Discurso durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com o caso de violência contra a mulher envonvendo o Sr. Sérgio Thompson-Flores.

Indignação com comentários que questionam a legalidade do Programa Mais Médicos.

Autor
Regina Sousa (PT - Partido dos Trabalhadores/PI)
Nome completo: Maria Regina Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS E MINORIAS:
  • Indignação com o caso de violência contra a mulher envonvendo o Sr. Sérgio Thompson-Flores.
SAUDE:
  • Indignação com comentários que questionam a legalidade do Programa Mais Médicos.
Publicação
Publicação no DSF de 28/11/2018 - Página 39
Assuntos
Outros > DIREITOS HUMANOS E MINORIAS
Outros > SAUDE
Indexação
  • APREENSÃO, MOTIVO, AUMENTO, VIOLENCIA, VITIMA, MULHER, CRITICA, AUSENCIA, PUNIÇÃO, AGRESSOR.
  • DEFESA, PROGRAMA MAIS MEDICOS, CONTRATAÇÃO, MEDICO, ORIGEM, PAIS, ESTRANGEIRO, CUBA, IMPLANTAÇÃO, PERIODO, GOVERNO FEDERAL, GESTÃO, DILMA ROUSSEFF, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENFASE, TRABALHO, REALIZAÇÃO, REGIÃO, DIFICULDADE, ACESSO, APOIO, COMUNIDADE INDIGENA, LOCAL, FLORESTA AMAZONICA, ESTADO DO AMAZONAS (AM).

    A SRA. REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI. Para discursar.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Sras. Senadoras, telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, eu ia falar sobre esse relatório da Oxfam sobre o Brasil estagnado há dois anos, mas eu vou deixar para outro momento.

    Também falaria sobre os 16 Dias de Ativismo, que é um projeto da ONU contra a violência contra as mulheres, que começou dia 25 e vai até o dia 10. Mas disso também vou falar rápido, simbolizando no caso Cristiane, uma atriz da Globo – não sei se é da Globo, mas já foi –, e o Sr. Sérgio Thompson-Flores, nome pomposo, de família famosa, o que ele fez com aquela mulher. E a gente pergunta assim: a nossa luta até hoje valeu o quê? A gente recebe parabéns no Dia Internacional da Mulher, a gente recebe flores, a gente ouve algumas pessoas cumprimentando pelos 16 Dias de Ativismo. Agora, onde é que estão os homens nessa campanha? Do lado de quem? Porque todo dia se abre jornal, se abre a televisão e é marido que matou mulher, namorado que matou namorada e por aí vai.

    Todos os dias, você pode abrir qualquer canal de TV que você vai ter notícia de um assassinato de mulher, de um feminicídio. Alguns se recusam até a caracterizar como feminicídio, porque dá mais trabalho, e preferem caracterizar como homicídio.

    E aí quero conclamar os homens a uma reflexão: até quando a gente vai assistir a isso sem atitude? Porque aquela moça... O cara ainda se deu ao luxo de desqualificar a fala dela, de dizer que ela estava louca. Isso se chama misoginia, dizer que a mulher está louca para dizer que ela não está dizendo coisa com coisa, para falar que ela está fora do seu juízo normal. Se não fosse ela gravar aquelas cenas horrorosas que eu vi ontem em um programa de televisão inteiro passando todos os detalhes dos espancamentos que aquele homem fazia com aquela menina... E aí ele não estava preso. Só foi preso porque descumpriu medida protetiva. Eu não sei que justiça é essa também. A moça está toda cheia de hematomas. Até enforcamento com fio de telefone ele fez. E é marido. Depois ficava fazendo juras de amor, pedindo perdão. E ela teve a ideia de gravar, de esconder uma câmera e gravar todo o processo de espancamento.

    E é isso, ela simboliza todas as mulheres espancadas neste País, todas as mulheres mortas neste País. E ela está com medo de morrer, como ela disse, porque, se ele sair dali, ele vai matá-la, claro.

    Então, eu vou falar disso com mais calma, porque eu acho que não adianta só campanha, só elogios às mulheres, só flores para as mulheres; é preciso que homens tenham atitude contra outros homens violentos. Não é possível que a gente continue com isso. Mas eu mudei meu discurso porque o que eu ouvi aqui ainda agora eu não sei nem como qualificar. Chamar médico cubano de escravo é desconhecer a escravidão no Brasil.

    Saiu um relatório na semana retrasada: 209 empresas brasileiras praticando o trabalho escravo, empresas já levadas à Justiça pelo Ministério do Trabalho. E tudo começa com fazenda, tudo agronegócio. São pouquíssimos de outras áreas, mas tem também, na construção civil, na confecção... Aliás, grifes famosas explorando os imigrantes bolivianos e venezuelanos nas suas confecções, fazendo-os trabalhar 14 horas por dia. Ninguém fala disso, porque são os amigos, os empresários são os amigos. Aí vêm falar de médico cubano, de escravidão de médico cubano. Vai para a Unimed ver quanto a Unimed paga para um médico! É a mesma coisa. Ela fica com o dinheiro. O médico faz a consulta, mas o dinheiro fica com a Unimed. Ela paga 30%, 40% para o médico. Isso não é escravidão. É escravidão porque é Cuba. É essa paranoia com o comunismo. A paranoia é tamanha que um menino foi fazer o dever de casa e, como a pergunta era sobre desigualdade social, e respondeu com o art. 3º da Constituição, que fala na sociedade justa, a mãe disse que a professora dele era comunista. Aí ele disse: "Não, mãe, isso aqui é o art. 3º da Constituição". É uma paranoia com o comunismo.

    Talvez esse desprezo pelos médicos cubanos... Talvez a pessoa com esse tamanho desprezo, se não fossem os médicos cubanos debelarem o ebola na África, já estivesse morta pelo ebola. E eles vão debelar epidemias é de graça. Não cobram nada. Então, isso que ele cobra aqui é para cobrir o bem que ele faz, vacinas que vêm para este País, que são de Cuba, porque é Cuba que descobre primeiro, porque estudam, porque têm a melhor medicina.

    Americanos vão se tratar em Cuba com os seus barcos de luxo. Estudantes americanos fazem questão de ter um estágio em Cuba para valorizarem mais o seu diploma.

    Eu não entendo essa raiva, porque os cubanos não vieram tomar o lugar de ninguém. Foram abertas inscrições para brasileiros. O primeiro edital era para os brasileiros; quando não se preencheu, chamaram os estrangeiros, e não só cubanos.

    Brasileiro até tem, mas muitos fazem acordo com as prefeituras para trabalharem só dois dias na semana. E as prefeituras... Um prefeito disse para mim: "Regina, eu prefiro ter um médico por dois dias do que não ter de jeito nenhum". Então, eles se submetem. Todos têm consultórios, têm clínicas, são sócios de clínicas, trabalham em hospitais públicos; então, não querem ficar... Eu quero ver.

    "Ah, não. Já preencheram todas as vagas". Mentira! Inscreveram-se 30 mil? Inscreveram-se, mas, na hora, não vão ficar. Eu quero ver ir à Amazônia para passar não sei quanto tempo dentro de um barco para chegar a uma comunidade. Eles não vão!

    Os brasileiros consultam lá, vão para o posto de saúde, ficam detrás de um bureau esperando as pessoas. Os estrangeiros vão às casas das pessoas ver a água que bebem, ver a comida que comem, ver qual é a condição sanitária.

    Então, é um absurdo! Eu quero ver quem que vai para as aldeias indígenas. Trezentos e um saíram das aldeias indígenas. Eu duvido que apareçam 301 brasileiros para irem morar nas aldeias indígenas.

    Aí vêm dizer: "E por que eles não fazem o Revalida?" Se eles fizessem o Revalida, eles teriam os mesmos direitos dos brasileiros. Ou seja, eles iriam botar consultório. Se alguns ficarem aqui, eles vão ter esses direitos. Vão fazer o Revalida e vão ter esse direito de montar consultório, e, aí, eles não vão fazer o Mais Médicos, não, lá nos lugares que ninguém quer ir, nos grotões, como se diz, onde as pessoas veem um médico uma vez na vida. E, aí, foi dado a essas pessoas o direito de ter médico todos os dias.

    Eu visitei postos de saúde em lugares distantes onde uma pessoa me disse assim: "Senadora, eu sou surda. Eu me sentava na frente do outro médico que tinha aqui e eu não entendia nada do que ele dizia. Esse médico aí botou a cadeira do meu lado e falou no meu ouvido. Eu entendi tudo que ele disse".

    É a atenção básica. Eles não vieram aqui para operar nem para fazer a alta complexidade, não. Eles vieram aqui para fazer a atenção básica, a prevenção, evitar que adoeçam os nossos índios.

    Estão falando em CPI do Mais Médicos lá na Câmara. Deveriam fazer uma CPI para saber quantas crianças indígenas morreram por falta de médicos ou quantas pessoas da floresta morreram por falta de médicos. Era isso!

    Se os brasileiros forem, eu vou bater palmas. Agora, eu estou achando difícil eles se embrenharem em uma aldeia indígena e ficarem morando lá. Não vão! Porque exige sacrifícios, e não é todo mundo que é dado a fazer sacrifícios.

    Então, falar que o PT escravizou... Quem escraviza é o agronegócio neste País! Todo dia estão aí os exemplos de não sei quantas autuações do Ministério do Trabalho resgatando pessoas que trabalham 14, 15 horas por dia.

    Os caras botam na tabela de pagamento que eles estão sempre devendo. Têm o desplante de botar na tabela de pagamento que a pessoa deve o preço da liberdade. Uma doutora lá do Piauí, que fez a tese dela, botou os bilhetinhos, copiou tudinho e colocou, tinha até o preço da liberdade.

    A pessoa comia 150kg de carne em poucos meses. Colocavam lá 150kg de carne. O cara, que não sabia ler...

(Soa a campainha.)

    A SRA. REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – ... já estava devendo. Então, ele não poderia sair nunca. Isso, sim, é escravidão!

    É escravidão o trabalho intermitente de que se vangloriam aí e que está pagando R$300, R$400 para as pessoas, que nunca vão se aposentar porque não estão pagando previdência. Isso é escravidão!

    Então, é preciso que a gente pare de dizer bobagens e coloque as coisas como são.

    Não gostam do comunismo? Todo mundo tem o direito de não gostar, mas eles não estavam aqui como comunistas; eles estavam aqui como seres humanos que aprenderam a solidariedade, que fizeram a Medicina humanizada. Por que é que os estudantes americanos vão para Cuba estudar se é tão ruim assim? Por que é que as vacinas se Cuba são requeridas pelo mundo inteiro se são tão ruins assim? Lá não tem hospital particular, lá não tem clínica particular, lá não tem escola particular, tudo é de graça. E as pessoas têm acesso à igualdade, acesso para todos. Eles estudam...

(Soa a campainha.)

    A SRA. REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – ... formam-se e vão depois pagar com essas ações beneficentes. Para muitos lugares, a África por exemplo, não cobram; a Opas não cobra para muitos lugares. Agora, para o Brasil, que podia pagar, cobrou. E o Brasil só trouxe porque os médicos daqui não quiseram ir. O edital abriu primeiro para os médicos brasileiros, e eles não quiseram ir; aí foi que abriu para os outros.

    Então, é preciso que a verdade seja dita, não pode camuflar pelo ódio que carrega no peito pelo PT – está camuflando as coisas. Tem que dizer as verdades. Não é possível falar essas coisas parecendo verdades. Não, não pode. Por quê? O Mais Médicos foi o programa mais bem avaliado deste Governo e ele foi votado aqui no Senado e na Câmara. O programa mais bem avaliado do Governo Federal ainda é o Mais Médicos. Vai lá entrevistar as pessoas, ver os vídeos das despedidas...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRA. REGINA SOUSA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PI) – ... falta dos médicos cubanos.

    Era isso, Sr. Presidente. Muito obrigada.

    Amanhã eu falo sobre essa questão deste País estagnado que saiu no relatório.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/11/2018 - Página 39