Discurso durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato de viagem oficial de S. Exª ao Japão, destinada ao estreitamento de laços comerciais e culturais.

Autor
Marcos Rogério (DEM - Democratas/RO)
Nome completo: Marcos Rogério da Silva Brito
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATIVIDADE POLITICA:
  • Relato de viagem oficial de S. Exª ao Japão, destinada ao estreitamento de laços comerciais e culturais.
Aparteantes
Arolde de Oliveira.
Publicação
Publicação no DSF de 03/04/2019 - Página 42
Assunto
Outros > ATIVIDADE POLITICA
Indexação
  • COMENTARIO, VISITA OFICIAL, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO, OBJETIVO, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, COMERCIO, CULTURA.

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO. Para discursar.) – Sr. Presidente, nobre Senador Paulo Paim, Sras. e Srs. Senadores, eu queria fazer um registro. Eu tive oportunidade de ir ao Japão dias atrás e gostaria de compartilhar com o Plenário e com os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado Federal essa experiência extraordinária.

    Todos sabemos que o Brasil é um dos maiores produtores de carne bovina do mundo e também um dos maiores exportadores. Em 2018, nós batemos o recorde de 1,6 milhão de toneladas exportadas. Em receita, o valor alcançou US$6,7 bilhões, uma cifra extremamente considerável.

    Esse é um importante setor para a nossa economia e com grande potencial de crescimento, e importante especialmente para o nosso Estado de Rondônia, um dos maiores produtores de bovinos do Brasil e numa posição geográfica estratégica em razão da nossa proximidade com a saída para o Pacífico.

    Foi com vistas à expansão do mercado da carne brasileira que aceitei com grande satisfação o convite para conhecer o Japão. Saímos de Brasília no dia 8, numa missão a convite do Ministério de Negócios Estrangeiros do Japão, através do Programa Juntos!, programa de Intercâmbio entre Japão, América Latina e Caribe para políticos e intelectuais.

    A viagem teve como missão, além de conhecer aquele país, fazer a promoção mútua entre Brasil e Japão, aprofundando nossos laços de amizade e entendimento sobre política, economia, sociedade, cultura, história e diplomacia.

    Compuseram a comitiva brasileira, além de mim, como Senador, os Deputados Federais: Kim Kataguiri, que é do Democratas, de São Paulo, que foi na verdade o coordenador dessa missão justamente por sua descendência japonesa; também Marcel Van Hattem, Deputado do Novo, do Rio Grande do Sul; Luisa Canziani, Deputada do PTB, do Paraná; Filipe Barros, Deputado do PSL, do Paraná.

    Como executivos e intelectuais, foram: Leonardo Santos, do Pará; Thales Castro, Professor da Universidade Católica de Pernambuco; Alexandre Guimarães, da Casa Civil do Paraná; Martin Kalkmann, Prefeito de Ivoti, no Rio Grande do Sul, Senador Paim, também integrou – dois do Rio Grande do Sul, ele e o Marcel –; também Marcelo Pereira, Superintendente Adjunto de Planejamento e Desenvolvimento Regional da Suframa.

    Nós chegamos em Tóquio no dia 10, depois de uma jornada de viagem de cerca de 30 horas e tivemos uma agenda intensa. Na manhã do dia 11, nos reunimos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde fomos recepcionados pelo Sr. Jiro Takamoto, para as orientações gerais de nossa semana no Japão.

    Discutimos a agenda de intercâmbio e matérias de política, economia, história, sociedade, uma agenda superintensa. Ao final da manhã, nos reunimos com o Vice-Ministro Parlamentar do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, Sr. Kiyoto Tsuji, onde tratamos de temas como a abertura comercial para a carne brasileira no Japão e a abertura do Brasil para investimentos, especialmente no campo da infraestrutura, oportunidades de parcerias com o Brasil.

    Durante a tarde, nos foi apresentado um pouco da cultura japonesa, em documentários e apresentação fotográfica do desastre ocorrido em Fukushima, no ano de 2011, coincidentemente no dia 11/03, data em que se completavam oito anos do desastre.

    Ao fim da tarde, fomos recebidos pelo Vice-Primeiro-Ministro das Finanças no Japão, Taro Aso, aliás, um encontro extraordinário com alguém que gosta muito do Brasil, ele que já foi Primeiro-Ministro do Japão.

    Nessa oportunidade, tratamos das possibilidades de relações futuras do Brasil com o Japão, sobretudo um amplo acordo de parceria econômica nas áreas de educação, infraestrutura, tecnologia, segurança e prevenção a desastres. E aqui, pontualmente, nós abordamos também a questão da compra da carne brasileira, porque o Japão tem restrições a nossa carne em razão do controle da febre aftosa. Eles têm uma série de exigências, e o Brasil, ao longo dos últimos anos, deixou de prestar informações, deixou de apresentar as certificações, as credenciais do Brasil para comercializar carne com o Japão.

    E o nosso pleito, a nossa demanda, o nosso objetivo nessas tratativas com o Ministro Taro Aso foi muito bem recebido. Ele foi muito simpático às proposições que fizemos. E, a partir dali, abriu-se a possibilidade de o Brasil apresentar as credenciais para comercializar especialmente a nossa carne bovina, com o Japão. No dia seguinte, nós já tínhamos lá um representante do Ministério da Agricultura, com os documentos, apresentando já as primeiras certificações que são necessárias para a retomada desse negócio.

    A comitiva brasileira pediu, em nome do Governo brasileiro, que se estudasse a política comercial para possibilitar a exportação da carne brasileira para o Japão, bem como a facilitação do visto e reconhecimento da nacionalidade japonesa para os descendentes de japoneses que escolheram o Japão para viver.

    Na noite desse dia, a delegação brasileira foi recepcionada pelo Embaixador e Diretor-Geral dos Assuntos da América Latina e Caribe do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, Sr. Takahiro Nakamae, num jantar com o Embaixador do Brasil no Japão, Eduardo Saboia. E lá tratamos novamente das relações entre os dois países, dando boas-vindas aos jovens políticos. Eram todos Parlamentares novos. Eu acho que, dos Parlamentares que estavam lá, eu era o mais velho, com 40 anos. Todos os demais eram muito jovens, especialmente os Deputados Estaduais e os Deputados Federais.

    Depois, nós tivemos uma série de agendas. Visitamos a cidade de Toyota, onde nós conhecemos uma escola, Senador Paim, onde mais de 50% dos alunos são brasileiros – uma escola japonesa –, são filhos de brasileiros que estão no Japão há muitos anos, 20, 30 anos. Esses filhos estudam nessa escola. E, quando a comitiva chegou para fazer essa visita, foi uma recepção, Senador Arolde, muito calorosa, porque, no Japão, até as crianças são calmas, não são muito barulhentas. E os brasileiros, os que moram aqui e os que moram lá, são agitados e alegres. Quando eles ouviram alguém falar português, foi um negócio, assim, extraordinário, muito bacana: a emoção das crianças, vindo, abraçando todo mundo, perguntando sobre o Brasil, manifestando o desejo de voltar para o Brasil. Aquilo nos tocou muito. E algumas lições que a gente tira também desses intercâmbios, desse contato que a gente faz.

    Ao longo da visita – nós ficamos cerca de três horas nessa escola –, num dado momento, nós começamos a observar uma movimentação diferente, porque começaram a juntar cadeira para um lado, mesa para outro, e você vê criança com balde d'água, criança com esponja. O que vai acontecer aqui? E a diretora do colégio e aqueles que nos acompanhavam: "Não, agora é o momento da limpeza". Mas quem vai fazer a limpeza? Vai vir aqui o pessoal da limpeza? "Não, aqui há um cronograma, tem hora para tudo, inclusive para a limpeza, e quem faz a limpeza são os alunos." Mas isso é comum? "Isso é comum, as crianças precisam aprender o valor do trabalho desde muito cedo." E aquilo chamou a atenção de todo o grupo.

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO) – Nós conversamos com essas crianças. E, realmente, é algo diferenciado, é outra cultura, é outra cabeça. A maioria delas tem o desejo de, no futuro, voltar para o Brasil. Nós gravamos, inclusive, falas, depoimentos dessas crianças. Algumas delas ainda não vieram ao Brasil e querem conhecer o Brasil. Outras que já vieram querem voltar para morar no Brasil, para fazer faculdade no Brasil. E aqui, Senador Arolde, nós temos um problema, porque aquelas crianças e jovens que de repente podem vir para o Brasil, querem vir para o Brasil para fazer faculdade no Brasil, por exemplo, não têm a possibilidade de ingressar nos cursos superiores pelos canais que nós disputamos aqui, as provas que são aplicadas e que credenciam esses jovens para a faculdade não têm possibilidade... Não há hoje mecanismo que possibilite aos filhos de brasileiros que moram no exterior fazerem essas provas. Então, é algo que a gente vai ter que estudar, vamos ter que buscar caminhos alternativos para também possibilitar que esses jovens que querem voltar para o Brasil, não só para estudar, mas para morar aqui, tenham também condições de acesso.

    Senador Arolde, ouço V. Exa.

    O Sr. Arolde de Oliveira (PSD - RJ. Para apartear.) – A experiência de V. Exa. é enriquecedora do ponto de vista humano. Imagino que V. Exa. também tenha observado o respeito e o cuidado que o japonês tem para com as pessoas idosas. Até digo isso com muita propriedade, porque realmente é um distintivo, é uma diferença do ponto de vista da educação. Eles consideram que os idosos são repositórios de experiência e que podem sempre contribuir com os mais jovens, pela vida que já viveram, pela vida que já experimentaram. Esse é outro aspecto que V. Exa. naturalmente observou.

    Obrigado.

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO) – É verdade. Agradeço a V. Exa. pelo aparte, que enriquece a minha fala, porque é uma constatação real. É justamente isso que a gente vê lá, um respeito absoluto às regras, aos protocolos, às pessoas de mais idade, que são referência. Tanto que eles convidam grupo de jovens Parlamentares para conhecer o país e apresentar a sua cultura. Eu compartilho algo que... A gente tem que se policiar muito. O Brasil, com essa cultura do jeitinho, com essa cultura de que não se obedecem regras simples, que para eles é algo fundamental.

    Num dos momentos em que a gente estava andando numa das avenidas de Tóquio, uma avenida muito movimentada, com muita gente, atravessou o sinal aberto, todo o mundo atravessa... Aí, tem um segundo sinal, o sinal fecha, fica vermelho. Os brasileiros, não vindo carro nenhum, atravessam. Eles todos param e ficam esperando o sinal abrir. Cultura: é algo que a gente tem que observar e replicar os bons exemplos no Brasil, além de outros aspectos.

    Estivemos também na cidade de Nagoya. Estivemos na cidade de Kyoto, Gunma.

    Um fato interessante: o maior produtor de alho poró e cebolinha do Japão é brasileiro e um dos maiores produtores de queijo do Japão também é brasileiro de Minas Gerais, brasileiros que estão lá há muitos anos, que vêm fazendo sucesso e que hoje são respeitados não só dentro da comunidade brasileira, mas também dentro da comunidade japonesa. As autoridades no Japão reconhecem a importância desses brasileiros.

    Eu teria muitas outas ponderações a fazer. Vou fazê-las em outro momento, Presidente Paim, para não me alongar na fala. Há outros Senadores querendo falar. Em outro momento, eu quero trazer aqui mais alguns detalhes desta visita nossa ao Japão.

    Visitamos um dos Governadores daquele país, que quer vir ao Brasil, gosta do Brasil, acompanha tudo o que acontece no Brasil.

    E vou falar, numa próxima ocasião, sobre os brasileiros que estão lá. Nós temos muitos brasileiros no Japão – muitos brasileiros no Japão.

    E vou aprofundar um pouco sobre essa questão da oportunidade de acesso ao ensino superior no Brasil. De que forma a gente pode abrir essa oportunidade? Não só para quem está no Japão, Senador Paim, porque a maior comunidade brasileira fora do Brasil está nos Estados Unidos. Nós temos milhares de brasileiros lá. E todos os que querem ter acesso ao ensino superior brasileiro, hoje, pelo modelo que nós temos, estão excluídos dessa participação.

    É um tema que acho que nós podemos revisitar e em que podemos aprofundar.

    Agradeço a V. Exa. pela oportunidade de falar nesta tarde.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Permita-me, Senador Marcos Rogério. Eu acho que eu tinha mais ou menos a sua idade quando eu fiz essa mesma viagem ao Japão. Jamais esqueci. De fato, é uma aula de um povo que se dedica. E as empresas lá são tratadas como familiares.

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO) – Isso.

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Eu fui com um grupo de empresários e fui como Deputado, representando a Câmara dos Deputados na época, mas foi semelhante.

    Quero só cumprimentá-lo. Viagens como essa valem a pena, realmente. Fico feliz, pois V. Exa. foi acompanhado de Deputados e de outros Parlamentares jovens. Então, meus cumprimentos.

    É importante o que o senhor fez aqui. Poucos fazem. Poucos fazem. E que a gente sirva de lição para todos: fazer um relato da viagem para o exterior. Não somente ir e guardar para si o conhecimento, mas socializar com todos no Plenário.

    Parabéns a V. Exa.

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO) – Agradeço a V. Exa.

    Eu acho que o ponto mais importante de toda essa experiência que nós tivemos foi poder ver, observar, acompanhar e poder compartilhar aqui aquilo que eles têm e que eu acho que de melhor, que é a sua cultura, a maneira como tratam as pessoas, a maneira como enfrentam os infortúnios – e eu quero falar disso num próximo momento...

    O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Estarei aqui.

    O SR. MARCOS ROGÉRIO (Bloco Parlamentar Vanguarda/DEM - RO) – ... como enfrentam as dificuldades, como reagem. Realmente, o Japão tem muito a nos ensinar.

    E eu acho que essas missões valem a pena quando a gente tem oportunidade não só de ir, mas, como ressaltado por V. Exa., ,mas chegar aqui e compartilhar com os colegas e com aqueles que têm oportunidade de nos acompanhar pelo sistema de comunicação.

    Muito obrigado a V. Exa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/04/2019 - Página 42