Discurso durante a 67ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Alerta para o quadro extremamente grave dos três principais bairros de Maceió- Pinheiro, Bebedouro e Mutange, por consequência da exploração mineral na área. Preocupação com a situação dos trinta mil moradores e três mil empresas da região. Solicitação para que o Governo Federal atue de forma contundente e integrada com o Estado e o Município para solucionar o problema e apaziguar o sofrimento das vítimas.

Autor
Rodrigo Cunha (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AL)
Nome completo: Rodrigo Santos Cunha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINAS E ENERGIA:
  • Alerta para o quadro extremamente grave dos três principais bairros de Maceió- Pinheiro, Bebedouro e Mutange, por consequência da exploração mineral na área. Preocupação com a situação dos trinta mil moradores e três mil empresas da região. Solicitação para que o Governo Federal atue de forma contundente e integrada com o Estado e o Município para solucionar o problema e apaziguar o sofrimento das vítimas.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2019 - Página 37
Assunto
Outros > MINAS E ENERGIA
Indexação
  • AVISO, AUTORIDADE, SITUAÇÃO, GRAVIDADE, BAIRRO, MUNICIPIO, MACEIO (AL), RELAÇÃO, EXPLORAÇÃO, MINERIO, AREA, APREENSÃO, SAUDE, POPULAÇÃO, REGIÃO, SOLICITAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO ESTADUAL, SOLUÇÃO, PROBLEMA, VITIMA.

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - AL. Para discursar.) – Presidente desta Casa neste momento, uma pessoa que admiro muito, Senador Eduardo Girão, um político por quem tenho grande admiração, que, já em curto espaço de tempo, criou identidade própria dentro desta Casa. E o País inteiro já acompanha seus passos. Posso lhe garantir que, quando chego ao interior, em Arapiraca, as pessoas perguntam se eu conheço V. Exa., porque as causas que V. Exa. abraça são causas que as pessoas também querem para o seu futuro e, principalmente, para as suas famílias. Então, parabenizo-o aqui publicamente. Já fiz isso em outros momentos, individualmente, mas, publicamente, faço questão de registrar neste momento.

    Sr. Presidente, eu aqui venho tratar de um assunto extremamente necessário, delicado, de que, em outro momento, usei a tribuna para falar. Ontem eu não estava aqui no Plenário. Ontem eu não estava aqui em Brasília. Eu estava em outro plenário, no plenário do Fórum da Justiça Federal no meu Estado de Alagoas, para tratar de um tema extremamente importante, delicado e que já mudou a vida de muitas pessoas.

    E, para fazer essa apresentação, eu vou usar as palavras do Cel. Alexandre Lucas, que é hoje o Secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil deste País. Ele começou falando sobre a sua experiência, dizendo que já enfrentou terremotos, já foi para o Haiti, já enfrentou os problemas das barragens de Mariana e de Brumadinho, mas que estava ali em Alagoas, naquele momento, para falar da sua experiência pessoal na maior tragédia ambiental e humana que ele já presenciou e de que está participando. Então, com as palavras dele, eu dou a dimensão do que está acontecendo no Município de Maceió, praticamente no centro, uma área que atinge vários bairros – sendo que os três principais são os bairros de Pinheiro, Bebedouro e também Mutange –, uma situação que atinge diretamente 30 mil pessoas, 2,7 mil estabelecimentos comerciais, mas, principalmente, atinge a nossa alma.

    Então, no momento como este, é necessário fazer alguns resgates: primeiro, lembrar a nossa função aqui dentro desta Casa. Como Senadores, nós também temos o poder de fiscalizar, de acompanhar. Nós temos instrumentos para utilizar como sendo a diferença entre o que não é feito e o que deve ser feito, porque através da fiscalização, através das audiências públicas... E aqui eu resgato uma audiência pública na qual eu fui autor na Comissão de Fiscalização, uma audiência pública que trouxemos para cá, Senador Eduardo Girão, Senador Styvenson, que já ouviu falar sobre esse assunto e se posicionou. As 20 pessoas que poderiam interferir diretamente neste assunto estão aqui interagindo com o Ministério das Minas e Energia, com o Ministério de Desenvolvimento Regional, com a Agência Nacional de Mineração falar sobre essa tragédia.

    O que está acontecendo? Acontece que milhares de pessoas já saíram das suas casas porque têm suas casas condenadas pela defesa civil e se ficarem ali, correm risco de vida. Buscamos a audiência para dar respostas a essas 30 mil pessoas se deveriam ou não permanecer nas suas casas. E os especialistas ontem afirmaram que não garantem a integridade nem das casas, nem das vidas dessas pessoas. Cinco mil residências estão afetadas no levantamento inicial. E a área de risco hoje – já é dito – é muito maior. Imaginem o que é num Município você ter que remover centenas de pessoas, milhares de pessoas. Estamos falando de 5 mil casas num levantamento inicial. Milhares de pessoas já saíram, porque inclusive o Ministério Público estadual recomendou desligamento da água, do gás, da energia, porque essas pessoas correm risco de vida, principalmente agora que está se aproximando a quadra chuvosa.

    Então, essa situação nos faz cada vez mais, Senador Paim, refletir sobre a ambição, refletir sobre a incapacidade de fiscalização e de manutenção dos órgãos federais, o que está ocasionando o rachamento das casas, o afundamento das ruas. De acordo com o relatório apresentado pelos maiores geólogos deste País, é a exploração mineral. Nós temos, dentro de Maceió, no centro da cidade praticamente, a exploração há mais de 40 anos de mineral, especialmente sal-gema. Então, a empresa Braskem hoje é quem responde por isso através de seus poços de exploração. Alguns ainda continuam em atividade. Ontem ficou configurado também a sua responsabilidade, principalmente a sua responsabilidade. As pessoas estavam ansiosas aguardando por isso. Na audiência pública que realizamos aqui, os estudos que – tomei conhecimento – foram tornados públicos nós conseguimos puxar para o dia de ontem, na verdade, era para final de abril. Foi entregue no final de abril esse relatório e ontem apresentado. Eu parabenizo o Ministério de Minas e Energia, através do Cel. Alexandre Lucas e através também do geólogo Tales pela apresentação, pela forma como foi feita.

    Então estamos diante mais uma vez... O que aconteceu em Brumadinho, em Mariana teve repercussão por quê? Vidas foram perdidas. Nós estamos falando aqui de vidas que estão perdidas, de pessoas que moram num bairro.. Aqui a gente está falando de um bairro classe baixa, classe média, classe média alta e classe alta, um bairro extremamente tradicional do qual as pessoas tiveram que sair de suas residências. Então, nós estamos falando aqui de vidas que não foram afetadas porque ainda estão sobrevivendo. A palavra é esta: sobrevivendo. O abalo psicológico é gigantesco. Eu trouxe o exemplo da última reunião do conhecimento que eu tive de uma pessoa cega que morava há 25 anos numa casa totalmente adaptada para ela e agora teve que morar em outra casa. Olha o transtorno que é. Posso trazer os exemplos das vidas que estão sendo separadas porque a mulher, com medo, e a família pedem para o marido sair de casa, ele não sai; ela sai, ele fica, acaba o casamento. Eu posso falar da vida financeira das empresas. São 2,7 mil empresas. Normalmente, quem tem uma empresa ali também mora ali. E tiveram de sair. E não têm mais os clientes.

    Então, é uma vida que foi afetada. Já está rachada, como já está rachado o chão, como está rachada a parede.

    Então, o País inteiro hoje sabe, porque está comprovado, através dos estudos feitos pelos geólogos, que a exploração mineral foi, sim, a grande responsável para que essas pessoas saiam das suas residências.

    E cabe a nós, como Parlamentares, também fazer com que o País inteiro, de maneira preventiva, tenha um exemplo de como atuar diante de uma tragédia. A tragédia psicológica já existe.

    Então, foi solicitado aqui – e reforcei isso pessoalmente com os Ministros – um comitê integrado de crise entre o Ministério da Saúde – é necessário, é indispensável –, o Ministério de Minas e Energia, o Ministério de Desenvolvimento Regional, o Ministério da Cidadania, para que eles saiam dos seus gabinetes e se instalem fisicamente nesse local, para que haja um representante ali e para que melhore a interlocução com o governo estadual, com o governo municipal.

    O Prefeito Rui Palmeira já deve estar chegando a Brasília no início da semana, mas é isso que a gente não quer. A gente quer é que ele vá conversar com quem já esteja na cidade, porque já era para estarem lá há muito tempo, porque isso já estava claramente demonstrado. Não precisava nem acontecer a tragédia de perder alguma vida. Não precisa nem desse laudo. Então, isso já foi solicitado.

    Então, só esse deslocamento, esperar um tempo. A gente vive numa era da burocracia. E estamos diante do que foi dito aqui: de uma das maiores tragédias ambientais, que já está configurada, e humana, porque mexeu com a vida das pessoas, Senador Girão. Já mexeu com a vida das pessoas, desde a parte financeira diretamente à parte psicológica.

    Então, não vamos esperar que a chuva venha. E essas pessoas estão resistindo a sair de casa. Por quê? Porque também precisam saber como vão sair. Então, chegar e falar que têm de sair não é a parte mais difícil. Também não vamos cobrar isso dos geólogos. A função foi deles foi essa. Há que se dizer como sair.

    E cabe, sim, a mim, como político, cobrar essas explicações.

    Como sair de lá? O aluguel social, que é dado, é no valor de R$1 mil, não é o que vai resolver a vida dessas pessoas.

    Até quando será esse aluguel social?

    Então, há que se dar total aporte à Prefeitura Municipal de Maceió, sem dúvida nenhuma, aquele contato mais direto; à e defesa civil estadual, sem dúvida nenhuma, porque vai precisar, sim, haver planos de evacuação.

    Para se ter uma ideia, foi feito um plano de evacuação. Participaram dez mil pessoas desse plano. E, naquele momento, era traçada uma estratégia para que as pessoas fossem para determinado lado. Trinta dias depois, os especialistas já disseram: "Se acontecer alguma coisa, não é mais para ir para aquele lado; há que se ir para outro lado"; ou seja, há necessidade iminente de que seja feito um outro planejamento de evacuação, que já existe, mas deve ser treinado com as pessoas. Tudo isso tem custos.

    Com a experiência da Defesa Civil Nacional presente na cidade, tenho certeza de que as pessoas se sentem, no mínimo, mais seguras. E é isto que nós temos de passar: segurança, neste momento, psicológica. O visual é extremamente necessário.

    Há que se buscar também esse auxílio financeiro. Aqui eu falei do aluguel social. Até quando será pago?

    Há que se buscar também, neste momento, com que as empresas tenham um acesso mais rápido ao crédito, com que sejam tratadas de maneira diferenciada. E aqui esse pedido também já foi feito e houve um compromisso verbal, que até hoje não se concretizou, no Ministério Desenvolvimento Regional. E está aí a necessidade de hoje reforçar também o que já foi solicitado e verbalmente afirmado o reconhecimento da calamidade pública do Município de Maceió.

    Já há esse decreto municipal, o Governo Federal ficou de reconhecer e até hoje não reconheceu. Então, há a necessidade imediata de que isso seja feito para diminuir a burocracia.

    Então, venho trazer esses pontos, ressaltando que, na minha visão, o que caberia agora a uma empresa da dimensão que tem a Braskem, uma empresa mundial, uma empresa que hoje está com pedido de bloqueio de R$6 bilhões, mas que já está com R$2,3 bilhões bloqueados – isso aí já deu uma certa segurança para as pessoas neste momento.

    Mas o que a gente busca? Judicializar eu acho que não é a postura que se deve ter. Nós falamos aqui de exploração de 40 anos, nós temos agora novas pessoas, que estão em novo momento evolutivo e que devem fazer o que a Odebrecht fez: chegar publicamente diante dos laudos apresentados – ou seja, não tem para onde correr – e dizer: "Assumo a responsabilidade e quero fazer um acordo com as pessoas, quero indenizar", e aí colocar critérios objetivos, de acordo com quantidade de pessoas, de acordo com o tamanho do imóvel, de acordo com o futuro que tem pela frente, com o que já realizaram, e aí tentar resolver a situação.

    Empresas que hoje buscam, que têm integridade através do sistema de compliance, têm que ter integridade no sistema humanitário. É ali a vida do maceioense, de uma empresa que explorou durante 40 anos algo do solo e que tirou do coração das pessoas a esperança.

    Então, é o momento de chegar publicamente, Senador Girão... Estou trazendo aqui um assunto extremamente delicado, mais uma vez, para que o Presidente da República também, como se manifestou – olha só –, como se manifestou há cerca de 5 meses, quando ele disse: "Ah, aquele problema lá em Alagoas é uma situação de exploração mineral". Agora, está escrito, ele falou... Alguns chegaram para dizer: "Não, não foi"; "Foi, não foi". Hoje, está escrito, dizendo que, sim, foi um problema de exploração mineral.

    E aí vamos buscar as responsabilidades. O que acontece em Brumadinho, que acontece em Mariana é o quê? Falta de fiscalização. Por que isso ocorre? Porque a Agência Nacional de Mineração não tem pessoas suficientes para dar conta do recado.

    E ainda digo mais: o que aconteceu nessas duas cidades é o que acontece em Maceió e em qualquer outro local. A ANM, fiquei surpreso, ela analisa não o laudo que o fiscal apresenta a ela; ela analisa o laudo que a empresa fiscalizada apresenta a ela – ou seja, sinceramente, esperar que alguém vá criar uma situação para ser prejudicado...

    Olha que eu não sou... Eu não quero aqui pensar sempre no pior, mas sinceramente, Senador Girão, é algo impensável hoje que alguém vá entregar algum relatório em que possa ser prejudicado.

    Então, essa situação faz com que o próprio Governo repense toda a estratégia de fiscalização. Então, se os órgãos servem para evitar tragédias; então, como é que nós vamos avançar nesse ponto?

    Então, esse assunto é um assunto cabal, é um assunto em que a gente precisa, sim, refletir sobre isso. Então, com isso, eu venho, mais uma vez, pedir o compromisso do Governo Federal, de uma maneira integrada, com o Estado e com o Município, abraçar essa situação, que, a cada dia que passa, é um sofrimento.

    Eu falei aqui das pessoas, 30 mil pessoas. Eu falei aqui das empresas, no mínimo 2.700 em um bairro, mas há outros bairros, então vamos colocar 3 mil empresas. Vamos falar, Senador Styvenson, das escolas que ali estão, dos dois hospitais que ali estão, como o Hospital Sanatório, que já caiu 40% do seu atendimento.

    Então, isso está acontecendo na capital de um Estado.

    A questão do solo, responsabilidade nem se discute. Todo mundo sabe que a responsabilidade é da União.

    Não morreu ninguém, mas a tragédia dominial está feita, a tragédia humana também está feita. Está atestado, está dito e comprovado.

    Então, podemos dar um exemplo a esse novo modelo de País que se quer desenhar, de se chegar a abraçar um Estado, de demonstrar que, quando o Brasil se une, a solução aparece. O culpado já está identificado, mas queremos saber das pessoas, como vão sair de lá. Como vão sair de lá? Para aonde vão? E mesmo que saiam, que sejam construídos outros bairros, construir outras casas, vão perder a vizinhança.

    A gente vai chegar agora, Senador Girão, nosso amigo também Styvenson, somos do Nordeste... São João é um momento em que todo mundo se aproxima. Quantas e quantas vezes eu mesmo já fui ao Pinheiro, para o São João do Pinheiro. Ali era um bairro de vizinhança, as pessoas estavam ali confraternizando. Este vai ser o primeiro ano que não vai ter o famoso São João que tinha no Bairro do Pinheiro. Então, as pessoas, cada uma, vão para bairros diferentes. Isso já gera um dano sem dúvida nenhuma, mas é um dano que, acredito eu, pode ser no mínimo, se não reparado, no mínimo amenizado. E isso, repito, através de uma exploração mineral em área urbana. E isso acontece em outro local, tem que ficar atento.

    Por essa situação, Sr. Presidente, eu ocupei aqui esta tribuna mais de uma vez, porque eu tenho responsabilidade com aquelas pessoas que saíram de casa, porque escolheram votar em mim. Então, a minha responsabilidade é gigantesca. Eu jamais iria dormir tranquilo tendo as informações que eu tinha e me omitir sobre isso. Eu fui publicamente e disse tudo o que eu sabia. Não querendo responsabilizar imediatamente a empresa, mas querendo salvar vidas, as vidas das pessoas que corriam risco ali, as pessoas que já saíram, que não sabiam mais o que fazer e a quem recorrer.

    E nós conseguimos, através do trabalho, que é o nosso trabalho, de fiscalização, de conversar, de tentar mediar, de tentar encontrar soluções, agilizar, pelo menos, o que está acontecendo.

    Então, parabenizo também os moradores do bairro de Pinheiro. Esses moradores, Senador Paim, de maneira extremamente ordeira, procuraram todos os políticos, procuraram todos os órgãos, levando as suas manifestações, se organizaram, fizeram camisetas, usaram redes sociais, pedindo respostas. Não houve baderna, não houve quebradeira, mas queriam saber o que vão fazer das suas vidas. Era impossível aqui, quando alguém dava um depoimento, não se emocionar. Por quê? Por isso: o sonho da casa própria. Todo mundo sonha em ter uma casa. Mas é muito mais que isso, é o sonho da vida, porque ali você se relaciona.

    Eu posso trazer o exemplo – e até parabenizo a imprensa pela grande divulgação que deu – a TV Pajussara está fazendo uma série bastante interessante. E, ontem, o apresentador Oscar está nessa série entrevistando uma moradora. Ela há dois anos morava num bairro nobre na orla de Maceió, vendeu o seu imóvel...

(Soa a campainha.)

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - AL) – ... vendeu o seu imóvel e comprou três outros imóveis nessa região; um para morar e os dois para alugar.

    E agora os dois não têm mais ninguém, e ela tem que sair da casa. Então, os exemplos são os mais diversos possíveis.

    No mês passado, estava indo a São Paulo e no aeroporto encontrei uma jovem que estava voltando de Curitiba porque o dinheiro que ela tinha para pagar a pós-graduação, ela tinha agora que retornar para casa para ajudar no aluguel da mãe, que teve que sair.

    Então, são os diversos motivos que fazem com que a gente una forças e principalmente com que eu não meça meus esforços para exigir o respeito que essas pessoas merecem, para exigir os direitos que elas têm e para cobrar a responsabilidade de quem tem esse dever.

    Então, Sr. Presidente, eram essas as minhas palavras.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Rodrigo Cunha, me permite um aparte antes de concluir?

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - AL) – Por gentileza, Senador Paim.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Primeiro cumprimento V. Exa., porque de fato a gente sente, no som das suas palavras, a emoção e a indignação com o que está acontecendo lá em Maceió. E os dados que V. Exa. coloca aqui, eu tomei nota: 30 mil pessoas, cerca de 3 mil empresas, que significam emprego para a nossa gente – não é? E você coloca com muita clareza que são vidas – vidas. A morte não é só a morte física; é a morte pelo espaço em que eles moravam, o emprego que eles tinham, pagando aluguel num outro espaço, como V. Exa. coloca muito bem – e tudo pela ganância.

    E você foi muito feliz, eu fui anotando: exploração mineral numa área urbana. Onde se viu exploração do solo numa área urbana? E V. Exa. aponta o caminho: é falta de fiscalização. E por isso aconteceu toda aquela situação de Minas Gerais, e está acontecendo também em outros Estados, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no meu próprio Rio Grande do Sul: falta de fiscalização.

    E aí, em vez de aumentar a fiscalização, de cobrar o respeito ao meio ambiente, nos parece que estamos liberando cada vez mais, numa impressão que dá a nós outros de que o importante, talvez tenha um pedacinho de chão para poder ter ali a sua casinha, um emprego informal... Daqui a pouco vamos voltar ao tempo em que se tinha que morar em casa de lona em algum lugar e dar, digamos, graças a Deus por ter uma, duas ou três alimentações.

    Por isso o discurso de V. Exa. vai no sentido do alerta; o alerta para o bom emprego, para a boa moradia e o compromisso que o Estado tem que ter com a nossa gente.

    Eu lhe confesso, e aproveito esse tempo de V. Exa., que eu estava agora no debate da medida provisória. Então, em vez de aumentar a fiscalização, eles querem podar o direito de o trabalhador rural se aposentar, porque estão dando um limite máximo, mediante o novo cadastro, e a partir deste ano, no caso do Rio Grande do Sul, 60% não vão ter direito a se aposentar, porque não dá tempo de fazer o novo cadastro, e consequentemente vão perder o direito, e aí o Norte e o Nordeste vão ser os grandes prejudicados, mais que o Rio Grande do Sul. Fizemos lá um longo debate. Foi aprovado com o voto da maioria, naturalmente, mas houve dois destaques que vieram para o Plenário, para dar um tempo maior para as pessoas se cadastrarem e que as entidades da sociedade civil possam acompanhar isso, o que vai na linha de ajudar na fiscalização.

    Eu fiz essa ligação porque achei o seu pronunciamento brilhante, com conteúdo e alertando o País. Afinal, que sociedade queremos? A gente fala tanto em políticas humanitárias, não é? Políticas humanitárias são a linha do seu pronunciamento. Parabéns a V. Exa.

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – Senador Rodrigo, se V. Exa. me permitir, eu gostaria de lhe fazer também um aparte rápido.

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - AL) – Pois não.

    O SR. PRESIDENTE (Eduardo Girão. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE) – Dentro da linha do que colocou o Senador Paulo Paim, eu tenho acompanhado, desde o primeiro dia – e eu tenho que dar esse testemunho aqui –, o seu trabalho, a sua dedicação com essa questão do Bairro Pinheiro. Você tem falado isso desde o primeiro dia, quando nos conhecemos. Inclusive, não é por acaso que V. Exa. é o Presidente da Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle do Senado Federal. Então, o senhor está no lugar certo e na hora certa; o senhor está cumprindo bem a sua missão, porque fez uma audiência pública lá que foi muito interessante, ouvindo os vários setores da sociedade que estão envolvidos e buscando soluções, buscando o diálogo, sempre com muita retidão, sempre com muita serenidade – e esse é o seu posicionamento –, mas a gente sente a sua energia de angústia para resolver isso.

    Então, há uma passagem que me inspira muito – e a gente já teve até oportunidade de conversar rapidamente sobre esse assunto também – e que é uma passagem bem espiritualizada e que é até de O Livro dos Espíritos, do Allan Kardec. É a Questão 642, onde ele coloca assim: "Para ser agradável a Deus basta não fazer o mal?" Esta é a pergunta. A resposta direta é a seguinte: "Não. Você deve fazer o bem no limite das suas forças, porque você será responsável por todo mal decorrente do bem que você deixou de fazer". Isso é muito forte e profundo.

    E V. Exa. está no limite das suas forças, trabalhando, articulando, indo aos Ministérios, indo ao seu Estado, fazendo reuniões aqui dentro, para tentar resolver essa questão do Bairro de Pinheiro. E, quem sabe, um novo bairro pode estar sendo transformado, juntando as famílias, juntando as pessoas em algum local.

    Eu acredito que, com esse bloqueio na conta, já seja possível dar um pontapé inicial se se puder utilizar – não sei, é o senhor é quem está acompanhando isso –, para se iniciar um novo bairro, com dignidade, com humanidade, para essas pessoas poderem conviver com as suas famílias.

    O senhor tem todo o meu apoio. Estamos à disposição e torcendo para que o desfecho seja o melhor possível para as famílias que estão envolvidas nesse drama.

    O SR. RODRIGO CUNHA (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - AL) – Senador Girão, as palavras de V. Exa. me tocam profundamente, porque aqueles que me conhecem, as pessoas do meu Estado, sempre me cobraram por que eu entrei na política já que eu tinha todos os motivos para não entrar na política. E uma das coisas que eu digo, um dos itens que eu sempre respondo é justamente porque eu me lembro de uma frase que a minha mãe gostava muito de dizer – uma frase que não é dela, mas de Chico Xavier –, e eu não tive outra opção. É exatamente isso. Ela dizia que, um dia nós vamos prestar contas de todo o mal que fizemos, mas que também vamos prestar contas e seremos muito mais cobrados, vamos prestar contas do bem que deixamos de fazer.

    E todos nós sabemos que, no meio em que estamos, não existe como deixar um legado, mudar a vida de uma sociedade, mudar a vida de uma cidade, de um Estado, de um país senão através da política. Então, a nossa responsabilidade e de todos nós que estamos chegando aqui, principalmente dos novos Senadores... É lógico que nós temos grandes exemplos e temos sempre que lembrar disto, ou seja, que do bem que a gente deixa de fazer um dia a gente também vai prestar contas. Então, essa é a responsabilidade, quando isso é intrínseco, quando está dentro da gente, não tem como dormir tranquilo diante de uma situação como essa.

    Mais uma vez, eu digo aos moradores do Bairro do Pinheiro, do Mutange, do Bebedouro e de toda a Maceió que sinto o que vocês sentem e que jamais irei medir esforços para fazer com que o respeito que vocês merecem seja alcançado.

    Muito obrigado, Senador Girão.

    Na segunda-feira – eu já peço aqui publicamente desculpas –, não vou poder estar aqui, porque, no domingo, vou em uma missão ao exterior com outros Senadores. Assim, não poderei estar presente à sessão que V. Exa., habilmente, no momento oportuno, trará para esta Casa.

    Parabéns.

    Obrigado pelo tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2019 - Página 37