Discurso durante a 38ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro sobre a proposta de reforma da previdência social e leitura de documento da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que demonstra a preocupação da entidade com as mudanças consideradas no que diz respeito à previdência social.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PREVIDENCIA SOCIAL:
  • Registro sobre a proposta de reforma da previdência social e leitura de documento da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que demonstra a preocupação da entidade com as mudanças consideradas no que diz respeito à previdência social.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2019 - Página 58
Assunto
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
Indexação
  • REGISTRO, PROPOSTA, REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL, LEITURA, DOCUMENTO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), PREOCUPAÇÃO, NECESSIDADE, ADAPTAÇÃO, SEGURIDADE SOCIAL, PREJUIZO, CLASSE SOCIAL, BAIXA RENDA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, DEBATE, ORGANIZAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, DEFESA, DIREITOS.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SECRETARIA DE REGISTRO E REDAÇÃO PARLAMENTAR - SERERP

COORDENAÇÃO DE REDAÇÃO E MONTAGEM - COREM

29/03/2019


    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, os bispos que integram o Conselho Permanente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) emitiram uma mensagem na qual demonstram preocupação com a Reforma da Previdência.

    Eles reafirmam que o sistema da Previdência Social possui uma intrínseca matriz ética.

    Abre aspas, “Ele é criado para a proteção social de pessoas que, por vários motivos, ficam expostas à vulnerabilidade social (idade, enfermidades, acidentes, maternidade…), particularmente as mais pobres. Nenhuma solução para equilibrar um possível déficit pode prescindir de valores ético-sociais e solidários”, fecha aspas.

    Eles reconhecem que o sistema da Previdência precisa ser avaliado e, se necessário adequado à Seguridade Social.

    Alertam, no entanto, que as mudanças contidas na PEC 06/2019 sacrificam os mais pobres, penalizam as mulheres e os trabalhadores rurais, punem as pessoas com deficiência e geram desânimo quanto à seguridade social, sobretudo, nos desempregados e nas gerações mais jovens.

    Apontam também que o discurso de que a reforma corta privilégios precisa deixar claro quais são esses privilégios, quem os possui e qual é a quota de sacrifício dos privilegiados, bem como a forma de combater a sonegação e de cobrar os devedores da Previdência Social.

    Abre aspas, “a conta da transição do atual regime para o regime de capitalização, proposto pela reforma, não pode ser paga pelos pobres”, fecha aspas, reforçam.

    Os bispos fazem um apelo ao Congresso Nacional para que favoreça o debate público sobre esta proposta de reforma da Previdência que incide na vida de todos os brasileiros:

Conclamamos as comunidades eclesiais e as organizações da sociedade civil a participarem ativamente desse debate para que, no diálogo, defendam os direitos constitucionais que garantem a cidadania para todos.

    Sr. Presidente, peço que o documento seja registrado na íntegra.

Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília-DF nos dias 26 a 28 de março de 2019, assistidos pela graça de Deus, acompanhados pela oração da Igreja e fortalecidos pelo apoio das comunidades eclesiais, esforçamo-nos por cumprir nossa missão profética de pastores no anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo e na denúncia de acontecimentos e situações que se opõem ao Reino de Deus.

A missão da Igreja, que nasce do Evangelho e se alimenta da Eucaristia, orienta-se também pela Doutrina Social da Igreja.

Esta missão é perene e visa ao bem dos filhos e filhas de Deus, especialmente, dos mais pobres e vulneráveis, como nos exorta o próprio Cristo:

“Todas as vezes que fizestes isso a um destes pequeninos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).

Por isso, nosso olhar se volta constantemente para a realidade do país, preocupados com propostas e encaminhamentos políticos que ameacem a vida e a dignidade dos pequenos e pobres.

Dentre nossas atuais preocupações, destaca-se a reforma da Previdência - PEC 06/2019 - apresentada pelo Governo para debate e aprovação no Congresso Nacional. Reafirmamos que “o sistema da Previdência Social possui uma intrínseca matriz ética.

Ele é criado para a proteção social de pessoas que, por vários motivos, ficam expostas à vulnerabilidade social (idade, enfermidades, acidentes, maternidade…), particularmente as mais pobres.

Nenhuma solução para equilibrar um possível déficit pode prescindir de valores ético-sociais e solidários” (Nota da CNBB, março/2017).

Reconhecemos que o sistema da Previdência precisa ser avaliado e, se necessário, adequado à Seguridade Social.

Alertamos, no entanto, que as mudanças contidas na PEC 06/2019 sacrificam os mais pobres, penalizam as mulheres e os trabalhadores rurais, punem as pessoas com deficiência e geram desânimo quanto à seguridade social, sobretudo, nos desempregados e nas gerações mais jovens.

O discurso de que a reforma corta privilégios precisa deixar claro quais são esses privilégios, quem os possui e qual é a quota de sacrifício dos privilegiados, bem como a forma de combater a sonegação e de cobrar os devedores da Previdência Social.

A conta da transição do atual regime para o regime de capitalização, proposto pela reforma, não pode ser paga pelos pobres.

Consideramos grave o fato de a PEC 06/2019 transferir da Constituição para leis complementares regras previdenciárias como idades de concessão, carências, formas de cálculo de valores e reajustes, promovendo desconstruções da Constituição Cidadã (1988).

Fazemos um apelo ao Congresso Nacional que favoreça o debate público sobre esta proposta de reforma da Previdência que incide na vida de todos os brasileiros.

Conclamamos as comunidades eclesiais e as organizações da sociedade civil a participarem ativamente desse debate para que, no diálogo, defendam os direitos constitucionais que garantem a cidadania para todos.

Ao se manifestar sobre estas e outras questões que dizem respeito à realidade político-social do Brasil, a Igreja o faz na defesa dos pobres e excluídos.

Trata-se de um apelo da espiritualidade cristã, da ética social e do compromisso de toda a sociedade com a construção do bem comum e com a defesa do Estado Democrático de Direito.

O tempo quaresmal, vivido na prática da oração, do jejum e da caridade, nos leva para a Páscoa que garante a vitória, em Jesus, sobre os sofrimentos e aflições. Anima-nos a esperança que vem de Cristo e de sua cruz, como ensina o Papa Francisco: “O triunfo cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal” (Evangelii Gaudium, 85).Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, interceda por todos os brasileiros e brasileiras! Brasília-DF, 28 de março de 2019.

    Assinam: Cardeal Sergio da Rocha (Arcebispo de Brasília e Presidente da CNBB); Dom Murilo S. R. Krieger (Arcebispo de Salvador e Vice-Presidente da CNBB); Dom Leonardo Ulrich Steiner (Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário-Geral da CNBB).

    Era o que tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2019 - Página 58