Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio à reformulação do programa Mais Médicos.

Considerações sobre a atuação parlamentar de S. Exª.

Autor
Roberto Requião (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE:
  • Repúdio à reformulação do programa Mais Médicos.
ATIVIDADE POLITICA:
  • Considerações sobre a atuação parlamentar de S. Exª.
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, Armando Monteiro, Cristovam Buarque, Garibaldi Alves Filho, Paulo Rocha, Randolfe Rodrigues, Reguffe, Vanessa Grazziotin.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2018 - Página 49
Assuntos
Outros > SAUDE
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • REPUDIO, REFORMULAÇÃO, PROGRAMA MAIS MEDICOS, ENFASE, MEDICO, ORIGEM, PAIS ESTRANGEIRO, CUBA.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR. Para discursar.) – Senador Valadares, talvez este seja o meu último discurso ou um dos últimos discursos que faço no Senado Federal. Então, inicio solicitando a V. Exa. – e ao Senador Ataídes, que assume agora – um pouco de tolerância com o tempo.

    À conta de preâmbulo, para deixar registrado o meu inconformismo com a expulsão dos médicos cubanos do Brasil; sim, expulsão! Não há outra palavra para classificar a iniciativa extemporânea do futuro Governo, já que sequer se empossou para tomar tão grave decisão sobre o setor que mais demanda atenção estatal e que agora desguarnece-se dramaticamente.

    À conta de preâmbulo, dizia, faço uma pergunta: mais do que razões ideológicas, mais do que a bobagem anticomunista, mais do que o esforço para, na visão do futuro chanceler, agradar o salvador do ocidente cristão Donald Trump, mais do que tudo isso, o que pesou mesmo para a expulsão dos médicos cubanos não teria sido a cor da pele deles?

    Quase todos pretos!

    E onde se viu, que ousadia é essa de preto exibir anel de doutor, ainda mais doutor médico, ainda mais preto comunista? Além do que, a quem esses pretos estrangeiros atendiam aqui na Pátria amada? A outros pretos! Ora, que desperdício!

    Na verdade, a expulsão dos médicos cubanos é uma paráfrase da grande meta do bolsonarismo, que é a expulsão do Brasil de todos os estrangeiros indesejáveis. E, no caso, entenda-se por estrangeiro todo brasileiro que se oponha ao novo Governo, às ideias do novo Governo, tanto no plano dos costumes quanto às propostas na área econômica, educacional e de política externa.

    A ressurreição de consignas como "Ame-o ou deixe-o", "Pra Frente Brasil", "Ninguém Segura este País", sob a trilha de Dom & Ravel, a mesma trilha usada nas sessões de tortura, talvez queira criar um clima, incentivar manifestações, dar continuidade às mobilizações eleitorais via redes sociais em favor da "purificação" do País, libertando-o dos comunistas, prendendo-os ou expulsando-os.

     Um dos filhos do presidente eleito fez até mesmo um cálculo: talvez seja preciso prender e expulsar, como se estrangeiros fossem, uns 100 mil desses brasileiros indesejáveis, para "limpar o Brasil". Na fala desse rapaz o que mais me assustou foi uma referência que ele fez à Indonésia, como exemplo de país que criminaliza as "atividades comunistas". Mas sabe ele à custa de quê, Senador Raupp? À custa da chacina, do massacre de mais de um milhão de indonésios considerados comunistas.

    É de arrepiar! Mas esta é a ideia: se você for a favor, bem-vindo ao Brasil de encantos mil, salve a seleção! Se você for oposição, você é um estrangeiro indesejável, passível de punição.

     Pois é, nós que defendemos o Brasil contra a pilhagem de suas riquezas, especialmente a pilhagem do petróleo; nós que somos contra a privatização da Petrobras, da Eletrobras; que somos contra a entrega da Base de Alcântara para os Estados Unidos; que somos contra a absorção da Embraer pela Boeing; que nos opomos à doação do nióbio e outros metais preciosos; que discordamos radicalmente da venda de terras para os estrangeiros; que somos contra a privatização da água, das florestas, do ar e do mar territorial; nós que combatemos a desindustrialização do País; que lutamos pela ciência e pela tecnologia nacional; nós somos os indesejáveis, para eles nós somos os estrangeiros.

    E quem são os brasileiros? Quem são os brasileiros, Senador Paulo Rocha? Paulo Guedes, Castello Branco, Roberto Campos Neto, Sergio Moro, Onyx Lorenzoni, ou os indicados de Olavo de Carvalho, Ricardo Vélez Rodriguez e Ernesto Araújo? Ou seriam Pedro Guimarães e Rubem Novaes? Esses são os brasileiros?

    Feito o introito, vamos à missa.

    Sras. e Srs. Senadores, brasileiros que nos acompanham pelo sistema de comunicação do Senado, encerra-se no dia 31 de janeiro meu mandato de Senador. Se fizesse uma retrospectiva do que foram esses oito anos, não encontraria nada do que me arrependesse. Cumpri com honra, dedicação e brasilidade o mandato que os paranaenses me deram.

    E, caso alguém se desse ao trabalho de compulsar os discursos que fiz nesta Casa, veria neles, de um lado, a insistência sobre o mesmo tema: soberania nacional, construção do Estado nacional brasileiro e, como pressuposto disso, o combate permanente, radical à financeirização da economia, à globalização sob o domínio do capital financeiro ao reino dos bancos, ao império de Mamon. De outro, haveria de constatar a também insistente, radical defesa dos trabalhadores, de seus direitos, de suas conquistas civilizatórias, ao lado da defesa do capital produtivo nacional em oposição ao sibaritas do mercado financeiro, de onde, aliás, procede toda a equipe econômica do próximo Governo.

    Um parêntese. Temos à vista uma frente inusitada, um bando de especuladores e de agiotas, ultraliberais entreguistas e traidores da Pátria, ombro a ombro com as Forças Armadas. Eu até poderia estender a adesão da teologia da prosperidade de Edir Macedo, de R.R. Soares, de Malafaia, de Valdemiro Santiago, do impagável Agenor Duque e outros ao neoliberalismo, afinal essas igrejas não seriam nada sem o jogo do mercado, das ilusões capitalistas, sem os negócios dos milagres, mas as Forças Armadas... Aí não entendo mesmo. Fecho o parêntese.

    O tempo todo, dizia, enquanto esta Casa fartava-se de assuntos absolutamente secundários, de demandas corporativas, da cassação de direitos dos trabalhadores, da redução de direitos sociais, da entrega do petróleo, da renúncia à soberania ou de arremedos de reforma política, ocupei-me daquilo que, para mim, deveria ser a essência de nossos mandatos: um projeto para o Brasil, os fundamentos básicos para a construção do Brasil-Nação, a contraposição entre Brasil, um país para os seus, e Brasil, um mercado para os outros.

    Nesses oito anos, foi a minha obsessão, na verdade, uma obsessão de toda uma vida. Inúmeras vezes, desta tribuna, da Comissão de Economia, em seminários e debates onde quer que fosse, aqui ou lá fora, foi o meu canto de uma nota só: um projeto de desenvolvimento nacionalista, democrático e popular. Não se tratava de uma pregação sectária, fundamentalista. Tratava-se, isso, sim, de ter os olhos e a mente abertos...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Presidente, eu peço, como insisti no início, tolerância, porque talvez seja o meu último discurso na Casa.

    O SR. PRESIDENTE (Ataídes Oliveira. Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – Senador, querido Senador Roberto Requião, nós temos vários oradores aí pela frente, mas vamos fazer então um acordo. Eu vou disponibilizar mais seis minutos. Pode ser?

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Eu, quando pedi a palavra, Presidente, perguntei à Mesa se me concederia o tempo para terminar o meu último discurso no Plenário.

    O SR. PRESIDENTE (Ataídes Oliveira. Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – Não sei o tamanho do discurso de V. Exa.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – V. Exa. não estava na Presidência, estava o Senador Valadares.

    O SR. PRESIDENTE (Ataídes Oliveira. Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – Vamos conceder...

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Eu vou tentar terminar.

    O SR. PRESIDENTE (Ataídes Oliveira. Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – Vamos conceder mais seis minutos.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Eu acho muito pouco. Vai me interromper o discurso pela primeira vez na história do Senado da República. Mas vamos lá.

    Tratava-se, isso sim, de ter os olhos e a mente abertos para a realidade das coisas. Tratava-se de não se deixar cegar pela religiosidade, pelo dogmatismo, pelo preconceito ideológico dos liberais. Esta é a verdade: não existe nada mais ultramontano, primitivo, tosco que o neoliberalismo, ainda mais na sua leitura brasileira, que consegue reunir em um só embornal banqueiros, o alto escalão das Forças Armadas, os setores atrasados no agronegócio, representados pela ressurrecta UDR, os cruzados da luta contra a corrupção, os evangélicos da teoria da prosperidade, os barões da mídia, os moralistas, tipo Alexandre Frota e Pastor Feliciano.

    Já pensaram, reunidos sob o mesmo teto Paulo Guedes, Gen. Heleno, Edir Macedo, Olavo de Carvalho, Sergio Moro, Joice Hasselmann, Kim Kataguiri, a Família Buscapé, os Setúbals, os Moreiras Sales, os Trabucos? Vão viver sob o mesmo teto até que a casa caia.

    O que teremos, como tudo indica, é um governo para o mercado, ao invés de um governo apesar do mercado. E governo para mercado significa necessariamente um governo antinacional, antidemocrático, antipovo e, por isso mesmo, um governo corrupto, já que a alma, a essência do neoliberalismo é venal, degenerada, ímproba. Não sabia disso, Juiz Moro? Não sabia até agora?

    Afinal, não há ética, não há moralidade, não há cristianismo, não há espiritismo, não há judaísmo, não há islamismo, não há budismo – tomando a essência, a medula, a substância dos ensinamentos dessas religiões – em um regime que não coloque o homem em sua integralidade, no centro de suas ações.

    Basta ver o que o Paulo Guedes, cuja ignorância sobre as instituições públicas é alarmante e embaraçosa, andou dizendo sobre a necessidade de sepultar de vez as heranças da social-democracia brasileira. Deus meu! Quando houve um regime social-democrata no Brasil, tomando como paradigma a social-democracia europeia? Nunca, Senador Cristovam. Ou o keinesianismo praticado por Roosevelt, nos Estados Unidos, nos anos 30, 40? Nunca. O que tivemos sob Getúlio, Juscelino, Goulart, Sarney, Itamar e, principalmente, sob os governos do PT, o que tivemos foram algumas concessões, algumas velas acesas ao povo, enquanto queimavam-se tochas em adoração a Mamon. Social-democracia no Brasil quando? Até as migalhas distribuídas incomodam essa gente tenebrosa e desumana. É aterradora a inconformidade dessa gente com a abolição da escravatura.

    Daí que, ainda mais uma vez, manifesto a minha estupefação por ver as Forças Armadas metidas nessa cumbuca. É um envolvimento perigoso.

    E não me venham com esta conversa mole de que são alguns militares da reserva que farão parte do chamado núcleo duro do próximo Governo e não a instituição. Balela! É a instituição, toda ela, contaminada pela política. A política invadiu os quartéis. Ou o General Villas Bôas vai dizer, como Sergio Moro, que os militares, no Governo, são técnicos?

    Já que não há como o próximo Governo dar certo, pois não há como o ultraliberalismo triunfar sobre a sociedade brasileira a não ser reprimindo-a, massacrando-a, calando-a, as Forças Armadas sairão, outra vez, chamuscadas da aventura. E não adianta desviar a atenção a perseguir fantasmas de 83 anos atrás. Não vai dar certo!

    Se neste, que talvez possa ser o meu último pronunciamento, Senador Ataídes – por isso, insisto com a tolerância do tempo –, reservei tanto espaço para as idas e vindas das Forças Armadas, é porque meus sentimentos patrióticos, nacionalistas, desenvolvimentistas sempre fizeram polifonia, justaposição com a tradição de patriotismo, nacionalismo e desenvolvimentismo...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – ... de nossos militares.

    Em nome dessa tradição e como ex-aluno do antigo CPOR, faço mais uma pergunta aos militares: o que eles acham das declarações dos ministros que Bolsonaro indicou para as Relações Exteriores, Agricultura e Economia sobre América Latina, Cuba, África e China, espelhando, por exemplo, essas declarações na política externa de Orlando Geisel?

    Os escalões superiores das Forças Armadas, tão envolvidos com o próximo Governo e tão apressados em também amaldiçoar a chamada herança petista, mostram-se ignorantes, indoutos sobre as raízes de nossa política exterior: foi sob Geisel que o Brasil reatou com Cuba e China; foi sob Geisel que o Brasil começou a sua aproximação e cooperação com a África; foi sob Geisel que reconhecemos Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, ex-colônias portuguesas; foi Geisel que deu uma banana para os Estados Unidos e firmou o acordo nuclear com a Alemanha; foi ainda sob o regime dos generais que o Brasil se aproximou dos países árabes e passou a ter uma política independente nos conflitos do Oriente Médio. E jamais ocorreria a Geisel ou a qualquer outro dos Presidentes militares bater continência a um tipo como John Bolton. Embaixada do Brasil em Jerusalém? Nem pensar!

    Como se vê, sequer no fogo ardente, Senador Ataídes, da guerra fria, o Brasil submeteu-se a um alinhamento automático com os Estados Unidos – sequer naquele momento terrível da guerra fria.

    Os senhores militares esqueceram-se disso tudo? Não se lembram mais de que, para realizar os nossos objetivos nacionais permanentes, para isso, é essencial que sejamos um País soberano, dono do seu próprio nariz, que não se envolva nessa ideologização estúpida, atrasada, provinciana em que Guedes, Araújo e Vélez Rodriguez querem nos meter?

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Aprendam com Geisel, se não querem dar o braço a torcer para os críticos do novo Governo!

    Ora, terceiro-mundismo é a vovozinha de quem disse!

    E, por falar em objetivos nacionais permanentes, gostaria de lembrá-los – aos que já esqueceram –, Senadores que estão à Mesa: democracia, paz social, desenvolvimento, soberania, integração nacional e integridade do patrimônio nacional. Pergunto eu: o que esses arrivistas – tipo Paulo Guedes, Joaquim Levy, Roberto Campos Neto, Rubem Novaes, Pedro Guimarães, Carlos von Dollinger e Ernesto Araújo – têm a ver com objetivos nacionais permanentes? Senhores das Forças Armadas, a vocês eu me dirijo.

    Talvez para relembrar minha trajetória nesta Casa nesses oito anos, eu tenha feito, Senador Ataídes, uma digressão longa demais. É que pretendia refletir, espelhar as posições de toda uma vida nos tormentosos dias que se aproximam, mas não me vejam como pessimista ou cético. Ninguém tem o direito de ser pessimista no Brasil, não com um povo como o nosso que, há mais de 500 anos, suporta as consequências que ter uma elite predadora, inculta, trapaceira, corrupta e venal lhe ocasiona, mas que segue em frente.

    Daqui a algumas semanas, encerra-se o meu mandato de Senador. Não me recolho à vida privada, não tenho também esse direito.

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Enquanto respirar, viverei pelo Brasil, fiel, intransigentemente fiel, à utopia que me embala desde a meninice: o sonho de um País soberano, desenvolvido e bom para todos.

    Brasileiros, contem sempre comigo enquanto eu viver. (Palmas.)

    A Sra. Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Senador, V. Exa. pode me conceder um aparte?

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Depende agora da Mesa.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Presidente, eu solicito...

    O SR. PRESIDENTE (Ataídes Oliveira. Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – Há vários oradores, Senadora Vanessa, mas não podemos deixar de conceder esses apartes. Eu só peço, então, que...

    A Sra. Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Para ser breve...

    O SR. PRESIDENTE (Ataídes Oliveira. Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – ... seja bastante breve, porque há oradores, inclusive o nosso Senador Antonio Carlos.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senadora Vanessa, Senador Cristovam Buarque, Senador Paulo Rocha.

    O SR. PRESIDENTE (Ataídes Oliveira. Bloco Social Democrata/PSDB - TO) – Com a palavra.

    A Sra. Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – Muito obrigada, Senador Ataídes, e cumprimento-o pela sensibilidade, porque, em relação ao Senador Requião, sem dúvida nenhuma, não apenas nós que comungamos com o seu pensamento, com as suas ideias, com a sua conduta política, mas aqueles que não concordam ideologicamente e politicamente com o Senador Requião – como é o caso de V. Exa. – reconhecem no nobre Senador uma grande figura da política brasileira. Então, eu agradeço e registro aqui a sensibilidade de V. Exa., Senador Ataídes.

    Senador Requião, eu quero dizer que não foi o Estado do Paraná que perdeu, quem perdeu foi o Brasil, ao deixar de ter aqui uma das maiores figuras da política brasileira.

    Eu, Senador Requião, logo que entrei na política, deparei-me com a atuação de V. Exa., que foi Prefeito da cidade de Curitiba, foi Governador do seu Estado, Paraná, três vezes e Senador da República por duas vezes. Em todas as suas campanhas eleitorais, Senador, V. Exa. se elegia baseado na sua postura, baseado naquilo que defendia e no trabalho que desenvolvia. Então, V. Exa. não poderia ter feito um outro pronunciamento que não este, um primor que V. Exa. entrega à Casa, um primor que V. Exa. entrega ao Brasil, mostrando como nós podemos, sim, ser uma Nação independente, uma Nação justa e uma Nação desenvolvida.

    Eu sei que, mesmo fora do Parlamento, Senador Requião, V. Exa. continuará sendo uma figura muito importante para o Brasil, uma figura de resistência, de resistência àquela política que lamentavelmente entende que o comunismo é o grande mal do País – lamentavelmente, é isso que nós estamos vivendo –, daqueles que se organizam em frentes de direita, em frentes de conservadores com o único objetivo de retirar direitos dos trabalhadores...

(Soa a campainha.)

    A Sra. Vanessa Grazziotin (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PCdoB - AM) – ...e entregar a nossa riqueza nacional. Então, Senador Requião, não lhe dou parabéns, receba o meu abraço, não por este pronunciamento, mas por tudo o que fez pelo nosso País e que certamente continuará fazendo, mas parabéns, Senador!

    Muito obrigada.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senador Cristovam Buarque.

    O Sr. Cristovam Buarque (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Senador Requião, o Brasil, de fato, vai sentir falta sua, como disse a Sra. Vanessa. Eu vou sentir como brasileiro, não como Senador, porque eu não estarei aqui – como o senhor, não.

    Temos, por todas as décadas de nosso conhecimento mútuo, os mesmos propósitos para o Brasil. Ultimamente, temos tido algumas divergências sobre o papel da economia e os fundamentos da economia. Agora, isso não me impede de dizer – ao contrário, me obriga a dizer – que quatro fatos que caracterizam o senhor vão fazer falta aqui.

    Primeiro, é a sua coerência, coerência que pode se dizer obsessiva.

    Segundo, é o estilo incisivo como o senhor fala. Eu confesso que talvez não tenha nenhum outro aqui que seja tão incisivo analiticamente. De vez em quando, aparece aqui um incisivo, mas de uma maneira superficial. Os seus discursos são incisivos, profundos e rigorosos.

    Terceiro, é a experiência e o conhecimento que o senhor tem de história e dos diversos aspectos da sociedade.

    E, finalmente, a sua capacidade de oratória, que realmente é, hoje em dia, algo meio relaxado na maior parte dos políticos, diferentemente de algumas décadas atrás.

    Por essas quatro razões e, sobretudo, pela maneira como o senhor é, pelo seu caráter, não tenho dúvida de que o senhor vai fazer muita falta aqui e vai fazer falta no debate do cenário nacional.

    Por isso, o seu excelente discurso tem um final formidável. O senhor não desiste nem se recolhe, continua na luta, felizmente, para o Brasil.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – E a minha voz, Senador Cristovam, será ouvida no debate nacional, embora não na tribuna do Senado.

    Senador, em determinado momento, quando convidamos o Comandante do Exército, o General Villas Bôas para ir à Comissão de Assuntos Exteriores do Senado, eu me entusiasmei. O General disse que o Brasil tinha sido paralisado pela guerra fria, mas que não podia agora, de forma alguma, ser paralisado por uma disputa geopolítica entre Estados Unidos, Rússia e China. Eu me entusiasmei e disse: "Meu Deus, o nosso Exército é o mesmo! Aí está o espírito nacionalista". E ele dizia: "Um País do tamanho do Brasil tem que ter um projeto nacional". Mas parece que isso tudo acabou.

    Com prazer, concedo a palavra ao Senador Paulo Rocha.

    O Sr. Paulo Rocha (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PA) – Senador Requião, o seu discurso de hoje não difere de todos os seus momentos políticos com que o senhor nos brindou aqui, no Plenário do Congresso Nacional. O senhor vai do Senado, mas não vai da luta política pelo nosso País, este País que V. Exa. tanto prega aqui para nós.

    Receba o abraço da Bancada do PT – estou representando o Líder aqui –, como companheiro, como lutador, como parceiro, como irmão mais velho aqui, na luta, junto com o Partido dos Trabalhadores, e como professor de um lutador que quer um Brasil para todos, mas um Brasil com paz, com desenvolvimento e com dignidade para o nosso povo.

    Parabéns, Senador.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Restam três inscritos, Senador Ataídes: Senador Reguffe, Senador Valadares e...

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – ... Senador Randolfe. Eu pediria, junto com a Mesa, a brevidade dos apartes.

    E Senador...

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Senador Requião, eu quero lhe dar um abraço neste seu discurso de despedida, aqui, do Senado. Quero lhe agradecer a forma como o senhor me recebeu aqui no Senado, quando eu cheguei, uma forma muito carinhosa. O Requião bravo, o Requião que fala grosso na tribuna todo mundo conhece; agora, o que poucas pessoas conhecem é a forma gentil, educada e carinhosa com que V. Exa. me tratou, assim que eu cheguei aqui, e trata os seus colegas de Parlamento.

    Nem sempre pensamos de forma igual nesses quatro anos. Tivemos muitas divergências, tivemos vários posicionamentos divergentes, mas V. Exa. sempre tratou o posicionamento divergente com extremo respeito e com extrema lealdade ao debate político. Eu acho que falta isso na política hoje. O valor da política precisa ser resgatado para a sociedade brasileira. Infelizmente, no meio de tantos escândalos, no meio de tantos negócios na vida pública, algumas pessoas perderam o senso do significado da política, e é isto que a gente precisa fazer: recuperar o valor da política para a sociedade brasileira. Então, nem sempre, na política, a gente pensa de forma igual. Agora, na hora de pensar de forma diferente, é preciso fazê-lo com respeito, e isso V. Exa. sempre fez.

    Quero aqui agradecer a forma sempre educada com que V. Exa. me tratou aqui, a forma carinhosa com que me recebeu nesta Casa, aqui, neste Senado Federal; e desejar que V. Exa. seja muito feliz fora desse mandato e que continue contribuindo para a vida pública, de vez em quando colocando as suas opiniões e seus pensamentos.

    Um grande abraço a V. Exa.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Três Senadores ainda pediram aparte, Senador Eunício: Senador Valadares, Senador Reguffe e Senador Randolfe Rodrigues.Senador Valadares com a palavra... Não o Senador Reguffe, o Senador Rodrigues.

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – Senador Roberto Requião, V. Exa. nos deu uma certa alegria, um certo alento, quando disse que não iria abandonar a vida pública. Isso significa que o Brasil continuará com um combatente tenaz na defesa dos interesses nacionais.

(Soa a campainha.)

    O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PSB - SE) – V. Exa. se portou, nesta Casa, sempre com coerência, firmeza, devotamento à causa pública, sendo um exemplo de honestidade, de padrão ético. E certamente os mais jovens deverão seguir, contando-se, lá no Paraná e no Brasil, a sua verdadeira história.

    No Senado, V. Exa. fez um trabalho excelente não só nas comissões, como também como um combatente, como eu disse, tenaz aqui no Plenário do Senado; participou de vários debates, quando os temas mais importantes da nacionalidade vinham à tona. Portanto, meus parabéns.

    V. Exa. é meio sergipano – Divina Pastora, no Estado de Sergipe, tem ancestrais de V. Exa. Quando eu falo com o Senador Roberto Requião, eu falo não apenas na condição de seu colega, de seu amigo, mas também de um semiconterrâneo do Estado de Sergipe. V. Exa. nasceu no Paraná, mas também tem o sangue sergipano, para a minha honra e alegria.

    Um abraço para V. Exa. e para a Maristela, a grande companheira de sua vida. Tenho certeza absoluta de que ela está ouvindo este pronunciamento e vendo de perto o carinho e o respeito que este Senado tem por V. Exa.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senador Randolfe Rodrigues e, finalmente, o Senador Armando Costa... Randolfe agora.

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/REDE - AP) – Senador Requião, primeiro, eu quero registrar a falta que o senhor vai fazer a este Plenário. De todos nós, ninguém tem tanta convicção na defesa de um projeto soberano, de um projeto nacional, quanto o senhor. Eu diria, Senador Requião, que a força de suas convicções – me permita dizer ao senhor, que é jovem há mais tempo em relação a mim – me inspira para mais adiante chegar, no decorrer da minha vida, tendo essa mesma firmeza de convicções.

    Eu tive o prazer de ser duplamente...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Randolfe Rodrigues (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/REDE - AP) – ... seu vizinho nesses oito anos aqui no Senado: primeiro, na Ala Teotônio Vilela, depois, vizinho de apartamento funcional do Senado.

    Chegamos a ter divergências, mas em 90% nossas convicções estiveram unidas, do mesmo lado. As luzes de muitas de suas posições farão uma falta enorme aqui, mas eu fico alentado em saber que alguém, com o tamanho que tem, Requião, já tendo sido Governador, Senador por dois ou três mandatos, e, mais importante do que qualquer cargo público, com a firmeza de convicções que sempre teve desde a luta social, nos inspirará a continuar, onde quer que você esteja, influenciando a luta política progressista deste País, luta política com a firmeza do que você retratou ainda há pouco na tribuna do Senado.

    Estaremos sempre juntos em muitas outras batalhas, eu tenho certeza disso.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senador Armando Costa...

    O Sr. Armando Monteiro (Bloco Moderador/PTB - PE) – Meu caro Senador Roberto Requião, eu não poderia deixar de me associar a essas manifestações, no momento em que V. Exa. se despede desta Casa. Eu tenho um grande respeito por V. Exa. pela verticalidade de sua conduta, pela firmeza de suas posições, por uma trajetória muito marcada por exemplo de coerência, de dedicação e de espírito público.

    Todos aqui se manifestaram sublinhando eventuais divergências no entendimento de alguns temas. No debate econômico, por exemplo, as minhas posições nem sempre se aproximavam das posições de V. Exa., mas nem por isso eu deixo e deixei de reconhecer a importância da presença de V. Exa. no debate dos grandes temas de interesse do nosso País, sempre com essa marca da afirmação, do compromisso, do patriotismo e, sobretudo, do espírito público.

    Eu quero lhe dar esse abraço fraterno de um companheiro que o admira. E eu tenho certeza de que V. Exa., em qualquer que seja a circunstância, será sempre uma voz muito respeitada neste País. Que Deus lhe dê saúde...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Armando Monteiro (Bloco Moderador/PTB - PE) – ... e que V. Exa. não se afaste do convívio aqui dos seus admiradores!

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Finalmente, Senador Eunício, com a sua tolerância, o Senador Garibaldi Alves.

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/MDB - RN) – Senador Roberto Requião, eu queria deixar aqui patente também a minha admiração por V. Exa. e dizer que começamos juntos praticamente, numa mesma circunstância. O Brasil vivia a sua experiência autoritária, e nós nos elegemos Prefeitos, depois de 20 anos de Prefeitos nomeados. V. Exa. foi eleito Prefeito de Curitiba, e eu fui eleito Prefeito de Natal. E, a partir daí, V. Exa. foi Governador do Estado, e eu também tive a honra de ser Governador...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O Sr. Garibaldi Alves Filho (Bloco Maioria/MDB - RN) – Eu sempre procurei pautar a minha vida política dentro de exemplos como é a trajetória de V. Exa., que realmente é um homem coerente, um homem sincero, que tem um amor extremado pelo nosso País e defende, com muita garra, com muita disposição, com muita obstinação, as suas posições.

    Sei que o Senado vai perder muito com a ausência de V. Exa., mas o Senado vai perder muito menos também, porque eu também vou deixar o Senado.

    Um abraço.

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Senador Garibaldi, lembro bem da época em que éramos Prefeitos e nunca esqueci o belíssimo programa de saneamento e produção de água tratada feito em Natal por V. Exa. Foi um exemplo e um estímulo para mim com Prefeito de Curitiba.

(Soa a campainha.)

    O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco Maioria/MDB - PR) – Presidente, obrigado pela tolerância com o tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2018 - Página 49