Fala da Presidência durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal

Abertura da Sessão Especial destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de São Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias.

Autor
Antonio Anastasia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Antonio Augusto Junho Anastasia
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Abertura da Sessão Especial destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de São Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2019 - Página 10
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • ABERTURA, SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, OTAVIO FRIAS, DIRETOR, REDAÇÃO, PERIODICO.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Declaro aberta a sessão.

    Sob a proteção de Deus, iniciamos os nossos trabalhos.

    A presente Sessão Especial é destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de S.Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias, nos termos do Requerimento nº 15, de 2019, de autoria da Senadora Kátia Abreu e de outros Senadores.

     Tenho a honra de convidar para comporem a mesa o Exmo. Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Federal Rodrigo Maia; S. Exa. a Senadora Kátia Abreu, requerente da presente sessão; o Exmo. Sr. Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes; o Exmo. Sr. Governador do Distrito Federal, em exercício, Paco Britto; o eminente Vice-Presidente do Conselho Federal da Ordem, Dr. Luiz Viana; e a Diretora de Editorial e Redação do jornal Folha de S.Paulo, Sra. Maria Cristina Frias. (Pausa.)

    Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos o Hino Nacional brasileiro.

(Procede-se à execução do Hino Nacional.)

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Eminente Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Federal Rodrigo Maia; Sra. Senadora Kátia Abreu, requerente desta sessão; Exmo. Ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes; Exmo. Governador do Distrito Federal em exercício, Paco Britto; eminente Vice-Presidente do Conselho Federal da Ordem, Dr. Luiz Viana; Exma. Sra. Diretora de Redação do jornal Folha de S.Paulo, Maria Cristina Frias; autoridades civis e militares aqui presentes; Sras. Senadoras e Srs. Senadores, "realizam-se amanhã, em todo o território da República, as eleições dos representantes dos Estados ao Congresso Nacional". Essa era parte da notícia estampada em um emaranhado de caracteres, sem fotos ou leiaute rebuscado, na edição nº 1 da então Folha da Noite.

    O mundo acabava de sair da grande guerra. E 1921 foi o ano em que Albert Einstein foi reconhecido com o Nobel de Física e em que, nas páginas do recém lançado jornal, uma manchete anunciava também a morte da Princesa Isabel. De lá para cá, quantas eleições cobriu? Quantos fatos noticiou? Quantas opiniões veiculou?

    Com o fim da República Velha, adquirida, então, por um liberal cafeicultor, a então Folha da Manhã se posiciona contrária ao Estado Novo. Pouco a pouco, o jornal cresce em tiragem e em leitores, quando, em 1945, adota "a busca da imparcialidade" como política redacional.

    Continua, assim, acompanhando a história, ajudando a construir o Brasil, relatando os fatos, como a disputa entre um marechal do Exército e um brigadeiro à Presidência da República; o retorno e o suicídio de Vargas; a chegada de Juscelino ao poder; a transferência da Capital para Brasília; as polêmicas e a renúncia de Jânio Quadros; as reformas de base; as controvérsias em torno de Jango; os acontecimentos de 1964. Dessas histórias, nenhum capítulo se passou sem que fosse relatado e debatido nas páginas da Folha.

    E foi em 1962 que Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho assumiram o controle acionário do veículo de comunicação. Nesse período, nosso homenageado, Otavio Frias Filho, ainda com cinco anos de idade, crescia, junto com o jornal de seu pai.

    No regime militar, a Folha viveu, como o Brasil, a efervescência da época. Se, em um primeiro momento foi cobrada pelo apoio dado ao regime durante o início de sua vigência, posteriormente foi um dos veículos mais críticos ao sistema. E não se furtou de décadas mais tarde, sob o comando de Frias Filho, em editorial corajoso e histórico, reconhecer equívocos. "Este jornal deveria ter rechaçado toda violência, de ambos os lados, mantendo-se um defensor intransigente da democracia e das liberdades individuais", afirmou em 2014.

    Foi no turbilhão do regime militar, das discussões políticas e sociais daquela época, que crescia e se formava Otavio Frias Filho. Vivia ele, àquela altura, como qualquer jovem, com seus momentos de dúvidas, de contestação e de angústias. Convivia, ao mesmo tempo, com alguns dos mais célebres nomes da cultura e do jornalismo brasileiro. Pensava em ser cientista, professor universitário, político, psicanalista. Mas foi obrigado a, literalmente, morar no jornal para evitar a exposição e os riscos ao regime, época em que caminhões e veículos da empresa foram queimados.

    Faço todas essas reminiscências, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, eminentes autoridades, porque nós somos o fruto da nossa história. E a Folha ajudou a construir e a contar, diariamente, a história do Brasil dos últimos quase 100 anos. E isso não é pouca coisa.

    Foi assim, com incentivo e permanente carinho do pai, que Otavio Frias Filho assumiu o protagonismo na Folha.

    Em 1984, ele começou a revolucionar não apenas o jornal de sua família, mas o jornalismo no Brasil, no processo conhecido por todos como Projeto Folha. O jornal lança seu manual de redação, até hoje referência na imprensa, em que oferece nova proposta editorial, com um jornalismo crítico, pluralista, apartidário e moderno.

    Em um período de intensas transformações no Brasil, a Folha também se transformava e transformava, junto, a forma de se produzir e de se pensar o jornalismo em nosso País.

    A Folha participou, não apenas como órgão noticioso, mas como verdadeiro agente transformador, do processo de redemocratização, da discussão e promulgação da Constituição Cidadã, da eleição e impeachment do Presidente Collor, do Plano Real, do Governo de Fernando Henrique, de Lula, Dilma e Michel Temer, ajudando a construir, a escrever e a noticiar a nossa história.

    Como diretor de redação, Otavio Frias Filho, da mesma forma, foi protagonista da sua história, da de seu jornal e do jornalismo brasileiro contemporâneo.

    Merece, pois, nosso reconhecimento, aplausos e homenagens porque, com isso, ajudou a consolidar nossa imprensa e nossa democracia, ainda, na época, frágil e cheia de falhas, mas, agora, cada vez mais forte e com vontade e disposição de melhorar.

    Por vezes – e isso acontece – a imprensa pode errar, pode incomodar, pode não ser justa, mas o jornalismo – sério, isento, objetivo e responsável – continua sendo cada vez mais fundamental para a democracia; para denunciar aquilo que não está correto; para dar luz e voz àquilo que muitas vezes se quer esconder; para fazer com que a política, a sociedade e a Nação possam evoluir e se desenvolver social e democraticamente.

    O mundo muda. As ideias mudam. As pessoas passam. Mas o bom jornalismo não pode e não vai morrer.

    Celebrar hoje os 98 anos da Folha e homenagear a história e o nome de Otavio Frias Filho é valorizar o trabalho e a dedicação de tantos profissionais jornalistas que deram e dão suas vidas por aquilo que acreditam, que, com seu esforço e labor, buscam colaborar para o fortalecimento de nossa cidadania.

    Os desafios são intensos e perenes. A situação do nosso País ainda não é boa. Mas, vejamos todos, como já avançamos e evoluímos. E parcela significativa dessa evolução foi possibilitada por causa do esmero e do trabalho jornalístico

    Continuaremos, Sras. e Srs. Senadores, eminentes autoridades, sendo, muitas vezes, criticados, justa ou injustamente. Continuaremos concordando ou discordando de pontos de vistas, do enfoque ou das manchetes de determinadas matérias. Continuaremos informando e sendo informados, ora como fontes, ora como leitores. E – isto é o mais bonito na democracia –, daqui da tribuna deste Senado Federal, continuaremos sempre defendendo a liberdade de expressão e de imprensa, um Brasil democrático, mais justo, menos desigual e muito mais desenvolvido. É assim que deve ser. É assim que será.

    Que a Folha possa continuar ajudando a construir, a noticiar e a escrever nossa história. E que o vigor, a ousadia e a determinação de Otavio Frias Filho possam inspirar novas gerações de jornalistas corajosos, responsáveis e comprometidos com um País melhor.

    Muito obrigado. (Palmas.)

    Concedo a palavra à eminente Senadora Kátia Abreu, autora do requerimento desta sessão de homenagem.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2019 - Página 10