Discurso durante a Reunião Preparatória, no Senado Federal

Comentário sobre a renúncia de S.Exª. para a eleição à Presidência do Senado Federal.

Autor
Alvaro Dias (PODE - Podemos/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO:
  • Comentário sobre a renúncia de S.Exª. para a eleição à Presidência do Senado Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 03/02/2019 - Página 40
Assunto
Outros > SENADO
Indexação
  • COMENTARIO, RENUNCIA, ORADOR, CANDIDATO, ELEIÇÃO, PRESIDENTE, SENADO.

    O SR. ALVARO DIAS (PODE - PR. Para discursar.) – Sr. Presidente, a Senadora Simone terminou com um poeta português, e eu começo com um poeta mexicano: "As massas [...] mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo, o medo da mudança". O medo da mudança é visível, ele esteve presente durante a campanha eleitoral e se repete agora no seio do Senado Federal.

    Eu venho para a tribuna, nesta manhã, carregando o desalento e a frustração de sentir que os ventos da mudança não tiveram portas abertas para a sua entrada no Congresso Nacional. O modelo é exatamente o mesmo.

    Eu imaginei ser candidato à Presidência do Senado não para exercer o poder pela ambição de exercê-lo, mas para ser porta-voz de uma ideia: a ideia da mudança que foi escrita nas urnas do País em outubro passado, a ideia da mudança que foi levada por multidões nas ruas do Brasil a partir de 2013, por uma população indignada, exigindo mudança.

    Fala-se muito na velha política, combate-se demais a velha política, mas ela sobrevive. Ela está muito viva nesta Casa. A sessão de ontem foi a fotografia da velha política. Ela invade as madrugadas nos conchavos, nas barganhas, nas negociatas. Ela não foi expulsa nas urnas, lastimavelmente. Aqueles que imaginaram que os votos expulsaram a velha política no Brasil com a renovação que ocorreu se equivocaram. A luta deve continuar.

    O voto secreto não é velha política? O Supremo Tribunal, que assegura o voto secreto, avaliza a velha política.

    O que diz Rui Barbosa: Quem precisa da escuridão, quem se acautela sem publicidade? É o bem? Ou é o mal?

    Defendemos a transparência com alegria, defendemos a transparência como bandeira, defendemos a transparência como compromisso, defendemos a transparência como destino. Defendamos a transparência como agentes transformadores, porta-vozes dos democratas deste País. Não sucumbamos diante dos estertores da velha política, porque certamente ela ainda vive, mas ela será derrotada. Ou nós sepultamos a velha política ou seremos nós sepultados politicamente.

    Senador Reguffe, as minhas homenagens. Às vezes, nós, que temos muitos defeitos e poucas qualidades, perdemos não em razão dos nossos defeitos; perdemos em razão das nossas qualidades.

    As derrotas não comprometem a nossa história, as derrotas não comprometem a nossa biografia, as derrotas muitas vezes nos honram porque nos qualificam.

    Eu estou aqui derrotado, Sr. Presidente. Não posso ser candidato à Presidência do Senado, não serei candidato à Presidência do Senado, porque, se mantiver a minha candidatura à Presidência do Senado, poderei ser responsabilizado pelo resultado que a população brasileira não deseja. Noventa e quatro por cento da população brasileira, lastimavelmente, meu amigo Renan, não desejam a sua eleição à Presidência do Senado.

    Há os que pregam ouvir a voz das ruas. Quantos as ouvem? Quantos olham pela janela para ver o que se passa nas ruas deste País? Não, pregam que é necessário ouvir a voz das ruas, mas se escondem delas, escondem-se delas nos subterrâneos da política que madruga no infortúnio da nossa população, nos subterrâneos da política que levam às lágrimas milhares de famílias mineiras que perderam seus filhos soterrados sob a lama da intolerância, da incompreensão, da incompetência, da insensatez, sob a lama da irresponsabilidade pública – os de Brumadinho, os de Mariana e os que morrem no anonimato.

    Eu percorri o Brasil, gostaria de ter percorrido mais. Aprendi demais, aprendi muito. Temos muito a aprender. Eu sobrevoava as montanhas mineiras, contemplava-as com admiração e imaginava os milhões de toneladas de minério de ferro exportados, produzindo riqueza. Mas olhava abaixo e via a pobreza, a miséria, a infelicidade. Andava pelo Brasil, chegava à Bahia e me lembrava da fundação da República e da revolta no interior da Bahia porque havia um divórcio entre o governo e a população.

    E hoje, séculos depois, nós contemplamos o Brasil das desigualdades, o Brasil de mais de 52 milhões de brasileiros abaixo da linha da pobreza, o Brasil de 62 milhões de endividados. Nós contemplamos a prevalência desse divórcio entre governo e governantes e a população e o cidadão. (Pausa.)

    Eu parei porque eu vejo que deve haver alguma conversa mais interessante do que o meu discurso.

(Soa a campainha.) O SR. ALVARO DIAS (PODE - PR) – E certamente sempre há, porque eu não sou um Rui Barbosa, eu sou um modesto Senador da República. Mas eu gostaria de merecer a atenção de todos, até porque eu estou num momento de renúncia, meu caro Senador Renan Calheiros. Estou num momento de renúncia e tentando ser porta-voz das aspirações do nosso povo – tentando. Eu não ouso dizer que eu sou o porta-voz das aspirações do povo, eu ouso dizer que eu tento ser.

    Estou aqui para dizer: eu não pretendia ser Presidente do Senado, a não ser para tirá-lo do chão, porque, durante décadas, o Senado foi governado por um mesmo grupo político. E a alternância...

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (PODE - PR) – ... é um pressuposto básico na democracia. Um único partido político governou esta Casa durante os 34 anos da Nova República – apenas durante dois anos não esteve presidindo, comandando, administrando esta Casa.

    E onde está o nosso conceito? Onde está a nossa imagem? O nosso conceito, a nossa imagem está no chão. O meu sonho era ser Presidente para retirar do chão e colocar no coração do povo brasileiro, porque ou nós conquistamos a sociedade e a trazemos para o nosso lado ou não cumpriremos o nosso dever no Senado Federal...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (PODE - PR) – Para quem renuncia, um pouco mais, para quem renuncia a um sonho, para quem renuncia a uma aspiração legítima em respeito ao Brasil.

    Kajuru amigo, essa renúncia é em respeito ao Brasil. Eu não quero ser acusado depois de ter sido responsável pela eleição do Renan Calheiros – eu estou sendo franco, amigo Renan. Eu não quero ser responsável depois. "Você dividiu os votos no campo da mudança." E o fatiamento dos votos no campo da mudança nos leva a não mudar. Eu quero ser porta-voz da mudança e não coadjuvante da continuidade.

    Por isso, eu quero pedir perdão.

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (PODE - PR) – Eu não vou demorar, Presidente. Só mais um pouquinho, meu grande amigo Maranhão.

    Eu não posso deixar de agradecer. Agradeço à população brasileira, porque, nos últimos dias, eu me senti gratificado, honrado, homenageado com inúmeras enquetes sobre a Presidência do Senado – perdoem-me dizer isso aqui. O sentido é do agradecimento, não é da vaidade, é do agradecimento. Em todas essas enquetes – meu amigo Marcos do Val as realizou ali ao lado da Rose de Freitas... No Vem Pra Rua, ainda ontem, ao vivo, milhares de votos...

    Agradeço os 86...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (PODE - PR) – Eu preciso agradecer os 86% de preferência. À revista Exame, da mesma forma.

    Vou parar por aqui, não vou ficar gastando tempo me referindo a outras enquetes, mas eu tenho que agradecer. Eu tenho que dizer que é um estímulo para que eu possa prosseguir.

    Não sou candidato à Presidência do Senado, retire o meu nome!

    Presidente Maranhão, retire o meu nome. Não sou candidato, mas estou, mais do que nunca, animado a prosseguir com independência nesta Casa, para defender aquilo que eu acredito que seja a causa da nacionalidade: uma instituição independente, onde o Presidente não se comporte como um chantagista do Executivo, e não se comporte, também, como um sabujo do Poder Executivo.

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (PODE - PR) – É isso que o Brasil quer, é isso que o Brasil exige.

    Eu vou continuar, Sr. Presidente, apesar do desalento, do desencanto, vou continuar ouvindo o Brasil. Eu aprendi a ouvir.

    Eu integro, hoje, o Podemos, porque ele adotou o exercício da democracia direta, que implica consulta popular. O meu nome só foi colocado porque o meu Partido realizou uma consulta popular. Eu vou continuar dessa forma. Perdoem-me os colegas quando discordar, porque eu procurarei estar sempre sintonizado com o povo do Brasil.

    Muito obrigado àqueles que eventualmente votariam em mim. Muito obrigado ao meu Partido, o Podemos, que propôs a minha candidatura, mas...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (PODE - PR) – ... eu estou renunciando agora para atender a uma aspiração nacional.

    A renúncia não é fácil, a renúncia não é um ato de covardia. A renúncia, nesta hora, é um ato de desprendimento.

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/02/2019 - Página 40