Discurso durante a 16ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Questionamento sobre a reforma da previdência.

Considerações sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho/MG.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL:
  • Questionamento sobre a reforma da previdência.
MEIO AMBIENTE:
  • Considerações sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho/MG.
Publicação
Publicação no DSF de 28/02/2019 - Página 18
Assuntos
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • COMENTARIO, PROPOSTA DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO (PEC), REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL.
  • COMENTARIO, ROMPIMENTO, BARRAGEM, VALE DO RIO DOCE, LOCAL, BRUMADINHO (MG).

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, meus únicos patrões, Presidente, referência desta Casa, mineiro, Senador Antonio Anastasia, Sras. e Srs. Senadores presentes neste momento, eu gostaria de que a Casa estivesse cheia, porque existe uma frase – e aí é de minha autoria, Presidente, porque sempre dou crédito a quem é autor da frase –, essa é minha: o silêncio não comete erros. Como também é minha aquela: antes de acionar a boca, ligue o cérebro. O imortal João Saldanha adorava essa minha frase. Eu amo as frases, mas ninguém foi melhor do que o avô do atual Presidente do Banco Central, histórico frasista, Roberto Campos.

    Eu me lembro que ele dizia o seguinte: "Cometi um único pecado que a política não perdoa; dizer a verdade antes do tempo." Repito: "Cometi o único pecado que a política não perdoa, dizer a verdade antes do tempo". Como é algo revoltante, Senadores Humberto e Lucas, V. Exas., tenho certeza, vão entender.

    Porém, antes, em tempo, permitam-me, quero saber se alguém aqui vai gostar, V. Exas., dessa definição sobre a reforma da previdência. E aqui está um empregado público, um Parlamentar, que aprovará a reforma se ela souber respeitar os verdadeiros trabalhadores deste País, seja na iniciativa privada, sejam os urbanos, e principalmente os rurais. Se ela respeitá-los, e se o Presidente Bolsonaro, conforme o vídeo que gravou ontem, cumprir o que prometeu... E aí eu fico na dúvida se ele vai cumprir, porque ela necessita de ajustes, a reforma, e se ela não blindar os grandes caloteiros deste País, os banqueiros, que são os maiores devedores da previdência, mais de 4 bilhões, embora o lucro deles tenha sido superior a 6 bilhões. Eu falo de bancos como Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, porque eu nunca generalizo, mas eu tenho aquela tese: banco, para mim, é melhor como negócio que crime organizado.

    Mas prestem atenção a este pensamento, que não é meu, darei o autor – aspas: "Se o conserto do rombo da previdência precisa tungar um benefício pago aos miseráveis que têm entre 65 e 70 anos, então é melhor devolver o Brasil a Portugal." É de cumprimentar, não? Então vamos ao nome dele: o notável jornalista Elio Gaspari.

    Bom, agora de minha autoria, o pronunciamento grave de hoje, que o Senador Antonio Anastasia, aqui na Presidência da sessão, estava ao meu lado, para meu inteiro prazer, e quando terminou, eu pedi até um sobe som, nas minhas 30 redes sociais, para mais de 9 milhões de seguidores, quando V. Exa., ao terminar esse meu pronunciamento, disse: "Muito bem." Então, aquilo foi um troféu para mim.

    Mas vejam como é grave o caso, Senador Lucas Barreto: diz um dito popular que quem não tem memória não tem futuro. E eu vou falar aqui do crime ambiental de Brumadinho, Minas Gerais, terra do nosso Presidente, o Senador Anastasia aqui. Parece que no Brasil existe uma indústria cujo propósito é roubar-nos o futuro, apagando o dia a dia de nossa memória. Os vivos, os mortos e os mortos vivos de Brumadinho estão sendo jogados no esquecimento pela grande imprensa nacional. Já, a meu ver, não há mais comoção, aquela comoção de semanas atrás, por culpa de parte da imprensa nacional, imprensa com a qual eu convivi por 20 anos em carreira na televisão brasileira. E eu conheço a imprensa. E penso como Millôr Fernandes: imprensa para mim é oposição, o resto é armazém de secos e molhados. Imprensa que bajula – eu não sou masoquista – eu faço questão de não a acompanhar. E imprensa que se vende e que se cala diante de verbas bilionárias, como é o caso da assassina Vale – para mim, é assassina –, que decidiu agora, nos últimos dias, investir R$1 bilhão em publicidade na mídia nacional... Daí o meu pronunciamento que alguns consideraram muito forte. Eu não, para mim foi até fraco.

    O que significam, para esses e para essa parte da mídia, porque eu nunca generalizo, mais de 300 homens, mulheres e crianças assassinadas? Simplesmente, deletadas dos textos jornalísticos, cujo propósito verdadeiro é salvar os negócios – eu vou repetir: os negócios. Por que lembrar dos corpos soterrados de quem não sabemos sequer os nomes? Por que lembrar que a natureza morta em Mariana é irmã gêmea da falecida em Brumadinho, já que os negócios não choram por elas? Como dizia Drummond, lido muito pelo Senador, culto, Antonio Anastasia, de Minas – mineiro ele, Drummond, de Itabira – que minerava palavras, beleza, amor e não dinheiro – nunca –, aspas: "Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres, mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perderam", fecha aspas, Drummond.

    Pois bem, senhoras e senhores, V. Exas. colegas, a escolha está diante de nós e devemos escolher, de modo diferente daqueles que decidiram que a Vale é um colosso econômico, que não pode ser condenada, que a sua diretoria é um sucesso no mundo dos negócios globalizados, que suga nossa alma, nosso sangue e nossa esperança de uma vida fraterna e digna.

    Aqui, Sr. Presidente Anastasia, onde deve prevalecer a voz do povo, a nossa consciência deve decidir o oposto do que a voz da mídia corporativa sussurra maledicentemente em nossos ouvidos para nos convencer de que, na verdade, o Presidente da Vale, Sr. Fabio, não tem ideia dos motivos do acidente, não tem culpa e não pode ser condenado. E que, por isso, deve continuar conduzindo os negócios com os seus métodos medievais e desumanos.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Serei breve. Permita-me só mais um tempo para concluir, Presidente, porque o assunto é muito grave. É o silêncio... Métodos medievais e desumanos. Quem quiser que se entorpeça com as overdoses de amnésia provocadas por esse tsunami do esquecimento que se avoluma no horizonte, querendo soterrar, com sua lama, a tragédia e os crimes de Brumadinho.

    Quem quiser que se entorpeça, porque eu, Jorge Kajuru, brasileiros e brasileiras, meus únicos patrões, com minha inquieta consciência, jamais engolirei a balela forjada, de um laudo de estabilidade forjado previamente para justificar a crônica de uma matança anunciada e repetida.

     Quem quiser, neste Congresso Nacional, que se venda à contabilidade dos finórios. Os que habitam em altas cortes, com suas pompas, ritos e seus refinamentos, vêm nos dizer que a Vale é um colosso de bondade por destinar 0,000007 da projeção do valor da empresa no mercado financeiro para pagar, Presidente Anastasia e Senador Lucas, R$100 mil por vítima assassinada. Isso não passa de um vergonhoso cala-boca. Para quem não é da imprensa aqui, é calar a boca, ou seja, é como um toma lá, dá cá; cala-boca, uma paga para o esquecimento.

    Quem quiser que acredite e convença a Nação brasileira de que milhares de barragens pelo Brasil afora, como as de Mariana e Brumadinho, são seguras e que Deus, na sua infinita bondade, promoverá e proverá a nossa segurança e nos protegerá dos ferozes padeiros do mal, que contam as suas moedas na calada da noite e que de manhã não se lembram mais de suas vítimas.

    Eu não! Eu lutarei para que a Nação tenha memória e tenha futuro.

    Por isso, Presidente Anastasia, brasileiros e brasileiras, faço aqui, talvez de forma inédita desta tribuna do Senado Federal, uma chamada, em alto e bom som: vítimas da boate Kiss, presente; vítimas de Mariana, presente; jovens do Ninho do Urubu, presente; e todos os que foram soterrados pela cumplicidade do Poder Público com a ganância do setor privado, o meu mais respeitoso e eterno presente.

    Agradecidíssimo pela compreensão do tempo, Presidente Antonio Anastasia.

    Foi meu pronunciamento e saiu, graças a Deus, de minha alma nesta madrugada, com Rivotril, mas dormindo e sabendo se revoltar com este silêncio. Parece que a grande mídia brasileira em sua maioria se esqueceu deste crime ambiental.

    Agradecidíssimo.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Muito obrigado, eminente Senador Jorge Kajuru. Cumprimento V. Exa. pelo pronunciamento, como sempre efetivo corajoso e, sobretudo, verdadeiro.

    Aliás, hoje pela manhã, parece-me que o Senado Federal deu uma resposta rápida e efetiva no momento em que aprovamos em duas Comissões vários projetos que aperfeiçoam a lei federal sobre segurança de barragens, com a participação efetiva e V. Exa. nessas Comissões.

    Agora, caberá à Câmara dos Deputados essa votação, que espero que seja a mais breve possível, de tal modo que haja uma resposta legislativa à altura para permitir que o Poder Executivo também adote as suas medidas. E, é claro, o Poder Judiciário dará continuidade no cumprimento do seu papel.

    Parabéns a V. Exa. uma vez mais por seu pronunciamento.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Presidente, só rapidinho. Desculpe.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Pois não, Senador.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Quando o senhor humildemente coloca o meu nome participando do projeto hoje, do que fizemos hoje de forma também inédita e histórica nesta Casa, tudo aconteceu em função de mais um cirúrgico relatório apresentado por V. Exa., que talvez tenha tido também a mesma demora daquele do projeto de sequestrar os bens de terroristas.

    O senhor me disse e eu nunca mais vou me esquecer, contei para a minha esposa: o senhor ficou seis horas, até meia noite, para fazê-lo de forma irretocável. O senhor é um cirurgião em relatório. Aliás, aqui deveria todo mundo ser humilde e entregar qualquer projeto polêmico nas mãos de um homem público como o Senador Antonio Anastasia, que, infelizmente, Minas Gerais não o soube escolher para Governador e escolheu um verdadeiro polichinclo.

    Parabéns!

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Muito obrigado, Senador Kajuru, mas não é verdade...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – E terá que procurar no dicionário o que polichinclo, Romeu.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/02/2019 - Página 18