Fala da Presidência durante a 24ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a celebrar o Dia do Imigrante Italiano.

Autor
Antonio Anastasia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Antonio Augusto Junho Anastasia
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a celebrar o Dia do Imigrante Italiano.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2019 - Página 95
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, DIA, IMIGRANTE, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA.

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Declaro aberta a sessão. Sob a proteção de Deus, iniciamos nossos trabalhos.

    A presente sessão especial é destinada a celebrar o Dia do Imigrante Italiano, nos termos do Requerimento nº 3, de 2019, de minha autoria e outros Senadores.

    Para compor a Mesa, tenho a honra de convidar o Exmo. Sr. Embaixador da República Italiana, Antonio Bernardini; o eminente Senador Flávio Bolsonaro; o Diretor de Relações Internacionais da Presidência do Senado Federal, Embaixador Marco Farani; e a Sra. Chefe da Divisão da Europa Meridional e da União Europeia, do nosso Itamaraty, a Sra. Secretária Marcela Pompeu.

    Convido a todos para, em posição de respeito, acompanharmos a execução dos Hinos Nacionais do Brasil e da Itália.

(Procede-se à execução do Hino Nacional do Brasil.)

(Procede-se à execução do Hino Nacional da Itália.)

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Exmo. Sr. Embaixador da República Italiana, Antonio Bernardini; Exmo. Sr. Senador Flávio Bolsonaro; Exmo. Sr. Embaixador Marco Farani, Diretor de Relações Internacionais da Presidência do Senado Federal; Exma. Sra. Marcela Pompeu, Chefe da Divisão da Europa Meridional e da União Europeia do Ministério das Relações Exteriores; Sras. Senadoras e Srs. Senadores; dignos convidados e membros da comunidade italiana em Brasília e no Brasil; membros do corpo diplomático; e, em especial, eminente Embaixador do Reino da Tailândia, Sr. Surasak Suparat; e Sra. Embaixadora da República do Botsuana, Sra. Tebogo Motshome, a todas as senhoras e aos senhores boas-vindas e os meus cumprimentos.

    Sr. Embaixador, em primeiro lugar, é com grande satisfação que o Senado Federal acolhe esta sessão especial de homenagem ao Dia do Imigrante Italiano. E me permita, em primeiro lugar, fazer, nesta sessão, a referência a um dos Parlamentares que, no passado, participaram da iniciativa desta data, recentemente falecido, o Senador Gerson Camata, do Estado do Espírito Santo. Como sabemos, o Estado do Espírito Santo é um dos Estados com maior contingente de imigrantes italianos no Brasil, e o Senador Camata foi grande e ardoroso defensor dessa proposta. Então, a minha referência, inclusive, ao seu recente falecimento.

    Mais uma vez, reitero que, nesta Casa Legislativa, a Casa Alta do nosso Parlamento, nós temos diversos Senadores com ascendência italiana, começando pelo Senador José Serra, que acaba de adentrar este recinto e recebe igualmente os nossos cumprimentos – peço à Mesa que providencie que ele assuma uma posição igualmente na Mesa Diretora. O Senador Flávio Bolsonaro, que aqui se encontra, a Senadora Mara Gabrilli e o Senador Fabiano Contarato, entre outros que estão presentes, são todos descendentes da colônia italiana que para cá imigrou.

    Permitam-me iniciar, minhas senhoras e meus senhores, Senador Serra, as minhas palavras em referência exatamente à herança, Senador Elmano Férrer, que aqui também se encontra – receba as minhas homenagens. Ressalto exatamente a referência fundamental de que, hoje, a República Italiana é o depositário de um acervo histórico e humanístico sem igual, a descendência própria que houve do Império Romano. Aliás, ao falar em imigração, nós não podemos esquecer, Sr. Embaixador, o ato histórico tão fundamental que, ainda no início dos anos 200 da Era Cristã, o Imperador romano Caracala estendeu a cidadania romana a todos os habitantes do Império. Esse ato, que aconteceu há 1.800 anos, foi uma demonstração clara, muito mais do que um ato político imperial, de um ato de reconhecimento da humanidade e da cidadania de todos. No momento em que o mundo, hoje, vive uma grande disputa sobre a questão da imigração e da migração, o exemplo do Império Romano, do qual a República Italiana hoje é legítima herdeira, é um exemplo a ser reconhecido e seguido pelos atos do Imperador Caracala.

    Aqui no Brasil, senhoras e senhores, a presença italiana é fulgurante e fundamental para o nosso desenvolvimento.

    A imigração italiana constante, como conhecemos, começou no século XIX. Mas é bom lembrar que as Américas foram descobertas por um italiano, Cristóvão Colombo. E foi Américo Vespúcio, outro italiano, aquele que primeiro teve a condição de desenhar em mapas o litoral brasileiro; inclusive, atribui-se a ele a descoberta do Rio São Francisco.

    Na realidade, a presença italiana entre nós no Brasil e nas Américas é constante desde o início do processo de colonização e reconhecimento deste novo Continente, o chamado Novo Mundo. No Brasil, em especial, por iniciativa ainda do Imperador D. Pedro II e depois ao tempo da República Velha, iniciou-se um processo vigoroso de imigração italiana. Àquela época, infelizmente, a Itália estava numa situação difícil economicamente. E, por isso mesmo, houve uma forte corrente imigratória não só para o Brasil, mas também para a Argentina, para os Estados Unidos, para a Venezuela e para diversos outros países da América. Tornou-se hábito dizer que o italiano vinha "fazer a América", exatamente com o objetivo de conseguir condições para os seus familiares. E assim foi com a minha família, como foi também com a família do Senador José Serra, com a família do Senador Bolsonaro e de outros tantos que estão aqui presentes, inclusive o Embaixador Farani, que temos a honra de ter conosco nesta Mesa.

    A partir de então, Sr. Embaixador, a presença do imigrante italiano tornou-se constante, quer no campo, nas fazendas de café, quer nas cidades, nos diversos trabalhos realizados como artífices, como ourives, como profissionais liberais. A capital de meu Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, foi construída àquela época e, se não fosse a presença em especial da colônia italiana, certamente não teríamos o acervo arquitetônico que temos lá hoje. A presença italiana foi fundamental, portanto, não só na capital, mas também no interior de meu Estado. Sem dizer o que aconteceu em São Paulo, Senador José Serra, onde a presença italiana foi decisiva para o desenvolvimento daquele Estado. E também no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e também nos Estados do Norte, do Centro-Oeste e do Nordeste. Ou seja, em todo o Brasil, o imigrante italiano compareceu com labor, com empenho, com dedicação e com muito amor, não só à Itália, mas também à nova Pátria que era constituída, o Brasil. Somos hoje no Brasil milhões de descendentes de italianos, espalhados nos 27 Estados da Federação. Todos nós irmanados na unidade brasileira, mas também mantendo com muito orgulho o sangue latino que veio da Itália e de Roma.

    Aliás, falando em Roma, Sr. Embaixador, permita-me sempre lembrar que a força do Império Romano, que a República Italiana é depositária de seus valores, foi tão forte que até hoje entre nós brasileiros se diz, ainda em latim: Roma locuta, causa finita. Quando Roma diz, a causa está decidida. Todos os caminhos levam a Roma, eminente Senador Esperidião Amin, que, levantino que é, também tem nas águas do Mediterrâneo uma relação tão próxima com a Península Itálica. Lembrando que, em Roma, como os romanos, nos habituamos a dizer.

    Tudo isso nos foi trazido pelos nossos avós, pelos nossos bisavós, pelos nossos pais e se constituiu num verdadeiro amálgama da nacionalidade brasileira, com a presença dos nossos índios pré-colombianos, daqueles que vieram do Continente africano, daqueles outros europeus orientais que formaram a nacionalidade brasileira numa Nação, felizmente, numa raça que é única, sem preconceitos, bastante unida, com a mesma língua e fundamentalmente com os mesmos valores. Isso é extremamente positivo. As instituições italianas vieram desde o Direito Civil até as instituições políticas, todas herdadas, desenvolvidas e implementadas no nosso País.

    Portanto, não há uma só ação, e poderia dizer na culinária, na cultura, no cinema, na indústria, no comércio, em que não haja uma presença italiana extremamente firme e forte.

    Faço um parêntesis na questão do futebol, evidentemente, porque aqui as rivalidades existem entre Brasil e Itália, e não são de agora, mas é claro que essa rivalidade acaba cimentando ainda mais essa relação em que a disputa sempre é tão saudável.

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – O Senador Serra me lembra do Palmeiras, e eu não vou relatar os episódios de Belo Horizonte em relação ao nosso Atlético e Cruzeiro.

    Eu queria também citar aqui a presença, se me permitem, do meu caro amigo Anísio Ciscotto, que aqui está, um dos dirigentes da colônia italiana em meu Estado, que acaba de concluir uma belíssima pesquisa, historiador que é, sobre a participação de italianos, brasileiros, de ítalo-brasileiros na Primeira Guerra Mundial, quando houve um grande esforço de italianos que estavam no Brasil em prol, Senador Elmano, daquela Primeira Guerra Mundial.

    Na Segunda Guerra, as razões os levaram a ficar em lados opostos por certo período. O Brasil participou depois da libertação da Itália, especialmente na região mediana da Itália, para o norte, e temos hoje, no cemitério em Pistoia lá, com grande carinho dos italianos, os restos mortais de tantos pracinhas brasileiros que participaram, ao lado dos Aliados, na libertação da Itália naquele momento que estava sob o jugo da Alemanha nazista a partir de 1943. Isso tudo demonstra mais uma vez essa grande unidade.

    Por isso, o imigrante italiano é tão festejado em nosso País! Em minha capital, Belo Horizonte, é realizada, Sr. Embaixador, com sua presença, uma festa popular muito aplaudida. Essa festa popular é uma das maiores do mundo em comemoração à data nacional italiana, e a mesma coisa ocorre em São Paulo, ocorre no Rio de Janeiro, ocorre nos demais Estados, e eu citava há pouco Espírito Santo, como também Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, onde essa presença é tão forte.

    E diria, por fim, ao concluir essas minhas palavras de saudação, Sr. Embaixador, antes de passar aos meus pares, Senadores, exatamente isto: para nós, que somos descendentes de italianos no Brasil, a responsabilidade em favor do imigrante é muito grande. Nós somos todos também, aqui, corresponsáveis pela nacionalidade brasileira, mas, ao mesmo tempo, por cultivar e manter os valores da Itália, da Velha Roma, em nosso Território: a ideia da liberdade. Aliás, nós, mineiros, que somos montanheses, nos inspiramos também nos italianos quando diziam que montani semper liberi: os montanheses serão sempre livres. Isso demonstra, de fato, essa presença muito forte da cultura italiana entre nós, e seria despiciendo a essa altura eu arrolar aqui a sua presença econômica, que é fundamental e foi decisiva para o desenvolvimento do Brasil.

    É nossa responsabilidade, portanto, no Parlamento brasileiro, manter unidos esses laços entre a Itália e o Brasil, reconhecer a importância e o vigor da colônia italiana e de seus descendentes no nosso País e, ao mesmo tempo, cada vez mais, estimular, cimentar e fazer florescer as relações ítalo-brasileiras e dessa imensa família que hoje se estende por milhões e milhões de pessoas em todos os 27 Estados e no Distrito Federal da população, da cidadania e da República Federativa do Brasil.

    Desse modo, Sr. Embaixador, o Senado comemora esta data com gáudio e com extrema satisfação, e reitero a V. Exa. que a Itália sempre estará presente no coração dos brasileiros por tantos e tantos motivos, não só pela culinária, pelo sangue, pelo futebol, pela cultura, pela arquitetura, mas, fundamentalmente, por uma identidade muito próxima dos dois povos que são irmãos e continuarão assim para sempre, pela humanidade que é típica da Itália.

    Muito obrigado. (Palmas.)

    Com a palavra, para seu pronunciamento, o eminente Senador José Serra.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2019 - Página 95