Discurso durante a 66ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Ministro da Educação e breve histórico do modelo educacional aplicado nas escolas públicas da Finlândia, com política de inclusão social e valorização do educador.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Críticas ao Ministro da Educação e breve histórico do modelo educacional aplicado nas escolas públicas da Finlândia, com política de inclusão social e valorização do educador.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2019 - Página 16
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • CRITICA, ABRAHAM WEINTRAUB, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), REGISTRO HISTORICO, PAIS ESTRANGEIRO, FINLANDIA, ABERTURA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, CARATER PUBLICO, MODELO, EDUCAÇÃO, INCLUSÃO SOCIAL.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, minhas únicas Vossas Excelências, meus únicos patrões, o seu empregado público – e prazerosamente empregado público – vem a esta tribuna, Presidente, o mineiro Antonio Anastasia, de quem também pude sentir ontem a indignação, como de boa parte da nossa Pátria amada... Evidente que há os fanáticos que nem pensam e que já têm opinião alienada, não sei por quem, que consideraram brilhante a atuação do Ministro da Educação ontem em audiência pública. Difícil – não? – acreditar. Mas, enfim, redes sociais existem exatamente para você sentir que a maioria massacrante – 92% – pensa de forma diferente, ou seja, ficou aturdida ontem com o comportamento do Ministro da Educação – ou da falta de educação.

    A gente não mede um homem em seus momentos de conforto e de conveniência, mas, sim, nos momentos de desafio e controvérsia. Aqueles que começam a queimar livros logo acabarão queimando pessoas.

    Há um registro histórico, no mundo inteiro, que há três anos se viraliza e que aqui, hoje, vale a pena ser recordado desta tribuna do Senado Federal para que autoridades pensem, reflitam, especialmente quem chega ao máximo, ou seja, ao cargo de Presidente da República, e de um país com mais de 200 milhões de habitantes.

    E aqui eu vou falar de um país com menos de 5 milhões de habitantes que era pobre até a metade do século XX – e bem pobre. Hoje, a Finlândia pode se orgulhar de ter aberto a sua primeira estrada na década de 60. Nos anos 70, os finlandeses resolveram abrir escolas e fizeram uma revolução na educação que transformou a história do país. O milagre começou com uma decisão histórica do Parlamento finlandês, decidindo que todas as crianças passassem a ter oportunidades iguais de estudar em escolas públicas de qualidade.

    Nas escolas finlandesas, Presidente Anastasia, o filho do empresário e o filho do lixeiro, Senador Paim, estudam lado a lado, Senador Alvaro todos os Dias. Estudam lado a lado o filho do empresário e o filho do lixeiro. Lá também as mensalidades escolares não existem – lá na Finlândia. O ensino é gratuito, desde o pré-escolar até a universidade. A base do milagre finlandês foi a inclusão social, Senador Humberto. Não podemos admitir que a qualidade da educação de uma criança dependa da condição econômica dos pais.

    O segundo ato do milagre finlandês foi uma política radical de valorização do professor, do educador. Lá na Finlândia, onde a polícia não pratica tiro ao alvo com os professores, o magistério foi transformado em uma carreira nobre. Os cursos de formação de professores foram levados para dentro das universidades. O Senador Anastasia sabe disso. Lá, ter um grau de mestrado é a qualificação básica para ensinar nas escolas finlandesas, até mesmo na educação pré-escolar, e um novo conceito de dignidade profissional dos mestres foi criado.

    O magistério, assim, passou a ter um alto status na sociedade finlandesa, que tem grande respeito e consideração pelos professores, pelos educadores. O salário bruto de um professor primário, lá na Finlândia, é a metade do que ganha um Deputado do Parlamento da Finlândia, e, no igualitário sistema finlandês, quem ganha mais também paga mais impostos.

    A valorização do magistério provocou um fenômeno paralelo: a carreira de professor passou a ser uma das profissões mais concorridas da Finlândia, à frente, inclusive, de cursos como Medicina, Direito e Arquitetura.

    O terceiro ato do milagre da Finlândia, com 5,5 milhões de habitantes, dos rankings internacionais da educação foi pensar fora da caixa. Os poucos ortodoxos finlandeses resolveram fazer o contrário do que o resto do mundo faz. Eles reduziram a carga horária dos alunos e também a quantidade de provas na escola. A primeira lição é relaxar, ter prazer em criar e aprender. A prioridade é ensinar os alunos a raciocinar de forma independente e não a decorar fórmulas para passar em provas. Na escola, eles têm até aulas de inovação e de empreendedorismo.

    A fórmula deu certo. O igualitário e eficiente sistema finlandês se tornou um dos mais celebrados modelos de excelência em educação pública do mundo e alavancou o crescimento de uma sociedade altamente industrializada, que projetou os indicadores da economia finlandesa para o topo das estatísticas mundiais. Os finlandeses dizem que aprenderam uma lição: a educação pública de qualidade não é resultado apenas de políticas educacionais, mas também de políticas sociais.

    Os arquitetos da reforma da educação da Finlândia dizem que o estado de bem-estar social financiado pelos impostos é fundamental para o sucesso do sistema, porque, além de garantir saúde e moradia aos cidadãos, também garante a todas as crianças condições...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – ... fechando – iguais para um bom aprendizado.

    No refeitório da escola, a mesa é farta. O cardápio diário inclui um saudável buffet de saladas e legumes e também a opção de pratos vegetarianos. Nas salas de aula, professoras assistentes dão atenção individual aos alunos que precisam de mais ajuda, porque os finlandeses acreditam que todos têm o potencial de aprender. Equipes de pedagogos e psicólogos acompanham cuidadosamente o desempenho de cada criança. Nas escolas de todo o país, médicos e dentistas cuidam gratuitamente da saúde dos estudantes, que vão cuidar do futuro do país.

    Concluo: a Finlândia é o sexto país no ranking da educação, com 5,5 milhões de habitantes, é o quarto no ranking mundial de inovação, é o quarto colocado no ranking de competitividade, é o terceiro país menos corrupto do mundo, é o quarto colocado no índice mundial da justiça e é um dos países mais igualitários do mundo, o quarto país no ranking de qualidade de democracia, Presidente Anastasia.

    Finalizo: a Finlândia é o sexto país mais feliz do mundo, segundo a ONU. Pergunto, para encerrar de vez: será que o Presidente da República Jair Bolsonaro tem conhecimento desse país e do que lá ocorre na educação?

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Será que este Ministro da Educação ou da falta de educação tem conhecimento de que um país com 5,5 milhões de habitantes pode promover essa revolução? E pergunto: no Brasil isso é impossível acontecer? Por quê? Como toda criança gosta de perguntar: "Por quê, papai, por quê, mamãe, o nosso País, a nossa Pátria amada não pode imitar a Finlândia?".

    Agradecidíssimo pela paciência, Presidente Antonio Anastasia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2019 - Página 16