Pronunciamento de Simone Tebet em 21/05/2019
Discurso durante a 77ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Reflexões sobre as manifestações populares ocorridas no último mês de maio de 2019.
- Autor
- Simone Tebet (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/MS)
- Nome completo: Simone Nassar Tebet
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
MOVIMENTO SOCIAL:
- Reflexões sobre as manifestações populares ocorridas no último mês de maio de 2019.
- Publicação
- Publicação no DSF de 22/05/2019 - Página 84
- Assunto
- Outros > MOVIMENTO SOCIAL
- Indexação
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- COMENTARIO, ASSUNTO, MANIFESTAÇÃO, REALIZAÇÃO, POPULAÇÃO, PAIS, BRASIL.
A SRA. SIMONE TEBET (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - MS. Para discursar.) – Obrigada, Sr. Presidente.
Sras. Senadoras, Srs. Senadores, quero ser breve e já, de antemão, pedir desculpas ao Líder do Governo, meu querido amigo e colega de bancada Senador Fernando Bezerra.
Quero dizer a V. Exa. que não ocupo esta tribuna hoje para falar a favor do Governo ou contra o Governo, mas que ocupo esta tribuna para falar a favor do Senado, do Brasil e da democracia.
No dia 26, agora, nós teremos manifestações nas ruas. Que venham as manifestações! Manifestações populares são saudáveis e fortalecem a democracia. Eu acho que não é disso que estamos tratando, nem há divergência a esse respeito entre aqueles que são Governo e aqueles que hoje fazem oposição ao Governo do Presidente Bolsonaro.
O problema não está nas manifestações, Senadora Kátia. Aliás, ainda ontem, praticamente, nós tivemos um exemplo de manifestação saudável na rua quando os nossos jovens aguerridos, no grito, na força, clamaram por mais educação! Os jovens estudantes deram uma lição de mestre em relação à ordem: foram às ruas sem baderna, sem qualquer ameaça, inclusive garantindo, preservando o Estado democrático de direito.
Aliás, hoje, ontem e nos amanheceres passados nos últimos meses, pelos dados do IBGE, há manifestações nas ruas todos os dias antes de o galo cantar: as de 13 milhões de brasileiros que dobram as esquinas, atravessam as praças, as avenidas e vão até as oficinas, os escritórios, as indústrias, atrás de emprego, e infelizmente a crise econômica cria uma barreira. Eles não conseguem passar da sala de espera e retornam às suas casas, passando às vezes por ruas vazias, e encontram nelas 15 milhões de desalentados e desiludidos, pessoas subutilizadas, que vivem do bico ou da dádiva.
Essas manifestações populares são saudáveis. É democracia. O que nós estamos dizendo e queremos dizer para o Presidente e para aqueles que vão para as ruas dia 26: que não apostem no caos. O tempo, o nosso tempo, Senhor Presidente, é o tempo da democracia, porque essa é a nossa essência. Isso exige, Senador Weverton, diálogo, ouvir e dialogar com todos os segmentos da sociedade, não importam os tempos difíceis nem os assuntos mais polêmicos. Esta é a nossa obrigação: mais que ouvir, mais do que dialogar, é saber como fazer.
Óbvio e nós entendemos – a Senadora Rose foi muito feliz – que os tempos são outros, que hoje não se dialoga mais nas praças públicas ou em cima de um palanque. Houve o tempo em que os conflitos eram discutidos, debatidos na roda familiar, na roda de amigos, nos bares da vida. Hoje é on-line, compartilhado pela internet, pelas redes sociais. Esse é o modo de fazer, de governar, e é o modo do Presidente, não há nenhum problema em relação a isso. Mas não é possível que se viva apenas no mundo artificial das redes sociais. Isso significa não olhar para a sociedade como um todo. E a sociedade como um todo não é radical. A sociedade como um todo não quer o caos nem a baderna, quer solução, e solução dentro da democracia e da boa política.
Portanto, as críticas que foram feitas aqui, meu querido amigo Fernando Bezerra, pelo menos da minha parte, não são em relação ao Governo, mas à forma como essa manifestação foi conclamada para ir às ruas. Ela foi conclamada provocando o caos, a instabilidade e o enfraquecimento das instituições democráticas – leia-se Poder Judiciário e Poder Legislativo, mais especificamente o Congresso Nacional. É disso que estamos tratando e é isso que estamos rejeitando.
Ora, querer o caos, enfraquecendo o Congresso Nacional, é ferir de morte a democracia, é querer governar sozinho, e essa ardência da política necessita muito cuidado, ou vai-se caminhar por um tempo que nós não queremos mais que volte. É em relação ao fortalecimento das instituições, é para isso que estamos usando o microfone nesta tarde.
Então, ao encerrar as minhas palavras, eu quero aqui fazer um clamor, fazer um pedido ao Presidente da República. Eu tenho insistido e dito isto: nos ajude a ajudá-lo a ajudar o Brasil, mas através do diálogo. É verdade, ainda há o presidencialismo de coalizão, ainda há o toma lá, dá cá, ainda há o fisiologismo. Ainda há quem procure o Presidente atrás de cargos para poder votar projetos, mas nós não podemos esquecer: isso não é a maioria, é a minoria da minoria, até porque hoje o Congresso Nacional foi renovado em mais de 60%. A população soube escolher ao renovar em 52% ou 54% a Câmara, e aqui em mais de 60%.
E aí, um recado ao Presidente: se é assim, Presidente, Vossa Excelência está conversando com Senadores e Deputados errados. Aliás, não estou me convidando, eu não fui conversar com Vossa Excelência a convite de Vossa Excelência; não estou me convidando, mas me coloco à disposição de Vossa Excelência para ajudá-lo a ajudar o Brasil.
Nas minhas palavras finais – fiz um rascunho aqui –, apenas quero pregar que hoje nós estamos, como disse a Senadora Rose de Freitas, num dos momentos mais difíceis da nossa história. A anomia social, que levou a sociedade a não mais acreditar na classe política e nas suas instituições, tomou tal dimensão que contaminou os Poderes numa anomia institucional: os Poderes não mais se entendem, embaralham as suas atribuições; medidas provisórias que nada têm de urgente e relevante; o Judiciário, num ativismo judicial, legislando no nosso lugar; mas hoje nós estamos naquilo que nós poderíamos chamar de apocalipse institucional, como num grande buraco negro que tudo suga, até mesmo a luz. A democracia é sinônimo de luz. Nós não queremos mais a escuridão neste País.
E aí, eu deixo a minha palavra final, que eu rascunhei aqui: àqueles que ainda pregam o caos, eu pergunto: Quo vadis? Para onde vais? O que querem? Para onde caminham? Mas para aqueles que desejam evitar o caos, como a maioria absoluta da classe política do Congresso Nacional, eu valho-me de Luther King: "Hoje é sempre o dia certo de fazer a coisa certa, da maneira certa. Amanhã é tarde demais".
Era o que tinha para dizer, Sr. Presidente.