Discurso durante a 13ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a importância das mudanças no contexto político que a sociedade almeja e expectativas em torno da condução do Governo Federal.

Ponderações sobre as desigualdades de riqueza no País.

Comentários sobre a necessidade da reforma da previdência, juntamente com auditoria da dívida pública e reforma do sistema financeiro, para o equilíbrio nas contas públicas.

Autor
Alvaro Dias (PODE - Podemos/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Reflexão sobre a importância das mudanças no contexto político que a sociedade almeja e expectativas em torno da condução do Governo Federal.
ECONOMIA:
  • Ponderações sobre as desigualdades de riqueza no País.
PREVIDENCIA SOCIAL:
  • Comentários sobre a necessidade da reforma da previdência, juntamente com auditoria da dívida pública e reforma do sistema financeiro, para o equilíbrio nas contas públicas.
Aparteantes
Confúcio Moura, Eduardo Girão.
Publicação
Publicação no DSF de 23/02/2019 - Página 34
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > ECONOMIA
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
Indexação
  • COMENTARIO, VONTADE, POVO, ALTERAÇÃO, POLITICA, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, DESIGUALDADE SOCIAL, RENDA, PAIS.
  • DEFESA, APROVAÇÃO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL, NECESSIDADE, AUDITORIA, DIVIDA PUBLICA, ALTERAÇÃO, SISTEMA, FINANÇAS.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR. Para discursar.) – Obrigado, Presidente.

    Abençoada a sexta-feira porque nos permite constatar que há Senadores tentando fazer a leitura correta do que se passa nas ruas do País. Nós ouvimos sempre que é preciso ouvir a voz das ruas. Ficamos muitas vezes no discurso, porque muitos se recusam a colocar o rosto na janela para ver o que se passa nas ruas do País verdadeiramente. E nós tivemos uma grande oportunidade, que foi a campanha eleitoral recente, para constatarmos que vivemos numa sociedade em movimento. Esse movimento se tornou perceptível a partir de 2013, quando multidões foram às ruas do País protestar, combater corrupção e exigir mudanças. Depois vivemos o processo eleitoral de 2014 e chegamos a 2018. Eu tive a primazia de modestamente participar de uma eleição presidencial e pude percorrer alguns Estados brasileiros e conhecer mais de perto as distorções existentes, as contradições, este contraste gritante entre a riqueza, a bastança e a prosperidade e a miséria, o infortúnio e a infelicidade, que assaltam milhares de lares brasileiros, colocando 52 milhões de irmãos nossos abaixo da linha da pobreza. E nós estamos vivendo agora este momento, que é uma transição para o futuro do País, que não pode ser desperdiçado na irresponsabilidade pública, na omissão, na leniência ou na incapacidade de ler, aprender e promover as mudanças que a Nação exige.

    Eu entendo sempre que o político capaz é aquele que se antecipa aos fatos. No entanto, Senadores Girão, Styvenson, Confúcio e Izalci, nós temos que ser agora um pouco condescendentes, eu diria até generosos, e, com muita paciência, aguardar os acontecimentos para verificar se o Governo eleito fez a leitura correta e vai se expressar diante da sociedade brasileira atendendo às exigências da coletividade. Porque ficou perceptível a existência no inconsciente coletivo, desde a antevéspera da campanha eleitoral última, que havia um movimento que se tornaria avassalador e promoveria uma mudança radical. Muitos de nós – e eu me propus a ser candidato exatamente por isto – imaginávamos poder catalisar esse movimento de mudança. Bolsonaro foi mais competente do que nós e conseguiu convencer a opinião pública de que ele seria o agente adequado para essa mudança. Se a escolha foi adequada, o tempo dirá. Só o tempo dirá. Nós temos que aguardar.

    Estamos para colaborar, para contribuir. Queremos ser também mensageiros desta tarefa de construção de um Brasil melhor e, por isso, vamos aguardar com paciência – quem sabe 100 dias, 120 dias – para verificar, numa postura de independência, como se conduz o Governo eleito no ano passado.

    Eu fico feliz de ver a nossa Bancada do Podemos sempre presente, com os novos Senadores, o Girão, o Styvenson, o Lasier e todos os outros que já estavam no partido, presentes no dia a dia, tentando fazer a leitura do que deseja o povo brasileiro nesta hora de mudança.

    Eu repito que tive uma grande oportunidade. Gostaria de poder ter percorrido mais o País, mas as condições financeiras, materiais, nos limitaram. Mas, de qualquer forma, tive oportunidade de conhecer melhor e ficar encantado, ficar encantado com as belezas naturais, com as extraordinárias potencialidades econômicas, mas, de outro lado, de nos entristecer com a pobreza e a miséria, especialmente ao deixar as grandes cidades, os grandes centros urbanizados e verificar, na periferia, os casebres, as choupanas, os barracos, abrigando famílias pobres, sem esperança e sem futuro, massacradas pelas injustiças sociais flagrantes que moram a partir de Brasília no Estado brasileiro.

    Eu tive a oportunidade – agora ainda recebi uma ligação do Vittorio Medioli, Prefeito de Betim, em Minas Gerais – de sobrevoar, com o helicóptero do amigo Medioli, as montanhas de Minas Gerais. Ele apontava e dizia: "Aquela montanha tem a maior concentração de minério do mundo". E eu ficava empolgado com aquela riqueza, mas olhava abaixo e via um povo pobre, um povo miserável. Como admitir tamanho contraste? E, agora, ainda com maior tristeza, nós verificamos que toneladas de minérios foram exportadas e produziram um mar de lágrimas em meio ao mar de lama que se formou com o rompimento de uma barragem, que se deu em razão da irresponsabilidade de governantes, de administradores do setor público e privado, em razão da omissão. Esse crime que se praticou em Minas Gerais, em Brumadinho, trata-se de crime doloso, e não apenas crime ambiental, porque o que se deu foi um assassinato em massa. E há que se punir, responsabilizar civil e criminalmente. Não basta a retenção de recursos, o boqueio de valores para uma eventual indenização; é preciso o exemplo da prisão, da responsabilização criminal a mais rigorosa possível para que se evite logo a seguir um novo espetáculo degradante desta violência incontida contra seres humanos, a exemplo do que ocorreu antes em Mariana, também em Minas Gerais.

    Nós estamos dissertando sobre um pouco do que vimos na campanha como o retrato do Brasil. E é por esta razão que, muitas vezes, ao caminhar pelas ruas, eu ouvia a voz do povo.

    Alguém, em Uberlândia, no interior de Minas Gerais, chega e diz: "Eu moro ali debaixo daquela árvore. Eu não tenho casa, eu não tenho família, eu não tenho emprego, eu não tenho salário... Mas não fale em pobreza. Fale em oportunidades, porque, se eu tivesse oportunidade, eu não estaria ali". Ele olhava um prédio à frente, uma obra paralisada em razão do superfaturamento, da corrupção – o Ministério Público impediu a sua continuidade –, a obra de um hospital, e dizia: "Me traga uma motoniveladora. Eu a dirijo e derrubo esse prédio, porque eu tenho capacidade para isso. Mas não tenho oportunidade, por isso vivo debaixo da árvore. Não fale mais em pobreza. Fale em oportunidades". Ou alguém chega e diz: "Logo ali há uma mansão. Três televisores grandes, três geladeiras... Eu só queria um televisor e uma geladeira. Ali há uma imensa área de 10 mil metros quadrados para construção de uma mansão. Eu só queria 50 metros quadrados para construção de uma pequena moradia para minha família".

    É o retrato do Brasil dos contrastes. Nós somos 62 milhões de endividados no Brasil em razão de um sistema financeiro que se transformou em verdadeiro monstro nos fazendo de reféns dele, massacrados que somos pela ambição desmedida do lucro de bancos que se instalam no País para a sua abastança, para a abastança e a prosperidade dos seus proprietários e, obviamente, o sacrifício de um povo trabalhador que vive neste País. Nós temos que refundar realmente a República. Esse divórcio não pode persistir.

    Quando eu pregava a refundação da República, muitos diziam: "Mude o discurso; as pessoas não entendem". É subestimar a inteligência das pessoas, porque elas entendem, sim; elas vivenciam esse divórcio que há entre o Estado e a sociedade. Esse divórcio destrói a República, transforma a República em falácia. Esse divórcio é a razão do infortúnio de muitos. Esse divórcio provoca a revolta contra os privilégios das autoridades, alguns deles dissertados há pouco aqui pelo Senador Jorge Kajuru e pelo Senador Eduardo Girão.

    Enfim, nós estamos agora para discutir a reforma da previdência. E o nosso partido se reúne na próxima terça-feira para conhecer, na íntegra, o projeto do Governo e debater o tema.

    O que nós verificamos é que colocam a reforma da previdência como se fosse o próximo milagre: "Porque a reforma da previdência vai resolver todos os problemas do País", mas se esquecem de colocar o dedo em outras feridas que, certamente, provocam a crise que nós estamos vivendo.

    Quem acompanha os números das contas públicas do Governo Federal constata que o déficit nos assombra e cresce. Muito certamente, lá na Avenida Paulista ou em qualquer cidade pequena do interior do País, a exemplo do que ocorre em lugares longínquos deste País, não se aperceberam ainda da gravidade da destruição que houve, nos últimos anos, das finanças públicas no nosso País. Houve uma destruição. E certamente o déficit público crescente, a dívida pública que cresce de forma avassaladora nos engolem. E não é a reforma da previdência que, por si só, resolverá os problemas do País.

    Quem acompanha os números de maneira mais atenta já observou que o déficit nominal está sempre presente nas contas do Governo nas últimas décadas. Isso significa que o Brasil não consegue pagar sequer a totalidade dos juros da dívida ao longo dos anos.

    Vamos lá.

    Em 2018, o déficit primário foi de R$108 bilhões; os gastos com juros somaram R$379 bilhões, resultando um déficit nominal de R$487 bilhões, o que equivale a 7,09% do Produto Interno Bruto. Um País que paga de juros mais de 7% do Produto Interno Bruto anualmente.

    As contas do Governo padecem de uma desestruturação sistêmica. Trata-se de uma desagregação ampla, que não será corrigida apenas com a reforma da previdência, que, de fato, precisa ter suas regras aperfeiçoadas. A reforma do sistema financeiro e a reestruturação dos mecanismos de gestão da dívida pública são ações indispensáveis ao Governo Federal, sob pena de manter, de apenas maquiar, no curto prazo, a situação das contas públicas do nosso País.

    O Ministro Paulo Guedes vem destacando que o objetivo da reforma da previdência é gerar uma economia de pelo menos R$1,16 trilhão em dez anos. Isto é salutar, mas está longe de ser suficiente, muito longe de ser suficiente.

    Considerando um cenário com essa reforma da previdência realizada, fica a questão posta: os recursos que serão economizados serão utilizados de que forma? Serão utilizados para pagar juros da dívida pública e o custo elevado da máquina pública ou serão aplicados em investimentos como infraestrutura e educação? Caso o que for economizado com a reforma da previdência, que é uma reforma necessária, seja utilizado para pagar os juros estratosféricos do endividamento da União e o elevado custo da máquina pública, não teremos mudanças estruturais de fato e a transferência de renda para os mais ricos continuará ocorrendo de forma perversa.

    Para constatar isso, basta fazer conta. Esse R$1,1 trilhão que se pretende arrecadar em dez anos com a reforma da previdência, caso outras reformas não sejam realizadas para reduzir o custo da máquina e da dívida pública, essa economia com a previdência não seria suficiente para pagar os juros da dívida durante três anos. Aparentemente, é um grande valor, mas a análise nos leva a concluir que é insuficiente. Considerando o déficit total, o dinheiro economizado com a reforma da previdência seria consumido em apenas dois anos e meio.

    É bom destacar, Senadores, que o atual Governo precisa se dar conta de que essa política do teto de gastos não será respeitada sem medidas duras, tecnicamente qualificadas para conter esse processo de endividamento público e a elevação do déficit público, que se dá sem ser contido, porque, até este momento, não assistimos à adoção de medidas que possam contê-lo efetivamente.

    A dívida bruta do Governo fechou o ano de 2018 com a cifra de R$5,2 trilhões, de acordo com metodologia adotada pelo Banco Central, o que significa 76,7% do PIB. Essa dívida cresceu nos últimos dez anos de forma assustadora. Utilizando a metodologia internacional que o Banco Central utilizava até 2007, o total da dívida é de R$5,9 trilhões, o que significa 86,4% do Produto Interno Bruto.

    Considerando os dados obtidos com a metodologia do Banco Central, R$1,1 trilhão, correspondente às operações compromissadas do Banco Central, significa 16,4% do PIB. Portanto, as operações compromissadas do Banco Central já alcançam o percentual de 16,4%. Em 2006, eram de apenas 3,2% do PIB. Em 2006, somavam R$77,3 bilhões. Agora, R$1,1 trilhão. Em dezembro de 2018, o volume de dívida com as operações compromissadas – eu repito – chegava a R$1,1 trilhão.

    Esse instituto da operação compromissada deixou de ser uma ferramenta utilizada com parcimônia na administração da política monetária e se tornou um mecanismo improvisado de financiamento da dívida pública. O Governo esconde por detrás das operações compromissadas o financiamento da dívida pública, o que a impulsiona e eleva as taxas de juros, porque os bancos são privilegiados com este cliente formidável que é o Banco Central, que é o Governo da República. Eles não precisam concorrer no mercado e, com isso, não há redução das taxas de juros para o setor privado. Já que os bancos – e são cinco grandes bancos que operam no País – possuem o privilégio deste cliente extraordinário que é o Governo, pagando altas taxas de juros, não dependem do setor privado, não dependem do mercado para as suas operações de lucro.

    Portanto, o instituto da operação compromissada precisa ser revisto, analisado. O uso descomunal desse instituto transformou o Banco Central em uma fonte segura e atrativa de remuneração, com risco mínimo, visto que compra o dinheiro disponível dos bancos em troca de títulos públicos em operações de curto prazo, dispensando os bancos de competir no mercado em busca de clientes. Funciona como um financiamento de boutique, configura um mecanismo de transferência de recursos dos contribuintes para os principais participantes do mercado financeiro e uma alavanca para o aumento da dívida pública.

    Por que só se fala em reforma da previdência, que atinge os mais fracos, e não se fala em reforma do sistema financeiro, que alcança os poderosos? Essa é a indagação que se faz. Eu cobrei muito, nos últimos anos, nos últimos Governos. Fiz essa cobrança insistentemente. E será que teremos que continuar fazendo essa cobrança no novo Governo, que emerge de uma vontade inabalável do povo brasileiro de mudar o País? É o que estamos pressentindo, porque nesse campo ainda não caminharam. Não presenciamos um passo sequer na direção de uma mudança em relação a este monstro que nos faz reféns, o monstro do sistema financeiro.

    De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o custo com juros da dívida pública é extremamente elevado do Brasil, próximo a 7% do PIB. A média da OCDE não chega a 2%.

    E como não rever isso? Eu pedi, colegas, uma auditoria ao Tribunal de Contas, uma auditoria da dívida pública. Aliás, é da Constituição o impositivo de que caberia ao Executivo realizar uma auditoria da dívida externa. Trinta anos depois, essa auditoria não se deu.

    Daqui do Senado, com os instrumentos limitados que possuímos, pedi ao Tribunal de Contas uma auditoria da dívida pública. Obviamente, o Tribunal de Contas não tem quadros suficientes para um trabalho de profundidade como o caso exige, mas realizou um trabalho que já nos mostrou distorções.

    O Tribunal de Contas identificou que dois comandos da Lei de Responsabilidade Fiscal não foram cumpridos em relação à dívida pública no País. Um deles, previsto no art. 32, §4º da Lei de Responsabilidade Fiscal – aliás, eu tive a primazia de ser o Relator dessa Lei de Responsabilidade Fiscal, aqui na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal –, exige que o Ministério da Fazenda efetue registro eletrônico centralizado e atualizado das dívidas públicas interna e externa de todos os entes da Federação, garantindo acesso público às informações.

    Isso não foi respeitado. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi rasgada mais uma vez. A população brasileira não sabe quanto deve o Município, quanto deve o Estado, quanto deve a União, não com estes detalhes desse endividamento: que dívida é essa, quem são os credores, quais foram as taxas de juros praticadas, o tempo de carência. Enfim, de que forma se deram esses contratos que endividaram o País.

    Além desse dispositivo desrespeitado, há um outro. O Tribunal de Contas identificou, em três oportunidades, diferença média de taxa de juros paga na rolagem de títulos, de titularidades dos dealers, que são as instituições financeiras credenciadas pelo Banco Central em comparação com as demais operações.

    Então, nós temos, se não me falha a memória, doze dealers, são nove bancos e três instituições financeiras, que têm o privilégio de trabalharem com os títulos públicos...

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – ... com essas taxas de juros privilegiadas.

    E o Banco Central... Aliás, o Tribunal de Contas da União, portanto, verificou que há uma diferença da taxa de juros praticada para os dealers e para outros. Portanto, essa diferença, essa distinção é imoral. Ela é ilegal, do ponto de vista da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas é, acima de tudo, imoral, porque privilegia alguns em detrimento de outros.

    Embora não seja possível precisar, com os instrumentos disponíveis nessa auditoria, se tais diferenças decorreram ou não de algum tipo de falha ou irregularidade, a equipe entendeu haver oportunidade para o aperfeiçoamento do controle, de forma a torná-lo permanente e mais tempestivo sobre as operações envolvendo leilões de títulos públicos.

    Esses leilões são realizados sem transparência alguma, e o que se recomenda é um sítio na internet. Portanto, através desse aperfeiçoamento que o mundo eletrônico nos proporciona, haverá transparência com a divulgação desses leilões, para que a sociedade possa acompanhar e fiscalizar.

    Foi determinado à Secretaria-Geral de Controle Externo que avalie a possibilidade de desenvolver, com o apoio de outras unidades do tribunal, ferramenta tecnológica para o acompanhamento e controle sistematizado dos leilões de títulos públicos, com vistas a ampliar a capacidade de atuação do Tribunal de Contas no controle da dívida mobiliária, que constitui o principal componente da dívida pública federal.

    O Tribunal de Contas informou aos Presidentes das duas Casas do Congresso Nacional que a não edição da lei prevista no art. 48 da resolução de que trata o art. 52 da Constituição da República constitui fator crítico para a limitação do endividamento público e para a harmonização e coordenação entre os entes da Federação, comprometendo notadamente a efetividade do controle realizado pelo Tribunal de Contas da União.

    O meu tempo está se esgotando, mas esse tema é muito importante para o futuro deste País, até porque nós não podemos gerar falsas expectativas, anunciando a reforma da previdência como a salvação da Pátria. Se nós fizermos isso, nós estaremos ofendendo a sociedade brasileira com uma inverdade, porque qualquer pessoa lúcida que tomar conhecimento das contas públicas, do momento que vive o Erário, vai constatar que não basta a reforma da previdência. Será, mais uma vez, o Governo gerando falsa expectativa.

    Com a leitura desse acórdão do Tribunal de Contas, fica claro que a legislação aplicável à gestão da dívida pública está, em grande medida, inacabada e que os mecanismos de transparência do processo de gestão são precários, a ponto de comprometer notadamente a efetividade do controle realizado pelo Tribunal de Contas.

    Enfim, a liberdade que os bancos instalados no Brasil dispõem para decidir sobre as taxas de juros que querem cobrar coloca o Brasil como um verdadeiro paraíso para a usura legalizada. Se nós formos verificar, por exemplo, o cartão de crédito...

    Vamos lá! Só mais um tempinho, Presidente Izalci, para eu poder colocar esses números aqui.

    No Brasil, a pessoa física que precisar de crédito pessoal não consignado e buscar crédito nos maiores bancos brasileiros, de acordo com dados do Banco Central, pagará uma taxa de juros anual de 60% a 90%. Todavia, dependendo da instituição financeira que buscar no mercado, poderá pagar taxa da ordem de 300% a até 1000% – até 1000%!

    Mas a situação piora se o cidadão recorrer ao cheque especial. Caso seja correntista dos maiores bancos, suportará uma taxa anual de juros entre 260% e 310%. Há instituições financeiras cobrando livremente até 500%. É o País da usura. Este é o paraíso dos bancos, e nós não falamos nisso, ou falamos muito pouco, ou poucos de nós falam sobre isso.

    E o Governo, que deveria falar e agir, não fala e não age. Eu não estou falando deste Governo que está começando, estou me referindo aos outros governos, que tiveram oportunidade, tiveram tempo e nada fizeram em relação ao sistema financeiro.

    Caso a dívida do cliente seja cartão de crédito, eu repito, aí teríamos de 230% a 340%, até 1.300%.

    Então, veja o que ocorre em outros países. Por exemplo, se o cartão de crédito aqui chega a 1.300% ou, em média, 340% ao ano, em Portugal não pode passar de 16%, porque o Banco Central de Portugal define para o próximo trimestre a taxa de juros limite.

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – Então, no trimestre primeiro deste ano, a taxa de juros em Portugal – deixe-me verificar para ser exato – foi de um pouco mais de 15%. Aliás, no primeiro trimestre de 2019, foi de 13,9%; e agora, para o cartão de crédito, 16,6%; limites bancários, 6,2% para créditos relacionados à educação, à saúde e energias renováveis, 4,9% para financiamento de veículos novos e 6% para veículos usados. Então, em relação ao cartão de crédito, que é usado intensamente pelos brasileiros, 13,9%, no primeiro trimestre, e, para o próximo trimestre, 16,6%, em média, em Portugal.

    Além dessa liberdade plena e ilimitada dos bancos para estabelecer e cobrar taxa de juros no mercado brasileiro, é importante ressaltar que os quatro maiores bancos instalados no Brasil concentram 78% do crédito. Por isso, somos reféns desse monstro.

    Definitivamente é uma concentração e liberalidade exagerada, maléfica, que provoca distorções no mercado. É preciso repensar o desenho e as funções do sistema financeiro, bem como realizar uma profunda modificação nos mecanismos de gestão da dívida pública brasileira.

    Para concluir, apenas mais uma informação. Esses cinco maiores bancos arrecadam anualmente cerca de R$130 bilhões em tarifas. Eu não estou me referindo a juros, a cartão de crédito, a cheque especial, apenas a tarifas pela prestação de serviços aos seus clientes – R$130 bilhões. Isso é mais do que o orçamento de saúde para todo o País.

    Eu vejo que o Senador Confúcio pede um aparte. E, com muita satisfação, eu o concedo a V. Exa.

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Perfeitamente.

    Senador Alvaro Dias, o seu discurso é uma aula magistral sobre a reforma do Estado, a economia, o desperdício e os abusos. E o senhor aponta aí que não basta somente a reforma da previdência, tem que se fazer muitas reformas em paralelo, em consequência, e sucessivas.

    Eu concordo com V. Exa. plenamente e o parabenizo pelo seu discurso altamente didático.

    Eu estava observando as galerias e alunos aqui de Brasília, há pouco, estavam aí assistindo a V. Exa. no seu pronunciamento. Ficaram por uns 15 minutos e já se foram. Com certeza, o senhor deu para eles – e me ajudou muito, na informação para essa juventude, para todos nós que estamos aqui no Plenário e também para o povo brasileiro que assiste à TV Senado, neste momento, e às reprises que ocorrerão posteriormente – o seu brilhante pronunciamento.

    Parabéns a V. Exa.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – Muito obrigado, Senador Confúcio.

    Senador Eduardo Girão, com prazer.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – Senador Alvaro Dias, não é à toa que eu me sinto muito honrado em ser liderado por V. Exa. no Podemos.

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – Muito obrigado.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – A sua retidão, a sua coragem e a sua vida parlamentar mostram uma coerência ímpar do que V. Exa. pensa e de como V. Exa. age.

    Muito importantes esses dados que V. Exa. passou. Vou pedir cópia para me aprofundar, para entender. Não é uma área do meu conhecimento, mas tenho um sentimento intuitivo, com base em dados que a gente tem debatido, aqui no Senado Federal também, que esse olhar para os bancos precisa ser imediato, porque são dados dos maiores devedores do INSS, da Previdência, que a gente está discutindo agora. Os bancos estão lá no topo.

    São absurdos esses valores dos lucros dos bancos...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – E é preciso um aprofundamento nessa questão para ontem.

    Então, parabéns a V. Exa. por colocar isso. Eu quero dizer da minha alegria em estar ao seu lado aqui no Senado Federal. Já o admirava há muito tempo.

    Eu estava lembrando uma história de Mahatma Gandhi.

    O senhor falou também dos privilégios. E eu sei que o senhor faz isso há muito tempo, inclusive com a aposentadoria. É uma aposentadoria comum a sua aposentadoria. Os Senadores normalmente têm uma aposentadoria diferenciada. E eu vejo com muitos bons olhos essa reforma. Um dos pontos que eu vi – há outros que eu gostaria de debater e com os quais eu não concordo –, com essa reforma da previdência, é que iguala o regime dos políticos. Isso é muito importante.

    Há uma historinha de Mahatma Gandhi que exemplifica o que V. Exa. faz, a sua coerência de vida. Uma mãe chegou com um filho num evento de Mahatma Gandhi, numa palestra, Senador Izalci e Senador Confúcio, que gosta muito de Mahatma, que é um grande líder político... O Senador Styvenson está aqui dizendo que também gosta. É verdade. Tem tudo a ver com a vida dele. Há uma historinha que é muito interessante: uma mãe estava com um filho obeso, e o menino adorava Mahatma Gandhi, tinha uma admiração por Mahatma Gandhi muito grande. A mãe pegou uma fila, depois de uma palestra, depois de um encontro com o Gandhi...

(Soa a campainha.) O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – Só vou concluir.

    Ela falava com o filho para parar de comer açúcar, e o filho não parava. Mas, como o filho admirava muito Mahatma Gandhi, ela foi àquele evento para que Mahatma Gandhi dissesse para a criança que açúcar fazia mal. Pegaram a fila, esperaram os dois, e, quando chegou a hora – depois de uma hora e meia, duas horas de espera –, a mãe disse: "Mahatma, meu filho gosta tanto do senhor! Fale para ele que faz mal açúcar, porque ele vai ouvi-lo – ele não me ouve". Aí Mahatma disse: "Olha, eu vou voltar a este Município, a esta localidade; daqui a dois meses, eu volto. Traga-o de novo". Aí a mãe olhou e pensou: "Poxa, eu passei duas horas esperando na fila, mas tudo bem". Saiu sem entender, programou-se e voltou novamente depois de dois meses para visitá-lo em uma palestra. Esperou com o filho na fila – havia mais gente, e esperou três horas na fila – e disse: "Mahatma, fale para ele que açúcar faz mal". Mahatma chegou e disse: "Olha, açúcar faz muito mal à saúde. Ele causa isso, pode causar diabetes. Você perde a produtividade; você, na escola, não fica..." Aí a mãe olhou e disse: "Muito obrigada, Mahatma. Mas me diga aqui uma coisa: por que o senhor não falou isso há dois meses?". "Porque eu comia açúcar." Então, é importante a coerência de vivenciar o que se pratica.

    Parabéns, Senador Alvaro Dias! Que Deus o abençoe na sua jornada e o mantenha essa pessoa íntegra, correta, que realmente se preocupa com o interesse do Brasil e do seu povo, do povo brasileiro!

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – Muito obrigado, Senador Girão.

    Eu gostaria de agradecer, Senador Izalci – V. Exa. faz parte disso –, a presença dos que renovaram esta Casa, porque nós estamos respirando um ar mais oxigenado atualmente. São novos Senadores, novas Lideranças, e certamente teremos novos Relatores, substituindo os de sempre. Há um ambiente renovado, o que, sem dúvida, estimula.

    Eu confesso que, nos últimos anos, estava desconfortável. Eu pouco participava de reuniões de Lideranças, porque o ambiente não me fazia bem – era um ambiente contaminado. E hoje nós sentimos, nesta Casa, um novo ambiente, com a presença dos 49 Senadores que substituíram os 54. Na verdade, nós tivemos só oito Senadores reeleitos que disputaram as eleições, sem desmerecer aqueles que não se elegeram, muitos dos quais brilhantes Senadores, mas que foram alcançados por essa tempestade de mudança que abalou o País. Alguns farão muita falta aqui, mas outros serão, na verdade, uma ausência que preencherá uma grande lacuna. Na verdade, eu manifesto aqui o estímulo que recebo com a presença de tantos novos Senadores. Hoje, quatro estão aqui presentes: Izalci; Senador Confúcio, de Rondônia, um Estado habitado por muitos paranaenses; nosso Capitão Styvenson, que veio do Rio Grande do Norte; e Eduardo Girão, que vem do Ceará.

(Soa a campainha.)

    O SR. ALVARO DIAS (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – É uma renovação importante, salutar, que certamente apresentará resultados objetivos na construção do Brasil que todos nós queremos e merecemos.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/02/2019 - Página 34