Discurso durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de São Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias.

Autor
José Serra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SP)
Nome completo: José Serra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de São Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2019 - Página 33
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, OTAVIO FRIAS, DIRETOR, REDAÇÃO, PERIODICO.

    O SR. JOSÉ SERRA (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - SP. Para discursar.) – Eu queria cumprimentar a Senadora Kátia Abreu pela iniciativa e pela condução dos trabalhos, como vem fazendo até agora.

    Eu queria aqui cumprimentar a posteriori todos que estiveram presentes, incluindo o Ministro Gilmar Mendes, que fez um pronunciamento realmente marcante. Eu disse a ele estar muito satisfeito de ter ouvido uma análise naquele nível e com aquela profundidade.

    Eu queria cumprimentar muito especialmente a Cristina Frias, que eu conheço já de tantos anos, desde que ela era criança, quando frequentava a Folha – e já explico por quê.

    Mas nós estamos homenageando hoje aquele que é o principal personagem da renovação da nova e da moderna imprensa brasileira, que é o Otavio Frias Filho.

    Eu fiquei impressionado quando, depois do seu falecimento, inclusive, órgãos concorrentes de imprensa na área de opinião emitiram esse juízo. Otavio tinha sido o jornalista mais importante da sua época, que mais pesou na reformulação e na modernização, um novo tipo de imprensa no Brasil.

    Quais são as características do modelo Folha? É o pluralismo, a independência, a combatividade, a inovação permanente e até a autocrítica. É o jornal que introduziu a figura do ombudsman na nossa imprensa.

    Tenho uma história muito especial com a Folha, porque a Folha acolheu, desde os anos 70, muitos daqueles que eram perseguidos pela ditadura militar. No meu caso, voltava do exílio de 14 anos, em 1978. Nessa época, o Cláudio Abramo, que cuidava do painel da Folha e de editoriais, me convidou para escrever, ocasionalmente, na página 3. Eu me via antes exilado e, depois, com a possibilidade de falar ao País ainda durante a moldura do regime autoritário, que a Folha rompeu nesse sentido. Posteriormente, embora professor da Unicamp e pesquisador do Cebrap, me integrei à Folha como editorialista. Fiz parte da equipe de editorialistas durante quatro anos e lá convivia, dois ou três dias por semana, com o Sr. Octavio Frias, pai, com o Otavio, que era estudante de Direito, ainda fazia movimento estudantil naquela época, e com a própria Cristina, que frequentava o jornal, sentava numa mesa, escrevia, olhava, observava. Para mim foram anos fundamentais. De alguma maneira, foi o que marcou a minha reinserção no Brasil e na política brasileira.

    As características que o Octavio Frias, pai, e o Otavio Frias Filho tinham em comum eram, eu diria, acima de tudo, o pragmatismo sem qualquer sopro de oportunismo, uma grande inteligência intelectual e inteligência emocional e também uma inesgotável curiosidade. Algo que os dois tinham era a curiosidade por fenômenos estranhos, por coisas desconhecidas, por questões sociais, por questões de qualquer natureza que se referissem à sociedade.

    O Otavio, como eu disse, era estudante, mas integrava a equipe de intelectuais. E quero dizer que ele era o melhor texto da equipe. O Cláudio Abramo tinha tido a ideia de fazer uma equipe de intelectuais para escreverem. Eu vi com espanto que o Otavinho, ainda estudante de Direito, escrevia melhor que nós todos. E não só isso, revisava os editoriais. Revisava-os na edição final, de maneira sempre oportuna, sempre indiscutível, sempre impecável. Eu ficava realmente assombrado com essa capacidade. Na verdade, ele desdobrou essa capacidade em várias áreas, não apenas do jornalismo, mas também da literatura, do teatro, da crítica literária inclusive.

    Com a sua personalidade aparentemente pouco expansiva, sua postura de austeridade e de discrição, tinha uma enorme produtividade e era também – e queria dizer algo que já foi dito – corajoso. Eu presenciei aqui um momento em que essa coragem se exibiu – e talvez tenha sido o maior de toda a gestão dele à frente da Folha: foi quando de um confronto com o Governo Collor, que foi muito agressivo em cima do jornal, e o Otavio escreveu um editorial de primeira página, um texto incrível pela sua contundência, pela qualidade da redação. É um documento histórico que valia a pena ser olhado. Na primeira página! Partiu para o enfrentamento.

    Lembro-me até de que ele veio a Brasília e, aqui, estivemos juntos analisando as repercussões, que acabaram sendo tratadas no Plenário da Câmara, uma vez que o Governo entrou pesado na Justiça contra o jornal. E o jornal não só não se intimidou como, através desse editorial de primeira página, chamemos assim, contra-atacou. Foi um episódio muito tenso e que merece ser reconstituído em algum momento, e, ao meu ver, foi a marca definitiva do jornal, foi quando se afirmou a natureza da Folha. Isso se deu no começo dos anos 90.

    Essa homenagem, portanto, para mim, tem um grande significado: tem um significado político, geral, em relação ao País e em relação à imprensa por tudo aquilo que a Folha representa, mas tem também uma questão que toca a mim e ao meu passado. Por isso, Kátia, eu fiz questão de vir a esta tribuna dizer essas coisas, porque, para mim, é um orgulho saber que a Folha fez parte da minha formação.

    Muito obrigado. (Palmas.)

    A SRA. PRESIDENTE (Kátia Abreu. Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - TO) – Muito obrigada, Senador José Serra. Parabéns pelas palavras.

    Antes de chamar o próximo orador, eu convido as personalidades que usaram da palavra para compor a mesa: o jornalista Josias de Souza e Ricardo Pedreira, Diretor Executivo da Associação Nacional dos Jornais (ANJ).

    Com a palavra o Senador, Líder do PT, Humberto Costa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2019 - Página 33