Discurso durante a 84ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação por suposto acordo firmado entre o Governo Federal e o Poder Legislativo, por meio do qual o Coaf ficaria subordinado ao Ministério da Economia.

Insatisfação com a condução da Comissão Parlamentar de Inquérito de Brumadinho e com a não instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito do Judiciário.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL:
  • Indignação por suposto acordo firmado entre o Governo Federal e o Poder Legislativo, por meio do qual o Coaf ficaria subordinado ao Ministério da Economia.
PODER JUDICIARIO:
  • Insatisfação com a condução da Comissão Parlamentar de Inquérito de Brumadinho e com a não instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito do Judiciário.
Publicação
Publicação no DSF de 29/05/2019 - Página 28
Assuntos
Outros > GOVERNO FEDERAL
Outros > PODER JUDICIARIO
Indexação
  • CRITICA, EXISTENCIA, ACORDO, GOVERNO FEDERAL, LEGISLATIVO, RELAÇÃO, CONSELHO DE CONTROLE DE ATIVIDADES FINANCEIRAS (COAF), SUBORDINAÇÃO, MINISTERIO DA ECONOMIA.
  • CRITICA, ADMINISTRAÇÃO, TRABALHO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), MUNICIPIO, BRUMADINHO (MG), AUSENCIA, INSTALAÇÃO, COMISSÃO, INVESTIGAÇÃO, JUDICIARIO.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Há falta de coração. Quando digo que há falta de coração, quero dizer que há falta de paciência. Tenho sido um Jó aqui. Jó era afobado diante de mim, o Jó da Bíblia, Plinio querido.

    Primeiro, quero agradecer ao Senador Lasier pela paciência e pela permuta, algo que é raro entre os colegas, porque eu faço permuta aqui todos os dias, sou o primeiro a chegar, o último a sair, o primeiro a assinar, e não tenho nenhuma dificuldade em fazer permuta com um colega, mas hoje vi aqui que isso parece que é uma missão impossível. Portanto, eu também serei assim agora, ao contrário de quem não for comigo, porque tenho aqui o testemunho do próprio Presidente Chico de que sou gentil e faço questão disso.

    Não vou nem fazer o cumprimento de sempre hoje. Peço desculpas à Pátria amada. Só dou um abraço em todos e todas e o desejo sincero de saúde e paz, principalmente com Deus.

    Se eu pudesse, hoje, senhoras e senhores, e se eu tivesse o apoio da população goiana, que depositou em mim uma votação extraordinária, eu renunciaria. Juro pela minha mãe, Dona Zezé, que me criou com um salário mínimo, e vivi uma vida muito digna, sem ter me faltado nada, com um salário mínimo. Dona Zezé sabe disso, sabe o que eu tenho vivido, assim como minha esposa sabe o que eu tenho passado nos últimos dias.

    Eu não consigo entender mais nada. Senador Oriovisto, é profunda a tristeza de quem entrou na vida pública pensando que poderia fazer algo. Não vou perder jamais a vontade, a ternura, mas a vontade de "chutar o balde" às vezes eu tenho. Eu fico aqui imaginando: o que aconteceu hoje, de manhã, no Palácio, não foi nada além de um acordão. Foi um acordão. Porque a gente vem, defende veementemente o Coaf nas mãos de um homem probo como o Sergio Moro, mas ele abriu mão hoje. E ele abriu mão em nome de quê? Em nome da reforma da previdência. Aqui ninguém baba, não. Se alguém baba, me desculpe, mas eu não babo. Foi em nome da reforma da previdência, evidentemente.

    Ministro Moro, por favor, precisamos da reforma, precisamos do Centrão, porque parece que quem manda neste País hoje é o Centrão lá da Câmara. Só se a gente aqui no Senado realmente perdeu o juízo ou perdeu a inteligência que todos nós possuímos. Esse tal de Centrão manda no País hoje.

    Então, foi um acordão. Nós vamos brigar? Vamos. O primeiro destaque foi feito por mim, com apoio do Senador Amin e de outros Senadores, como o Senador Oriovisto, que também acompanhou o destaque do Senador Alvaro Dias, e nós não vamos abrir mão, não. Vamos até o fim. Que volte para a Câmara! Que este Senado mostre ao Brasil que ele é limpo, que não tem negociata aqui, e que a Câmara faça lá a negociata que o Governo tanto quer para a reforma da previdência.

    E, por falar em reforma da previdência, leiam em seus telefones – saiu agora na imprensa, está no UOL, está no Globo, está no Estadão. Na reunião de hoje cedo, Onyx Lorenzoni e Rodrigo Maia declararam que eles não abrem mão da aposentadoria congressista, dos R$35 mil. Não abrem mão! Então, a reforma da previdência para eles é: "Sacrifiquem os trabalhadores, os mais carentes deste País; nós não vamos abrir mão da nossa boquinha, da nossa aposentadoria luxuosa para o resto da vida; não queremos ser iguais aos trabalhadores que se aposentarão com R$5.800 e olhe lá, e pronto, acabou – e vamos fazer um acordo aqui". Isso chama-se acordo, acordão.

    Aí vem para a nossa mão, e nós vamos decepcionar a Nação hoje? Vamos fazer o que o Governo pediu para nós? Oras, o Governo não manda em mim. Paulo Guedes não manda em mim, não. Porque eu já ouvi aqui barbaridade neste Congresso Nacional, do outro lado do quarteirão, de um Parlamentar dizendo: "Eu? Eu não voto, Kajuru, de acordo com a opinião da população brasileira, não; eu voto, Kajuru, de acordo com os meus interesses. Eu me lixo para o povo." Oras, meu Deus, não dá vontade de renunciar? Sair disto aqui? Que mundo é este em que eu estou? Então, aqui no Senado, onde eu sinto um ambiente melhor, eu tenho que desabafar.

    Domingo nas ruas, o que nós vimos foi a maioria da população querer o fim do Supremo Tribunal Federal, em sua maioria ou minoria, querer impeachment, querer a CPI da toga. Foi isso que nós vimos no Brasil inteiro. E esta Casa não toma providência? Este Congresso não age? Dá impressão de que, aqui no Senado, a gente tem alguma coisa com esse Supremo Tribunal Federal, a gente deve alguma coisa para eles. Eu não devo absolutamente nada e sei que a maioria de vocês aqui não deve. E a gente não conseguiu mais do que 29 assinaturas; porém, suficientes para abrir a CPI. E não conseguimos abrir até hoje!

    Gente, a CPI de Brumadinho está parada. É a primeira CPI desta Casa. Por quê? Porque esse nefasto, esse soez, esse vulpino Gilmar Mendes, agora, além de habeas corpus, ele pede para o convocado da CPI não comparecer; ou seja, é uma proteção judicial que eu nunca vi na minha vida. Significa o quê? Eu vou parar essa CPI de Brumadinho para agradar a Vale, porque não existe almoço de graça, Gilmar Mendes. Ainda mais com você, Gilmar Mendes. Nada seu é de graça. Então, você agrada a Vale, em troca de alguma coisa evidentemente, e a CPI de Brumadinho está parada.

    Hoje a Presidente Rose cancelou a reunião, porque os convocados, através de um pedido meu, de uma acareação, que seria fundamental nos últimos momentos do trabalho, não pôde ser realizada, porque o Sr. Gilmar Mendes, além do habeas corpus, pediu para que ninguém comparecesse. Eram seis os convocados, Senador Lasier.

    Então, o Gilmar Mendes manda aqui no Supremo? Desculpa, manda, no Supremo pode mandar. Mas, aqui no Senado, ele manda? Nós não vamos fazer nada? Vamos continuar assim, esperando aquela palavra do Presidente Davi? "Oportunamente, Senador Kajuru." V.Exa. é poeta? Eu pedi três vezes para ele, fiz essa pergunta para ele. Ele, "oportunamente." Oportunamente, para mim, pode ser nunca. Nós nunca vamos votar aqui – voto aberto no Plenário – se vamos abrir ou não a CPI da toga, que o Brasil quer?

    E ela faz o que ela quer, com habeas corpus, com julgamentos absurdos, com decisões absurdas, solta fulano, solta beltrano e fica tudo por isso mesmo; e, agora, acaba com a CPI de Brumadinho? Acabou! Como é que a CPI vai continuar trabalhando? Todo mundo que é convocado ganha um habeas corpus e, junto com o habeas corpus, o direito de não comparecer. Ah, pelo amor de Deus!

    Nós vamos olhar para os nossos filhos, para os nossos familiares dizendo que estamos concordando, compactuando com tudo isso, com acordões? Porque querem a reforma da previdência a qualquer preço, goela abaixo, pronto e acabou? "E vamos fazer assim, mandamos lá para o Senado".

    Nós temos de dar um exemplo nesta Casa, hoje, de independência, mostrando ao Brasil que existe o joio e que existe o trigo. Que a Câmara se vire! Problema dela! Que ela fique mal com o Brasil! O que não pode é a gente ficar mal!

    Nós, aqui, somos 81 Senadores, a maioria de respeito, de responsabilidade – a maioria absoluta! Vamos dar o exemplo ou, então, deixem fechar esta Casa, como alguns pediram nas ruas, e voltemos para as nossas casas. Agora, não! Vamos ter força, vamos reagir, vamos ficar aqui!

    Haverá reunião de Líderes agora. Vamos saber o que eles vão falar na reunião de Líderes. E, seja qual for a decisão...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Concluo rapidamente, Sr. Presidente.

    Qualquer que seja a decisão da reunião – eu hoje estou falando de improviso, não quero ler nada, quero falar o que o meu coração quer –, a minha decisão é a que vai prevalecer. Eu não me baseio em opinião do Presidente, em opinião do Ministro, em opinião de Líderes; eu me baseio na minha opinião e na opinião da maioria da população brasileira. É assim que vou fazer.

    Vão fazer acordos na Punta del Este! Comigo, não!

    Agradecidíssimo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/05/2019 - Página 28