Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do deferimento do pedido de recuperação judicial da Odebrecht.

Leitura da opinião dos jornalistas Augusto Nunes e José Maria Trindade sobre a Operação Lava Jato.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PODER JUDICIARIO:
  • Considerações acerca do deferimento do pedido de recuperação judicial da Odebrecht.
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Leitura da opinião dos jornalistas Augusto Nunes e José Maria Trindade sobre a Operação Lava Jato.
Publicação
Publicação no DSF de 19/06/2019 - Página 16
Assuntos
Outros > PODER JUDICIARIO
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Indexação
  • COMENTARIO, ASSUNTO, DEFERIMENTO, SOLICITAÇÃO, RECUPERAÇÃO JUDICIAL, EMPRESA, ODEBRECHT S/A.
  • LEITURA, TEXTO, OPINIÃO, JORNALISTA, DIVULGAÇÃO, RADIODIFUSÃO, ASSUNTO, OPERAÇÃO LAVA JATO.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências, meus únicos patrões, seu empregado público Jorge Kajuru sobe a esta tribuna nesta terça-feira, 18 junho de 2019.

    Amigo estimado e respeitado Senador gaúcho Lasier Martins presidindo a sessão, senhoras e senhores, amigo do mesmo modo, respeitado e estimado Senador Reguffe, Pátria amada, lembro-me de Juarez Soares, comentarista de futebol. Lembra-se dele, Lasier, Juarez Soares, comentarista da Band, histórico repórter da Globo? Ele me ensinou algo, Senador Paim, uma frase linda: "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa", ou seja, uma coisa é posse, outra coisa é porte. Imagine alguém com um fuzil nas ruas, vossas excelências! Mas vou deixar para o segundo expediente, porque aí a Casa vai estar lotada, e vamos para o clima, sem medo de nada. Pressão quanto mais houver aí eu fico mais irritado. Então, não liga para o meu gabinete, para o meu telefone porque fica pior.

    A 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo deferiu hoje de manhã o pedido de recuperação judicial da Odebrecht – a maior da história do Brasil, com uma dívida total de R$98,5 bilhões. O Juiz João Rodrigues aceitou o pedido dos advogados da Odebrecht para proteger a participação do grupo na Braskem, Atvos e Ocyan durante o período da recuperação.

    Eu quero transcrever aqui duas opiniões de dois dos maiores jornalistas deste País, entre os poucos que eu respeito, pelos meus 40 anos da mesma profissão. Começo por Augusto Nunes, da rede Jovem Pan de rádio, suas palavras na íntegra sobre este caso ou escândalo:

Não fico perplexo, porque eles não me surpreendem mais. Mas jornalistas, colunistas culpando a Lava Jato pelo desemprego provocado pelas demissões em massa ocorridas em empreiteiras? O que eles queriam, que o BNDES financiasse novas obras para essas empresas, obras para o Governo, que nós pagássemos os rombos abertos pela roubalheira deles?

Eles, os donos dessas empresas, não foram vítimas do combate à corrupção. Eles foram vítimas da corrupção em que se envolveram até o pescoço. Corromperam, foram corrompidos. A Odebrecht foi a maior delas...

Aí vem essa conversinha, que as oito empreiteiras envolvidas tiveram de demitir 350 mil funcionários. Se esse número é real, é maior ainda o pecado cometido por elas, porque esse tipo de gestão tem de ser punido.

Os executivos e os donos dessas empreiteiras têm de ser tratados como responsáveis também pelo desemprego, além do assalto que praticaram contra os cofres do Governo do Brasil.

    Essa foi a opinião do notável Augusto Nunes, na rede Jovem Pan de rádio – e a sigo, a acompanho integralmente. Daí o registro nos Anais do Senado.

    A segunda opinião, José Maria Trindade, da mesma rede Jovem Pan de rádio:

Vou descer a uns detalhes que são polêmicos sobre esse comentário do Augusto Nunes. Há um grande debate sobre isso. Empresas grandes quebraram. E não é só a Odebrecht, não. Houve quebradeira de outras grandes empresas.

O País parou na área de construção pesada. O Brasil é uma referência mundial no desenvolvimento de tecnologia da construção pesada e também da produção de maquinário. O Brasil tem várias máquinas exportadas para o mundo inteiro, como, por exemplo, o famoso tatuzão, que é a última palavra em construção de túneis, desenvolvido aqui no Brasil. E ele é a jato de água, que fura túneis com precisão muito grande e um custo menor.

O Brasil foi ganhando no mundo inteiro respeitabilidade na área de engenharia, de grandes cálculos e de grandes obras. Várias empresas se destacaram.

Logo no início da Lava Jato, ouve toda uma choradeira, desemprego, quebradeira de grandes empresas, a indústria de máquinas reclamando...

Eu, inclusive, conversei com o Presidente da Abimaq, e ele me explicou a situação. Cinco meses depois do início da Lava Jato, o setor estava com máquinas caríssimas de até dezenas de milhões de reais, máquinas encomendadas onde a empresa paga uma percentagem, depois paga outra e quando recebe paga outra. Coisas pesadas, de milhões!

Empresas com essas máquinas encomendadas, algumas para entregar, não sabiam para quem entregar, porque diretores estavam presos, o outro chegava lá e estava fechado. Houve, sim, uma confusão muito grande na área.

E aí vem o Juiz Sergio Moro e diz que calculava isso aí. Era o preço que o País tinha de pagar para chegarmos a uma situação descente, uma relação de mercado, porque se o Governo põe dinheiro e parte do dinheiro vai para a política e para o bolso de políticos ladrões, isso não é uma relação de mercado.

Agora, começa a entrar nos eixos. [Segue José Maria Trindade.] A nossa posição na indústria de construção pesada era irregular, não era posição de mercado. Isso tudo é real e agora começa a entrar nos eixos.

    Resumindo: existe mesmo um desemprego forte nesse setor provocado pela Lava Jato, existe mesmo a quebra de um setor, o da produção de máquinas, existe mesmo a quebra de grandes empresas. Mas é um recomeço, uma esperança.

    Lembro do Senador Pedro Simon, bradando aqui desta tribuna, querendo criar a CPI dos empreiteiros. Essa CPI, se tivesse sido criada, lá atrás, talvez tivesse impedido o que aconteceu na Lava Jato. Os empresários estavam de tocaia à espera de qualquer governante.

    Provo! Investiram muito na campanha da Dilma, investiram muito na campanha de Aécio Neves. Qualquer um que chegasse ao poder, estas empreiteiras estariam bem, estavam armadas até os dentes, nós é que estaríamos mal – e mal, Presidente Paulo Paim.

    Concluo. Aí o José Maria Trindade, brilhante, disse: "A gente tem que lembrar daquela história. Na sua posse, o Governador se vira para o empresário e diz: 'O senhor por aqui?' E o empresário responde: 'Eu é quem falo. O senhor por aqui? O senhor é que é a novidade."

    Registre-se nos Anais desta Casa esse belo dueto de opiniões duras, isentas, independentes e muito bem colocadas por estes dois históricos jornalistas da rede Jovem Pan de rádio, Augusto Nunes e José Maria Trindade, sobre esta notícia de hoje: quase 100 bilhões, nossa querida Odebrecht, recuperação judicial.

    Agradeço pelo tempo, pela paciência, Presidente.

    Vou continuar aqui me preparando e olhando a pesquisa que até agora chegou a 28.663 pessoas no Brasil inteiro, ouvidas pelos meus "zaps" e não pelas minhas redes sociais, pois posso até parecer, mas eu não babo. Nas redes sociais, se eu fizesse pesquisa, daria 90% a favor de tudo, de tudo: fuzil na mão de todo mundo, pronto e acabou. Um Dia de Fúria, Michael Douglas, aquele filme.

    Então, eu fugi dos robôs. Fiz a pesquisa diretamente, com pessoas qualificadas, com pessoas de todas as áreas no Brasil inteiro – médicos, jornalistas, enfim, trabalhadores. Eu pesquisei todos. Há a cópia, tudo printado para quem duvidar, com as pessoas opinando sobre o assunto prioritário de hoje, que será esta votação da posse e do porte de armas.

    Agradecidíssimo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/06/2019 - Página 16