Discurso durante a 39ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear as Corporações dos Corpos de Bombeiros Militares que atuaram no resgate das vítimas do rompimento da Barragem em Brumadinho, Minas Gerais.

Autor
Carlos Viana (PSD - Partido Social Democrático/MG)
Nome completo: Carlos Alberto Dias Viana
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a homenagear as Corporações dos Corpos de Bombeiros Militares que atuaram no resgate das vítimas do rompimento da Barragem em Brumadinho, Minas Gerais.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2019 - Página 43
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CORPORAÇÃO MILITAR, CORPO DE BOMBEIROS, MOTIVO, ATUAÇÃO, RESGATE, GRUPO, VITIMA, ROMPIMENTO, BARRAGEM, LOCAL, BRUMADINHO (MG).

    O SR. CARLOS VIANA (PSD - MG. Para discursar.) – Muito obrigado, Soraya Thronicke.

    Já estamos todos nominados, quero dar o meu bom-dia especial a cada um, a cada uma, aos senhores presentes desde os praças aos coronéis, a todas as instituições representadas aqui, mas em especial ao meu amigo e pessoa muito querida, Coronel Estevo, que comanda o nosso Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, no qual saúdo a todos aqui. Tenho a alegria de conhecê-lo já há muitos anos, admirar o trabalho e ser um confidente. O Coronel é um conselheiro nas várias situações em que, como jornalista, eu pude trabalhar com a presença do Corpo de Bombeiros.

    A minha admiração pela corporação não é recente ou simplesmente porque estamos aqui. Eu tenho experiências na minha carreira em que aprendi muito com os bombeiros e as bombeiras. Eu quero citar aqui em especial, Senadora Soraya e Carla Zambelli, nossa Deputada que está conosco aqui acompanhando, o ano de 2003, como jornalista, como repórter que sempre gostei de ser, começava o meu trabalho por volta de 6h da manhã e, ali, ia, se fosse preciso, o dia todo. Logo que cheguei para o trabalho, recebi a informação de que nós tínhamos um desmoronamento com vítimas numa das áreas mais carentes de Belo Horizonte, na região Oeste, a chamada Vila São Jorge, uma das vilas que compõem a região do Morro das Pedras.

    Eu fui para o local com o meu cinegrafista, com a equipe, e nos deparamos com uma situação muito difícil. Era um lugar muito aclivado, estava chovendo muito e a lama havia descido sobre um conjunto de quatro barracões e a informação é de que nove pessoas estavam soterradas ali naquele momento. A chuva não dava um minuto de trégua e, no meio daquele local, nós conseguimos acessar uma parte com segurança, o Corpo de Bombeiros permitiu à equipe que estava no local, e eu fiquei acompanhando de uma vista muito privilegiada, Senador Marcos do Val, que agora está conosco aqui, o trabalho do Corpo de Bombeiros. Não havia possibilidade de máquinas. Então, o trabalho era feito com pás e picaretas, num esforço grande, principalmente de risco de vida àqueles militares que estavam ali porque, a qualquer momento, o maciço de lama poderia descer novamente sobre nós, aquela quantidade de terra. O trabalho era incessante.

    Aproximadamente após duas horas de escavações – e a retirada da lama era feita com baldes, porque não havia outra possibilidade, se tirava na pá, se colocava em balde, em pequenos carrinhos e voluntários –, apareceu o rosto de um menino de oito anos, nove anos de idade. Quando o rosto do menino apareceu, foi um grito de que o menino estava vivo, a criança estava viva. E o trabalho dos Bombeiros começou a ser feito com muito mais afinco, mas quis Deus que, naquele momento, que a terra cedesse mais uma vez.

    A lama do barranco, que foi mal cortado na ocupação irregular, desceu novamente com uma violência, com uma rapidez, todos tivemos que correr e recuar para que não fôssemos atingidos, e a lama encobriu o menino novamente na mesma proporção que estava antes.

    Eu lembro bem, Carla, senhores presentes, que os familiares gritavam. Nós estávamos assustados, mas algo me chamou a atenção: a imediata ação dos bombeiros que estavam ali em retomar as escavações com mais força e com mais rapidez, e com mais risco naquele momento. Infelizmente, a criança não resistiu, foi uma das nove vítimas daquele dia. E, no dia seguinte, o velório coletivo marcou Belo Horizonte para sempre.

    Dessa tragédia, nós conseguimos criar, em Belo Horizonte, com muito trabalho, com muita crítica até à Prefeitura na época, um grupo executivo de áreas de risco, que funciona até hoje de uma forma muito importante e que conseguiu prevenir. De lá para cá, Belo Horizonte não teve mais nenhuma morte nas áreas de ocupação.

    Os problemas passaram a ser nas áreas formais da cidade, mas, nas vilas e favelas, onde nós temos que ter mais atenção, nós não tivemos mais mortes por conta desse grupo executivo de área de risco, que envolve o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil, envolve os próprios moradores e as autoridades públicas. O grupo hoje faz um trabalho que já foi premiado. Inclusive, nós tivemos uma premiação internacional de reconhecimento pela relevância do trabalho.

    Esse exemplo que cito aos senhores foi um marco na minha vida, em admirar o trabalho do Corpo de Bombeiros no salvamento das pessoas. De lá para cá, tenho sido um defensor firme sempre da evolução, da melhor formação, da defesa dos investimentos do Estado para que o Corpo de Bombeiros possa receber o apoio necessário para salvar vidas e para que a condição de trabalho seja cada vez melhor.

    Nós evoluímos muito, mas há muito a ser feito. Infelizmente, como disse o eminente Senador Antonio Anastasia, no Brasil, dá-se muito mais importância aos velórios do que à vida. Se nós aprendêssemos com as tragédias, muitos dos nossos brasileiros estariam vivos hoje, não seriam vitimados nas estradas, não seriam vitimados em situações como a de Brumadinho.

    Nós não aprendemos com o que aconteceu em Mariana, 19 mortos – é como se essas pessoas não tivessem existido naquele ano de 2015. A legislação não foi mudada, o sistema de fiscalização e regulação do setor não foi ampliado ou foi melhorado. Pelo contrário, nós tivemos, dentro apenas da visão econômica do lucro acima das vidas, licenciamentos cada vez mais rápidos e um setor que se autorregulou. Como nós não aprendemos com Mariana em 2015, nós matamos, permitimos que 310 pessoas morressem lá em Brumadinho.

    Hoje, Senador Marcos do Val, Senadora Soraya, se nós não trabalharmos com seriedade e nós, que fomos eleitos para legislar, para representar o povo brasileiro, não assumirmos um papel de seriedade com esse assunto – queira Deus que nunca aconteça –, nós podemos ter agora as mortes na casa dos milhares. Nós precisamos aprender com as tragédias. Nós, brasileiros, precisamos dar mais valor à vida do que aos velórios. Essa é uma necessidade de mudança.

    Vocês, que atuam no Corpo de Bombeiros, que são cada vez mais qualificados, são pessoas que têm, da sociedade brasileira, um reconhecimento e uma gratidão muito grande, são fundamentais para que nós possamos usar a experiência de vocês, o conhecimento que vocês têm construído, para que a legislação se torne, antes de tudo, uma legislação preventiva, para garantir a segurança e naturalmente o desenvolvimento das nossas comunidades.

    Eu penso que o tempo de um Brasil que apenas ataca, que combate o fogo, acabou. Nós temos que trabalhar o que hoje o Corpo de Bombeiros faz muito bem, que é a prevenção. As equipes que visitam os prédios mais antigos, as equipes que orientam os síndicos e condôminos sobre a necessidade e a importância da prevenção, do treinamento das brigadas internas, esse trabalho tem que ser ampliado. Ele é muito mais barato e muito mais gratificante do que infelizmente depois as cenas de uma tragédia, de um prédio em chamas, e as famílias desesperadas.

    Eu repito: nós precisamos que o Brasil valorize mais a vida do que os velórios. E isso passa pelo trabalho de vocês, não só prontos para combater e agir nas tragédias, mas prontos para oferecer à sociedade sempre uma voz preventiva e uma voz de conhecimento e de crescimento.

(Soa a campainha.)

    O SR. CARLOS VIANA (PSD - MG) – Por isso eu estou muito feliz de estar aqui nesta homenagem.

    E aqui no Senado, as mulheres estão dando um show, viu? Porque quando nós pensamos na homenagem, a Senadora já havia protocolado. Está tudo bem, não há problema, vamos marcar o dia e estaremos lá juntos, para que a homenagem possa ser feita.

    Meu muito obrigado a todos, meus parabéns a cada um, a cada uma, e o meu desejo de que nós possamos, no exemplo de vocês, trabalhar neste Senado para que a República brasileira possa ser uma República de vida, e não uma República que lamenta suas tragédias.

    Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2019 - Página 43