Discurso durante a 72ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Ministro da Justiça, Sérgio Moro, diante da revelação feita pelo Presidente da República de que teria prometido sua indicação ao cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Críticas ao Ministro da Justiça, Sérgio Moro, diante da revelação feita pelo Presidente da República de que teria prometido sua indicação ao cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 15/05/2019 - Página 21
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, MINISTRO, SERGIO MORO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), MOTIVO, PROMESSA, INDICAÇÃO, CARGO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), REALIZAÇÃO, JAIR BOLSONARO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE. Para discursar.) – Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, os que nos acompanham pela TV Senado, pela Rádio Senado, pelas redes sociais, como sempre peço liberdade e justiça para o Presidente Lula. Lula Livre!

    Sr. Presidente, o Brasil está perplexo com a escancarada revelação feita pelo Presidente da República, no último domingo, sobre a negociação envolvendo um dos mais elevados cargos da República, o de Ministro do Supremo Tribunal Federal.

    Houve uma confirmação, feita ao vivo por Jair Bolsonaro, de tudo aquilo que nós já denunciávamos: a de que Sergio Moro fez uma transação política para emprestar ao novo Governo o prestígio público que amealhou como juiz da Lava Jato em troca de uma cadeira no STF. Um balcão armado enquanto ele vestia uma toga, com a qual perseguiu adversários e criou as condições decisivas para interferir no resultado das eleições e assegurar a vitória de Bolsonaro.

    O próprio Vice-Presidente, Hamilton Mourão, já havia reconhecido que essas negociações se deram ainda no período eleitoral, estimulando o então juiz a agir mais ativamente em favor do futuro chefe, com a finalidade de lhe entregar o trabalho prometido.

    Foi assim, por exemplo, com a fantasiosa delação de Antonio Palocci, sem qualquer validade jurídica até hoje e vazada criminosamente pela 13ª Vara Federal de Curitiba na campanha, com a finalidade exclusiva de prejudicar a candidatura do PT, um presente sob medida do Juiz Moro em busca de se tornar o Ministro Moro.

    Terminada a eleição, o juiz abandonou 22 anos de magistratura, o que lhe assegurava vitaliciedade, para virar funcionário de Bolsonaro como Ministro da Justiça e da Segurança Pública, cargo do qual é demissível a qualquer tempo, sem precisar de motivação. As vísceras dessa negociação agora ficaram expostas. Todos ficamos conhecendo os detalhes dessa transação havida por baixo da toga.

    O ex-juiz está nu. Fica evidenciada sua deliberada militância política durante todo esse tempo em que destroçou a Constituição para perseguir e condenar injustamente o Presidente Lula.

    Se alguém ainda tinha alguma dúvida, a confissão do Presidente joga luz sobre todos esses fatos. Houve uma espécie de transação comercial, uma espúria promessa de compra e venda de uma cadeira do Supremo Tribunal Federal que fere de morte os processos presididos por Moro envolvendo Lula.

    O juiz ávido por condenar um homem com base não em provas, mas em convicções, é o mesmo que, como ministro, silencia sobre o esquema de candidaturas laranjas operado pelo partido do Presidente a que serve. O juiz que condenou Lula por fato indeterminado é o mesmo que se omite diante de incontáveis denúncias de corrupção e associação com milícias de integrantes deste Governo.

    O juiz que encarcerou o candidato líder em todas as pesquisas para retirá-lo do processo eleitoral é o mesmo que, como ministro, divide a mesa do primeiro escalão com colegas que confessaram a prática de caixa dois e até com ministro acusado de ameaçar de morte uma Deputada Federal que o denunciou por esquema de laranjas do fundo eleitoral.

    A toga caiu. E o que restou não foi um super-herói. O que restou foi um cidadão que posou durante anos como paladino da moralidade e acabou descoberto como alguém que abaixa a cabeça na esperança da recompensa prometida.

    Moro não negociou no mercado clandestino só o cargo de juiz e o seu prestígio político: ele vendeu a própria reputação, que manchou indelevelmente quando essa trama sórdida foi denunciada pelo próprio negociador, o Presidente da República.

    É por isso que aceita as constantes desautorizações que sofre; é por isso que fecha os olhos diante de tantos problemas; é por isso que hoje está, na prática, preso. Está preso ao próprio compromisso que assumiu. Se abandonar esse Governo incompetente, não terá mais a vaga do STF nem poderá voltar ao cargo de juiz. Jogou alto e, agora, só lhe resta continuar a servir ao Governo de Bolsonaro e fazer vista grossa a tudo de ruim que acontece neste Governo.

    Sua passagem pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública é pífia. Não há projetos, não há políticas públicas, nem mesmo a indicação de uma conselheira suplente ele teve poder de fazer. Nada! Até agora, a sua atuação se resumiu à apresentação de um pacote midiático, copiado e colado de outro projeto apresentado pelo Ministro Alexandre de Moraes.

    E por que essa gestão tão nula? Por um motivo simples: Moro não tem interesse nessa gestão. Está sentado na cadeira de Ministro à espera de realizar um projeto político e pessoal, que é ser indicado pelo Presidente da República para a próxima vaga que abrir no Supremo Tribunal Federal. É lastimável!

    As sentenças condenatórias de Lula, por isso tudo, precisam ser imediatamente anuladas pelo Poder Judiciário, e Sergio Moro deveria ser investigado pela sua conduta de negociar a liberdade de um indivíduo em troca de um cargo público.

    Quando nos lembramos do juiz de ontem...

(Soa a campainha.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... implacável com a corrupção, e vemos o Ministro inerte e silente de hoje, integrante de um Governo ferido por todos os lados, fica evidente que esse é um acordo em que foi negociado um prêmio da Mega-Sena, como o próprio Moro definiu uma vaga no Supremo.

    Se tivesse o mínimo de discernimento, Moro deveria juntar a sua dignidade, a que lhe restou, e pedir demissão, depois de ter sido submetido a tamanha humilhação por Bolsonaro. Deveria voltar para casa, quem sabe, um novo concurso, recomeçar a carreira, enfim, fazer algo diferente do papel...

(Interrupção do som.)

    O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - PE) – ... que neste momento cumpre.

    Vou concluir.

    Ficou feio, e não sou eu apenas quem está dizendo, seguir como Ministro da Justiça enquanto adula o Presidente em busca de uma vaga no STF. Tenha a altivez de entregar o comando da Justiça e da segurança pública a alguém que queira realmente contribuir com essa área, uma área de que o Brasil tanto precisa, e que possa tomar um novo destino, talvez o de ser político – que na prática já o é –, criando o partido da Lava Jato, que já estrearia nas próximas eleições cheio de candidatos do Judiciário, do Ministério Público, da PF, para ser submetido diretamente ao escrutínio do povo, sem a necessidade de ficar negando essa vontade, como sempre fez por baixo da toga.

    Muito obrigado, Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/05/2019 - Página 21