Discurso durante a 141ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Alerta para a perda de direitos e garantias a partir da eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do País.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Alerta para a perda de direitos e garantias a partir da eleição de Jair Bolsonaro para a presidência do País.
Publicação
Publicação no DSF de 29/11/2018 - Página 17
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • APREENSÃO, POSSIBILIDADE, PERDA, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS, MOTIVO, ELEIÇÃO, JAIR BOLSONARO, CARGO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, aqueles que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado e pelas redes sociais, ninguém jamais duvidou, a julgar pela trajetória do Presidente eleito e daqueles que o apoiam diretamente, do imenso potencial de produção de produção de bobagens deste futuro novo Governo. Mas eu gostaria, hoje, de ressaltar aqui algumas das tolices já proferidas e que pautam o viés ideológico da futura gestão que causam preocupação em diversas áreas.

    Hoje mesmo, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o Procurador dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal, Domingos Sávio da Silveira, considerou o futuro Governo Bolsonaro medieval em propostas e se disse receoso com o futuro dos direitos humanos num Brasil em que o plano de governo do Presidente eleito diz que direitos humanos só valem para humanos direitos ou o que eles considerem como humanos direitos.

    É um retrocesso anunciado em costumes, em direitos políticos e direitos civis, em conquistas históricas e que precisa ser vigorosamente combatido para evitar que o País descambe para um pavoroso obscurantismo de ideias e comportamentos.

    Na área das relações exteriores, temos, de início, um alinhamento subalterno aos Estados Unidos. Paralelamente, assistimos à absurda decisão de desconstruir blocos extremamente proveitosos à nossa pauta, como o Mercosul, os Brics e o dos países árabes, com atos de hostilidade à própria ONU, como o confirmado pelo filho do Presidente, uma espécie de chanceler informal, de transferir a nossa embaixada de Tel Aviv para Jerusalém.

    O futuro Chanceler, de fato, promete atacar o que chama de pautas abortivas e anticristãs, a imigração e o que ele classifica como alarmismo climático, crítica ao aquecimento global, o que nos levou, aliás, ao mico internacional de recusar sediar a Conferência do Clima da ONU que ocorreria aqui no ano que vem.

    O novo Ministro das Relações Exteriores é uma indicação direta do guru de Bolsonaro, o escritor que se autodenomina filósofo autodidata, para o qual não existem intelectuais de esquerda à sua altura. Vê-se também que a modéstia não é característica importante desse cidadão.

    Olavo é um defensor intransigente do armamentismo. É um sujeito que mora nos Estados Unidos e tem por hobby matar ursos para, depois, comer as suas carnes. Está animadíssimo com a possibilidade de ser embaixador do Brasil junto ao governo de Donald Trump, de quem Bolsonaro é um imenso fã. Entre outras aberrações, Olavo é contra a vacinação infantil sob a alegação de que vacinas matam ou endoidam. E esse é o ideólogo do Governo de um país onde os indicadores de vacinação mostraram uma queda, em 2017, sendo a pior taxa dos últimos anos, ameaçando fazer avançar o crescimento da mortalidade de crianças e trazer de volta doenças erradicadas e sob controle.

    Contrariando décadas de estudos e consensos científicos, o mentor do Presidente é um intransigente defensor do tabagismo. Para ele, é balela a evidência de que o cigarro causa câncer de pulmão ou doenças cardíacas. Segundo ele, todas as estatísticas são falsas, e o antitabagismo não passa de um, abre aspas: "refúgio de canalhas", fecha aspas.

    Olavo de Carvalho, que se orgulha de nunca ter prestado vestibular porque abandonou a escola na 8ª série do ensino fundamental, acredita que a Pepsi Cola é feita com células de feto abortado e quem a consome é um "abortista" terceirizado. E pensa que a Terra não gira em torno do Sol, achando-se capaz de ensinar Física a Einstein. Talvez por todas essas qualificações e ideias revolucionárias, ele não só tenha indicado o futuro Ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro, mas também o da educação.

    Nessa área, nós pensávamos que já havíamos chegado ao fundo do poço com a trágica gestão desse que, lamentavelmente, é meu conterrâneo, Mendonça Filho, por lá congelando os investimentos no setor por 20 anos, desmontando o Fies, o Prouni e acabando com o Ciência sem Fronteiras. Mas não, o colombiano que irá assumir a pasta já disse que Bolsonaro terá o direito de ver a prova do Enem antecipadamente para intervir diretamente na condução do seu conteúdo.

    Aliás, o humorista José Simão lançou um Twitter genial, ele disse: "Bolsonaro vai ver a prova, mas não vai ser capaz de responder".

    Ou seja, esse Governo decreta o fim da credibilidade de um concurso sério que tantos benefícios trouxe aos estudantes brasileiros e tantos avanços promoveu no Brasil. Ricardo Vélez Rodríguez tem as bênçãos da bancada evangélica, porque é um defensor do chamado projeto Escola Sem Partido, que se propõe a censurar os professores dentro das salas de aula.

    Para ele, Olavo, o golpe militar de 1964 deve ser comemorado e é bobagem falar em democratização das universidades, porque nem todo mundo é chamado a fazer ensino superior. E diz mais, abre aspas: "Eu acho que o 2º grau [essa denominação é da minha época de estudante do ensino médio. É assim que ele chama: 2º grau. Pelo o que a gente vê, é imensa a intimidade com a área. Mas segue.] teria como finalidade mostrar ao aluno que ele pode pôr em prática esses conhecimentos e ganhar grana com isso, como os 'youtubers' estão ganhando grana sem frequentar a universidade", fecha aspas.

    Esse parece ser o ideal de educação para o futuro Governo. Que belo exemplo estão dando aos nossos jovens, o de que buscar dinheiro é mais importante do que uma formação sólida.

    É absolutamente lamentável e deprimente assistir a essa exaltação da burrice. E imaginar que anos atrás nós tínhamos como Presidente um torneiro mecânico, que foi o responsável pela construção do maior número de universidades e escolas técnicas da nossa história.

    Não posso deixar de registrar também, mais uma vez, que essa será uma gestão que também acredita, como disse um dos seus Ministros mais próximos, o Gen. Augusto Heleno, que o Nordeste é o maior centro de roubalheira do Brasil. E até hoje nós não ouvimos uma censura da parte de Bolsonaro, nem uma autocrítica da parte do Almirante, ignorando ambos que o Nordeste é, hoje, a grande máquina propulsora do desenvolvimento no Brasil. É a região que puxa o desenvolvimento nacional, e isso tem tudo a ver com a prioridade econômica, política e social que foi dada à nossa região pelos governos do Partido dos Trabalhadores. E certamente o Nordeste vai voltar a ser foco das políticas atrasadas que, durante séculos, foram aplicadas na nossa região; políticas para os coitados, como diz o Presidente eleito; políticas como antes se faziam, de um assistencialismo que não promovia cidadania e que deixava ao abandono milhões e milhões de nordestinos, que querem tão somente o direito de viver, trabalhar e dignamente ter o seu processo de vida.

    Então, é esse o Governo com que teremos que lidar a partir do ano que vem. Eu espero estar totalmente enganado. Espero que tantos desencontros, que tantas bobagens ditas, que tantas asneiras repetidas sejam tão somente um desencontro, que pode acontecer, embora eu não tenha visto em nenhum momento, em nenhum outro governo, no processo de formação de uma equipe ou no processo de tentativa de elaboração de um programa de governo, já que isso não foi apresentado durante a campanha.

    Quero eu estar errado, mas tudo indica que nós teremos um Governo retrógrado, medieval, obscurantista, que ameaça tragar o Brasil para as trevas totais. É um Governo, afinal, em que a ignorância tem um futuro promissor, em que seus integrantes e apoiadores perderam completamente a vergonha da ignorância, de manifestar ou de expressar ignorância.

    Fazem-no com orgulho, fundamentados...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... nas suas posições pós-verdade.

    Vou concluir, Sr. Presidente, repetindo que espero que essa minha previsão não seja uma profecia; para o bem do Brasil, que nada disso continue a partir do dia 1º de janeiro, quando esse governo for alçado ao Poder. Mas acredito, Sr. Presidente, para sofrimento dos brasileiros, que lamentavelmente o que estamos assistindo agora vai ser uma rotina nos próximos quatro anos do futuro Presidente Jair Bolsonaro.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/11/2018 - Página 17