum dos dois projetos calam no meu coração, eu me dou o direito de ficar neutra, independente e aguerrida na defesa das causas do povo brasileiro. É esse o meu foco.

    Se o Governo que ganhar as eleições trouxer para esta Casa matérias importantes para a felicidade das pessoas e bem-estar da população, na sua grande maioria, conte com Kátia Abreu! Se for contra o bem-estar, se for contra a felicidade das pessoas, não conte com Kátia Abreu! Não tem cargo, não tem dinheiro, não tem posição que me compre ou me demova. Esses serão os meus quatro anos aqui nesta Casa. Serei uma grande combatente à corrupção. Não é acusando as pessoas, colocando o dedo no nariz de ninguém, é aprovando matérias e regulamentos que possam reter, conter, punir a corrupção no País. É só isso. A isso eu quero me dedicar nesses próximos quatro anos.

    Quero dar aparte à Senadora Ana Amélia para fazer a minha finalização.

    Por favor, Senadora.

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – Senadora Kátia Abreu, a V. Exa. eu queria dizer que este pronunciamento resume muito na resposta que o eleitor deu à sociedade, mostrando as suas dores e o seu sofrimento: refém da criminalidade, refém da insegurança, refém de uma saúde pública sem qualidade, refém do desemprego, refém de várias mazelas, sobretudo da insegurança na área rural e na área urbana. Na área urbana, em todos os segmentos, e na área rural mais ainda, pois é uma área que, como conhece muito bem V. Exa., está desprotegida.

(Soa a campainha.)

    A Srª Ana Amélia (Bloco Parlamentar Democracia Progressista/PP - RS) – E, quando se fala que o produtor rural tenha direito – e o Senador Wellington Fagundes, que está presidindo esta sessão, sabe muito bem, porque é do Mato Grosso, conhece a realidade, lida com essa atividade –, é inadmissível que você proíba para esse agricultor, que está sozinho, jogado à sua própria sorte, ele e Deus, no longínquo lugar que não tem serviço de telefonia, que não tem uma patrulha policial que vá socorrê-lo, que não tem sequer um rádio para se comunicar com uma central para dizer que ele está sendo vítima de um assalto. E o patrimônio maior que ele tem, Senadora Kátia Abreu, é a família dele, são os trabalhadores que estão com ele naquela propriedade, isolados e jogados à sua própria sorte.

    Então, quando a Dra. Raquel Dodge esteve aqui na sabatina, eu perguntei: é justo que o Estatuto do Desarmamento proíba esse cidadão que está produzindo comida para os brasileiros e também para alimentar o mundo, que ele fique sozinho, abandonado e sem ter o direito da autodefesa, de ter uma arma para se proteger? Não que ele vá usar isso de qualquer maneira ou que vá ser distribuída arma para todo mundo. Não, mas para esse agricultor, lá no fundo da sua propriedade rural longínqua, abandonado à sua própria sorte. Então, ela própria admitiu que tinha que ser examinada essa questão – e também V. Exa., imagino.

    E não adianta vir querer tachar a gente de bancada da bala. A gente está defendendo um direito da autodefesa, da autossegurança das pessoas que estão na área rural, esse setor que sofre um preconceito danado, a agropecuária. Produzir comida no Brasil sofre preconceito. A área urbana não entende. Os ambientalistas xiitas, às vezes, não compreendem, porque, às vezes, é um discurso ideológico e uma série de coisas.

    Então, V. Exa. ao assumir esse compromisso, contem comigo. Foi o que eu fiz quando cheguei aqui. Muitas das coisas que o Governo Dilma propôs e que eu entendia que eram boas para o País eu ajudei, mas o que não era bom eu não ajudei. Eu acho que essa é a atitude que o eleitor espera de um Senador com o seu compromisso, Senadora Kátia Abreu.

    A diferença nossa – e, de novo, respeitando a sua posição de neutralidade – é que, no meu Estado, os gaúchos são, por natureza, beligerantes. Gaúcho gosta de tomada de posição. Gaúcho gosta que seus líderes tomem lado. Pode até tomar um lado errado, mas tem que tomar lado. E eu tomei o lado do 17, do Bolsonaro, por entender que ele está representando uma esperança de mudança, especialmente de atender aquilo que é mais urgente para a população: a segurança pública.

    Obrigada, Senadora.

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – Obrigada, Senadora. Eu também, no fundo, no fundo, tenho o espírito gaúcho dentro de mim. Imagine a dificuldade que eu estou tendo para manter a minha neutralidade. Mas, por convicção, vou aguardar o comportamento de qualquer um dos dois que ganhar as eleições para ver como vão se comportar...

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – ... porque eu li com profundidade o projeto de governo dos dois e, sinceramente, não fui convencida. Quem sabe qualquer um deles que ganhar possa colocar na prática e eu passe a concordar.

    E quero dizer que, com relação ao armamento no campo, eu disse isso na eleição, como candidata a Vice-Presidente. Fui massacrada por alguns setores da imprensa porque eu estava pregando o armamento no campo, mas eu convido todos esses que são contra a morar uns dias no interior do Brasil. Vá morar na roça, sozinho, inclusive eu, sem marido, sem ninguém, sem familiar, com criança pequeno, morando sozinha, grávida. Vá morar uns dias no campo para poder ver na pele na hora em que desligar o motor da fazenda. Hoje ainda há energia. No meu tempo nem havia. Há umas que não têm energia. Desliga o motor, breu total, só na vela. Vai se defender como? Então, essas pessoas deveriam passear um tempo no campo, pelo menos um mês. Acho que não ficam, não dão conta de ficar. O medo é grande demais.

    Então, eu fui agredida por alguns, mas mantenho a minha posição, como V. Exa. acabou de dizer, com relação à ressalva do armamento no campo. Não é um armamento para milícias e para fazer uma guerra armada de "com terra" contra "sem terra" ou contra índios. Não. Muito claro: nós estamos falando sobre bandidos, quadrilhas organizadas hoje, no campo, para roubar gado, para roubar material no barracão, para matar o dono da fazenda, matar os seus trabalhadores... Então, nós queremos nos defender porque não há polícia. Agora, se mandar polícia para o campo, nós não precisamos de arma, está bom? Então fica assim.

    E encerro, dizendo aos produtores rurais de todo o País, de todos os tamanhos, aos trabalhadores, a todos, a quem trabalha, que nós vamos lutar para desburocratizar este País. Não vamos desistir do nosso Brasil. Não vamos desistir do Brasil! O Brasil é um país maravilhoso.

    A pauta das mulheres, contem comigo, mulheres de todo o Brasil, minhas companheiras, minhas irmãs brasileiras.

    E encerro, dizendo que não vou responder mais, em nenhuma entrevista, se sou de direita ou sou de esquerda. Vou dizer apenas que nem de direita, nem de esquerda: eu vim de baixo. Eu vim de baixo, de uma família humilde, fui criada num bairro de pessoas humildes, com muita alegria, com muita honra. Minha mãe foi uma lutadora para sustentar seus três filhos e os seus pais, meus avós... Fui criada na dureza, na peleja. Como dizem no Rio Grande e no Paraná, na peleia. E quero dizer que essa é a Kátia Abreu, nem de direita, nem de esquerda. Eu odeio esses conceitos. Eu vim de baixo.

    Sou a favor do livre mercado, da livre iniciativa, sou a favor do direito de propriedade, da eficiência dos governos, da eficiência das empresas, mas também sou a favor da justiça social. Sou a favor de que nós todos possamos colocar o foco no trabalho, no progresso, no desenvolvimento, no fortalecimento de todas as empresas, pequenas, médias e grandes, mas que o nosso maior foco, acima de tudo...

(Soa a campainha.)

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – ... seja o ser humano, o seu bem-estar e a sua felicidade. Essa é a Kátia Abreu. Quero ser uma pessoa equilibrada, do ponto de vista social e do ponto de vista mercadológico. Nem para o céu e nem para a terra; nós temos que manter o equilíbrio e o foco nas famílias e na sociedade.

    Muito obrigada, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Wellington Fagundes. Bloco Moderador/PR - MT) – Quero parabenizar a Senadora Kátia Abreu e convidá-la para assumir, para que eu possa fazer o meu pronunciamento.

    E parabenizá-la também pela grande eleição, não só concorrendo como vice, mas também por ter eleito o Irajá como nosso Senador da República, que chega aqui para contribuir com a sua juventude, com a sua força. Eu, que o conheci bastante, sei do seu desempenho como Deputado Federal. E como Senador, aqui, teremos uma voz forte também. Eu acredito que é o DNA da mãe, não é? Com certeza, Kátia.

    Então, parabéns a você pela sua força, da mulher, lutando e mostrando aqui exatamente essa competência também.

    A mulher no Brasil ainda é muito discriminada. E, nas minhas falas, eu sempre dizia: se não criarmos novas oportunidades, como foi a lei aqui, exigindo que os partidos, primeiro, reservassem vagas – inicialmente, 30% das vagas para as mulheres... Aí, as próprias mulheres viram que a lei estava machista. Não, vamos definir e mudar para 30% de ambos os sexos. E, depois, 30% dos recursos partidários também, para que fossem investidos, no mínimo, para as mulheres. Isso permitiu que muitas mulheres no Brasil fossem candidatas a Deputadas, vice-governadoras, Vice-Presidente, como V. Exa. E aqui com certeza, também, ampliando o número de Senadoras, neste Plenário, para o próximo mandato. Parece-me que sete novas Senadores. É isso mesmo? Então, é o que nós teremos aqui no Plenário.

    Então, eu quero parabenizá-la pela sua competência, também como Ministra da Agricultura, em que tivemos oportunidade inclusive de viajar para alguns países – Japão, Rússia –, abrindo o mercado para a nossa carne, tanto suína quanto bovina, e para os produtos derivados do leite.

    V. Exa. marcou o seu papel realmente como Senadora e como Ministra da Agricultura, avançando e modernizando muito aquele ministério, em que, hoje, o Senador Blairo dá o prosseguimento.

    Então, quero parabenizá-la também pela sua competência frente àquele ministério.

    A SRª KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PDT - TO) – Obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/10/2018 - Página 29