Discurso durante a 69ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear a Polícia Militar do Distrito Federal.

Autor
Styvenson Valentim (PODE - Podemos/RN)
Nome completo: Eann Styvenson Valentim Mendes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a homenagear a Polícia Militar do Distrito Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 11/05/2019 - Página 62
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, POLICIA MILITAR, DISTRITO FEDERAL (DF).

    O SR. STYVENSON VALENTIM (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN. Para discursar.) – Até ontem, eu era policial – sou e nunca deixarei de ser.

    Obrigado, Presidente Izalci, Senador Wellington e todos que assistem.

    Hoje, eu ocupei a tribuna pela manhã, Maio Amarelo, para falar da segurança do trânsito. Ocupei a tribuna ontem também para falar sobre a questão do armamento, do estatuto. Falamos da vida do policial. Acho que, se tivermos comandantes, coronéis, capitães, tenentes, alunos oficiais, o que fui um dia... Se os nossos Estados tivessem mais policiamento, não ficariam tão sobrecarregados, e as pessoas, temerosas, precisando de armamento para se proteger e se autodefender. A nossa função é essa, e somos pagos para isso.

    Eu passei 16 anos na Polícia Militar do Rio Grande do Norte. E é, com muito orgulho, que eu defendo todos os policiais deste País. É inaceitável policiais, irmãos nossos, perdendo a vida; é inaceitável!

    E eu comentei isto durante o Estatuto do Desarmamento, ou do armamento, como foi dito ontem, que, se a arma dá essa confiança, essa garantia para a população de autodefesa; se nós estamos perdendo nosso espaço, policiais; se nós já não somos tão úteis assim pelo abandono, pelo descaso, pelo mau reconhecimento, pelos baixos salários, por falta de estrutura – eu digo isso para os policiais de todo o País, não só para os do Distrito Federal –; se nós estamos desacreditados por causa disso, Izalci; não sobrecarreguem, não deem à população essa possibilidade de autodefesa. Por mais que nós tenhamos tido treinamento, como eu tive treinamento, acompanhamento psicológico, não me dava garantia de paz aquela arma na minha cintura. Então, se, no meu Estado, ano passado, 22 policiais – 22 policiais! – perderam a vida não em serviço, mas fora da atividade, em casa, sendo assaltados, para terem a arma subtraída, no trânsito, para terem a arma subtraída, se está atingindo até a gente a violência, não é dando arma que vai melhorar. Eu penso assim.

    Mas o assunto não é esse hoje – parabéns para todos vocês! –; o assunto não é esse, não é Izalci? Só toquei nesse assunto, porque é uma questão de valorização nossa. Eu bato sempre na tecla de que a gente tem que estar sempre bem, fardado, cabelo bem cortado, barba bem feita, coturno muito limpo, mas ninguém se preocupa com o que está na minha cabeça, com o que eu deixei em casa, se eu estou bem com a minha família; ninguém se preocupa com a saúde mental e física do policial. Se se preocupassem mais, quisessem saber, respeitariam mais cada policial.

    Foram 16 anos vestindo farda. Terceiro "f", não sei se esse é igual ao que vocês usam; quarto "b", usando uma ponto 40, 16 munições contadas, entrando em comunidades perigosíssimas, semelhantes, não tão grandes quanto a de vocês aqui. Mas eu não preciso dizer que o meu Estado ocupa a primeira posição do ranking triste de violência. O policial hoje, nesta sociedade em que a gente vive, tem que ser muito bem remunerado, tem que ser muito bem reconhecido, tem que ter privilégios, sim, porque nós damos a nossa vida pela manutenção da ordem pública; nós damos a nossa vida para que outras pessoas fiquem em paz. (Palmas.)

    E é inaceitável policial ter que esconder farda; é inaceitável policial estar morando dentro de favela; é inaceitável policial estar com medo hoje, estar com problemas psicológicos; havendo uma quantidade de suicídio imensa; é inaceitável!

    Quando eu disse que nós estamos abandonados, sucateados e que se sobrecarrega a população com pânico e medo querendo dar arma para ela para ela se defender, esse é o reflexo do que as pessoas enxergam da gente. Mas nós não somos ineficientes, porque somos ruins, não. Nós não temos quantidade numérica, porque isso é uma relação simples que qualquer policial aqui presente sabe.

    Não adianta eu estar com uma arma, independentemente do calibre, Izalci, se eu estou em inferioridade numérica. O senhor acha mesmo que agora o bandido vai roubar um para um, que ele vai fazer o latrocínio de um para um? Ele vai para um carro com dez agora para assaltar, porque sabe que está armado. Volta-se à estaca zero. Ou algum policial sai sozinho na viatura aqui? Sempre há superioridade numérica e de armas.

    Então, Izalci, muito obrigado, e a todos os policiais aqui presentes.

    Eu demorei a chegar, mas eu não poderia faltar para dizer para vocês que, no meu Estado, muitas vezes não fui bem interpretado, Comandante, por não ter sido corporativista. Se nós exigimos da população a ordem, o cumprimento das leis, das regras, como policiais, temos de ser exemplares não só no fardamento, não só no cabelo, não só na barba, como já disse, mas na postura.

    Eu cheguei a ser Senador... Eu sai de capitão a Senador pelo simples fato de cumprir a regra, fazer a coisa certa, ter postura. Olha que coisa interessante, Presidente Izalci: o simples fato de fazer o certo me trouxe ao Senado. Não fui corporativista, autuei coronéis, levei 15 dias de cadeia por autuar superiores hierárquicos a mim. Estão ouvindo, tenentes? Autuei, sim, Deputado, ministro, juiz. Nunca me acovardei, nunca me preocupei com a promoção. Preocupei-me em cumprir para todos, de forma igual, a lei. Esta é nossa missão: servir e proteger a população com igualdade. Seja na comunidade ou seja na Zona Sul, seja na favela, para pessoas sem poder aquisitivo, seja para os ricos que a lei seja igual. Que nós possamos cumpri-la e ter a consciência limpa e livre de voltarmos para casa com o trabalho bem feito. Isso me trouxe até aqui.

    E o mais curioso é que foram seis meses só para eu estar aqui, sete, cem dias de mandato. Nunca havia participado de política. Utilizei meu próprio dinheiro. Economizei, claro, e gastei R$26 mil. Fiz minha campanha sozinho por um partido de esquerda, porque me deu a chance e a liberdade de uma candidatura limpa, livre, sozinho. Não peguei carona com os militares; peguei carona com a população que queria que eu viesse aqui fazer tudo que eu já fiz para eles. Eles sabem que eu vou fazer.

    Eu espero que aqui, olhando para todos os senhores, todos os senhores... A nossa missão é bem maior. Há pessoas que confiam na gente, pessoas que acreditam na gente, uma população que precisa ter de volta esse confiança na segurança pública.

    Então, parabéns para todos os que saem todo dia e não sabem se vão voltar! Parabéns a vocês, policiais, por fazerem esse ótimo trabalho, que é a manutenção da ordem pública, por manter em paz a população. Está bom?

    Obrigado, Izalci. (Palmas.)

    O SR. PRESIDENTE (Izalci Lucas. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - DF) – O Senador Styvenson teve a experiência também da escola. Por favor, fale sobre a escola, que é o principal.

    O SR. STYVENSON VALENTIM (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - RN) – Gente, vou voltar, para falar da escola.

    Se eu for falar do trabalho de polícia... Vou fazer uma retrospectiva, se o senhor me permite. São 16 anos de polícia. Quando eu era aluno igual ali, três estrelas... Não vou mentir, fui muito bem educado, escola particular, era conhecido como filhinho de mamãe, criado com Danoninho. Fiz concurso da polícia, aí tentaram me tirar por várias vezes, porque não era compatível.

    A primeira abordagem, senhores, eu vou dizer como foi: entrei na viatura, tinha meu motorista e tinha o patrulheiro. Eu desço... Eu sempre gosto de falar isso para... "Senhor cidadão, boa tarde. Polícia militar do Estado do Rio Grande do Norte", como a gente aprende, não é? "Vá para a parede, mão aberta, pernas abertas, vou fazer uma abordagem, uma busca pessoal." Isso dentro de um bairro chamado Felipe Camarão, 80 mil pessoas, comunidade de periferia.

    O cara olhou para mim, Izalci, e disse: "Como é que é?". Aí os policiais, já experientes, desceram, disseram: "Espere aí, aspirante". Aí fizeram aquela abordagem... Aí meu cérebro entendeu, naquele momento... Isso aconteceu comigo. Meu cérebro entendeu como é que se adquiria o respeito na comunidade: pela violência. Eu não nego a ninguém: eu tenho mão cirurgiada, dentes quebrados, mão quebrada. Daí para a frente, coronéis, comecei a responder a inquéritos, processos, era ultraviolento. Tratava a população pobre na bala, na cadeia. Invasão de domicílio, lesão corporal, excesso de força, fiz isso demais. Eu me envergonho de estar falando isso para vocês? Eu me envergonho, é claro. Mas eu acreditava que era o certo. Eu acreditava que ia parar a violência, acreditava que prendendo traficantes eu ia limpar a rua. Eu prendia um traficante na Rua Peixe Boi, lá em Felipe Camarão, abria cinco no outro dia, traficantes, e eles voltavam a se matar para liderar o comércio de drogas. Passei isso por muito tempo como Policial Militar, até entender. Quando eu chego na escola, eu olhava para aquelas crianças e não entendia por que não estavam dentro da sala de aula; estavam na escadaria da comunidade, adiantando a droga, passando ali a pedra, fazendo o assalto, segurando a arma para o vagabundo.

    Foi aí que eu comecei a entender que se ocupasse a escola... E ocupei não pela instituição Polícia Militar, ocupei por iniciativa própria, não ocupei pelo Governo do Estado, ocupei por iniciativa própria junto com meus soldados, Cabo Rivonaldo, Rondinelli, Soldado Leite, Subtenente Alberto, que acreditaram naquele momento no que era o impossível dentro de uma comunidade chamada Favela do Japão, Novo Horizonte, em Natal, o que a gente, policial, acho que desacredita, na educação.

    Então, a gente ocupou uma escola que estava tomada pelo Sindicato do Crime do RN, que luta pelo domínio da comunidade com o PCC, que está instalado também lá. E essa escola já estava praticamente fechada, com 30 alunos, quando a gente a ocupou. "Ocupou" a escola: é forte a palavra, mas não há outra.

    Hoje a gente compartilha a escola, hoje a gente divide a escola, mas a gente precisou fazer a ocupação para mostrar para a criminalidade que o Estado estava presente ali. Reformamos a escola, a Escola Maria Ilka de Moura, na comunidade Novo Horizonte, em Natal. A escola, de 30 alunos, passou a ter 500 alunos. Colocamos fardamento neles, ensinamos disciplina, ordem, exigimos cabelos cortados. Por quê? Estética militar? Não, é porque eles têm piolho ainda. Meninas com cabelo amarrado, exigimos o "sim, senhor" e o "não, senhor". E eu pensava que ia haver uma resistência, eu pensava que os alunos não iriam querer. Foi espantoso ver como ele gostaram, é de causar espanto como eles estão com necessidade dessa atenção. Cobrar postura, cobrar a coisa certa, exigir o cabelo, exigir a farda completa, isso é uma forma de atenção; e eles se sentiam, ali naquele momento, tendo isso.

    A última notícia – como eu estou aqui há muito tempo e a escola está a cargo agora dos policiais da 1º Companhia do 9º Batalhão, ao qual tenho o orgulho de ter servido por muito tempo –, a última vez que lá fui, uma professora disse: "Capitão, estou com um problema seríssimo!" – era o jeito dela assim. E eu disse: "Qual?" "O traficante disse que, se eu não arranjar uma vaga para o menino dele, vai me matar!" Eu disse: "Como é que é?" "É, fulano de tal – disse o nome – disse que, se não arranjar uma vaga para o menino dele, ia me matar." "O cara está procurando uma vaga na escola que hoje é ocupada pela Polícia Militar?" É incrível, policiais, o poder da educação! Eu não o conhecia. Passei a conhecer.

    Esse foi um trabalho que eu fiz, um deles, nas minhas folgas, durante o intervalo de expediente, entre um IPM, entre colocar a viatura na rua, entre estar de serviço na PM5, monitorando a capital e dividido entre a escola. Eu fiz isso pela necessidade, fiz por uma obrigação cívica de hoje não estar correndo atrás de crianças, que cada vez mais entram no crime – e estão entrando rapidamente, porque o abandono escolar, a evasão escolar, é altíssimo.

    E acreditem, aspirantes, porque vocês... Vou lembrar agora o que diziam para mim: "São vocês que vão herdar, príncipes, a PM." Vocês são os príncipes da polícia. São vocês que vão pegar a sociedade da forma como está. Ou a gente muda de forma definitiva o problema, a causa do problema, ou a gente sempre, sempre, vai ter policiais morrendo, sempre vai ter que precisar de muito mais policiais para combater essa fábrica que é o crime hoje, as facções criminosas.

    Foi esse trabalho que eu fiz, entre palestras em faculdades, entre palestras em interior do meu Estado em horários vagos. Mas o que mais me notabilizou foi a Operação Lei Seca, o comando da Operação Lei Seca, que, até então, ninguém havia feito, e sempre que fazia não funcionava. Colocaram-me para fazer. Funcionou, deu certo.

    Então, contei em poucas palavras, Senador Izalci, 16 anos de Polícia Militar do Rio Grande do Norte.

    A todos os policiais militares: a festa hoje é de vocês, a festa comemorativa aqui no Distrito Federal, mas estendo a homenagem a todos os policiais, de todo o País, de Norte a Sul. Imaginem agora, é só uma reflexão para nós, aquele policial que está lá no extremo Norte, lá no Acre, protegendo a nossa fronteira. É por lá que entra a droga que abastece aqui, é por lá que entra a arma que vai matar os nossos policiais, a nossa população.

    Parabéns a meus policiais do Rio Grande do Norte, que tanto protejo e defendo.

    Obrigado, Izalci, mais uma vez. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/05/2019 - Página 62