Discurso durante a 70ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a homenagear o codificador do espiritismo, Allan Kardec, pela passagem dos 150 anos do seu falecimento.

Autor
Eduardo Girão (PODE - Podemos/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a homenagear o codificador do espiritismo, Allan Kardec, pela passagem dos 150 anos do seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2019 - Página 10
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, AUTOR, CODIFICAÇÃO, DOUTRINA, ESPIRITISMO.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODE - CE. Para discursar.) – Não existe coincidência, meu irmão. Nada é por acaso.

    Eu queria, neste momento importante que a gente está vivendo aqui, agradecer a presença de todos vocês mais uma vez; agradecer a todos que estão nos assistindo pela TV Senado. Para mim é muito especial falar de Allan Kardec, falar do espiritismo, porque a minha vida foi transformada nesta existência pela doutrina espírita. Vocês estão diante de uma pessoa extremamente arrogante durante toda a vida. Sempre fui muito arrogante, prepotente, egoísta. E Deus... Como diz aquela passagem, a dor é uma bênção que Deus envia aos seus eleitos. E Ele me presenteou num momento importante, quando eu tinha 29 anos de idade, com a síndrome do pânico.

    Hoje, todo mundo ou quase todo mundo sabe o que é síndrome do pânico. Mas imaginem há cerca de 20 anos. Não havia literatura sobre o assunto. E o meu chão abriu. A falta de fé, a busca incessante pelo dinheiro, pelo poder me criou um vazio existencial, e eu achava que ia morrer. Eu tinha certeza de que ia morrer naquele momento. Tive várias crises. Não queria andar de avião de jeito nenhum. Não queria sair do hospital. Houve um dia em que fui seis vezes ao hospital. Queria andar de mão dada com minha prima. Era um terror. Eu sei que muita gente passa ainda por isso no nosso Brasil.

    Desencadeou-se uma depressão, mas foi ali que eu revi meus conceitos, que eu percebi o verdadeiro sentido da vida: que não era trabalhar desesperadamente para acumular dinheiro, deixando a família em quinto lugar, os amigos em sexto lugar. Eu só queria saber de trabalho. Final de semana: trabalho. Feriado: trabalho. E tratorando, passando por cima de tudo.

    Mas aquela situação na minha vida foi um presente, porque eu pude, nos momentos em que eu estava me recuperando, refletindo, conhecer um livro. E olhem onde fui conhecer isso: nos Estados Unidos. Trata-se de um livro de um grande psiquiatra americano, um ícone lá. Tudo virou na vida dele, começaram a atirar pedra, a ciência tradicional, quando ele, através da regressão a vidas passadas, descobriu um novo mundo, novos conceitos, novos conhecimentos e publicou um livro chamado Muitas Vidas, Muitos Mestres. Dr. Brian Weiss. Esse livro fez todo o sentido para a minha mente racional, fez todo sentido para a lógica que eu buscava, para perguntas que eu tinha na minha vida, para anseios que estavam lá, com lacunas abertas.

    Depois, eu comecei a ler outros livros dele, fui me recuperando, pude entrar num avião para voltar ao Brasil – porque a crise ocorreu no momento em que eu estava passando uma semana nos Estados Unidos. Quando eu chego ao Brasil, um amigo me disse: "Você já ouviu falar no Chico Xavier? É exatamente isso aí". Eu disse que sim, que o Chico era um homem bom, um homem caridoso, que fazia mensagens dos espíritos. Olhem a minha ignorância: "Não é um que faz mensagens?". Ele disse: "Exatamente. Essas mensagens são da espiritualidade. A vida não termina com a morte. As reencarnações ocorrem". E aí eu comecei a estudar um pouco a obra de Chico Xavier, que muitos dizem... Nós vamos ter oportunidade aqui de ouvir pessoas que conhecem... Eu acho que não importa muito, mas alguns acreditam que ele seja a reencarnação do Allan Kardec, personalidades diferentes. Mas um trabalho, que se iniciou lá na França, por esse pesquisador, por esse estudioso, pedagogo, professor, corajoso, repercutiu muito, quando divulgado, em razão da prática dos valores morais ali colocados por Chico Xavier, que nasceu em Pedro Leopoldo, em 1910, precisamente no dia 2 de abril.

    Eu não tive a oportunidade de conhecer o Chico Xavier. Ele ainda estava encarnado quando eu comecei a estudar o espiritismo, a devorar livros. Mas eu sei que, a partir do momento em que eu conheci a obra dele, isso me fez um bem muito grande, isso me confortou e me deu esperança e me trouxe uma vida com mais sentido, porque eu pude colocar um pouquinho em prática a caridade. E a maior caridade que se faz, segundo o espiritismo, é levar e divulgar aquilo que eu estava sentindo de bom na minha vida para todos.

    Foi aí que nós iniciamos peças de teatro, filmes, eventos e que nós conhecemos as causas, causas que nos trouxeram até aqui – porque a nossa eleição foi um milagre de Deus, foi um... Olha, não se explica a nossa eleição contra poderosos, contra pessoas que conheciam política, com dinheiro, com todas as estruturas possíveis. Eu nunca tinha me candidatado a absolutamente nada, nem a síndico de prédio. E foi assim a nossa eleição que me trouxe até aqui. Mas eu acredito muito que é a relação de causa e efeito, ação e reação, a lei da semeadura. Desde que nós começamos a plantar sementes de cultura de paz, da verdade, do bem – repito: com todas as imperfeições e limitações que tenho –, mas defendendo a vida desde a concepção e contra o aborto, posicionando-nos, estudando a questão das drogas, que quase foram liberadas em 2014...

    Eu tive a oportunidade de vir a este Senado, como cidadão, como ativista, com muitos colegas que estão aqui, lutar contra essa liberação, contra essa legalização. A questão da jogatina também, que vai voltar à pauta daqui a pouco aqui no Senado... As armas de fogo também, um processo civilizatório que a gente vive. É um retrocesso, como todo o respeito a quem pensa diferente, a liberação de porte de arma de fogo. Inconcebível!

    Então, em todas essas causas, eu tive oportunidade de me aprofundar e as debati, colocando claramente o que eu penso sobre todas elas, e o universo conspirou, Deus colocou a mão, e nós estamos aqui podendo combater esse bom combate.

    Eu queria me encaminhar para o encerramento, porque eu vim para ouvir. Peço desculpas a vocês por me alongar, mas nós temos a grande oportunidade, através dessa união das religiões todas, que eu respeito profundamente...

    Eu quero fazer aqui um testemunho e colocar para vocês: se não fossem os evangélicos, sobretudo os evangélicos, os católicos também, os espíritas também, mas sobretudo a coragem e a ousadia dos evangélicos – e a gente tem que agradecer a eles muito –, o aborto estaria liberado no Brasil, as drogas estariam liberadas no Brasil, a jogatina estaria liberada no Brasil!

    E a gente tem que falar a verdade: precisamos, cada vez mais, atuar, porque Platão, 350 a.C., dizia que o destino das pessoas boas e justas que não gostam de política é serem governadas por pessoas nem tão boas e não tão justas que gostam de política. Então, precisamos, cada vez mais, ocupar espaços, defender aquilo em que a gente acredita. As portas se abrem!

    Eu tenho que dizer que estou muito aqui hoje feliz, sabendo da grande tarefa, porque eu não digo missão... Missão é de Madre Teresa de Calcutá, de Francisco de Assis, de Martin Luther King – são grandes seres da humanidade –, de Chico Xavier, de Eurípedes Barsanulfo, de Vianna de Carvalho. Mas eu estou hoje aqui.

    A minha esposa está sentada aqui na primeira fila e sabe que o Evangelho no lar, em momentos difíceis, quase todas as semanas que nós temos, com toda a fé, mas o Evangelho no lar, gente, é algo fabuloso! São 20 minutos orando com a família. A gente tem feito diariamente antes de dormir. Para quem não é espírita, se não for o Evangelho Segundo o Espiritismo, pode ser a Bíblia, mas ore com a sua família. Olha, o Chico Xavier dizia que, na hora em que você faz o Evangelho, a proteção não é só na sua casa, não, na sua residência, não; é no bairro inteiro, para os vizinhos. É uma proteção espiritual. Vinte minutos numa hora definida, uma hora em que todo mundo está em casa, no final de semana... É fundamental para o equilíbrio, para a gente poder seguir com serenidade, que é do que a gente precisa.

    Para encerrar de vez: há duas questões da primeira obra de Allan Kardec... Apesar de tudo que eu puder fazer nesta vida, de tudo que eu puder fazer, eu jamais vou poder pagar a esses ensinamentos. Das mais de mil perguntas de O Livro dos Espíritos, a obra básica do Allan Kardec, há duas que me tocam muito fortemente e que me inspiram diariamente aqui: as questões 642 e 932, respondidas através de uma pesquisa científica pelos espíritos superiores.

    Questão 642 – olha que primor, olha que primor! –: para agradar a Deus, basta não fazer o mal? Olha que convite ao serviço de todos nós! "Não [é a resposta dos espíritos]; você deve fazer o bem no limite das forças, das suas forças, porque você será responsável por todo o mal decorrente do bem que você poderia ter feito e não fez". É a omissão dos bons. A gente não pode perder uma oportunidade de fazer o bem, porque, se a gente for omisso, o mal pode prevalecer. Isso vale para tudo na vida, para tudo, no dia a dia com nossos filhos, nos trabalhos da gente...

    E há outra questão, para encerrar, que é a 932, já no final de O Livro dos Espíritos. Por que o mal prepondera sobre a Terra? Olha só essa pergunta! Por que o mal prepondera sobre a Terra? Aí eu faço um complemento, explicando para vocês. Poxa, realmente que pergunta inteligente. Se a maioria das pessoas do mundo, do Planeta são pessoas boas, íntegras – e a gente sabe que é –, trabalhadoras, por que o mal ainda prepondera sobre a Terra? A resposta é como um telegrama, objetiva, direta: "Porque os bons são tímidos. Os maus são audaciosos, intrigantes, mas, quando os bons quiserem, eles dominarão a Terra".

    Que Deus abençoe a todos nós e nos ilumine na construção do coração do mundo e da pátria do Evangelho!

    Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2019 - Página 10