Discurso durante a 31ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração do Dia Mundial da Água, celebrado na presente data. Destaque para a importância e finitude desse recurso, bem como para a necessidade de promoção de políticas de educação ambiental e saneamento básico. Alerta para os problemas de abastecimento de água que já começam a acontecer no País.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Comemoração do Dia Mundial da Água, celebrado na presente data. Destaque para a importância e finitude desse recurso, bem como para a necessidade de promoção de políticas de educação ambiental e saneamento básico. Alerta para os problemas de abastecimento de água que já começam a acontecer no País.
Aparteantes
Alvaro Dias, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2019 - Página 8
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, AGUA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, RECURSOS NATURAIS, PROBLEMA, ABASTECIMENTO.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – V. Exas., brasileiros e brasileiras, aqui fala Jorge Kajuru, seu empregado público; e, como meus patrões: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser, meu CPF é 218.405.711-87.

    Meu amigo, meu exemplo desta Casa, Presidente, Senador do Distrito Federal, Izalci Lucas, no meu primeiro pronunciamento nesta Casa fiz um desafio à diretoria da empresa Vale: que tomassem seus diretores e Presidente a água do Rio Doce. Por quê? Porque água é vida.

    Equivocadamente o nosso Planeta chama-se Terra, mas deveria ter o nome de água: Planeta Água. Dois terços da superfície do nosso Planeta estão cobertos por oceanos, e imensas geleiras recobrem as regiões polares. Hoje 22 de março de 2019 se comemora o Dia Mundial da Água.

    O volume total de água do nosso Planeta é de aproximadamente 1,35 milhões de km3. Infelizmente uma ínfima parte desse colossal volume de água é potável e está disponível para o consumo da humanidade, pois somente 2,5% da água é doce, e a maior parte dela está congelada; sobram irrisórios 0,003% deste recurso mundial para utilização pelo homem. A água potável é fundamental para o bem-estar de todos os seres vivos e a manutenção dos ecossistemas.

    Presidente, senhoras e senhores, nosso Planeta é um sistema fechado, e a mesma quantidade de água é reciclada há bilhões de anos, porém o consumo de água potável aumenta ano a ano devido aos impactos ambientais causados pela superpopulação, atividades agrícolas e industriais e, principalmente, pelo mau uso dos recursos hídricos.

    Os recursos hídricos potáveis são limitados e sua distribuição geográfica no Planeta é irregular, é desigual, causando problemas geopolíticos gravíssimos. Certamente, Pátria amada, as guerras que ocorrerão no século XXI serão pelo domínio da água potável, contrapondo-se às guerras que ocorrem em nome do petróleo. Pasmem! Estudos realizados pela ONU concluíram que a qualidade da água piora cada vez mais devido ao acúmulo de lixo sem tratamento adequado. Demonstraram também que houve uma mudança no ciclo hidrológico devido à construção sem planejamento do espaço urbano e em áreas de mananciais. Cidades amorfas sofrem com as enchentes, que acabam potencializando o problema causado pelos resíduos decorrentes das atividades humanas: o consumismo desenfreado, o não reaproveitamento de sobras orgânicas, a colocação do lixo muito tempo antes da coleta, a não colaboração com a reciclagem, a construção nas várzeas dos rios. Gente, estima-se que, por dia, as reservas de água potável sofrem o impacto de duas toneladas de lixo procedentes das atividades industriais, agrícolas e de origem humana.

    Precisamos então, Presidente, fazer com que a política nacional de resíduos sólidos seja reforçada e implementada e que seja já. O estudo denominado Água Doente, que foi elaborado em 2010 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), conclui que o uso de água poluída mata mais do que qualquer forma de violência, inclusive as guerras, estimado Senador Paulo Paim. Um bilhão de pessoas em todo o mundo não tem água potável e cerca de 2,6 bilhões, quase um terço da população mundial, não dispõe de água suficiente para o saneamento básico.

    O Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef) afirma que 1,5 milhão de crianças morrem anualmente com as doenças de base hídrica. Em países que investem em saneamento básico e educação ambiental, como Áustria, Itália, Dinamarca, apenas 0,1% das mortes são decorrentes da ingestão de água contaminada.

    Expandindo-se pelos territórios do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai está o Aquífero Guarani. Ele possui a capacidade de abastecer 400 milhões de pessoas por ano, produzindo 50 quatrilhões de litros de água. E pela conquista dele é que as futuras gerações guerrearão, e isso está bem próximo de acontecer.

    É preciso estar atento às mudanças do mapa do poder, que agora serão regidas pelos desafios ambientais. A poluição dos recursos hídricos brasileiros é causada principalmente pela falta de saneamento básico e total descaso com o lixo hospitalar, com o necrochorume. Dados do Ministério do Meio Ambiente apontam que 63% dos depósitos de lixo no Brasil estão em rios, lagos e restingas. Também os agrotóxicos, o mercúrio dos garimpos e lixo bruto são jogados nos rios.

    A cada real investido em saneamento básico são economizados R$4,30 na saúde – pasmem! Portanto, faltam uma velha e conhecida vontade política e mobilizações sociais para se resolver essa calamidade pública. Para reverter a calamitosa situação da água potável, é preciso aceitar definitivamente que os recursos hídricos são finitos, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino, rever os hábitos de consumo, investir prioritariamente em saneamento básico e reumanizar a humanidade, promovendo, então, a alteridade e a solidariedade entre os povos. Sem essas mudanças...

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Kajuru, eu peço um aparte no momento em que V. Exa. entender mais adequado.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Prazerosamente, já estou finalizando, Senador Paim.

    Sem essas mudanças de comportamento, as guerras para se obter o domínio da água potável serão infinitas e de uma barbárie bem pior que os conflitos anteriores, em que o valor vida poderá desaparecer, e, por isso, não podemos aceitar o fim das conversões das multas ambientais para apoiar projetos nas principais bacias hidrográficas brasileiras.

    Fecho. Um grande paradoxo, mas um grande paradoxo, é que, por um diagnóstico publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA), o Atlas Brasil Abastecimento Urbano de Água, o País corre o risco, nos próximos anos, de ter sérios problemas de abastecimento de água em mais da metade dos seus Municípios. Todos os 5.565 Municípios brasileiros foram mapeados, e, pasmem novamente, 55% deles correm risco de desabastecimento de água nos próximos anos. Grandes centros urbanos estão em situação de risco também. No ano de 2015, o mais importante Estado para a economia brasileira, São Paulo, foi afetado por um sério problema de escassez hídrica. E, mais recentemente, Senador Izalci Lucas, a sua Brasília passou por um processo de racionamento de água.

    Fecho de vez. Os paradoxos continuam quando olhamos as regiões brasileiras. A Amazônia concentra, gente, 81% do potencial hídrico do Brasil, mas menos de 14% de sua população urbana é atendida por adequados sistemas de abastecimento. É possível viver sem petróleo? É, afirmo, e também sem seus derivados. Mas é impossível viver sem água potável.

    Para concluir, não estou feliz – e não estou mesmo – neste dia de hoje em que se comemora o Dia Mundial da Água. Mas, sim, estou preocupadíssimo com o que já estamos vivendo e com o que deixaremos para as gerações futuras do nosso Brasil. E daí conclamo meus pares, que tanto respeito, para mudarmos essa realidade considerando que água é vida. Repito, água é vida. Gandhi dizia que você nunca saberá que resultados virão da sua ação, mas, se você não fizer nada, não existirão resultados.

    Prazeroso aparte neste Dia Mundial da Água, com quem já falava ali no cafezinho, ao gaúcho Senador Paulo Paim. Desculpe-me pela visão de 3% apenas: há outro colega que está aqui?

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Alvaro Dias, me adianto.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Alvaro todos os Dias, que certamente também falará deste Dia Mundial da Água, pelo seu preparo.

    Senador Paulo Paim, com prazer.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Senador Kajuru, eu vou ser bem rápido porque estou inscrito na sequência e vou tocar também nesse assunto, mas quero cumprimentar V. Exa. por ter iniciado esse debate no dia de hoje, que é 22 de março, Dia Internacional da Água.

    Como V. Exa. diz, e muito bem, a água é quase que o centro das nossas vidas. Toda vez que eu vou ao médico – eu tenho alguns problemas semelhantes ao seu –, o médico pergunta: "Está tomando bastante água, Paim?". E eu digo isto para aqueles que estão nos assistindo: em todos os sentidos ele pede que eu beba muita, muita água. É bom para tudo, diz ele.

    Água é quase que um remédio milagroso. Se não tomarmos água, teremos problemas seríssimos. E aí, é toda a natureza, não são só os homens e as mulheres. É toda a natureza. É o elixir da vida, como V. Exa. fala muito bem. E há quem diga que vai ser se continuarmos assim não cuidando corretamente da proteção da água e se não economizarmos, inclusive, não é? Abra a torneira, mas abra só o necessário. Há gente que abre a torneira, vai dar uma volta e, só depois, volta para tomar banho, por exemplo.

    Esse cuidado com a água é fundamental. Há quem diga – e com essa frase eu já vou terminar – que o conflito da humanidade no futuro...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Guerras.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Serão guerras pela disputa da água. Está aqui nas informações que eu trarei no segundo momento. Isso preocupa a todos nós.

    Se a água é tão sagrada, vamos cuidar dela com o carinho – estou repetindo muito essa palavra –, com o amor que a água merece. É o símbolo da nossa própria vida. Sem água, nem o coração bate, e o coração é o centro – dizem. Por isso, eu quero cumprimentar V. Exa.

    Sei que os Senadores, quase todos aqui, vão tratar desse tema de que eu também tratarei no momento adequado.

    Cumprimento V. Exa. e desejo boa recuperação na saúde. Sei que V. Exa. tem, vamos dizer, um probleminha... 

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Hipoglicemia.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Isso. Todo cuidado é pouco.

    Um abraço.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Eu é que agradeço pelas palavras apropriadas.

    Ainda bem que, hoje, eu falei de água, Senador Alvaro todos os Dias; eu não falei, como o fiz, infelizmente, anteontem, de esgoto. Entendeu o que eu quero dizer, não é? Outro tipo de esgoto. (Risos.)

    Senador Alvaro todos os Dias, que prazer tê-lo em aparte.

    O Sr. Alvaro Dias (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR. Para apartear.) – Senador Kajuru, eu hoje vi V. Exa., se não me falha a memória, já às 6h50 da madrugada....

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Às 6h08.

    O Sr. Alvaro Dias (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – ... em frente à Biblioteca do Senado Federal, conversando com os brasileiros.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – É porque a Senadora Heloísa Helena chegou às 6h10. Aliás, Paim, que quer rever a Senadora Heloísa Helena, ela estará no Gabinete 16 ao dispor de quem quiser vê-la, porque sei que ela é muito querida de muitos dos senhores aqui. 

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Irei lá.

    O Sr. Alvaro Dias (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – Sem dúvida, uma grande Parlamentar que tivemos aqui no Senado Federal, a Senadora Heloísa Helena.

    Mas eu quero cumprimentá-lo por essa dedicação, por esse esforço em nome da população brasileira, tão descrente em relação aos acontecimentos que V. Exa. define como acontecimentos do esgoto, e o faz muito bem. Mas, hoje, é dia de água e nós queremos cumprimentá-lo também pelo pronunciamento com conteúdo que traz à tribuna do Senado para a abordagem de um tema tão importante para os brasileiros.

    Sem dúvida, nós temos aí 13 mil rios cortando os nossos solos, muitos deles abandonados, depredados ambientalmente, com a ausência do cuidado, sobretudo, que deveria partir da autoridade pública responsável. E somos mais de 100 milhões de brasileiros sem saneamento básico e abastecimento de água condigna. Aliás, nós temos uma população, equivalente à da Nova Zelândia, que me parece ser de mais de 3 milhões de brasileiros que não possuem, sequer, banheiro em casa, ou seja, não possuem uma torneira em casa. Então, são as desigualdades sociais que afetam o nosso País.

    Eu me lembro de que, quando Governador, nós implementamos, no Estado do Paraná, um programa chamado Paraná Rural, que era um programa de microbacias, o manejo integrado dos solos e das águas. Esse programa foi, depois, considerado modelo pela FAO, pelo Banco Mundial, e foi implementado em 18 países. E nós tivemos esse programa...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Alvaro Dias (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - PR) – ... como um exemplo de compatibilização da preservação ambiental com produção e produtividade, demonstrando que, na agricultura, na área rural, os agricultores são preservacionistas e não depredadores, porque eles tiveram a consciência para a preservação ambiental. E nós recuperamos muito dos rios que cortam o Estado do Paraná àquela época com a recuperação das matas ciliares, especialmente.

    E uma grande satisfação que eu tive, alguns anos depois, foi de sobrevoar o Estado e verificar que mudara a cor das águas dos nossos rios. Antes, águas barrentas. Em algumas regiões do Estado, o solo é vermelho. V. Exa. sabe que, no norte do Paraná, nós somos chamados de "os pés vermelhos" exatamente em função do solo do norte e do noroeste do Paraná, que têm um solo avermelhado. Então, a cor das águas dos rios mudou. Tornaram-se águas límpidas.

    E nós assistimos aqui, constantemente, especialmente aos colegas do Nordeste brasileiro proclamando a necessidade de uma ação rigorosa para a salvação do Rio São Francisco e uma política adequada para a múltipla utilização das águas dos nossos rios. Muitas vezes preocupam-se apenas com a geração de energia. Outras vezes, com o abastecimento de água. E, outras vezes, com a irrigação. Mas é preciso ter a exata noção da importância da múltipla utilização das águas dos nossos rios. Mas é, sobretudo, mais importante a preservação. A autoridade pública, seja do Município, seja do Estado, seja da União, tem de ter esta responsabilidade: a preservação dos nossos rios.

    Eu o cumprimento, neste dia, pelo belíssimo pronunciamento que faz da tribuna do Senado.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Aqui quem fica feliz sou eu, Senador Alvaro todos os Dias, em função de saber que posso debater o Planeta Água, um assunto tão importante, Presidente Izalci Lucas, com V. Exas., preparados para o tema.

    Eu só peço a gentileza do já gentil e médico Humberto, do Paim, do Alvaro, dos companheiros, de V. Exas. e especialmente do Presidente Izalci de, em 30 segundos, oferecer este meu pronunciamento a um compositor genial, cristalino como a água deste País, que interpretou Planeta Água, Guilherme Arantes:

Água que nasce na fonte

Serena do mundo

E que abre um

Profundo grotão

Água que faz inocente

Riacho e deságua

Na corrente do ribeirão...

Águas escuras dos rios

Que levam

A fertilidade ao sertão

Águas que banham aldeias

E matam a sede da população...

Águas que caem das pedras

No véu das cascatas

Ronco de trovão

E depois dormem tranquilas

No leito dos lagos [...]

Terra! Planeta Água.

    Obrigado, Guilherme Arantes. Obrigado, meu amigo pessoal Guilherme Arantes.

    Obrigado, Brasil.

    Obrigado pela paciência do tempo, Presidente Izalci Lucas.

    E, a todos e todas, saúde e paz, ótimo final de semana e, sempre, com Deus.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2019 - Página 8