Discurso durante a 151ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão especial destinada a entregar a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão especial destinada a entregar a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.
Publicação
Publicação no DSF de 11/12/2018 - Página 31
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, SENADO, OBJETIVO, ENTREGA, COMENDA, INCENTIVO, CULTURA.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senhoras e senhores, quando a gente vem para uma sessão como esta, a assessoria nos dá um discurso deste tamanho, mas me comprometo aqui com vocês, até pelo horário – já é mais de 1h –, a simplificar tudo o que está colocado aqui.

    Sra. Presidenta, Fátima Bezerra, em seu nome, cumprimento toda a Mesa. Toda ela foi homenageada, citada. Cumprimento todos que foram aqui, de uma forma ou de outra, homenageados por cada um que está aqui e pelo Brasil que está assistindo a esta sessão.

    Senadores e Senadoras, primeiro, eu cumprimento o Senado pela entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo na figura da neta Daliana. E, aqui, eu cumprimento a todos. Da mesma forma, Daliana, eu queria – é despedida dela aqui do Senado – que a gente cumprimentasse, desse os parabéns a esta brilhante Senadora, agora eleita Governadora do Rio Grande do Norte, quem idealizou... (Palmas.)

    ... esse belo projeto que vai fortalecer a cultura no nosso País.

    Com todos esses nomes aqui, eu teria de falar horas e horas para elogiar. Eles escreveram o currículo de cada um de vocês aqui. Uma salva de palmas a todos, todos que foram aqui homenageados. (Palmas.)

    Olhem que eu estou passando as folhas aqui, viu?

    Mas quero falar um pouquinho, porque, para mim foi muito forte, da fala que um dos senhores fez – todos foram brilhantes –, pedindo: "Por amor de Deus, Presidente eleito, não termine com o Ministério da Cultura. O Ministério da Cultura é do povo brasileiro, é nosso!" (Palmas.)

    Há muitas definições de cultura, mas quero citar aqui apenas uma, a que está num parágrafo do nosso Almanaque Brasilidades, um inventário do Brasil popular, de Luiz Antonio Simas. Diz ali:

Das várias acepções que o conceito de "cultura" tem, a que norteia [as linhas que seguem] é aquela que encara a cultura como todo processo humano de criação e recriação das formas de viver; englobando padrões de comportamento, visões de mundo, elaborações de símbolos, crenças e hábitos. Formas de nascer [viver], amar [envelhecer], odiar, (...) morrer, cantar, dançar, orar, (...) beber, comer...

    Enfim, a cultura é um todo. Quem seremos nós sem a cultura?

    A cultura é isso, senhores, tudo aquilo que se faz com verdade, consciente ou inconscientemente...

    As manifestações populares, dos poetas – ah, os poetas! –, cantores, violeiros, atores, festas de reis, danças, congadas, histórias, teatros, lendas, culinária...

    O som, por exemplo aqui, da rabeca, pelo qual todos se encantaram, e iniciou falando do violino.

    Senador Lasier, meus cumprimentos! Toda a bancada gaúcha se uniu, naturalmente, Senadora Ana Amélia, pela sua indicação desse grande nome do Rio Grande e do Brasil – permita-me que eu diga –, do doutor, porque ele não precisava de diploma, chamavam-no de doutor da cultura, Dr. João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes.

    As palmas hoje são para você. (Palmas.)

    Não vou repetir o currículo e a história bonita de Paixão, mas só dizer que ele nasceu em Santana do Livramento, lá na fronteira com o Uruguai, e, de tudo que está aqui, eu vou ficar... Era compositor, era cantador, era poeta, era pesquisador e tudo o que vocês imaginarem de um homem de letras.

    Ele abriu portas para gerações e gerações que tinham sede de cultura. Ninguém, ninguém poderá falar em tradição gaúcha sem citar, sem falar de Paixão Côrtes, que, ao lado de Barbosa Lessa e Glaucus Saraiva percorreram o nosso querido Rio Grande do Sul, adentraram aqueles pampas, como cavaleiros cruzados, ouvindo e conversando com a nossa gente, com a nossa população, para escrever os traços culturais do Estado.

    Lembro aqui, Carlos:

Eu queria ser balaio

Balaio eu queria ser

Para andar dependurado

Na cintura de você

Balaio, meu bem, balaio, sinhá

Balaio do coração

Moça que não tem balaio, sinhá

Bota a costura no chão

    Resgates como esse, Balaio, na sua simplicidade, tanto na letra como na musicalidade, demonstram que a cultura é o elo que liga o passado, o presente e o futuro.

    Querido amigo Carlos, isto aqui não estava escrito no meu papel, mas recentemente nós recebemos uma homenagem lá no Parque da Harmonia, em Porto Alegre. Eu soube que eu iria ser homenageado, e, para alegria nossa, sabe o que a gente recebeu? E recebi das tuas mãos? Uma estátua de Paixão Côrtes, que está na minha casa, na sala principal, eu diria, se é que dá para se chamar de sala principal. Está na sala da minha casa.

    Enfim, meu abraço a todos.

    Tchekhov disse um dia: "Canta a tua aldeia e cantarás ao mundo". O que esses homenageados fizeram foi isso.

    A universalidade das suas artes tem este dom e esta missão: agregar as pessoas libertando-as dos seus preconceitos, desconstruindo muros, respeitando as diferenças.

    A cultura tem que ser livre, livre! Ah, como é bom a gente olhar para trás, para frente e para o futuro! Eu só quero liberdade, liberdade e liberdade, e é a cultura que me dá isso.

    Quero a liberdade como livre é o som das águas; eu quero a liberdade como livre é o canto dos pássaros; eu quero a liberdade como livre – Paixão Côrtes lá no alto – é o galopar dos potros selvagens.

    Não há cultura sem democracia e nem democracia sem o dedilhar dos violeiros, o cantar dos seresteiros em preces ao luar ou sem o declamar das nossas poesias.

    O tempo – e tão somente o tempo – é capaz de acordar o Sol e descortinar o enigma das estrelas, como aqui hoje foi lembrado.

    A cultura é uma mescla de tudo isto: de vento, de poeira, de pegadas, de geada, de sombra, de lágrimas, dos sorrisos de quem ainda não nasceu, de transformações. A cultura é como o voo do condor, que sobe lentamente, abre as asas, plaina, leva-nos à imensidão como se fossem os nossos olhos. Termino dizendo: navega o mar de céu azul e, depois, desce nos dando a sapiência dos deuses, a liberdade, a liberdade e a liberdade.

    Cuidemos bem do que alcançamos até agora. Sejamos, por favor, respeitosos, amorosos com a democracia.

    Viva a liberdade! Viva a tolerância! Viva a cultura brasileira!

    Vida longa aos ideais de todos que aqui foram homenageados!

    Que venha de volta o Ministério da Cultura!

    Um abraço a todos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/12/2018 - Página 31