Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise do resultado da eleição presidencial de 2018.

Críticas às propostas do Presidente eleito Jair Bolsonaro.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS:
  • Análise do resultado da eleição presidencial de 2018.
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas às propostas do Presidente eleito Jair Bolsonaro.
Publicação
Publicação no DSF de 31/10/2018 - Página 23
Assuntos
Outros > ELEIÇÕES E PARTIDOS POLITICOS
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • ANALISE, RESULTADO, ELEIÇÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA.
  • CRITICA, GRUPO, PROPOSTA, JAIR BOLSONARO, CANDIDATO ELEITO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REGISTRO, OPOSIÇÃO, ORADOR, GOVERNO FEDERAL.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, pessoas que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado, pelas redes sociais.

    Sr. Presidente, o Brasil experimentou, no domingo passado, as eleições mais atípicas da sua história. Pela primeira vez numa democracia, como foi atestado pela própria Organização dos Estados Americanos (OEA), o processo eleitoral foi fortemente contaminado por uma fábrica de mentiras, para enganar o eleitor e influenciar a sua vontade. As mídias sociais, especialmente o WhatsApp, foram utilizadas para tentar interferir nos rumos do processo, com notícias falsas disparadas em massa, à custa do financiamento ilegal, na campanha do Sr. Jair Bolsonaro.

    O próprio Jair Bolsonaro tentou desacreditar o sistema eleitoral, acusando as urnas eletrônicas de estarem a serviço da fraude. Desde que ele fosse o vencedor, essa crítica não existiria – e não existiu mais.

    Tivemos a maior quantidade de votos nulos desde 1989, que, somados aos brancos e às abstenções, atingiram 42 milhões de votos, mostrando que a população está cansada com essa política de ataques à atividade política feita por gente como o próprio Bolsonaro.

    O Presidente eleito sai das urnas com 57,7 milhões de votos, enquanto quase 90 milhões votaram nulo, branco, abstiveram-se, e 47 milhões, no caso de Fernando Haddad. Ou seja, o novo governante teve apoio de 39% do eleitorado total, e 61% não o sufragaram, o que deveria dar a ele não somente gestos de humildade, mas de cautela, de não se sentir o dono da bola.

    Mas, ao contrário do que o PSDB fez em 2014 e o próprio Bolsonaro fez na campanha deste ano, o PT não vai agir como eles agiram, tentando ganhar o processo no tapetão. Mesmo com essa indústria de notícias falsas que foi montada para interferir no resultado, nós reconhecemos esse resultado.

    Não vamos pedir auditagem das urnas, nem recontagem de votos. Apenas queremos que, para bem da democracia, o Tribunal Superior Eleitoral investigue as denúncias veiculadas pela Folha de S.Paulo, porque elas são relevantes, até para futuras eleições no nosso País.

    Nós temos a consciência de que o nosso papel democrático foi cumprido. Fernando Haddad foi um grande mestre – é um grande mestre –, não somente nas salas de aula, mas também em levar a nossa mensagem Brasil afora. A mensagem de igualdade de oportunidades, de defesa e proteção das minorias, do abrigo e do acolhimento aos mais pobres, do repúdio à violência e ao autoritarismo. Não foi por nada que ele venceu em mais de 80% das cidades mais pobres do Brasil.

    No Nordeste, que virou um campo de esperança e oportunidades nos nossos Governos, que não é uma região de coitadismos, como nos acusou Bolsonaro, Haddad teve mais de 70% dos votos. Em Pernambuco, meu Estado, só numa única cidade Bolsonaro foi vencedor. Em todas as 185 demais, venceu Fernando Haddad, mostrando a força que o Nordeste tem na defesa de um projeto progressista.

    Fernando Haddad sai dessas eleições como uma grande e promissora liderança nacional, não só para o PT, mas para uma esquerda que renasce na oposição a esse Governo autoritário. E não foi apenas Haddad revelado como liderança importante. Manuela d´Ávila, Guilherme Boulos, vários governadores que foram eleitos ou reeleitos são hoje grandes lideranças no campo da esquerda e que vêm se somar nessa ação de resistência que vamos começar a partir de agora.

    A mobilização popular em torno de uma pauta contra os retrocessos foi revigorante, e houve um número expressivo de brasileiros e brasileiras que foram às urnas dizer que repudiam essa ameaça fascista que nos ronda.

    Nós não vamos aceitar a criminalização dos movimentos sociais, chamados de terroristas por esse pequeno Mussolini dos trópicos. Não aceitaremos o empastelamento dos veículos de comunicação, como ele se propôs a fazer com o jornal Folha de S.Paulo. Nem aceitaremos que instituições como o Supremo Tribunal Federal sejam fechadas por um cabo e um soldado.

    Somos e seremos resistência. E ofereceremos toda a oposição às pautas que sejam contrárias ao interesse do País e da sociedade, especialmente dos mais pobres.

    Hoje, algumas vozes já docilizadas dizem que não há espaço para retrocessos institucionais no Brasil e que Bolsonaro é tão somente um bravateiro, que não vai tão longe como diz. É talvez um caso único na história em que um Presidente é eleito e todos torcem para que ele não cumpra o que prometeu.

    Pois nós não teremos a mesma condescendência. Os que pensam que os vermelhinhos que ele ameaçou mandar para a ponta da praia, para a prisão ou para o exílio são apenas os petistas, os pecedobistas, em 64 pensavam assim, mas foram liberais, democratas... Até conservadores foram para a prisão, e muitos até mesmo para a morte e para a tortura.

    Nós ficaremos vigilantes e resistindo para evitar violações e, particularmente, que a democracia seja destroçada por tendências autoritárias, que se têm demonstrado muito típicas, não só por parte de Bolsonaro, mas dos que o cercam. É a venda inconsequente de estatais e das riquezas do País; é a saída unilateral do Mercosul; é o alinhamento à direita fascista mundial; é uma caça às bruxas nos órgãos públicos, aos artistas e celebridades que se manifestaram pela democracia ou que externaram o seu voto no candidato Fernando Haddad; é uma reforma da previdência que ele acerta com o governo moribundo de Temer, para fazer aprovar sem qualquer discussão com os trabalhadores.

    Toda essa postura autoritária já está posta por esta turma que tem desapresso pela democracia. Em todo o País já são incontáveis os casos relatados dos que se sentem autorizados a andar armados, a intimidar adversários, gays, negros, índios...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... e até professores e alunos dentro de instituições de ensino.

    Precisamos unir os democratas, formar uma grande frente democrática neste País, para impedir o retrocesso, o autoritarismo e a ditadura. E não vamos perder tempo nessa discussão mesquinha de quem é que lidera essa ou aquela frente. Agora é a hora de juntar todos os democratas, para fazer frente ao que de pior vem nos próximos meses, nos próximos anos, que é um governo com viés fortemente autoritário. E nós, para resistirmos, precisamos, acima de tudo, estar unidos.

    Meu mandato será uma trincheira de resistência a esse Governo autoritário. Vamos batalhar de manhã, de tarde e de noite pelas liberdades democráticas, pelo direito de cada cidadão e cidadã brasileiros e também pelo direito que nós conquistamos com muita luta: o direito social da população brasileira.

    Precisamos estar unidos.

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – Não estou aqui sendo catastrofista nem profeta do apocalipse; estou dizendo tão somente a verdade. Esses que estão aí não têm nenhum apreço pela democracia, nenhum apreço pela liberdade. E se nós, que somos democratas, não nos unirmos para defender essa mesma liberdade, em breve, estaremos lamentando mais uma vez a sua perda.

    Eu, hoje pela manhã, vendo diversas notícias de WhatsApp, me senti como se estivesse no tempo da ditadura, quando eu admirava as manifestações de Marcos Freire, de Jarbas Vasconcelos, de Paulo Brossard...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... denunciando as perseguições, denunciando prisões, denunciando torturas.

    Quantas pessoas estão sendo ameaçadas neste momento? Templos de religiões afrobrasileiras sendo pichados e seus sacerdotes ameaçados; professores universitários, ameaçados de serem delatados, com estímulo de Parlamentares eleitos, dentro dessa concepção de escola sem partido, essas baboseiras que fizeram no nosso País; pessoas acusadas de serem comunistas, socialistas.

    Quer dizer, o comunismo acabou há quanto tempo? E agora se criou esse moinho de vento, para que essa ultradireita, essa extrema direita reacionária, essa extrema direita existente no Brasil, que sequer...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... princípios mínimos que a extrema direita dos Estados Unidos ou da Europa respeitam, aqui não têm.

    Então, eu lamento, mas temo que precisaremos fazer novamente aquela luta que esses patriotas, que esses democratas, fizeram. Nós, do PT, queremos mais uma vez conclamar todos os democratas de todos os partidos – da esquerda, do centro –, todos aqueles que têm apreço pela liberdade, para que, juntos, criemos uma grande barreira, para impedir que o espectro do fascismo se amplie, se crie e se fortaleça no nosso País.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/10/2018 - Página 23