Discurso durante a Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro do transcurso de um ano desde atentado com arma de fogo em escola nos Estados Unidos da América (EUA) em que estudava a filha de S. Exª, e posicionamento contrário à flexibilização do uso de armas no Brasil.

Autor
Eduardo Girão (PODE - Podemos/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA:
  • Registro do transcurso de um ano desde atentado com arma de fogo em escola nos Estados Unidos da América (EUA) em que estudava a filha de S. Exª, e posicionamento contrário à flexibilização do uso de armas no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 15/02/2019 - Página 66
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA
Indexação
  • REGISTRO, ANIVERSARIO, ATENTADO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMENTARIO, CONTROLE, ARMA DE FOGO, CRITICA, LIBERAÇÃO, FACILIDADE, ACESSO, PORTE DE ARMA.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE. Para discursar.) – Presidente, Senador Izalci, que eu muito admiro, Senador Dário Berger, Senador Reguffe, um homem que eu já admirava há muitos pelas causas e pelos ideais que abraça aqui nesta Casa, hoje é um dia muito especial para mim. O dia 14 de fevereiro de 2019 marca um ano de uma tragédia que aconteceu em Parkland, nos Estados Unidos, com a minha filha, o que me deixou muito tocado e me fez entrar na política após mais de 15 anos recebendo convites pelas causas que eu abraço em defesa da vida, em defesa da família.

    Eu sempre achei que poderia influenciar sem estar na política partidária, sempre como cidadão, como um ativista. Vim várias vezes ao Senado e à Câmara dos Deputados falar com os nobres Senadores e com os nobres Deputados para não votarem determinadas matérias com certo foco que afrontasse esses valores, esses princípios que eu acredito e que os movimentos de que eu participo, como o movimento contra as drogas, acreditam.

    No dia 14 de fevereiro de 2018, um ano atrás exatamente, acredito que neste mesmo horário, por conta do fuso, eu estava em grande aflição. Eu sou cristão – nem por isso sou melhor ou pior do que ninguém e sei disso, são as atitudes do dia a dia que mostram quem a gente é –, mas, naquele momento, eu fraquejei na minha fé por alguns instantes. Eu fui buscar a minha filha em uma escola e estava lá dentro um atirador, um jovem de 18 anos, que fez um mar de sangue no andar dos novatos, onde a minha filha estava. Ele adquiriu uma arma legalmente. Nos Estados Unidos, o acesso a armas de fogo é muito fácil; é uma cultura americana que vem desde a independência. Aquele jovem, que tinha problemas mentais... Não é uma coisa... Hoje, por força de algum distúrbio que você possa ter, como a depressão, por exemplo, que é um grande mal, você pode estar bem, mas você pode ter um problema e, numa atitude impensada, num desequilíbrio, numa briga com os pais, numa briga com o chefe, numa discussão de trânsito, você pode estragar a sua vida e a de outras pessoas pelo resto dos seus dias. E foi isso que aconteceu naquela tarde do dia 14 de fevereiro de 2018, quando eu vi a aflição de centenas de pais, de centenas de alunos, e 17 vidas foram ceifadas em poucos minutos.

    Por um livramento, Senador Izalci, por um livramento de Deus, minha filha foi poupada, mas ela viu tudo: viu suas colegas, seus colegas serem assassinados, com a juventude, com os sonhos todos pela frente; viu professor, em sala de aula, ser morto. As aflições que eu passei naqueles minutos – depois me acalmei, após uma oração com meu filho, que também estava na escola, mas em outro departamento –, para mim, foram um chamamento para entrar na política humana, na política partidária.

    Nada acontece por acaso, Senador Izalci. Esse assunto eu venho estudando há mais de 15 anos. É uma das causas da minha vida. A arma de fogo é um instrumento que foi concebido, no século XV, com um objetivo: matar – a gente não tem como dourar a pílula sobre isso. A humanidade está avançando cada vez mais para a sensibilidade, para a preservação de vida humana. E eu acredito muito que um controle de armas rigoroso é o que um país que realmente defende a vida, que defende realmente valores e princípios deve adotar.

    Eu trouxe aqui alguns dados, neste dia tão importante, que mostram que, segundo o Atlas da Violência, houve cerca de 63 mil brasileiros assassinados em 2016, e 71% dessas mortes ocorreram por armas de fogo.

    Há outro dado importante para o que nós não podemos tapar os olhos neste momento em que se visa resolver o problema da segurança pública, que é grave – concordo plenamente, o problema que vivemos hoje de segurança pública é gravíssimo. Respeitando quem pensa diferente, eu acredito que, a partir do momento em que você libera arma de fogo e torna o acesso fácil, especialmente para o porte, que é o grande perigo, é como se você quisesse apagar o incêndio da segurança pública jogando querosene, jogando gasolina. Acredito que o número de mortes vai ser muito maior se nós cometermos este equívoco que é facilitar, no Brasil, na nossa Nação, o acesso à arma de fogo.

    Um dado estatístico que vem comprovar essa linha de pensamento é que 80% das pessoas que reagem a um assalto e estão armadas ou perdem a arma ou perdem a vida.

    E é uma dedução lógica. Essa arma, ela vai migrar para onde? Para o crime organizado. Então, é muito importante que a gente perceba que o efeito surpresa numa abordagem é sempre do bandido. Ele não vai mandar um e-mail, um "zap-zap", dizendo a hora que ele vai atacar. Eu acredito que as polícias, sim, devem ter não apenas treinamentos, armamentos de última geração, pesados, porque são pessoas que são vocacionadas, como outros profissionais de segurança. Mas, a partir do momento que se libera o acesso à arma de fogo para a população, especialmente o porte, eu acredito ser muito temerário.

    Imagine você, uma simples briga de trânsito neste momento de estresse que nós vivemos uns com os outros, de intolerância, de desequilíbrio...

    A minha avó dizia, Senador Izalci, que nós temos cinco minutos de burrice por dia, pelo menos. E, nesses cinco minutos de burrice, a gente pode cometer um erro de que podemos nos arrepender para o resto da nossa existência.

    Então, é muito importante que a gente perceba! Briga de trânsito, que está cada vez mais frequente... Imagine os dois armados nos carros. O problema que a gente pode ter para quem está ao redor, para os dois que estão ali naquele conflito momentâneo? Uma briga de bar! Como diz o Senador Cristovam Buarque, o Brasil vira um botequim a céu aberto, especialmente nos finais de semana. Então, uma briga de bar, discutiu, já tem o efeito do álcool na consciência, você pode ali numa briga, com acesso fácil a arma, matar até vidas inocentes.

    Então, algo que poderia acabar numa UPA, com um curativo, tem uma tendência muito maior de acabar em um cemitério, com famílias e famílias chorando a morte dos seus entes queridos. Algo que é irreparável, porque a vida tem um valor completamente irreparável, a perda de uma vida.

    Então, eu queria colocar que as armas, segundo um estudo que aconteceu nos Estados Unidos, no jornal Pediatrics, os pediatras americanos, morreram, em média, entre 2012 e 2014, 1.297 jovens por acidentes com arma de fogo.

    Segundo o mapa da violência – isso é muito importante, é um estudo que é feito – o Estatuto do Desarmamento, mesmo sem ser aplicado... Não estou aqui defendendo o Estatuto do Desarmamento, porque eu acho que precisa de algumas correções, como a questão da objetividade para a concessão de armas pela Polícia Federal. Acredito que tem que ser a Polícia Federal uma entidade acreditada pelo povo brasileiro e que deve continuar controlando essas concessões de arma de fogo. Agora, é muito importante que a gente perceba que, segundo o mapa da violência que entrou em vigor em 2003, que entrou em vigor em 2003, o Estatuto do Desarmamento, com as falhas que existem no estatuto como, por exemplo, a aplicação que nós precisamos reparar, uma aplicação mais efetiva de blitz, de buscas e apreensões nas ruas para a retirada de armas Ilegais... Isso não houve infelizmente no Brasil como política pública dos últimos governos, um foco na retirada dessas armas. Então, mesmo assim, com essas falhas, foram poupadas 160 mil vidas a partir da entrada em vigor do estatuto em 2003.

    Eu não quero entrar aqui na questão do suicídio, que facilita, segundo estudos internacionais, o acesso a arma de fogo, acidentes com crianças. Então, nós precisamos ter neste momento muita serenidade para que a cultura da paz seja estabelecida. Temos muitas medidas para tratar, mas a gente precisa ter cuidado para não fazer com que o problema se torne mais grave para as famílias, para os brasileiros.

    Eu queria encerrar este dia, este meu pronunciamento, que toca profundamente na minha alma e agradecer a Deus, agradecer muito a Deus pela vida da minha filha, me confortar pelos familiares que foram mortos nessa tragédia, nessa chacina, nesse atentado e dizer, terminar com uma passagem de Jesus. Jesus, o grande pacifista da humanidade, que dedicou duas passagens do Sermão da Montanha à paz. Ele dizia: "Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra". E a outra passagem diz: "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus". Nem mansos, nem pacificadores combinam com arma de fogo.

    Que Deus abençoe a todos.

    Muito obrigado pela atenção.

    Muita paz.

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - DF) – Parabéns pelo pronunciamento de V. Exa., que era o último inscrito, mas indago...


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/02/2019 - Página 66