Discurso durante a 83ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações a respeito de duas recentes manifestações populares, acerca da restrição orçamentária imposta às universidades públicas e a favor do Governo Bolsonaro.

Defesa de consenso entre as esferas de poder para um diálogo convergente em torno das principais questões do País.

Citação de trechos de discurso do Pastor Martin Luther King .

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Considerações a respeito de duas recentes manifestações populares, acerca da restrição orçamentária imposta às universidades públicas e a favor do Governo Bolsonaro.
PODER EXECUTIVO:
  • Defesa de consenso entre as esferas de poder para um diálogo convergente em torno das principais questões do País.
HOMENAGEM:
  • Citação de trechos de discurso do Pastor Martin Luther King .
Publicação
Publicação no DSF de 28/05/2019 - Página 26
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > PODER EXECUTIVO
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • COMENTARIO, MANIFESTAÇÃO, POPULAÇÃO, OBJETIVO, PROTESTO, RESTRIÇÃO, VERBA, DESTINAÇÃO, EDUCAÇÃO, APOIO, GOVERNO, JAIR BOLSONARO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • DEFESA, DIALOGO, PODER, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, JUDICIARIO, OBJETIVO, SOLUÇÃO, SITUAÇÃO, IMPORTANCIA, PAIS, BRASIL.
  • LEITURA, PARTE, DISCURSO, MARTIN LUTHER KING, ATIVISTA, NEGRO, POLITICO.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências, meus únicos patrões, aqui fala o seu empregado público Jorge Kajuru. Nesta segunda-feira, 27 de maio de 2019, uma vez mais na tribuna e sempre com o prazer dos colegas presentes, como os estimados Paim, Lucas, Marcio, Presidente Izalci, e, é claro, aí, do outro lado, nas redes sociais, na abismal audiência da TV Senado e da Rádio Senado, aqui estamos para mais uma semana de debate e de profunda democracia, e é o que eu já de imediato entro.

    Mais uma vez, faço aqui uma conclamação em favor do País, um dia depois de manifestações em 156 cidades de apoio ao Governo Bolsonaro. É bom lembrar que 12 dias atrás outras manifestações aconteceram em mais de 200 cidades, na ocasião, contra aspectos da política educacional do Governo Bolsonaro, sobretudo a restrição orçamentária imposta às universidades públicas.

    Em bom português, esquerda e direita saíram às ruas do Brasil neste maio de 2019 usando o direito de manifestação para cada grupamento, à sua maneira, defender pontos de vista e pedir ou sugerir saídas para a crise gigantesca que vem consumindo o Brasil nos últimos anos. O tom pacífico das manifestações mostra que a radicalização não prevaleceu e que as instituições democráticas podem se fortalecer ainda mais, desde que seus representantes façam a leitura correta e entendam o essencial desta ocupação do espaço público por brasileiros preocupados com o futuro da Nação.

    A obrigação primeira de quem tem responsabilidade, sobretudo nas esferas de poder, seja Executivo, Legislativo ou Judiciário, é trabalhar, trabalhar e trabalhar. É preciso redobrar nossos esforços em busca da saída deste imenso buraco em que nos encontramos. E o esforço não pode ser uma tarefa restritiva. Ao contrário, tem que ser coletiva e agregar todas as forças do País.

    Para mim, é difícil acreditar que não sejamos capazes de instituir um amplo diálogo nacional, de ignorar os dissensos e de chegar a um ponto de convergência. Alimentando o conflito político, não chegaremos a lugar nenhum, ou melhor, empurraremos o País de vez para o báratro, o precipício, o abismo. Já temos problemas demais, provocados pela incapacidade de diálogo, pelo exagero na defesa das convicções e, ouso dizer aqui, pela falta, Pátria amada, de responsabilidade de boa parte dos agentes de poder.

    Não podemos permitir que o desemprego aumente, que a economia permaneça estagnada, que as praças e ruas dos grandes centros urbanos sejam o retrato da miserabilidade em que se encontra expressiva parcela de nossos irmãos brasileiros. As mudanças são necessárias, inevitáveis na economia, na política, nas relações sociais, mas elas somente vão ter força se forem expressões de consenso, de desapego, de capacidade de doação, de visão coletiva e de ação racional. Como se diz no popular: é preciso baixar a bola. Todos nós precisamos ceder, sinalizar que estamos abertos ao diálogo e cientes de que a causa Brasil é mais importante do que qualquer outra. Temos a obrigação de assumir nossa responsabilidade histórica. Eu já disse mais de uma vez nesta tribuna e repito: nosso objetivo maior é aprimorar as instituições e fazer as várias reformas que, de fato, venham a beneficiar a maioria dos brasileiros. O País precisa, urgentemente, reencontrar o caminho do crescimento e do desenvolvimento econômico.

    Há 56 anos, nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, capital dos Estados Unidos – se lembra bem o Senador Paim –, o Pr. Martin Luther King, ativista pela causa dos negros americanos, falou para 250 mil pessoas, com um discurso que ficou mundialmente conhecido como "eu tenho um sonho". Destaco aqui, para concluir, alguns dos parágrafos, Presidente, Izalci Lucas, dos mais conhecidos, onde ele diz – aspas:

Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios. Achamos que essas verdades são evidentes por elas mesmas, que todos os homens são criados iguais. Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje. O discurso de Martin Luther King é um dos mais estudados e reproduzidos de toda a história do pensamento humano. Linguistas, filósofos, teólogos, profissionais da comunicação, intelectuais de todas as áreas já o examinaram e analisaram a partir de todas as perspectivas. A força desse discurso – não tenho dúvida – está na coragem e na determinação de quem o pronunciou.

    Há cerca de 15 dias falei desta tribuna sobre inquietude, uma das marcas da minha personalidade. Confesso aos senhores, às senhoras e ao Brasil que, na minha inquietude, há uma semelhança do pastor Luther King – digo humildemente, sem comparação –, pois também tenho sonhado. Conhecendo como vive a sofrida população brasileira, de norte a sul deste imenso País, eu sonho com um Brasil cujo desenvolvimento signifique um real bem-estar de todos os segmentos de nossa população, que poderiam neste momento, ao me ouvirem, chamarem-me de utópico no sentido de desejar o impossível. Não. Mas também posso responder que são as utopias que nos permitem visualizar e identificar o objetivo a ser alcançado. Elas são a nossa bússola. Além do mais, uma das motivações mais poderosas que os seres humanos têm é a busca pelo melhor.

    Fechando, eu tenho a mais absoluta certeza de que a maioria dos meus colegas aqui, Lucas, Marcio, que estão dia a dia debatendo, aqui chegaram pela vontade de seus eleitores, e não estão dispostos jamais a fazê-los perder a esperança de um Brasil melhor. A população brasileira está na nossa retaguarda e é a nossa força. Não podemos decepcioná-la. Essa é a realidade.

    Há dias mostrei aqui minha indignação com tantos assuntos. Um país digno dos brasileiros é um país que prezará a participação comunitária. É um país que valorizará os direitos humanos. É um país que protegerá seu meio ambiente e não desmontará os instrumentos de fiscalização das violações. É um país que valorizará as suas atividades culturais, os seus artistas. É um país onde as articulações políticas não se traduzirão em intrigas palacianas. E não perderemos tempo ouvindo um guru dicionarista de palavrões, como disse alguém que nem vive a realidade brasileira.

    Concluo: essa bobagem de alguém querer me questionar: "Senador Kajuru é da direita ou da esquerda?" Eu sou brasileiro, eu amo a Pátria e eu quero ver o meu País melhor, eu quero ver o meu próximo sorrindo, amando a outro próximo, se não puder prejudicá-lo. Eu quero ver empregos, eu quero ver alegria na casa de cada brasileiro, de cada brasileira. Não me posiciono, de forma alguma, pressionado por ninguém, nem por partido, nem por companheiros que, nesse final de semana, vieram me criticar: "Ah, mas Kajuru, você deu espaço às manifestações da direita?" Sim, como dei às manifestações da esquerda.

    Minhas redes sociais são livres, são democráticas. Eu não misturo e não misturarei em hipótese alguma. Quem quiser me aceitar como eu sou, eu sou assim. Quem não quiser, procure um outro para conviver. Eu sou epitáfio: eu aceito as pessoas como elas são. Agora também tenho opinião própria, não importa se ela vai agradar à direita ou à esquerda, mas primeiro ela tem que agradar à minha Pátria amada, à minha consciência, a Deus e à minha, mãe Dona Zezé, merendeira de grupo escolar, que me criou dignamente com um salário mínimo.

    Agradecidíssimo, Presidente, pela paciência do tempo nesta segunda-feira. Uma ótima semana com paz, com saúde e principalmente com Deus, a todos e todas, meus colegas de trabalho, meus respeitosos companheiros deste Senado Federal, do Congresso.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/05/2019 - Página 26