Discurso durante a 130ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca da reassunção de S. Exª ao mandato de Senador da República.

Autor
Walter Pinheiro (S/Partido - Sem Partido/BA)
Nome completo: Walter de Freitas Pinheiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Considerações acerca da reassunção de S. Exª ao mandato de Senador da República.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 08/11/2018 - Página 56
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, RETORNO, SENADO, ORADOR, ENFASE, PARTICIPAÇÃO, MANUTENÇÃO, DIALOGO, PARTIDO POLITICO, SITUAÇÃO, OPOSIÇÃO, DURAÇÃO, MANDATO ELETIVO, DEPUTADO FEDERAL, SENADOR.

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA. Pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, meu caro Presidente, companheiro Eunício Oliveira, Senadora Marta Suplicy, Senadora Vanessa Grazziotin; eu até brinquei com o Presidente neste instante, eu disse que eu não saberia, que não sei nem se eu ainda sei usar a tribuna aqui, Sr. Presidente, depois de um tempo ali na Secretaria de Educação. Esse retorno, inicialmente até previsto para um breve retorno, mas fui depois, de certa forma, demandado para algumas questões de interesse do nosso Estado, o Estado da Bahia. Portanto, mantive aqui a presença.

    Mas eu quero, Sr. Presidente, na tarde de hoje, dizer que é sempre uma alegria – como tive a oportunidade hoje de manhã – voltar à atuação que sempre tive nesta Casa ou na Câmara dos Deputados, inclusive em conjunto com os mesmos Senadores e Senadoras que estão aí à Mesa: o grande debate, a forma como a gente sempre atuou aqui na Casa, discutindo os temas a partir principalmente do conteúdo.

    Eu cheguei a uma trajetória que me permite, efetivamente, com esse aprendizado – e é um aprendizado de 26 anos quase de mandato parlamentar; aliás, esse tempo foi o que motivou a decisão –, e eu já havia basicamente aberto esse debate no ano de 2011, consagrado em 2012 e firmado esse compromisso já no ano de 2016, quando inclusive aceitei voltar ao Estado para ser Secretário de Educação, que é uma decisão de não mais... 

(Soa a campainha.)

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – ... voltar ao Parlamento, exatamente por conta de diversas questões que nortearam a chegada minha ao Parlamento, através do meu primeiro ingresso ali na Câmara de Vereadores de Salvador.

    Uma das questões para que eu chamo sempre a atenção foi o processo de renovação e a luta por renovação de quadros no Brasil; essas duas coisas motivaram, inclusive permitiram a minha chegada ao Parlamento brasileiro.

    Portanto, fora da curva, filho de um agricultor que depois virou ferroviário, tornar-se Senador da República, de uma família que não tem nenhuma relação do ponto de vista de mandatos parlamentares, nenhum dos meus irmãos nem os meus pais e tampouco os meus filhos, muito menos os meus sete netos. Ainda não posso nem afirmar isso, todos ainda pequeninos, da pequenina Mariana, passando pelo Eduardo, pelos trigêmeos Tito, Isaac e Davi, por minhas queridas Luíza e Júlia. Portanto, os sete compõem um contexto que afetivamente me apresentará no futuro um novo momento. Eu me recordo que, num final de semana desses, em minha casa, minha neta mais velha, Júlia, de 6 anos, me perguntou: "Meu avô, por que você não quis mais disputar eleição? Por que você não entrou nessa eleição?" E eu disse a ela: "Porque chegou a hora inclusive de eu cuidar dos netos. Chegou a hora de voltar para a minha profissão".

    O que me motivou, Cristovam, aliás, o que me colocou aqui no Parlamento foi exatamente a luta por renovação. Lembro que eu usava uma máxima em que eu dizia o seguinte: "Não, os caras estão há 30 anos do poder". Quando eu olhei, eu disse: "Eita, eu estou chegando nos 30 anos". Portanto, deixa eu ir embora antes que eu não cumpra aquilo que foi o que efetivamente originou a minha chegada ao Parlamento.

    Acho que dei minha contribuição. Fiz desta Casa aqui, da outra Casa também, da Câmara dos Deputados, fiz das duas Casas, eu diria até, escola de vida. Busquei aproveitar ao máximo da convivência com a oposição, com a situação. Tive oportunidade, Cássio, de liderar a oposição durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, mas nunca me neguei ao diálogo. Várias vezes estive no gabinete com Pedro Parente, com Martus Tavares, do Planejamento, que é a minha área principal de atuação, assim como o José Serra quando Ministro, aliás, do Planejamento e depois da Saúde. Portanto, mantendo os meus propósitos, a firmeza no entendimento, mas mantendo uma coisa fundamental: diálogo e respeito. A mesma coisa durante os mandatos do Presidente Lula, da Presidente Dilma e agora inclusive com toda a divergência que nutri desde o processo de impeachment com o Presidente Michel Temer. Mantenho uma posição, como eu sempre costumo dizer... Aliás, uma frase que eu disse uma vez aqui ao Senador Antonio Carlos Magalhães. Ele me disse assim: "Você era meu inimigo lá na Bahia". Eu disse: "Não, Antonio Carlos, porque eu nunca fui seu amigo; não posso ser seu inimigo. Eu sou seu adversário na política". Portanto, não se consolidam inimizades, tampouco se trabalha na lógica da raiva ou do adjetivo.

    Portanto, a minha volta aqui esta semana coincidiu com coisas importantíssimas. Tive oportunidade de ajudar minha bancada na consagração das emendas para atender aos interesses do meu Estado. Participei, hoje de manhã, do importante debate sobre o setor com o qual eu tenho ainda as minhas raízes, local onde eu entrei com os meus 19 anos, na minha profissão, na antiga Telebahia, do Sistema Telebrás. Tive oportunidade de participar, desde o dia de ontem, de uma empreitada junto com o Senador Fernando Bezerra, com o Senador Otto Alencar e com Senador Lindbergh Farias, no sentido de encontrar um texto. Aliás, Lindbergh, esta é uma das coisas que eu mais fiz neste Parlamento: a oportunidade de encontrar saídas, de tentar trabalhar na redação, de buscar fazer emendas, de mexer com essas questões, usando inclusive as prerrogativas que o Parlamento nos dá. Esse é um aprendizado que estou levando para a vida pessoal: como trilhar isso, como descobrir, como fazer.

    Uma coisa que o Diap sempre cravava a meu respeito. Eu me lembro de que o Toninho do Diap me dizia assim: "A coisa que eu acho mais interessante é que você é um Deputado aplicado, estudioso, aquele que não costuma falar das coisas só de ouvir falar", ou de orelha, como é chamado no jargão mais popular.

    Portanto, busquei, de forma muito intensa, aplicação nas áreas do meu conhecimento, nas áreas que tinha interesse, nas áreas em que eu poderia servir ao meu Estado. Busquei ser um Parlamentar de atuação muito focada e aplicada. Todas as coisas em que eu adentrava, adentrava inclusive buscando estudar e tentando extrair ao máximo aquilo que poderia ser aplicado para o interesse do povo do meu Estado e para o povo do Brasil.

    No dia de ontem, a gente também apresentou mais uma contribuição que hoje nós até consagramos para adiante. Temos posições contrárias, óbvio. O processo que está aqui em debate hoje, de cessão onerosa, nós temos uma crítica veemente a ele, mas foi possível fazer exatamente uma discussão sobre quais pontos nós podemos extrair, cada vez mais, coisas vantajosas para a economia do nosso Estado e para a população dos nossos Estados. Essa é a tarefa que se estabelece aqui.

    Ao longo de minha vida parlamentar, Senador Cristovam, atuei muito na Comissão de Ciência e Tecnologia. Nunca saí dela, desde o primeiro dia em que entrei neste Parlamento. Se tinha a oportunidade de ir para outra comissão, ia para a Comissão de Assuntos Econômicos, também relacionada com a minha atividade na área de planejamento. Ou na área de infraestrutura, que tem a ver com as áreas em que atuei e em que continuo atuando profissionalmente, na parte de energia, na parte de telecom ou na parte de TI – que é hoje basicamente a minha atividade profissional.

    Portanto, o Parlamento foi a grande escola, aqui eu aprendi muito. Saio daqui com um sentimento enorme não só de dever cumprido, mas principalmente com a leveza de poder sair daqui com um acúmulo histórico e pessoal muito interessante, com um aprendizado na convivência, com um aprendizado na experiência, com conhecimento.

    Passei a ter um outro comportamento do ponto de vista de gestor. Aliás, é uma crítica que faço permanentemente lá na Bahia. Quando alguém me traz alguma interpretação da lei eu falo assim: gente, lei não é para ser interpretada, lei é para ser cumprida. É diferente. Cada um vai tentando dar a sua interpretação.

(Soa a campainha.)

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – Este é um momento decisivo para o País. O País passa por uma fase de mudanças que eu poderia até chamar de mudança radical, de mudança extrema, de mudança abrupta ou coisa do gênero, mas não cabem esses tipos de adjetivos: é uma mudança produzida pelo processo eleitoral, um processo eleitoral que culminou a partir de diversos outros processos. Isso não aconteceu por acaso, não foi por geração espontânea o que nós vivemos no dia 7 e no dia 28 de outubro. Isso foi resultado, efetivamente, do que aconteceu ao longo de todo um período. Portanto, nós estamos colhendo resultados. Se os resultados não são satisfatórios sob o meu olhar, cabe-me exatamente agora ajustar como é que será a nossa atuação, como é que nós vamos poder contribuir, como é que nós vamos nos relacionar, como é que nós vamos inclusive tratar essa questão.

(Soa a campainha.)

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – Essa é a maturidade de um Parlamento que tem de se preparar para esse novo período, um período de dificuldades, um período em que a gente não pode abrir mão, em hipótese alguma, de um parâmetro que norteou exatamente a retomada democrática deste País. A Constituição e a democracia são parâmetros inseparáveis no contexto da atuação de qualquer nação, principalmente na relação entre o Parlamento e o Executivo. As responsabilidades aumentam, eu sei o que é isso, estou tocando hoje uma Secretaria de Estado com orçamento de mais de R$5,6 bilhões. Portanto, requer do gestor, cada vez mais, responsabilidade e, acima de tudo, capacidade de diálogo, de respeitar as instituições e tratar isso – mesmo com o aspecto da política que nos separa – com o rigor que as instituições exigem do nosso comportamento.

(Soa a campainha.)

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – Por isso, Sr. Presidente, eu quero aqui dizer que, na tarde de hoje, por exemplo, nós vivenciamos essa experiência. A experiência de juntar desiguais e tentar construir uma pauta comum, ou seja, pelo menos em pontos daquilo que nos interessa, do ponto de vista de representantes de Estados. No caso do Senador Fernando Bezerra, por exemplo, representante da estrutura do Executivo aqui nesta Casa; do caro Senador Lindbergh, representante da oposição, mas também, todos eles, com uma clareza nítida neste processo, nós estamos aqui representando os interesses do povo brasileiro. Isso é que tem que estar em primeiro lugar, essa que é a questão central, isso é o que norteia o espírito de luta que compõe a nossa atuação.

    Posso até dizer que logramos êxito nessas negociações de hoje. Espero inclusive que a gente possa avançar mais ainda para o dia de amanhã. Não sei se volto amanhã...

(Soa a campainha.)

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – ... ou na semana que vem à Secretaria Estadual de Educação da Bahia, mas, com certeza, Senador Eunício, a gente pode concretamente, mesmo sabendo que a partir de 1º de fevereiro aqui não estarei mais, mas, com certeza, estarei de olho neste Senado e, ao mesmo tempo, disposto e ávido para contribuir para que o processo possa continuar, mesmo atuando em outra esfera.

    Não sei ainda para onde vou, meu caro Cristovam, e não dá para afirmar que isso não farei ou aquilo não serei. Eu até tenho muita confiança em Deus e, a partir exatamente dessa relação, eu continuo esperando que eu possa construir um caminho que me permita colocar a experiência que, ao longo do tempo, foi possível adquirir nesses 26 anos de mandato parlamentar, a serviço do povo do meu Estado, mas principalmente pensando ainda também no meu caminho de volta, cada vez mais para dentro da minha casa, com a minha companheira com a qual vivo há 42 anos...

(Soa a campainha.)

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – ... com os meus filhos e os meus netos, para a gente continuar a nossa jornada.

    Combati o bom combate, viu Cristovam? Não acabei a carreira. Acabei a carreira aqui, mas continuo com a mesma fé, a fé de transformação, a fé de que é possível fazer mudanças profundas na sociedade e a fé de que é possível a gente fazer direito, consequentemente, para atender aos interesses do povo brasileiro.

    Vou dar um aparte ao Senador Cristovam e encerrar.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Muito rápido.

    Eu quero apenas dizer, Senador Walter, que esse seu discurso mostra a falta que o senhor vai fazer aqui. Pouca gente, poucos de nós são capazes de fazer um discurso com essa consistência e ter a vida de Parlamentar dando substância, alicerce a esse discurso.

    Eu fui prova aqui, no tempo em que estivemos juntos, de que primeiro o senhor colocou sempre o Brasil à frente de qualquer corporação e até mesmo do próprio Estado. O senhor foi um Senador da República que a Bahia mandou para cá, como aquele dali, Rui Barbosa, e não apenas um Senador para levar benefícios para o seu Estado, o senhor foi um Senador da República.

    Segundo, preocupado com o que tem de mais fundamental na construção do futuro, que é ciência, tecnologia, cultura, conhecimento, o senhor foi um Senador que aqui fez o que cada um de nós deveria fazer, e fez com competência, com isenção partidária, com radicalismo no compromisso com o povo, com o País.

    Por isso, vai fazer falta, mas eu entendo perfeitamente que, para cada um de nós, chega um momento em que não é mais para estar aqui. No seu caso, o senhor tomou a decisão; no meu caso, eu preferi deixar que o povo tomasse. Imaginava, até, que ia continuar aqui, porque tinha uma função ainda, mas sinto um grande "frustralívio": uma frustração de não estar participando diretamente, nesta Casa, desse momento, mas um certo alívio de poder, como o senhor disse aí, cuidar dos netos e de outras atividades que os netos simbolizam – aliás, os netos simbolizam o futuro –, e existem muitas trincheiras além desta aqui.

    Por isso, muito boa sorte para o Brasil, que vai continuar...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... com o senhor na luta, em outras frentes, que são muitas, as frentes que o Brasil deixa para os seus patriotas, para os seus cidadãos e cidadãs.

    Parabéns pelo que fez! Parabéns pela maneira como está saindo daqui, sem sair da luta!

    Muito obrigado, Senador...

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – Obrigado.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... por tudo que o senhor fez nesse período aqui e também pela amizade...

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – O melhor de tudo.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... que nós construímos – tão grande, que o senhor sempre me chamou de Cristovinho.

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – Ah, eu acho que essa é a melhor parte, ouviu, meu caro Cristovinho, como sempre lhe chamei?

    Eu não tive a oportunidade de ser Parlamentar na Câmara dos Deputados com V. Exa., porque V. Exa. não foi Deputado. Mas eu fico muito feliz porque, quando eu cheguei aqui, eu me lembro de que a gente se juntou – havia uma série de Deputados, vários Deputados que vieram para cá, para o Senado. Foi legal, porque a gente pôde continuar a relação, mesmo em campos opostos. Então, o bom do Parlamento é isso. Nós travamos, às vezes, longas batalhas ou até discursos acirrados, mas isso não impede de sermos cortês, respeitoso e construir boas amizades aqui dentro desta Casa.

    Portanto, a gente leva de bom aqui isto, o conteúdo, e, principalmente, a possibilidade de ter conhecido novos amigos e, consequentemente, poder dizer assim: "Vamos continuar contribuindo em outra frente". O que me disse uma pessoa ali hoje: "Pinheiro, isso é legal, porque você dá um exemplo de que existe vida fora daqui", como se a gente só pudesse viver se estivesse aqui dentro.

    Mas é importante lembrar que o papel desta Casa foi decisivo para, inclusive, a consolidação do meu comportamento enquanto ser humano. Aqui aprendi. Então, eu não posso, de forma nenhuma, negar nem a Casa de lá, nem esta de cá, muito menos a minha história partidária. Tenho pelo meu ex-partido muito carinho. Saí de lá por diversos motivos, mas continuo, inclusive, dizendo que foi uma das melhores experiências partidárias. Aliás, só tive uma até hoje e, portanto, parto do princípio de que aquela experiência foi uma ótima experiência...

(Soa a campainha.)

    O SR. WALTER PINHEIRO (S/Partido - BA) – ... porque, lamentavelmente, diferentemente do meu casamento, que continua vivo e de pé, aos 42 anos o casamento com o PT teve que se desfazer. Mas não considero como algo ruim na minha vida; pelo contrário, algo extremamente bom, e foi um caminho que abriu, inclusive, diversas portas para a minha chegada inclusive no Parlamento brasileiro.

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/11/2018 - Página 56