Discurso durante a 156ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Reflexão sobre atuação parlamentar e expectativa em torno da atuação de S. Exª após o término de seu mandato.

Autor
Cristovam Buarque (PPS - CIDADANIA/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Reflexão sobre atuação parlamentar e expectativa em torno da atuação de S. Exª após o término de seu mandato.
Aparteantes
Reguffe.
Publicação
Publicação no DSF de 14/12/2018 - Página 86
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, ORADOR, PRESTAÇÃO DE CONTAS, ANUNCIO, MANUTENÇÃO, DEFESA, DEMOCRACIA.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF. Para discursar.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, Sras. Senadoras, população em geral lá fora, eu tenho assistido aqui, Senadores, a despedidas depois de despedidas e tenho achado, de certa maneira, desconfortável para mim, porque eu faço parte desse grupo que não voltará.

    Mas eu não vou me despedir, não tenho por que me despedir de uma luta que eu já fazia antes de vir para o Senado e que eu vou continuar fazendo depois de sair do Senado. Um soldado, quando muda de trincheira, não se despede da trincheira antiga. Apenas ele ouve a voz do comandante e muda sua posição para lutar melhor por aquilo que ele tem como propósito.

    O povo, o general da política na democracia, o general eleitor votou para que eu mudasse de trincheira. E esse eleitor tinha as suas razões. Aliás, o eleitor sempre tem razão.

    O eleitor quis, em 2018, duas coisas, Senador Dário: uma, renovar. E, apesar de eu me sentir um Senador que se renova a cada dia, não tenho cara, depois de 16 anos, de representar a renovação. O eleitor teve razão nisso. Segundo, o eleitor, com razão, hoje busca uma nota só: a nota da luta contra a corrupção, contra a violência, de que este País tanto precisa. Eu tenho lutado por isso aqui talvez mais do que muitos, porque, além dos meus discursos, das minhas leis, eu tenho um comportamento absolutamente coerente com a luta contra os privilégios – não uso –, contra a corrupção – não pratico – e pela paz. Defendo aqui leis que trazem a paz. Mas a minha cara é da nota só da educação, por mais que eu tenha, entre meus cento e tantos projetos de lei, todos os temas, por mais que eu seja um Senador comprometido com a economia – e com uma linha clara, não se faz justiça social em cima de economia ineficiente. E lutei aqui para trazer eficiência à economia brasileira. Apesar disso, a minha cara é de educação. E não é, para o eleitor de hoje, esse um propósito fundamental. E ele tem suas razões! O imediato, hoje, não é nem haver uma boa escola para os meninos; é os meninos poderem ir para a escola sem levar um tiro.

    Então, por essas razões, o general eleitor mudou a minha trincheira, mas eu não tenho por que me despedir da guerra. Vou continuar na luta que me trouxe aqui. Cheguei aqui com um sonho: o sonho de um Brasil melhor, que significa um Brasil com alta renda social geral e essa renda bem distribuída, duas coisas que não temos hoje. Somos um País pobre, quando analisamos a renda per capita, e somos um dos campeões da desigualdade. O sonho é mudar isso.

    Além disso, no que se refere à renda e à economia, que seja um País onde todo mundo tenha um lugar onde morar, com água potável, coleta de lixo, esgoto, com um sistema de saúde que atenda a todos os que precisarem. Que o nosso Brasil seja um País pacífico e faça política sem corrupção.

    Esse é o sonho que me trouxe até aqui, mas com um detalhe a mais, Senador Dário, Senador Reguffe: é que eu – e reconheço que muitos podem ter razão de pensar diferente – acho que o caminho para este Brasil melhor implica três coisas. Primeira, sermos um País com a excelência na educação, igual aos melhores países do mundo. Para mim, é este o caminho: não é pela economia que a gente vai construir este Brasil que eu digo, é pela educação de excelência. Segunda, que esta educação de excelência seja igual para todos. Muitos não acreditam no primeiro ponto, Senador Dário, de que o Brasil um dia vai ser igual aos melhores do mundo em educação, e poucos acreditam que, se isso for possível, o filho do pobre vai estudar numa escola tão boa quanto a do filho do rico. E eu acho que, sem essas duas coisas, nós não vamos fazer o Brasil que trouxe muito de nós até aqui, como o desejo de construir. E a terceira é que, para mim, isto só será possível – a excelência e a igualdade na educação – pela federalização na educação. Eu não acredito que a gente consiga fazer este Brasil sem educação de excelência para todos. E não acredito que essa educação de excelência, e para todos, seja possível com seis mil quase microssistemas educacionais, com uma desigualdade profunda e com poucos recursos.

    Eu cheguei aqui com esses sonhos, sonhos que eu já tinha e por que lutava antes de ser Senador, sonhos por que eu vou continuar lutando depois de ser Senador. Por isso eu não tenho que me despedir. A luta é a mesma. Vou continuar nela. Não vou ter mais esta tribuna. Mas, nesta tribuna, em 16 anos, eu não consegui convencer as pessoas das bandeiras que me trouxeram aqui.

    Por isso, vou continuar, vou continuar tentando construir um Brasil democrático, com suas instituições sólidas, rico socialmente na renda de todos, na produtividade de cada um, mas bem distribuindo a renda; sustentável, o que significa respeitar o meio ambiente e também respeitar o valor da moeda.

    Muitos ecologistas se esquecem de que uma moeda inflacionada é do mesmo tipo de desequilíbrio que uma natureza depredada. A inflação é uma depredação, da mesma maneira que há a depredação da natureza. Eu quero a sustentabilidade ecológica, mas eu quero a sustentabilidade da moeda. Eu quero um País integrado mundialmente na economia. Não vejo como o Brasil pode ser o país dos sonhos fechado. Não vejo como fazer isso.

    E é nisso que eu discordo de tantos companheiros, amigos aqui, de outras lutas, que continuaram na mesma trincheira, quando os objetivos são os mesmos, mas a luta exige mudar de trincheira. Eu quero continuar e ter um Brasil humanista, solidário internacionalmente.

    Eu não me conformo de ouvir um Ministro, que tem como um dos méritos que ele se diz de um Governo cristão, dizer que a gente só pode aceitar imigrantes depois de satisfazer as necessidades de todos os brasileiros. Imaginem se Cristo tivesse dito: "Só dê esmola depois de você se saciar plenamente". Não, porque Cristo disse: "Se tiver um pão, divida com quem precisa". E há cristãos no Brasil dizendo: "Primeiro nós, depois os outros".

    Eu quero um Brasil solidário internacionalmente, um Brasil com cidades eficientes e não as "monstrópoles" que nós criamos nestes últimos 50 anos.

    Se Dante fosse escrever o seu livro agora, ele não precisaria falar em viagem ao inferno. Ele falaria em viagem às cidades brasileiras. São infernos. São "monstrópoles" e não metrópoles. Eu quero cidades pacíficas e eficientes.

    Eu quero, sobretudo, um País que esteja sintonizado com o espírito do tempo, de para onde vai a humanidade, usando as altas tecnologias sem medo delas, mas com ética, para que elas sirvam ao bem-estar com sustentabilidade, com respeito às pessoas.

    Eu creio que nós temos que continuar essa luta ainda por muito tempo. Daí eu posso dizer que é uma frustração sair daqui sem ter feito isso. Quando a gente vê as estatísticas, os relatórios da educação, da pobreza no Brasil, eu tenho que reconhecer que não conseguimos o que a gente queria aqui. Portanto, tenho a frustração. Mas eu posso dizer aos meus eleitores que, apesar da minha frustração, eu continuo com ânimo; e, segundo, que eu fiz pra caramba coisas.

    Só de não entrar em nenhuma lista de corrupção, eu creio que isso já deve orgulhar um pouquinho os meus eleitores e a minha população do Distrito Federal e até do Brasil, porque eu sou Senador da República, representando o Distrito Federal, mas da República inteira. Eu atravessei todo esse período sem nenhum problema e com coerência no comportamento, na luta contra as mordomias, contra os privilégios. Só o fato de atravessar limpo, nesse momento conturbado do Brasil, eu creio que já é um mérito, mas é pequenininho, é pequenininho. Isso não basta. Se fosse só por isso, eu ficava num convento, virava frade.

    Não é só por isso, é porque eu posso dizer que, dos 744 Senadores eleitos no Brasil desde 1988, eu sou o campeão em leis, 21 leis, Senador; o segundo tem 17, é o Senador Crivella. E, dos 1.544 eleitos desde 1946, eu sou o segundo. Então, eu vim aqui para fazer leis. Fiz. E dessas, de três eu me orgulho muito; e de uma quarta também.

    A primeira: piso nacional para o salário do professor. O primeiro gesto de federalização foi dizer: nenhum professar ganha menos que tanto. Segunda: garantia de vaga na escola a partir dos quatro anos. Isso está em vigor e aos poucos as pessoas vão se acostumando com o fato de que essa lei existe, vão cobrando os Prefeitos, e aos poucos ela é realizada. Terceira: garantia de vaga no ensino médio para quem quiser. A Constituição não previa isso, nem a partir dos quatro, só a partir dos seis; e nem a partir dos 14 até os 18. A quarta é a que garante a entrada de professor na universidade sem necessidade de vestibular, desde que queira estudar Pedagogia ou Licenciatura. Eu acho que isso é algo que eu posso mostrar, mesmo reconhecendo a frustração que eu fico de não ter conseguido dar os saltos que eu imaginava.

    Eu creio que vale a pena eu lembrar as posições coerentes que sempre tive aqui. E o Reguffe sempre esteve ao lado nessa luta. Sempre estivemos do mesmo lado, eu e Reguffe, lutando pelas mesmas coisas: a luta contra aqueles que queriam parar a Lava Jato, aqueles que queriam criar instrumentos que impediriam o Ministério Público e Justiça de irem adiante. Nós estivamos juntos mesmo quando tivemos de enfrentar agressões, como eu tive, sofri.

    Eu votei, por exemplo, pelo impeachment porque minha consciência obrigava a isso, porque eu disse que havia irresponsabilidade fiscal dois anos antes do impeachment. Como é que eu ia naquela hora dizer: "Não, não é bem assim, eu estava errado". Fiz audiência nesse sentido. Apanhei e continuo apanhando, mas votei com a minha consciência e adquirindo uma qualidade que me orgulha: um político com coragem de enfrentar leitores, eleitores, amigos, parentes, conhecidos, vizinhos, frequentadores da mesma padaria, mas eu disse: "A minha coerência obriga".

    Eu creio que vale a pena lembrar que em nenhum momento eu caí na tentação da demagogia, nem da mentira, porque todos descobriram no Brasil hoje – e fizeram, e votaram com esse propósito –, descobriram todos que é intolerável a corrupção, que põe dinheiro no bolso de políticos, mas não descobriram duas corrupçõezinhas, Senador Dário, que são igualmente perversas: a corrupção nas prioridades... Mesmo sem roubar, um político que determina uma obra desnecessária quando ao lado falta saneamento, é um corrupto. Esse estádio de futebol que existe no DF, que botaram o nome de Mané Garrincha, usando o que já estava, é uma corrupção porque roubaram, mas é uma corrupção nas prioridades, porque a 40km tem gente sem saneamento e gastaram quase R$2 bilhões naquele estádio.

    Mas há outra corrupção, Senador Reguffe, que muitos não falam, que é a corrupção da demagogia, da mentira. A mentira e a demagogia na política, além de abrirem espaço para erros graves, roubam até a mente do eleitor. Descobriram a tal das fake news, que são mentiras, mas não descobriram a mentira da demagogia. Dizer que é possível manter o atual sistema de previdência é mentira, é demagogia e, portanto, é corrupção, porque está criando uma esperança de que um sistema podre pode continuar. Duplamente podre: podre porque privilegia alguns contra outros e podre porque quebra, esfarela, não sobrevive, não tem sustentabilidade. A demagogia rouba mentes, provoca inflação, desorganiza a sociedade. E eu me orgulho de dizer que, em 16 anos aqui, não tive uma mentira, não tive uma demagogia, não tive uma incoerência. Votei sempre como sentia. Podem dizer que tive erro, erro pode, mas não demagogia, não incoerência, não mentira.

    Por isso, eu posso dizer que não tenho de que me despedir. Eu tenho, sim, que dizer que vou continuar na mesma luta por um Brasil melhor que, para mim, passa, sobretudo, na ética na política, no comportamento dos políticos pela ética nas prioridades, gastando o dinheiro público naquilo que interessa ao público, ao povo, à Nação. E, para mim, fundamental, a prioridade maior, a mãe de tudo que a gente deseja, o sonho pai dos sonhos é a educação de excelência, a excelência distribuída igualmente. E tecnicamente acho que o caminho é a federalização.

    Por isso, eu quero dizer aqui que, em vez de despedida, como vi tanta gente falar, nem até logo eu digo. Continuo tentando. Nem acredito que vou conseguir ver tudo isso ao longo da minha vida, até porque meu propósito de federalização leva 30 anos para ser executado se começar hoje. As pessoas não entendem que não defendo pegar os sisteminhas municipais que estão aí e dizer: "Agora, é federal". Não, o que eu defendo é pegar esse sistema que está aí e ele ir sendo substituído ao longo de anos por um novo – esse novo, único; esses aqui, 6 mil –, com descentralização gerencial, cada escola se autogere, mas com uma carreira nacional do professor, padrões da mesma qualidade para as edificações e os equipamentos, todos em horário integral.

    Esse é o sonho que me trouxe aqui, esse é o sonho que vou continuar levando. E, se vou continuar levando o mesmo sonho, Senador Reguffe, não tenho por que me despedir nem mesmo dizer até logo. Eu apenas continuo na luta, uma nova plataforma ou numa nova trincheira, se quiserem, num novo lugar de luta que, aliás, não é diferente dos que eu usei por tantos anos, inclusive sendo professor, com muito orgulho, do Reguffe na Universidade de Brasília. Eu apenas continuo, nem adeus, nem até logo, apenas continuo tentando.

    Sr. Presidente, era o que eu tinha a dizer, mas o Senador Reguffe me pede a palavra e, para mim, isso é motivo de muita gratificação de vê-lo aí e de ele continuar na luta nessa cadeira em que eu espero que ele fique por muito tempo, mas eu sei que, no dia em que terminar o tempo dele aqui, ele também não vai precisar se despedir nem dizer até logo, ele vai apenas continuar tentando.

    Por favor, Senador Reguffe.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – Senador Cristovam, um belo discurso de V. Exa., um belo discurso de encerramento do seu mandato, já que V. Exa. não gosta do termo despedida, mas eu queria aqui fazer algumas colocações. A primeira delas é que conheci V. Exa. há muito tempo, há 25 anos, quando V. Exa. foi meu professor na UnB, a Universidade Brasília.

    De lá para cá, nós formamos uma grande amizade e V. Exa. sabe do enorme carinho que tenho por V. Exa. Além do respeito, além da admiração, tenho um enorme carinho por V. Exa., formamos uma grande amizade, que só se aprofundou cada dia mais, estando cada vez mais juntos.

    V. Exa. deixa esta Casa... Durante o seu mandato, durante esses quatro anos em que nós convivemos aqui, nós estivemos juntos em várias batalhas. Nem sempre votamos juntos, nem sempre pensamos juntos, de vez em quando votamos de forma diferente, a minoria, também tivemos alguns votos diferentes. Mas todos os votos que V. Exa. deu, assim como eu, foram votos de consciência, foram votos pensando em se aquilo era o melhor para a população, para o cidadão, para o contribuinte, não pensando no naco do poder que poderia ter, não pensando no cargo que iria indicar,...

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Isso.

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – ... não pensando na secretariazinha a que teria direito, mas, sim, cumprindo a sua obrigação de estar aqui pensando na sociedade. Isso não quer dizer pensar totalmente igual àquela pessoa que votou no senhor, até porque ninguém pensa totalmente igual a outra na vida. Aliás, o momento muito triste que este País está vivendo é porque as pessoas ficam procurando os pontos de divergência, ao invés de buscar os pontos de convergência, que podem construir um país melhor, que podem construir o país do futuro.

    V. Exa. manteve os seus princípios, manteve a sua linha. V. Exa. vive no mesmo apartamento em que eu o conheci há 25 anos. V. Exa. aqui tenta fazer o melhor pela sociedade, e acho que a vida pública é isso. Todos nós somos seres humanos. Então, ninguém é infalível, assim como ninguém pensa totalmente igual, mas cada ação, cada voto da pessoa que entra na vida pública, que passa a ter um cargo público tem que ser, única e exclusivamente, pensando no cidadão, na população.

    Então, eu posso, de vez em quando, ter votado diferentemente de V. Exa., a minoria, mas V. Exa. é uma pessoa que, assim como eu, está aqui para servir à população. Na hora de votar, pensa apenas se aquilo é bom ou ruim para o cidadão, e é isto que falta na política hoje. A política está com essa imagem na sociedade, porque as pessoas pensam muito mais nos cargos, nas barganhas, nos negócios do que na verdadeira função que a política tem, que é servir à sociedade, porque política é algo bonito, política é algo nobre, e foi isto que me fez ter vontade de entrar na política, e é assim que o senhor luta.

    Então, o senhor saiba que, de minha parte, vai ter aqui sempre um companheiro, uma pessoa que defende também a federalização da educação básica neste País. Acho que a educação é um elemento de transformação. A única coisa que eu sempre falo é que não pode ser só a educação, pois a saúde também é um tema emergencial. Por isso, sempre destino minhas emendas para a saúde e para a educação. E V. Exa. sai com a certeza do bom combate. E tenho certeza...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Reguffe (S/Partido - DF) – E tenho certeza de que até aqueles críticos de V. Exa., até aquelas pessoas que ficaram chateadas com votos seus, com posicionamentos, tenho certeza de que essas pessoas, no fundo, no fundo, sabem que o senhor é uma pessoa decente. E sabem que o senhor é uma pessoa do bem. De bem e do bem!

    Então, meu desejo para V. Exa. é que V. Exa. seja feliz. Aproveite Dona Gladys e faça o que lhe faça feliz. Na vida, a gente tem é de ser feliz. V. Exa. serviu com muita dignidade à população do Distrito Federal e à população deste País, e o meu desejo, como seu amigo, é de que seja feliz, que V. Exa. seja feliz.

    Preocupe-se menos com as coisas com que a gente se preocupa muito aqui, porque a isso aqui, às vezes, a gente se dedica muito, trabalha muito, e nem sempre as pessoas da população conseguem acompanhar o nosso dia a dia, acompanhar tudo o que a gente faz, os recursos que a gente traz para o Distrito Federal através das nossas emendas, através da nossa luta, mas seja feliz. Esse é o meu desejo de amigo. V. Exa. sai com o dever cumprido. Honrou aqui a população e exerceu o mandato com dignidade. Seja muito feliz, porque V. Exa. merece!

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Senador Reguffe, meu caro José Antônio, a gente se conhece há tanto tempo. Primeiro, quero dizer que, quando você me conheceu, 25 anos atrás no meu apartamento, eu já morava lá há 13 anos, e é para lá que eu volto, na Asa Norte. (Risos.)

    Segundo, quero dizer que eu não poderia querer nada melhor para este discurso do que esta sua fala. Eu, sinceramente, considero que essa sua fala é o ponto, talvez, mais alto do meu tempo aqui no Senado, porque, de uma maneira simples, você colocou algumas palavras que eu não sei se vão aumentar minha felicidade depois, mas já estão me fazendo muito feliz hoje!

    Então, muito obrigado, e a gente vai estar junto. Não estamos nos despedindo, nem dizendo até logo, apenas confirmando que vamos estar juntos e que eu continuarei tentando, enquanto tiver energia.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Dário Berger. Bloco Maioria/MDB - SC) – Senador Cristovam, deixe-me só participar um pouco dessa homenagem a V. Exa. Certamente, o Senador Cristovam já percebeu, ao longo desses quatro anos, o meu respeito e a minha admiração. E, se eu pudesse, numa frase, ou numa palavra, conceituar V. Exa., eu diria que brilhante seria um dos termos que tem tudo a ver com o Senador Cristovam Buarque.

    Ele sempre foi um mensageiro da construção de um novo tempo, um tempo de realização, de trabalho, de prosperidade, de valorização da vida, de impulsionar as nossas crianças e os nossos jovens para o futuro através da educação, e um revolucionário, porque o senhor é um homem revolucionário, no bom sentido! É aquele que defendeu a revolução doce. (Risos.)

    O senhor se lembra disso?

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Claro que eu me lembro.

    O SR. PRESIDENTE (Dário Berger. Bloco Maioria/MDB - SC) – Claro que o senhor se lembra. Eu também lembro, porque aquilo me marcou muito naquela época. É a revolução realizada através da educação, através da preparação do cidadão para enfrentar a vida, para enfrentar o mercado de trabalho, a preparação para a independência do ser humano, pois não há maior forma de independência do ser humano que não seja através da educação, da sua preparação para enfrentar os desafios e os obstáculos que todos nós temos pela frente.

    Dessa maneira, eu tenho absoluta certeza de que V. Exa. foi uma das mais belas e altas vozes do Senado Federal nesses últimos 16 anos. Cumpriu o seu dever de cabeça erguida, porque V. Exa. é um ser iluminado, é um ser diferente, é um ser que já deu a sua contribuição e ainda muito poderá contribuir.

    Mas eu me lembro ainda do seu tempo como Governador de Brasília. Eu não tenho convivência com V. Exa., mas eu sei que, em Brasília, V. Exa. fez uma revolução não só de obras, porque uma cidade não se constrói apenas com estradas, cimento, postes, energia; uma verdadeira cidade se constrói com poesia, com música, com cultura, com educação.

    A verdadeira revolução que a gente deseja para este País vem, sobretudo, da nossa consciência, daquilo que nós somos, daquilo que nós queremos e da forma como nós podemos fazer para colocar o País nos trilhos que nós desejamos.

    Dessa maneira, o senhor é um protótipo disso tudo, desse conceito, desse sonho que nós temos de ver o Brasil andando para frente, com visão de futuro, protagonista da América do Sul, onde as desigualdades possam ser diminuídas, porque um dos maiores problemas que nós temos é a pobreza, é a desigualdade. E, se não me engano, o art. 3º da Constituição diz que um dos seus princípios básicos é erradicar a pobreza, as desigualdades regionais e sociais, etc.

    Dessa maneira, eu desejo ao senhor paz, que o senhor sempre teve, consciência tranquila, que o senhor sempre teve, que o senhor mantenha esse estilo de nosso professor aqui no Congresso Nacional e que o senhor tenha muita saúde e muita fé ainda no Brasil, no futuro.

    E nós, eu e Reguffe, vamos estar aqui, por mais quatro anos, defendendo, sobretudo, os princípios que o senhor sempre defendeu ao longo dos seus 16 anos aqui no Congresso Nacional.

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – Muito obrigado, Senador Dário.

    E, para mostrar como fiz bem em não me despedir, eu quero continuar coerente e, assim, vou poder ir aí, como o senhor pediu, para presidir a sessão para o senhor falar. Se eu tivesse me despedido, seria uma incoerência aceitar o que o senhor me pediu. (Risos.)

    Muito obrigado.

    Só para concluir, eu quero lembrar o que muitos não vão lembrar, nem saber, até porque não têm obrigação de sabê-lo: isso da revolução doce. Foi uma referência sua à minha campanha presidencial, quando eu usei, por muitos lados esta expressão: queremos uma doce revolução...

(Soa a campainha.)

    O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco Parlamentar Democracia e Cidadania/PPS - DF) – ... a revolução pela educação, a revolução pelo lápis e não pelo fuzil. Por isso, era a doce revolução. Muito obrigado por ter se lembrado disso.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/12/2018 - Página 86