Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pesar pelo falecimento do jornalista Ricardo Boechat.

Insatisfação com a condução da Polícia Federal das investigações do atentado sofrido pelo Presidente Jair Bolsonaro.

Considerações sobre a gestão compartilhada do ensino nas escolas do Distrito Federal e de outros estados brasileiros.

Autor
Izalci Lucas (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/DF)
Nome completo: Izalci Lucas Ferreira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Pesar pelo falecimento do jornalista Ricardo Boechat.
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Insatisfação com a condução da Polícia Federal das investigações do atentado sofrido pelo Presidente Jair Bolsonaro.
EDUCAÇÃO:
  • Considerações sobre a gestão compartilhada do ensino nas escolas do Distrito Federal e de outros estados brasileiros.
Aparteantes
Nelsinho Trad, Styvenson Valentim.
Publicação
Publicação no DSF de 12/02/2019 - Página 41
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, MORTE, RICARDO BOECHAT, APRESENTAÇÃO, PESAMES, FAMILIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, CRIME, VITIMA, JAIR BOLSONARO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • COMENTARIO, COMPARTILHAMENTO, GESTÃO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, DISTRITO FEDERAL (DF), ESTADOS.

    O SR. IZALCI LUCAS (PSDB - DF. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, Senadores e Senadoras, antes de iniciar a minha fala, quero reforçar mais uma vez que parabenizo V. Exa. pela condução da eleição da Mesa e da composição também das comissões. V. Exa., apesar de muito novo, demonstrou realmente a sua capacidade de articulação e eu tenho certeza de que V. Exa. fará a diferença aqui no Senado Federal. Então, parabéns a V. Exa.

    Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, é com pesar que recebemos a notícia da morte de Ricardo Boechat. O Brasil perde um de seus melhores profissionais de comunicação, uma das maiores referências do jornalismo brasileiro. Boechat ganhou três vezes o prêmio Esso, escreveu para os principais veículos de imprensa do País, como O Globo, O Estado de S. Paulo, o Jornal do Brasil e O Dia. Atualmente era âncora da BandNews FM e do Jornal da Band.

    Com estilo único de informar, ganhou notoriedade também nas redes sociais e foi eleito o jornalista de maior prestígio em pesquisa realizada entre os profissionais da imprensa. Perdemos jornalista exemplar, mas acima de tudo um brasileiro que sempre defendeu de forma intransigente a democracia e a liberdade de imprensa do nosso País.

    Meus sentimentos, então, aos familiares e amigos do nosso jornalista e também, evidentemente, do nosso piloto Ronaldo Quattrucci, que estava junto com ele nesse acidente.

    Sr. Presidente, eu não tenho aqui procuração para cobrar de ninguém, Senador Kajuru, mas eu tenho o maior respeito, a maior admiração pela Polícia Federal. Acho que ninguém defendeu mais do que eu aqui, como Deputado, essa categoria tão respeitada e que presta um grande serviço ao País, mas eu não poderia, também, deixar de cobrar aqui o que o nosso Presidente cobrou neste final de semana. Não é possível que, no nosso País, onde temos os melhores profissionais da segurança pública, da Polícia Federal, a população ainda desconheça a questão do atentado que ocorreu nas eleições. É simbólico. Foi com o nosso Presidente da República. A população precisa e tem que saber quem financiou esse atentado. E sei que a Polícia Federal tem todas as condições de apurar e de passar para o povo brasileiro exatamente essa segurança de que as coisas aqui são levadas a sério, com competência. Basta verificar os vídeos, convocar algumas pessoas. Eu sou contador, sou auditor, não sou policial federal, mas, com o pouco que eu vi, daqui a pouco eu vou estar informando para a população brasileira quem fez tudo isso, quem patrocinou tudo isso. Acho que o Presidente tem razão.

    Eu ouvi aqui, Sr. Presidente, algumas cobranças – não só hoje – de medidas do Governo, mas é bom lembrar sempre que nós ainda estamos no início de um processo e precisamos resgatar o País da formação de uma quadrilha que foi feita para saquear os cofres públicos. Destruíram o nosso País, aparelharam o nosso País... Não vai ser fácil, não é da noite para o dia que nós vamos resgatar e colocar realmente nosso País no eixo. Portanto, nós temos que ter um pouquinho de paciência.

    O nosso Presidente, evidentemente, não é massa de manobra. Ele sabe a experiência que teve como Parlamentar e ele quer participar. Não adianta apenas os economistas mandarem para esta Casa, para o Congresso Nacional, as reformas sem passar por ele. E todos sabem que ele está internado e precisa realmente de um tempo a mais. Acredito, espero que Deus o ilumine e possa lhe dar muita saúde para que ele possa voltar às atividades o mais rápido possível.

    Mas as reformas são estruturais, são importantes, e eu tenho certeza de que uma semana a mais, uma semana a menos... Enquanto isso nós vamos conversando entre nós, os Parlamentares. Todos nós sabemos do nosso compromisso e da importância dessa matéria, que, como disse aqui na última sexta-feira, é uma matéria suprapartidária. Isso é bom para o País. Não se está discutindo aqui a questão partidária.

    Então, eu faço aqui um apelo ao Diretor da Polícia Federal, a todos os policiais federais para que possam dar uma satisfação para a sociedade brasileira, pelo menos, de imediato, sobre quem financiou esses advogados que patrocinaram a causa do Adélio Bispo de Oliveira.

    Mas, aproveitando aqui, Sr. Presidente, a presença do nosso querido Senador Styvenson – eu vi o vídeo de V. Exa. –, hoje nós começamos aqui no Distrito Federal o ano letivo. As aulas começaram hoje, e iniciamos uma experiência em quatro escolas: a questão da gestão compartilhada.

    É um assunto polêmico, de certa forma, aqui, mas nós já temos mais de cem escolas no Brasil com esse modelo. Aqui em Goiás, quase 50. O Senador Kajuru pode testemunhar isso. Eu conheci aqui, na região metropolitana do Distrito Federal, algumas escolas, e faz, sim, a diferença.

    Não sei se o vídeo era de V. Exa., mas depois percebi esse vídeo da escola que V. Exa. comandou lá no Rio Grande do Norte e que foi um sucesso. E eu tenho certeza absoluta de que o que falta na educação é a disciplina, hierarquia, respeito; é cuidado com a coisa pública. Eu tenho certeza de que, com esse encaminhamento de colocar os professores, evidentemente, cuidando da questão pedagógica, mas em se cuidando realmente da questão disciplinar, da questão administrativa, com uma boa gestão, nós vamos mudar a educação do nosso País. São coisas simples, Senador Kajuru. Não é complicado consertar e melhorar a nossa educação.

    Sei que V. Exa. teve a experiência. Nós aqui iniciamos hoje com quatro escolas, em centro educacional, no ensino médio também, na Ceilândia, no Recanto das Emas... Exatamente no Centro Educacional nº 7 da Ceilândia; no Cento Educacional da 308, no Recanto das Emas; o Centro Educacional nº 1 da Estrutural; e o Centro Educacional nº 3 de Sobradinho. Na Estrutural, no Recanto das Emas e em Ceilândia, essas escolas foram escolhidas exatamente pelos critérios socioeconômicos, também pela questão da violência na escola e pela questão do rendimento escolar.

    Então, espero e tenho certeza... Com essa iniciativa, há uma proposta do Governo de expandir pelo menos para 20; depois, até o final do Governo, até 200 escolas. Eu espero que a gente consiga realmente, com esse modelo, mudar esse quadro que está aí.

    O Sr. Nelsinho Trad (PSD - MS) – Um aparte Senador.

    O SR. IZALCI LUCAS (PSDB - DF) – Pois não, Senador Nelsinho.

    O Sr. Nelsinho Trad (PSD - MS) – Senador Izalci, eu gostaria também, na mesma esteira em que V. Exa. parabenizou o Senador Styvenson, parabenizá-lo, dizendo que, quando eu fui Prefeito de Campo Grande – eu fui Prefeito da capital do Mato Grosso do Sul durante oito anos, na gestão 2005-2012 –, nós tivemos essa experiência lá atrás, caros Senadores. E, realmente, em todas as escolas a que a gente apresentou a gestão compartilhada, o desempenho administrativo e até mesmo didático foi realmente notável e se destacou das demais.

    Além disso, lá também nós idealizamos desde o nascimento, na planta, duas escolas por tempo integral, com metodologia diferenciada, em que os professores foram capacitados com finalidade totalmente voltada a essa questão. E qual foi a nossa surpresa? O desempenho dessas escolas na prova do Ideb. Então, fica aqui esse registro.

    Aproveito para parabenizar V. Exa. também pelo vídeo, porque tudo que se faz pela educação ainda assim é pouco. Temos que fazer cada vez muito mais.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODE - RN) – V. Exa. me permite?

    O SR. IZALCI LUCAS (PSDB - DF) – Com prazer.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODE - RN) – Muito obrigado por essa lembrança. Esse vídeo eu acho que faz uns dois anos e ainda está viralizando nas redes sociais. Eu vi hoje, li no Correio Braziliense, sobre as escolas, essa iniciativa do Governo de colocar o policiamento de forma compartilhada, a Polícia Militar ali, com a parte administrativa e disciplinar.

    A gente fez algo prematuro no meu Estado, na capital, no Rio Grande do Norte. Escolhemos escolas, uma escola em área de periferia, em área de risco, em área de vulnerabilidade. E o interessante, Senador Nelsinho, é que essa escola estava desacreditada pela própria comunidade. Olhe, veja bem: é uma comunidade de risco, vulnerável, pessoas que dormem e acordam com a criminalidade, com a droga, alto índice de prostituição, dependência química. Eu vou mais além: a gente colocou lá... Foi meio controversa, causou uma polêmica no início a nossa participação com a gestão escolar. Os professores ficaram com a questão pedagógica, com a questão de gerir a escola, e nós, policiais, ficamos com a parte de ordem, disciplina e segurança. Isso gerou uma polêmica muito forte lá na capital. E outra polêmica foi gerada pelo exame toxicológico. O que é isso, Senador Nelsinho?

    Senador, para combater a droga hoje não é só apenas retirar o traficante. Para se combater droga tem que evitar que a criança, que o jovem entre na droga. Então, como a gente criou um ambiente escolar favorável, um ambiente escolar em que as crianças queriam estar, elas querem permanecer na escola... Saiu de 30 alunos para 500, e eu recebi aqui mensagem hoje da diretora de que nós não temos mais vagas. E é um modelo que deu certo, é um modelo de policiamento e professores convivendo no mesmo espaço que deu certo para formação... Eu não digo só do Ideb, eu não digo só da questão da escolha profissional, porque antes não tinham um sonho aquelas crianças, não queriam ser advogados, não queriam ser médicos, não queriam ser nada, e hoje elas querem ser alguma coisa, porque têm na educação uma possibilidade. Só não querem ser bandidos. Só não querem mais confrontar a Polícia Militar dentro daquela área de risco.

    Então, esse exame toxicológico foi importante porque ele, sabendo que vai ser fiscalizado, Senador... Se hoje o jovem, o adulto, o adolescente, qualquer pessoa em qualquer lugar que esteja, se ele souber que vai haver uma fiscalização, ele evita cometer aquele ato. Eu digo isso por ter 15 anos de Polícia Militar e por ter atuado em uma operação chamada Lei Seca no meu Estado. Eu vi que a lei sozinha não ia causar efeito nenhum, mas, se nós colocássemos uma rigidez na fiscalização e a certeza de que ia haver uma punição, evitaríamos muita coisa.

    Então, que isto seja aplicado: esse modelo não só do compartilhamento da Polícia Militar com o educador, em que eu não vejo problema nenhum... Se os educadores quiserem vir debater sobre esse assunto, estamos abertos a isso, porque eu não vejo problema nenhum com ordem e disciplina. Até hoje eu não consigo entender quem tem este problema, dentro da sociedade, em seguir normas, em seguir regras. Aqui eu percebo que entre Senadores existe uma regra, que todos nós, por paridade, seguimos. Não existe nenhum maior que o outro, nenhum melhor que o outro... Só em estatura, não é?

    O SR. PRESIDENTE (Davi Alcolumbre. Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - AP) – Se for na altura e no tamanho, V. Exa. ganha de todos. Se for na largura, eu começo a competir com V. Exa. (Risos.)

    O Sr. Styvenson Valentim (PODE - RN) – Acho que precisamos fazer uma dieta para poder durar mais, não é?

    O SR. IZALCI LUCAS (PSDB - DF) – Na largura, a concorrência é grande.

    O Sr. Styvenson Valentim (PODE - RN) – Então, para deixar claro aqui que foi feito esse trabalho, está sendo feito esse trabalho de... Os pais concordaram. Aos poucos pais que não concordam com o exame toxicológico, eu faço o questionamento: o porquê de não querer, o porquê de não querer preservar seu filho de entrar na droga, o porquê de não aceitar. E não é um exame caro diante do custo que a droga causa para a sociedade.

    Então, não se combate mais com eficiência – digo isso em função de 15 anos de policiamento – o tráfico de drogas prendendo traficante, endurecendo pena para traficante, porque, se existe o consumo, se existe a pessoa que vai comprar, se se prende um traficante, logo, logo outros vão entrar, porque é um comércio realmente lucrativo porque há muito consumidor.

    Então, aplicar em níveis escolares e em níveis universitários exames toxicológicos é uma forma de combater a entrada da pessoa no consumo da droga, com a perda de sua dignidade, de seus sonhos. As pessoas podem dizer: "Não, esse capitão está errado!". Eu trabalhei 15 anos – eu trabalhei 15 anos –, como policial militar, com comunidades, com a sociedade. Eu sei do que estou falando perfeitamente bem, tanto do álcool... Seria outra ideia que a gente poderia discutir aqui: as propagandas excessivas nas televisões corrompendo os nossos jovens, porque em nenhum momento se coloca propaganda de bebida alcoólica mostrando a realidade, as brigas dentro das residências, as mortes no trânsito. E o jovem acha aquilo muito lindo. Quando eu era adolescente, quando eu era mais jovem, eu achava muito bonitas as propagandas de cigarro. Por quê? Porque nunca mostravam realmente um câncer de pulmão, um câncer de laringe, de faringe, nunca se mostrava nenhum diagnóstico desses durante a propaganda.

    Então, fica aqui só essa... Já que o senhor é um defensor da educação, como eu, como todos que estão aqui...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Styvenson Valentim (PODE - RN) – Para a segurança pública, para a segurança das famílias, para a manutenção da vida, o tema que eu trouxe aqui – exame toxicológico para crianças, para adolescentes, para universitários, evitando o consumo – envolve segurança pública, envolve saúde pública, envolve cidadania, envolve muitas coisas juntas. Então, em um simples ato, que não é caro, a gente pode corrigir e combater esse problema, essa peste que é hoje a droga na nossa sociedade.

    Muito obrigado.

    O SR. IZALCI LUCAS (PSDB - DF) – Eu não tenho nenhuma dúvida, Senador...

    Primeiro quero parabenizar aqui a Polícia Militar do DF. Eu tive oportunidade de, em 1994, implantar aqui, no DF, o Proerd, que é um programa da Polícia com relação à prevenção das drogas nas escolas. A gente sabe como isso foi importante naquele momento. Só que, hoje, essa questão das drogas ficou muito mais grave. A escola era um lugar sagrado, onde você colocava seus filhos e ficava despreocupado. Hoje não. Hoje talvez seja um dos locais mais vulneráveis com relação às drogas.

    Portanto, eu sei que é bonita essa questão do discurso, da pedagogia, e eu defendo isso – eu sou professor, eu estou Senador; eu sou contador, eu estou Senador –, mas nós temos que ver a prática, a realidade. Há várias escolas, particulares inclusive... Aqui em Brasília são dez que iniciaram agora o mesmo sistema na rede privada. E eu tenho certeza...

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. IZALCI LUCAS (PSDB - DF) – É, inclusive cortando o cabelo das crianças, exigindo uniforme, as meninas com coque etc. Tem realmente que haver disciplina.

    O que falta na educação é diminuir um pouquinho os discursos, que são muitos, e aplicar recurso e ação. E essas ações práticas são fundamentais. Sei que há resistência no início, mas é um debate que nós temos que promover aqui, porque onde foi implantado deu certo, não há vaga em nenhuma dessas escolas que iniciaram esse processo.

    Portanto, desejo ao GDF muito sucesso nessa iniciativa. Vamos apoiá-la com certeza. E espero que a gente possa, de fato, colocar a educação como prioridade, não apenas com discurso, mas com ações como essa.

    Por isso, parabenizo V. Exa. no Rio Grande do Norte: uma escola, mas fez a diferença na comunidade. E eu tenho certeza de que vamos fazer a diferença aqui também, no Senado.

    Presidente, agradeço a V. Exa. pela tolerância.

    Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/02/2019 - Página 41