Discurso durante a 73ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a suposta inépcia do Ministro da Educação para o exercício do cargo.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Considerações sobre a suposta inépcia do Ministro da Educação para o exercício do cargo.
Aparteantes
Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 16/05/2019 - Página 32
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO
Indexação
  • COMENTARIO, AUSENCIA, QUALIFICAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), EXERCICIO, CARGO PUBLICO.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências, meus únicos patrões, seu empregado público Jorge Kajuru, com os senhores e as senhoras, amigos respeitosos deste Senado Federal presentes nesta sessão, presidida por um amigo querido, preparado, que é orgulho do Estado do Amazonas, do nosso querido Amazonas, Plínio Valério, o que esperar de um Ministro da Educação que, ao ser escolhido...

    Senador Paim, o Senador Oriovisto confirmou a mim: "Kajuru, é verdade. Eu me lembro". Na audiência pública dele aqui, no Senado, palavras dele, do novo Ministro da Educação, não minhas, ele informou ao Presidente Bolsonaro que o irmão dele era mais preparado do que ele para a pasta, Senadora Zenaide, ou seja, um administrador que chegou a confessar que não estava preparado para o cargo e que precisaria de uma excepcional equipe para um governo bem-sucedido.

    Se você administra um armazém, um açougue, contrata um funcionário e ele diz: "Eu não estou preparado para esse cargo; o meu irmão é melhor do que eu, é mais preparado do que eu..." Senador Veneziano, o senhor diria o quê? "Então, muito obrigado. Chame o seu irmão, que eu quero conversar com ele." Então, ele confessou, Presidente Plínio, que não é do ramo. Tanto não é do ramo, que primeiro confundiu Kafka com cafta. Pena que Amin, o catarinense, não esteja aqui, pois ele é, como eu, libanês e sabe, inclusive, fazer cafta como ninguém. Ele tem até um vídeo onde assa a cafta.

    Gente, na mesma audiência pública, esse Ministro da Educação, em pergunta feita por mim, não se lembrava do que significava a data de 10 de maio de 1933, na fogueira dos livros, naquele dia triste da destruição da educação em praça pública... E eu passei por isso. Quem é de Goiás sabe. O meu livro, o primeiro dos cinco que escrevi, Dossiê K, foi queimado na Universidade Federal de Goiás, e os estudantes apanhavam dos policiais se tivessem o livro na mão, no primeiro Governo de Marconi Perillo, matéria feita pelo jornal Folha de S.Paulo, com direito a foto inclusive.

    Então, esse Ministro, que confessou não se lembrar dessa data, destruição da educação, porque para mim, ele veio para destruir a educação... Repito, o corte das universidades não é de R$3 bilhões, isso é uma mentira; o corte chega a R$7,2 bilhões, e o Senador Paim sabe disso. Quando eu fui falar a ele da matéria do Jornal do Brasil, ele falou: "Não, eu também vi. Fiz as contas, e o valor é esse".

    E aí eu fico lembrando aqui alguns pensamentos. A gente não mede um homem em seus momentos de conforto e conveniência, mas, sim, nos momentos de desafio e de controvérsia. Não há vida sem correção, sem retificação.

    Eu sou apaixonado pela literatura; porém, não tenho medo de ser amoroso. Amo as gentes, amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade. A humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém. Você talvez nunca vai descobrir quais são os resultados de suas ações, mas, se você não fizer nada, não haverá resultados. Como valeu a pena e vale a pena ler Paulo Freire!

    A cena de ontem, comentada aqui por outros Senadores e relatada na mídia, lá no Palácio, é de me fazer lembrar algo para que vocês rachem de rir um pouco em um dia triste de nossa vida, com o Brasil agindo, indo às ruas, com jovens tratados como idiotas úteis. Líderes amigos do Presidente, diante dele no gabinete, veem o Presidente falando com o Ministro da Educação e dizendo para esquecer tudo, rever e suspender os cortes das universidades – de um ministro que disse que não precisa ensinar nas universidades, não só do Nordeste, do Brasil, segundo ele, nem Filosofia nem Sociologia. Mas voltando. Então, o Presidente ao telefone, à frente dos seus amigos, líderes amigos, um inclusive lá de Goiás, do mesmo partido... Aí esses, ao final da audiência, informam à imprensa, especialmente ao Portal UOL, que o Presidente havia mandado suspender...

    E, aí, a gente teria, hoje, a obrigação de cumprimentá-lo, de elogiá-lo: "Presidente, parabéns! O senhor suspendeu um ato vil, soez, deste Ministro", que eu faço questão de dizer que é o Ministro da falta de educação, e não da educação, até porque ele confessou que não sabe nada, que o irmão, sim, é mais preparado do que ele.

    Eu fico pensando em uma cena: eu estava, como jornalista esportivo, na sede do Vila Nova Futebol Clube, em Goiânia, quando foi contratado um supervisor chamado José Amado Calazans, um farsante, mau caráter, um desses aí do futebol como há tantos. Supervisor, foi comandar o time da nação colorada lá em Goiás. A imprensa toda presente, e eu, jovem, com rigorosamente 17 anos de idade, repórter de campo. Alguns me taxavam já de ser um jovem jornalista sagaz. E eu fiquei vendo a cena em que ele pegou o telefone, Presidente Plínio, na frente dos jornalistas todos, para dizer que era importante, que era famoso, e, esquecendo-se de que, em uma sala ao lado, na sede do Vila Nova, havia um ramal. Ele pegou o telefone e disse: "Neguinho, é Calazans! Neguinho, estou aqui no Vila Nova e preciso de ti. Ajude-me aqui, Neguinho! Você é meu amigo, Neguinho! Ajude-me aqui a indicar jogadores, a fazer contratações. Ajude-me, Neguinho! Eu estou com a imprensa toda aqui".

    Enquanto ele falava...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – eu fui correndo para a outra sala e peguei o ramal, pequei o telefone. Não havia ninguém do outro lado! Pasmem: o "neguinho" com quem ele falava, Senador Confúcio, era o Pelé! Ele enganou toda a imprensa. Ao telefone, chamava o Pelé de neguinho, inclusive. Aí, eu, em flagrante, falei: "O Pelé não está do outro lado da linha, caro José Calazans. O senhor está nos enganando".

    Então, dá-se a impressão de que, ontem, o Presidente fez isso com esses "amigos", entre aspas, líderes dele. Ou seja, ele não falou com ninguém por telefone, porque veio o desmentido, logo depois, de que o Presidente não suspendera absolutamente nada.

    Como esse é o assunto do dia, eu fico aturdido com tudo isso e saio, para concluir, só trazendo aqui, em poucas palavras, a nota publicada hoje pelo jornal O Globo na coluna Radar, do irretocável jornalista bem informado, Lauro Jardim.

    Título: "Toffoli faz conexão Nova York [...] Amapá". 

[O Ministro] Dias Toffoli, [Presidente do Supremo Tribunal Federal, deixará Nova York amanhã, quinta-feira, rumo ao] Amapá. Vai cumprir uma série de compromissos na terra do [Presidente do Senado Federal], Davi Alcolumbre, a quem ele deve o fato de a CPI da Toga não ter ganhado vida no Senado.

    Esta é a notícia.

    Amanhã, portanto, no avião da FAB (Força Aérea Brasileira), com o seu dinheiro, contribuinte deste País, fará uma viagem, conexão...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – ... Nova York-Macapá.

    Desculpa, Presidente. Às vezes, o silêncio não comete erros. Este Governo não aprendeu ainda essa frase, e há outra que eu, com João Saldanha, aprendi: antes de acionar a boca, ligue o cérebro, se é que você o tem.

    Agradecidíssimo.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Kajuru.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Pois não, meu querido Paim.

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para apartear.) – Quero só cumprimentá-lo também, porque o dia está um dia...

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Triste, não é?

    O Sr. Paulo Paim (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Triste, mas com todos os Senadores indo à tribuna e se posicionando, esquecendo as divergências partidárias – é natural que existam – e mesmo ideológicas, mas demonstrando a sua preocupação com o País e para onde vamos. O cenário que está apresentado, em nível nacional, com repercussão internacional, vai levar o País ao caos absoluto, e ninguém quer isso.

    Por isso, eu tenho que cumprimentar o pronunciamento de V. Exa., no mais alto nível, cuidadoso, equilibrado, mas não deixou de dizer que a educação é a salvação de qualquer povo, é o caminho do sucesso de qualquer nação. Por isso, a nossa preocupação. Naturalmente, V. Exa. esboçou aí e falou com muita competência.

    Parabéns a V. Exa.!

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Obrigado, Senador Paim.

    Fico feliz quando V. Sa. fala da minha educação. Por quê? Quando eu falei aqui de amor, eu amo as pessoas. Se eu não puder amar o próximo, prejudicá-lo eu não vou jamais. Quem me conhece – Datena, Heraldo Pereira, crescidos comigo em Ribeirão Preto... Perguntem a eles. Eu sou um homem de coração, eu amo as pessoas, Senador Marcos Rogério. E eu tenho amor pelo meu País. Eu sou patriota mesmo – mesmo! Eu fico envergonhado quando se canta o Hino Nacional brasileiro, e um jogador de futebol não sabe cantá-lo, como o jogador argentino, que até chora.

    Então, eu quero ver este Governo dar certo. Eu não gosto de usar a tribuna para criticá-lo. Eu gosto do Presidente Bolsonaro e torço por ele. Digo aqui que eu não sou oposição; que eu tenho posição. Eu quero vê-lo dar certo porque é bom para mim, é bom para o Brasil, é bom para nós. Eu quero ver o fim do desemprego. Eu quero a saúde bem, a educação bem, a segurança pública bem, o meio ambiente bem. Eu disse aqui à esposa dele, nessa cadeira aqui – Senador Davi estava, Senador Romário estava no dia da homenagem a um projeto sobre doenças raras –, eu disse à Sra. Michelle Bolsonaro: "A senhora é muito sensata, muito sensível. Quero cumprimentá-la. Aliás, eu gosto mais da senhora do que do seu marido". Ainda brinquei com ela; ela riu. Mas eu torço por ele, porque sabotá-lo é sabotar o Brasil.

    Agora, a questão aqui não é de sabotagem. A questão aqui é de abordagem de um tema que parou o Brasil hoje. Gente, educação é prioridade! O resto é perfumaria, já dizia o Prof. Darcy Ribeiro.

    Obrigado pela paciência, Presidente Plínio.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/05/2019 - Página 32