Discurso durante a 29ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao trabalho da Pastoral da Criança, em especial ao trabalho realizado no município de Palmas (PR) , no Estado do Paraná (PR).

Autor
Flávio Arns (REDE - Rede Sustentabilidade/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Homenagem ao trabalho da Pastoral da Criança, em especial ao trabalho realizado no município de Palmas (PR) , no Estado do Paraná (PR).
Aparteantes
Confúcio Moura.
Publicação
Publicação no DSF de 21/03/2019 - Página 42
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, TRABALHO, INSTITUIÇÃO RELIGIOSA, CRIANÇA, MUNICIPIO, PALMAS (PR), ESTADO DO PARANA (PR).

    O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - PR. Para discursar.) – Obrigado, caro Presidente Antonio Anastasia. Parabéns pelo trabalho desenvolvido, pelas opiniões emitidas. É uma alegria sempre muito grande escutá-lo e ver a importância sempre dos seus posicionamentos.

    Eu quero aqui destacar que, na semana passada, recebemos a visita de um Vereador do Município de Palmas, localizado no sudoeste do nosso Estado, o Paraná, o Vereador Paulo Bannake, que comentou comigo que, naqueles dias, eles fariam uma homenagem às lideranças e pessoas que trabalham na Pastoral da Criança naquele Município. Então, eu disse a ele que enviasse essa notícia, porque eu gostaria de destacar, da tribuna, na verdade, o trabalho, do qual a gente tem que se orgulhar, que é desenvolvido no Brasil pela pastoral.

    Em primeiro lugar, eu quero ler a notícia, de poucas linhas, lá do Município de Palmas, em que o Vereador Paulo Bannake diz o seguinte:

A Câmara Municipal de Palmas entregou na segunda-feira (18) [portanto, no dia de anteontem], durante a 6ª Sessão Ordinária do ano, Moção de Aplauso à Pastoral da Criança. Na proposta apresentada pelo Vereador Paulo Bannake, foram agraciados a Coordenadora Diocesana Izete Beyer Feix; as Coordenadoras da Paróquia da Catedral do Senhor Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida, Nilce Casemiro e Irmã Alete; e o Pároco da Catedral, Pe. Adriano Mattana, representando o Bispo Dom Edgar.

    Às vezes, a gente pode pensar que é algo de um Município, mas, a partir dessa notícia do Município, eu gostaria de destacar o grande trabalho, como eu falei agora há pouco, do qual a gente tem muito orgulho, no Brasil e no mundo, desenvolvido pela chamada Pastoral da Criança, que é uma pastoral da Igreja Católica, com a participação de outras igrejas e mesmo de pessoas que, eventualmente, não professem uma religião, mas que gostam de ver promovidas a saúde e a vida das nossas crianças.

    A Pastoral da Criança é uma pastoral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e foi iniciada em 1983; portanto, já está em ação há 36 anos. Não é tanto tempo assim, porque ela está presente... Começou num pequeno Município do Paraná, Florestópolis, lá no norte do Estado, mas está presente em cerca de 4,5 mil Municípios do Brasil e em cerca de 20 países no mundo. Então, algo que começou em um Município pequeno – e, por isso, ele quer dar essa mensagem de esperança às pessoas – se expandiu para o Brasil inteiro e para o mundo também.

    A Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança, à época, no início até um pouco antes de 2010, era a minha tia, que o País inteiro conheceu, Zilda Arns. Ela morreu no terremoto do Haiti, em 2010, e nós prestamos, inclusive, muitas homenagens a ela e aos integrantes do corpo de paz do Exército Brasileiro, que lá estavam e que faleceram também naquele terremoto.

    Então, de 2010 até hoje, já são praticamente há nove anos – estamos no nono ano – que as pessoas continuam a trabalhar para que as crianças tenham vida e tenham saúde.

    Lá em Florestópolis, no início da pastoral, ações muito simples davam conta de diminuir a mortalidade infantil. Nessa área, de cada mil crianças nascidas vivas lá naquele Município, não tanto tempo atrás, cerca de 120 morriam no primeiro ano de vida. Então, você chegava ao Município, olhava, era uma continuidade de cruzes no cemitério, indicando as crianças que tinham morrido.

    E eram ações simples, que pudessem ser generalizadas, como, por exemplo, o soro caseiro – a pitada de sal, duas porções de açúcar, uma água bem limpa –, para que a criança também se recuperasse de diarreia, de problemas. A minha tia, inclusive, dizia: "Eu começo a dar uma palestra, a proferir uma palestra, e a criança está lá no fundo da sala mal. A gente começa a dar o soro no começo da palestra e, no final da palestra, a criança já está se sentindo muito melhor".

    Soro caseiro, farinha multimistura. À época, quantas pessoas desnutridas! Eu próprio fui para Florestópolis, nos 20 anos, 25 anos da pastoral. E os jovens, no ofertório, no decorrer da missa, levavam, como oferendas, fotografias de crianças desnutridas, pele e osso. A gente, olhando as fotografias, diria: "Vão morrer". Mas aquelas crianças eram os jovens ou eram os jovens quando crianças. E estavam estudando, trabalhando, com saúde. Ou seja, a interferência da sociedade permitia que houvesse mais vida, mais saúde, mais dignidade.

    Assim, as ações foram crescendo também dentro da pastoral. Hoje nós temos 165 mil voluntários no Brasil cuidando dessa área – 165 mil! Imaginemos nós, se o Poder Público tivesse de pagar para cada uma dessas pessoas um salário mínimo, o valor imenso que seria dispendido com esse trabalho de voluntários.

    Eu próprio, chegando a um Município lá atrás, vi uma pessoa, boia-fria, uma senhora com o nome das crianças numa prancheta da quadra que ela cuidava, e ela cuidava de uma por uma. E eu perguntei para ela: "Como estão as crianças"? "Não, estão bem, estão todas no verde. Não estão no vermelho. Não estão desnutridas. Há uma para a qual a gente tem de dar uma atenção especial". Ou seja, a própria comunidade, os vizinhos cuidavam para que todas as crianças tivessem saúde.

    Passando num outro local, numa funerária de Cambé, perto de Florestópolis, eu perguntei: mas quantos caixõezinhos de crianças vocês têm aqui? Morrem muitas crianças? Eles disseram: "Não. Está tudo encalhado. Depois que a tal da Pastoral da Criança começou, encalhou tudo". Que bom! Eu estava lá em Itabuna, na Bahia, e a líder da Pastoral se mudou para dentro da comunidade, da favela, comunidade vulnerável, com dificuldades, para que ela pudesse estar mais perto do povo para atender melhor as pessoas. E as pessoas passavam, na hora do almoço, na casa...

(Soa a campainha.)

    O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - PR) – ...para ver se ela fazia aquilo que ensinava aos outros a fazer: cozinha alternativa, utilizar o que a gente joga fora – mais vitaminas, proteínas, casca de ovo, casca de banana, sementes. Então, toda uma mudança de estrutura, participação em conselhos, para que houvesse políticas públicas adequadas nessa área.

    Então, eu queria, a partir dessa experiência do Município de Palmas, dar esse voto de aplauso, pedir que todos esses Municípios olhem bem a Pastoral da Criança; vejam, apoiem, animem para que o trabalho continue, porque é um trabalho de organização do povo a favor das mudanças que a gente espera sempre que sejam definitivas. Então, ajudar, aplaudir, dizer que é um bom trabalho, que estão participando.

(Soa a campainha.)

    O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - PR) – E isso é muito importante, muito importante para quem dá, assim, o melhor de si para que as mudanças aconteçam na sociedade. Não é o reconhecimento que as pessoas esperam, mas é o apoio, a participação, a alegria, o entusiasmo. E valorizar isso que todos nós fazemos pelo Brasil. A Pastoral da Criança já foi indicada lá atrás, dois ou três anos seguidos, para o recebimento do Prêmio Nobel da Paz. Não foi concedido, mas a simples lembrança do nome para receber já foi algo extraordinário.

    Então, queria deixar essa mensagem de esperança, de otimismo e dar os parabéns para o Município de Palmas pelo belo trabalho que está sendo realizado.

    Obrigado.

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – Senador, Senador, um aparte?

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Senador Confúcio.

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO. Para apartear.) – Senador Flávio, o senhor levanta nesta tarde um discurso sereno, como é do seu jeito, extremamente tranquilo, como é o seu estilo próprio, e muito importante, que é o trabalho da Pastoral da Criança, das pastorais, das igrejas católicas e de outras atividades de outras igrejas evangélicas do Brasil.

    Eu acompanho o trabalho da pastoral da Igreja Católica, e quem trabalhou na área médica nos anos 1960, 1970 para cá sabe a revolução que a pastoral da Igreja Católica fez, particularmente com o trabalho missionário de Zilda Arns e de todas as voluntárias brasileiras e com o trabalho das igrejas dispersas pelo Brasil todo. No Nordeste, a mortalidade infantil, Sr. Senador Flávio Arns, a mortalidade infantil, a queda...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Confúcio Moura (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - RO) – ...brutal da mortalidade infantil, graças a esse trabalho singelo, simples, voluntário, de pesar crianças, da multimistura, do soro caseiro, foi realmente extraordinário.

    Essa homenagem que V. Exa. presta às pastorais da Igreja Católica nesta tarde é extremamente justa e oportuna, mostrando ao Brasil que a gente pode resolver muita coisa com ações singelas, ações simples, porque o soro caseiro e a multimistura são coisas simplíssimas, mas que dão um resultado impressionante nos indicadores sociais brasileiros.

    Parabéns a V. Exa.

    O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - PR) – Eu agradeço, Senador Confúcio Moura. Concordo plenamente com o posicionamento de V. Exa. e até agradeço para lembrar o trabalho social extraordinário que outras igrejas também fazem, além da...

(Soa a campainha.)

    O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - PR) – Todo mundo. Se juntássemos os trabalhos sociais das inúmeras igrejas, a gente pensa que poderia ser uma revolução social no Brasil.

    Na sexta-feira, eu ainda estava na abertura do congresso espírita da Federação Espírita do Paraná, que tem um trabalho extraordinário pelo Brasil, assim como as igrejas evangélicas, luteranas, presbiterianas, protestantes, todo mundo, mas eu sempre digo: mesmo quem não seja religioso também se envolve, porque ter, assim, a luta por direitos humanos, por promoção da criança, da mulher, por saúde, dignidade, é uma coisa que envolve todas as pessoas independentemente da religião que professem.

    Parabéns, Senador Confúcio Moura.

    Obrigado, Senador Anastasia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/03/2019 - Página 42