Discurso durante a 158ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações a respeito da participação de S. Exª. em evento realizado na cidade de Xapuri (AC), destinado a lembrar os 30 anos da morte de Chico Mendes.

Autor
Jorge Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Jorge Ney Viana Macedo Neves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Considerações a respeito da participação de S. Exª. em evento realizado na cidade de Xapuri (AC), destinado a lembrar os 30 anos da morte de Chico Mendes.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 19/12/2018 - Página 83
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, EVENTO, LOCAL, MUNICIPIO, XAPURI (AC), OBJETIVO, HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO, MORTE, CHICO MENDES, LEITURA, CARTA, HONRA, MEMORIAL, MORTO.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC. Para discursar.) – Cássio Cunha Lima, Vice-Presidente da Casa, que preside esta sessão, queria cumprimentar a colega Ana Amélia e os colegas e, mais uma vez, deixar um abraço a este querido e bom amigo sergipano, nosso Senador muito querido na Casa, Valadares.

    Sr. Presidente, amanhã, certamente vou fazer uma fala em que, de algum jeito, eu procuro também dizer um "até logo" ou "muito obrigado" ao Senado, mas hoje eu venho à tribuna para fazer o registro de um evento de que tive o privilégio de participar nesse fim de semana na querida Xapuri, no meu Estado do Acre. Um evento que reuniu pessoas, instituições, um evento cheio de emoção e que fez um encontro do passado, uma reflexão sobre o presente e trouxe preocupações com o futuro. Eu me refiro aos 30 anos sem Chico Mendes.

    Eu não sei: passaram-se 30 anos. No próximo dia 22, vamos lembrar 30 anos do assassinato de Chico Mendes. Eu estava lá, recém-formado, já trabalhava numa organização do Estado, numa fundação de tecnologia onde era diretor, e sofri naquele 22 de dezembro, véspera do Natal de 30 anos atrás. Foi terrível! Foi triste! E a morte do Chico Mendes foi em consequência de suas ideias, do que ele defendia, mas o problema é que ele defendia algo 30 anos atrás que só agora faz parte da agenda do mundo inteiro. Ele defendia o meio ambiente, as florestas, as populações tradicionais, os povos originários. Refiro-me aos povos indígenas.

    E o Chico Mendes foi enfrentado dos piores jeitos. Naquela época, óbvio, não tinha nada de internet, nem rede social, mas os famosos boatos, as calúnias e as mentiras só encontram veículos diferentes, mas estão sempre presentes. Dizem que a maldade está sempre grávida. Eu não acho legal isso, porque gravidez é uma coisa linda! Mas a maldade está aí sempre se reproduzindo – é melhor dizer assim.

    Eu queria, Sr. Presidente, fazer aqui um registro e cumprimentar o Joaquim, Joaquim Belo, Presidente do Conselho Nacional de Seringueiros, que coordenou o evento. Eu fiz parte de mesa, fiz palestra, participei ativamente, mas, de modo muito especial, a jornalista Zezé Weiss, que é jornalista socioambiental, organizou, junto com o Conselho Nacional e, claro, a colaboração de mais algumas pessoas, um evento extraordinário! Ela edita a revista Xapuri, é uma pessoa de uma capacidade de realização extraordinária. Acho que, sem a Zezé, sinceramente, o evento não teria ocorrido. Mas foi um evento que me surpreendeu. Nós nunca tínhamos reunido tantas pessoas que conviveram com Chico Mendes, que têm compromisso de vida com o socioambientalismo, com as populações tradicionais da nossa floresta – todos no mesmo espaço. Eram 500 pessoas debatendo. O nosso querido Bispo Dom Moacyr Grechi, obviamente já aposentado, Arcebispo de Rondônia, esteve presente e fez um depoimento lindo, inclusive na Mesa que eu coordenava. Companheiros indígenas, professoras, professores, pesquisadores de vários centros de pesquisa, do Brasil e de fora do Brasil, toda uma rede de colaboradores, de aliados, de amigos, de companheiros que o Chico Mendes começou a criar, que se multiplicou muito nesses 30 anos, estavam lá. E eu falava lá, inclusive, que talvez aquele fosse um dos últimos eventos, pelo menos para estes tempos de agora, mais imediatos, mas eu espero que volte e se repita, porque lá estava também a representação do Ministério do Meio Ambiente, do ICMBio, do Ibama... Estava lá a Juliana, que faz um trabalho extraordinário, estavam lá representantes do Governo do Acre, a Chefe da Casa Civil, Márcia, o Edgard e tantas outras pessoas que colaboram com essa questão no governo... O próprio Governador foi, à noite, à entrega do Prêmio Chico Mendes, que homenageou o Presidente Lula e também a representação da GTZ aqui, no Brasil, que é a Agência de Cooperação Alemã, o povo poianaua e mais um grupo de pessoas.

    Eu queria deixar também um abraço muito especial para a Júlia Feitoza, uma companheira que, com a Zezé... A Júlia é incrível, uma grande amiga do Chico, que segue uma militante de vida toda, e também deu uma contribuição extraordinária.

    Quero dizer que a colaboração da CUT, de sindicatos e de organizações não governamentais foi fundamental.

    Um momento muito rico foi quando a bisneta do Chico Mendes fez a leitura de um bilhete para o avô. Eu estava a seu lado e vi o bilhete escrito a lápis, numa página do caderninho de escola dela. E eu quero aqui deixar registrado nos Anais do Senado o bilhete que a Lívia, a pequena Lívia, bisneta do Chico e filha da Angélica – que é neta do Chico Mendes e filha da Ângela. Lá encontrei a Ilzamar, viúva, em quem pude dar um abraço. A gente tem uma relação afetiva da vida toda. Também estava lá a Elenira, com as suas duas filhas, Maria Helena e Maria Luíza, e também a netinha, as filhas da Elenira e, obviamente, a bisneta do Chico, a Lívia, e as netas Maria Helena e Maria Luíza.

    Passo aqui a ler, Sr. Presidente, o bilhetinho que a Lívia fez para o avô. Ela, com apenas nove anos, leu essa cartinha:

Meu querido bisavô Chico Mendes, eu gostaria de ter conhecido você. Me contaram sobre você, sobre a sua história, e eu sei que você sempre foi importante para o mundo e sempre será [ela escreveu com a letrinha dela no papel]. Você salvou a Floresta Amazônica. Por sua causa ela é a maior floresta do mundo. Tomara que as pessoas tenham consciência, que tenham aprendido, que não se vive sem a natureza [– diz a cartinha da pequena Lívia].

    Então, fica aqui registrada a carta que ela fez para o seu bisavô. Eu, que agora sou avô, fico, obviamente, também emocionado de ver uma manifestação tão linda como a que pude coordenar – porque era a Mesa que eu estava coordenando – durante o evento "Chico Mendes 30 anos: Uma Memória a Honrar. Um Legado a Defender", que aconteceu em Xapuri. Estavam lá o Assis, o Júlio Barbosa, o Raimundão, companheiros do Chico. São meus amigos também. Estavam lá Leide, Mary Allegretti, o Schwartzman, Mauro Almeida, Terri Aquino, Ailton Krenak.

    Queria, Sr. Presidente, ler a carta que fizeram os que participaram daquele debate tão emotivo, mas tão necessário para os tempos atuais. Obviamente, não pude participar de todo o evento, mas devo dizer que foi um evento que nós nunca tínhamos conseguido realizar ao longo desse tempo todo. Lá fizemos um pouco do que ainda agora o Senador Cristovam falava: nossa preocupação é com o futuro. Esta, talvez, seja a maior homenagem que se possa prestar à memória de Chico Mendes: a preocupação com o futuro.

    Acabei de vir da COP, na Polônia. É claro que nós todos estamos preocupados com a questão indígena. Lá no Acre ficou muito evidente. O primeiro nível de organização foi dos índios. Eram tratados como curiaús, como caboclos. E a riqueza desse povo originário enriqueceu o Acre. Quando fui Governador, nós criamos o primeiro encontro de cultura indígena. Os índios começaram a se reencontrar com a sua cultura, com a sua história. Hoje, acho que estão salvos. São quase 20 mil índios, no Acre, e é inacreditável a riqueza que a gente encontra nas áreas, nas terras indígenas. E eles estavam lá. A aliança dos povos da floresta foi algo fundamental.

    O 1º Encontro Nacional dos Seringueiros foi aqui em Brasília, na UnB, em 1985, Senador Cristovam. Nós estávamos lá. Foi lá que tive o primeiro contato, mais pessoal, com Chico Mendes, conversei com ele. Eu estava me formando e indo embora. Participei daqueles dias aqui e surgiu o conceito de reserva extrativista, que mudou completamente o conceito de unidade de conservação, no Brasil, fazendo com que nós trabalhássemos uma ideia de homem/natureza trabalhando, um limite de respeito e apenas um perímetro sendo marcado nas unidades de conservação.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Senador, foi na UnB. Eu era o Reitor. Nós, juntos, fizemos aquele encontro.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – É verdade. Isso foi fundamental. Estou falando de 1985; portanto, nós temos aí 33 anos desse evento que mudou, também, a minha vida. Ali assumi um compromisso, com o Chico, de que eu iria voltar para o Acre e incorporar-me nesse sonho, nesse projeto de não destruir a floresta, de não dizimar as populações tradicionais, mas de fazer algo moderno, algo contemporâneo, de fazer uso inteligente dos recursos naturais.

    Passo à leitura da carta, Sr. Presidente, para encerrar o meu pronunciamento.

    Carta de Xapuri.

Querido Chico Mendes, nesta semana, do dia 15 ao dia 17 de dezembro, nós, mais de 500 pessoas de todas as partes do Acre, da Amazônia, do Brasil e do Planeta, nos reunimos na sua cidade do Acre, da Amazônia, do Brasil e do Planeta, nos reunimos na sua cidade de Xapuri-Acre para honrar sua memória e defender seu legado, nos 30 anos de sua ausência física dos espaços deste mundo.

Vivemos momentos de muita saudade e de muita emoção, Chico! Aqui estiveram seus companheiros, seringueiros e suas companheiras de embate; de longe, vieram representantes de comunidades extrativistas de todos os biomas brasileiros; chegaram seus amigos de fora da [...] [Amazônia], do Brasil e do exterior; apareceu gente que conviveu com você, e também muita gente nova, movida pela força de seus ideais.

Durante três dias, refletimos muito sobre o sentido daquela sua sábia fala que imortalizou a sua visão estratégica sobre o futuro do nosso Planeta [– aspas]: "No começo, eu pensei que estava lutando para salvar as seringueiras; depois, pensei que a minha luta era para salvar a Floresta Amazônica; agora, percebo que estou lutando para salvar a humanidade." Com certeza, Chico! Sua luta foi além... muito além de você mesmo.

    Diz a carta.

    Estou lendo aqui a Carta de Xapuri feita num coletivo, que participou de um evento, de um encontro 30 anos sem Chico Mendes.

Só mesmo você, Chico, para fazer acontecer, nesse tempo amazônico de poucos voos e muitas chuvas, esse nosso diálogo tão profundo, que, por inspiração sua, nos faz seguir lutando por um modelo de desenvolvimento sustentável que nos livre das mazelas da [...] [degradação] ambiental e da contaminação das águas, do solo e do ar que respiramos. Só você mesmo para nos fazer seguir lutando por uma sociedade mais justa, mais solidária e mais igualitária; por esse outro mundo que acreditamos ser ainda possível!

Só mesmo você, Chico, para nos fazer seguir sonhando ante os retrocessos que se anunciam já nas primeiras decisões de um governo eleito que ainda nem tomou posse e já retira do Brasil o direito de sediar a próxima Conferência do Clima, já declara guerra aos sindicatos, às organizações da sociedade civil, aos movimentos sociais, aos direitos conquistados pela juventude, pelas mulheres, pelos [...] indígenas, pelas comunidades quilombolas, ribeirinhas, extrativistas, pelos povos da floresta e por todas as populações tradicionais do Brasil.

    Diz a Carta de Xapuri durante o evento 30 anos sem Chico Mendes.

E por falar em juventude, Chico, você deve estar feliz com a decisão que seus companheiros e companheiras do Conselho Nacional de Seringueiros tomaram de fazer deste encontro um momento de compartilhar conhecimento e de transferência geracional. Assim como você sonhou um dia, mais da metade das pessoas que aqui estão são jovens.

    Tínhamos quase 50 alunos da UnB lá, colega Cristovam, participando deste evento. Jovens! Graças ao Prof. Manoel e à sua companheira, também professora.

São jovens que vieram para firmar compromisso com a defesa do seu legado para os próximos 30 anos!

Infelizmente [– aspas] "a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte", registrada por você em sua mensagem aos jovens do futuro, datada [...] de 6 de setembro de 2120, é ainda tristeza constante em nossos dias. Os números são alarmantes, companheiro Chico: a cada cinco dias uma companheira ou um companheiro seu, e nosso, é assassinado no Brasil.

Somente no ano de 2017, foram registrados mais de mil conflitos por terra, água ou trabalho nos campos e nas florestas do nosso País. Nos últimos 12 meses, foram ao menos 70 mortes. A última delas foi a do companheiro Gilson Maria Temponi, em Placas, no Pará. Imagina, Chico, mais uma morte, quando já estávamos aqui, reunidos para honrar sua memória, nos 30 anos de seu assassinato na porta dos fundos da sua casa, no dia 22 de dezembro de 1988, pelas balas traiçoeiras de uma espingarda, disparada por um desafeto de suas ideias, por um latifundiário. [Durante o evento, eu estava lá, veio a notícia da morte do Gilson Maria.]

Mas nem tudo é tristeza. Com grande alegria, aqui celebramos o seu legado. A luta de seus companheiros e companheiras transformou a reserva extrativista. Aquela proposta de uso comum e coletivo das áreas da floresta pelas populações extrativistas que você apresentou no I Encontro Nacional dos Seringueiros, realizado em Brasília, em 1985, cresceu, tornou-se política pública, não só na Amazônia, mas também nos outros biomas brasileiros.

Hoje, são milhares de famílias, vivendo em milhões de hectares de áreas protegidas. E nessas áreas, ainda que falte muito, além da produção extrativista, já existe escola, posto de saúde, luz elétrica e, em muitos casos, até internet. Só que agora, companheiro Chico, os novos Governos e o Parlamento eleitos, ameaçam entregar as terras sob a nossa guarda, que garantem a sustentabilidade da nossa economia e do nosso modo de vida, ao agronegócio, às madeireiras, à mineração, e esquecem que os serviços ambientais que prestamos beneficiam não só a nós, mas a todos os povos do mundo.

Tomara, companheiro Chico, que as conquistas desse legado, resultado da nossa resistência nas últimas três décadas, das alianças que você generosamente construiu com os mais variados parceiros da floresta e de fora dela, sensibilizem os corações e mentes de quem está chegando ao Poder para continuar respeitando e trabalhando junto aos nossos povos da floresta, em defesa dos nossos territórios, da conservação ambiental e dos direitos sociais do povo brasileiro.

Oxalá, companheiro Chico [diz a carta], aqui mesmo, nas barrancas do Rio Xapuri, nessa sua amada terra de Xapuri, no coração da Floresta Amazônica, a juventude do ano de 2120 [faz-se aqui, na carta, uma referência a um bilhete que o Chico deixou para a geração de 2120] possa estar reunida numa auspiciosa Semana Chico Mendes, para celebrar a força da luta que carregamos junto com o nosso povo, das matas, do sertão, do mar, dos rios e das florestas; para comemorar a união de todos os povos em torno dos ideais que você nos legou e da revolução planetária que a medida do tempo não te permitiu viver, mas com que você teve o prazer de ter sonhado.

    E, aí, a carta encerra, a Carta de Xapuri, resultado do encontro dos 30 anos sem Chico Mendes, encerra com uma manifestação:

Ninguém abandona a defesa dos povos da floresta!

Ninguém desiste do legado de Chico Mendes!

Ninguém solta a mão de ninguém!

Xapuri, Acre, 17 de dezembro de 2018.

    Eu espero, Sr. Presidente, peço para constar nos Anais da Casa essa carta, a carta de Xapuri, dizendo que do dia 15 a 17 de dezembro mais de quinhentos ativistas, de vários lugares da Amazônia, do Brasil e do Planeta, construíram, contribuíram, realizaram o Encontro Chico Mendes 30 anos: uma memória a honrar, um legado a defender, promovido pelo Conselho Nacional dos Seringueiros e um conjunto de parceiros na cidade de Xapuri.

    Quero especialmente cumprimentar o Prefeito Bira, o Prefeito Ubiracy. O Bira é o Prefeito de Xapuri. Toda a equipe dele, que ajudou. Mais uma vez, o Assis, presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Xapuri, que o Chico fundou e, por conta dele, perdeu a vida. Queria cumprimentar a todos que participaram da organização e dizer que, no meu caso, quando Governador, nos primeiros treze dias, eu aprovei a Lei Chico Mendes, estabelecendo ali uma remuneração pelos serviços ambientais que as populações tradicionais fazem para nós.

    E, depois, um aparato de leis, de que amanhã eu falar, foram construídas no Acre, na ideia do governo da floresta, da florestania e que passaram a ser referências para outros Estados e para o Brasil. E agora, lá na COP, em Katowice, na Polônia, eu tive o privilégio de ver os Estados assumindo que usaram essa referência do Acre e que isso passa a ser uma referência inclusive para o cumprimento do acordo do clima, o Acordo de Paris, que agora tem seu livro de regras. Amanhã, às 14h30, nós vamos ter a última reunião da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas do Senado e vou fazer, obviamente, um relato de como foi a última COP, na Polônia, e também sobre a participação do Congresso brasileiro nessa COP.

    Mas hoje eu queria apenas encerrar deixando aqui, nos Anais da Casa, que possa constar a realização desse encontro em Xapuri, feito com tanto amor, carinho, compromisso para lembrar os trinta anos do assassinato de Chico Mendes, no que nós chamamos de Semana Chico Mendes. Há trinta anos nós realizamos a Semana Chico Mendes. E devo dizer que a mais forte, a mais participativa foi essa dos trinta anos, certamente nos passando uma energia de termos fé, confiança e esperança de um futuro melhor para todos nós, para o Acre, para Xapuri, para a Amazônia, para o Brasil e para o mundo, como sonhava Chico Mendes.

    Muito obrigado, Presidente.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Permite-me um aparte rapidinho?

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – Claro, Senador Cristovam. Como lhe negar um aparte?

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Senador Jorge, só para dizer que talvez seja o seu último ou quase o último dos seus discursos aqui...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Amanhã eu pretendo fazer um recadinho final.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Muito bem. E eu fico feliz de ver este momento final de nosso tempo aqui o senhor ter utilizado seu tempo para lembrar a figura de Chico Mendes e a luta dele. E essa luta que muita gente não percebe, é a luta que terminou virando a grande causa do mundo, com encontros internacionais, como o de que o senhor acaba de vir, da Polônia, que é a grande causa de todos aqueles que sonham com uma humanidade. E o senhor traz aqui essa lembrança.

    E eu fico emocionado de ter participado disso. Como reitor da UnB, um dia, eu creio que foi a Mary, lembra dela?

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Mary Allegretti. Ela estava lá no encontro conosco, exatamente a Mary.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Eu creio que foi a Mary Allegretti. Eu orientava a tese dela, e ela me procurou, levantando a ideia de um encontro de seringueiros na UnB. Em um primeiro momento, parecia uma coisa meio maluca. E nós fizemos um encontro do qual eu jamais vou me esquecer pelos contatos que eu tive durante todos aqueles dias.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Lembro-me de um seringueiro que falou – não lembro qual –, e eu disse para ele: "Olha, eu sou professor de História Econômica do Brasil e nunca tinha visto esse equipamento para tirar látex". E ele me deu um desses equipamentos, que se usa...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Uma poronga, que põe na cabeça, que é a luz...

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... com a luz.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – ... que guia.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Com a vela em cima ou com uma tocha em cima. Eu tenho até hoje esse equipamento.

    Ninguém imaginava que iria surgir isso, mas não teria surgido se não fosse o Chico Mendes, com a sua liderança, com a sua firmeza e obviamente também com o seu martírio, que o transformou numa lenda mundial. E eu fico muito feliz de o senhor estar trazendo essa lembrança aqui mais de 30 anos depois.

    O senhor pode dizer que foi testemunha desse processo...

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – É verdade.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... como Governador, como militante e hoje como militante ecologista internacional.

    O Senado vai ser apenas um pequeno pedaço dessa sua história.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Obrigado.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Fico feliz de vê-lo relembrando a história. E amanhã, se puder, eu quero estar aqui para assistir a esse outro discurso.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Está bem.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Eu volto a repetir: quem olha para o futuro não se despede.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito obrigado, Senador Cristovam, querido, bom amigo e colega.

    De fato, foi decisivo aquele encontro na UnB, aquilo mudou a história da Amazônia, aquilo mudou a história dos povos da Amazônia. E, veja só, toda história começou lá também com uma pessoa chamada Terri Aquino. Ele era um antropólogo, estudante da UnB. Fazendo o seu mestrado, conheceu a Mary e a estimulou a fazer a tese no Acre. Ela foi lá, conheceu a história, começou a ter convivência com Chico Mendes, e, disso tudo, nós tivemos o surgimento de algo novo, porque sindicalista não se preocupava com o meio ambiente. Naquela época, a questão ambiental não estava posta. O Chico foi um visionário sempre.

    E ele foi injustamente julgado. Até esses dias, eu leio tantas coisas horríveis nos jornais, de pessoas desinformadas, preconceituosas ainda, sobre uma pessoa que não conheceram, com quem não conviveram. Então, não custa nada perguntar um para o outro. Nem a memória de quem nos deu tanto e nos deixou tanto é respeitada. Mas muito respeitam, porque o Chico Mendes estava certo – o Chico Mendes estava certo.

    Eu falo sempre que, no dia da abertura, na entrega do Prêmio Chico Mendes, ele completaria 74 anos. Ele poderia estar aqui conosco dando palestras e nos orientando, nos prevenindo. Lamentavelmente numa tocaia, uma bala, que me ficar lá por três dias – aquele Natal eu passei em Xapuri –, tirou a vida dele. Mas, olha, é aquilo: o futuro. Trinta anos depois, foram se discutindo as ideias que ele colocou, e os próximos certamente serão assim também, como falou V. Exa.

    Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque.

    Obrigado, Presidente, pela tolerância.

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – Senador Jorge, amanhã quero estar presente também na sua fala de despedida. Eu acho que o Senador Cristovam, com sua inteligência brilhante, fez a frase conceito hoje: não se despede quem fala para o futuro e fala do futuro.

    Amanhã talvez eu também esteja aqui trazendo umas palavras de balanço do mandato.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito bem.

    O SR. PRESIDENTE (Cássio Cunha Lima. Bloco Social Democrata/PSDB - PB) – Muda-se apenas a trincheira de luta, muda-se apenas o instrumento de batalha, mas os nossos compromissos ficam inarredáveis, ficam cada vez mais sólidos em relação àquilo que defendemos durante o exercício do nosso mandato.

    Cumprimento V. Exa. pela lembrança da memória de Chico Mendes, por tudo o que Chico Mendes representa para a floresta, para o Brasil, para a crença neste País melhor. E amanhã espero ter o privilégio de ouvi-lo mais uma vez, ao ocupar a tribuna do Senado.

    O SR. JORGE VIANA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - AC) – Muito obrigado, Presidente.

DOCUMENTO ENCAMINHADO PELO SR. SENADOR JORGE VIANA.

(Inserido nos termos do art. 210 do Regimento Interno.)

    Matéria referida:

     – Carta de Xapuri.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/12/2018 - Página 83