Pronunciamento de Vanderlan Cardoso em 26/06/2019
Discurso durante a 103ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Destaque à necessidade de se discutir a dívida pública brasileira considerando o pagamento dos juros com parte das reservas cambiais.
- Autor
- Vanderlan Cardoso (PP - Progressistas/GO)
- Nome completo: Vanderlan Vieira Cardoso
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
ECONOMIA:
- Destaque à necessidade de se discutir a dívida pública brasileira considerando o pagamento dos juros com parte das reservas cambiais.
- Aparteantes
- Eduardo Girão, Oriovisto Guimarães.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/06/2019 - Página 39
- Assunto
- Outros > ECONOMIA
- Indexação
-
- DEFESA, DISCUSSÃO, DIVIDA PUBLICA, PAIS, UTILIZAÇÃO, RESERVAS CAMBIAIS, PAGAMENTO, JUROS.
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO. Para discursar.) – Sr. Presidente Anastasia, Sras. Senadoras e Srs. Senadores, é uma honra ocupar aqui esta tribuna.
Sr. Presidente, eu pedi hoje para fazer meu pronunciamento, primeiro, para dizer da importância que teve a audiência pública que nós fizemos na CAE, através de um requerimento nosso, para debater e discutir a dívida pública. Acho que tenho até sido repetitivo aqui, no Senado Federal, nesta Casa, e cada vez que eu me aprofundo mais com relação a essa discussão da dívida pública, mais preocupado eu fico e mais nossa dívida está crescendo.
Principalmente agora, Sr. Presidente, quando as discussões em relação à reforma da previdência estão se intensificando, eu estou chegando à conclusão de que a previdência é um problema, sim, a ser resolvido, mas o maior problema que nós temos é essa dívida pública, e nós temos que encará–la. Ou seja, temos que trazer esse debate para o Senado Federal, e já começamos a fazer isso através dessa audiência pública na CAE.
Mas eu quero, aqui, antes de iniciar minha fala, registrar a presença da Vereadora Sabrina Garcês, da cidade de Goiânia, que está nos visitando, é presidente da CCJ, está no segundo mandato em Goiânia, é combativa, não leva desaforo para casa. É combativa, uma inteligência fora do normal. E ela tem contribuído muito com a nossa capital, Goiânia, e com o nosso Estado de Goiás.
Honra-me muito, Vereadora Sabrina, ter a senhora aqui conosco.
Já foi comunicada aqui a presença, Senador Oriovisto, do nosso ex-Senador Wilder Morais, que, com certeza, pelo que todos já falaram, está fazendo falta aqui na Casa. E nós estamos discutindo agora um projeto que é de autoria dele. Num momento em que se fala tanto sobre armas, sobre a posse de armas em área rural, há um projeto dele. Com certeza, o Senador Petecão falou sobre isso. E nós estamos resgatando e vamos aprovar esse projeto aqui porque ele é muito bom, ainda mais vindo do Senador Wilder.
Antes de passar aqui para os números que eu quero aqui apresentar e falar um pouco sobre a questão da dívida, eu quero voltar um pouco, Sr. Presidente, Senadores e vocês que estão nos ouvindo de casa, que estão nos vendo, à minha infância, na cidade de Iporá, onde eu nasci.
Desde a minha infância e adolescência, eu sempre vi e observei no meu pai – um sujeito trabalhador, muito esforçado, que era uma pessoa que trabalhava, que queria fazer as coisas com um esforço muito grande –, embora não entendesse muito, por que é que ele sempre falava que tinha que trabalhar para pagar e resgatar títulos em banco ou, naquela época se falava muito, papagaios. E ali faltavam recursos, já que a gente vem de uma família muito simples, até dentro de casa. Então, eu ouvia sempre ele dizer: "Não dá para comprar isso ou não dá para comprar aquilo, porque nós temos que pagar o banco". E eu pensava comigo: olha...
Dali, da cidade de Iporá, nós fomos para Barra do Garças, em Mato Grosso. De lá, eu saí com 17 anos e fui para o norte do País buscar oportunidades junto com meu pai. Mas sempre observando o quê? Olha, meu pai não faz nada, apesar de trabalhar tanto, não faz nada na vida, só trabalhando para pagar juros, pagar bancos. E eu pensava comigo, Senador Alvaro – que participou conosco da audiência ontem, na CAE –, quando eu tiver meu negócio, quando eu tiver meu próprio negócio não vou querer, em hipótese alguma, levar a minha vida como meu pai, por tanto sofrimento que foi.
E eu me vi, na cidade de Boa Vista, no Estado de Roraima, com um pequeno negócio. E foi numa época em que naquela região houve um garimpo e um movimento muito grande. E nós crescemos ali um pouco desorganizados e sempre comprando mais do que, às vezes, estávamos vendendo, estocando muito. Quando eu vi, eu estava indo ali... Era comum eu ir ao cartório, Senador Oriovisto, e falar até com certo orgulho: "Olha, lá no cartório havia 180 títulos apontados e eu fui lá e resgatei cem hoje". O dono do cartório não podia nem me ver que o sorrisão abria, porque ele dizia: "Eu vou salvar o mês com tantas taxas que eu vou receber". E eu fui levando dessa forma, pagando juros, pagando multas, com aquela inflação muito grande,
que era na década de 80, final da década de 80. E, quando eu me vi, estava igual ao meu pai, sendo o quê? Sendo escravo de banco, de juro, de cartório.
Um dia, por uma palavra de uma pessoa que chegou: "Eu tenho observado" – eu tinha vinte e poucos anos de idade – "a sua correria, o seu esforço e tudo, mas a maneira como você está trabalhando está muito errada: você está aí com um estoque grande de mercadoria, mas paga um juro muito alto. Será que está compensando viver essa vida?" Ele me disse um negócio interessante que eu quero até passar aqui para vocês, que me chamou a atenção, e vem de Provérbios, 22:7, da pessoa mais sábia que houve de milhares e milhares de anos para cá, que foi o Rei Salomão. O que que ele falou nesse provérbio? "Quem toma emprestado é escravo de quem empresta", Senador Oriovisto – é escravo de quem empresta. E ali eu parei e falei: "Mas o que que eu estou fazendo da minha vida?"
O que que eu fui fazer, Senador Anastasia? Baixar o estoque. Fui lá e disse: "A partir de hoje, eu não vou mais pagar juros, eu não vou mais comprar em excesso, vou equilibrar as contas, eu quero prosperar, eu quero viver independente, eu não quero ser escravo de ninguém". E assim eu fiz, e, desde aquela época até hoje, eu tenho esse mesmo pensamento e esse mesmo rumo, e a empresa cresceu, e, graças a Deus, as coisas fluíram.
Por que que eu estou falando isso, Senador Anastasia? Por que que eu fui buscar lá, onde eu nasci, desde que eu comecei engraxando sapatos, feirante e tudo o mais? Porque hoje eu estou no Senado Federal e uma das coisas que eu aprofundei aqui, nas discussões com os Senadores, nas Comissões, é sobre a nossa dívida pública. A nossa dívida pública tem crescido tanto que não adianta: a reforma da previdência é uma gota d'água no oceano, senhores – vocês que estão em casa e estão nos assistindo. Nós temos aqui: nos últimos dez anos nós pagamos, Senador Anastasia, cerca de R$1,8 trilhão de juros, e em 2008 a nossa dívida pública era de R$1,7 trilhão. Depois de dez anos, depois de pagar tudo isso, hoje nós devemos praticamente quase R$6 trilhões; se for atualizar, quase R$6 trilhões, porque, em final de 2008, eram R$5,6 trilhões.
Da mesma forma, eu procurei aprofundar em discussões, tenho conversado com alguns Senadores que já trabalham esse tema aqui, como o Senador Alvaro Dias; conversamos esses dias, não é, Senador, bastante sobre isso, e apresentávamos até mesmo alguns argumentos: por que é que nós não podemos pegar o estoque, Senador Oriovisto, como eu peguei lá em Roraima na época em que eu tinha estoque e devia muito, pagava muitos juros e era escravo?
(Soa a campainha.)
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – E aí fui ver que nós temos recursos. Por exemplo, nós temos aí 400 bilhões de recursos que são em dólares. Onde é que estão esses recursos? Ontem nós ficamos sabendo efetivamente – porque um fala uma coisa, outro fala outra – onde é que estão esses recursos. Quando eu perguntava ao Diretor do Banco Central, ontem – era um dos que estavam ali nos agraciando com a sua presença –, ele dizia: "Olha..." Quando eu perguntei: "O senhor pode me informar quanto tem?" "São quase US$400 bilhões de reserva". "Onde é que estão esses recursos?" "Esses recursos, grande parte deles, cerca de 80%, se eu não me engano, estão em letras do Tesouro americano". "Qual que é o juro desse dinheiro?" "O juro desse dinheiro é de 1,17%". "Sim, mas e o restante está onde, esse restante, que são bilhões e bilhões, que estão em alguns bancos europeus e em alguns bancos americanos? O senhor poderia me informar se esses bancos, que estão pegando dinheiro a 1% do Brasil – o Senador Alvaro estava lá –, têm alguma operação no Brasil?". Ele disse: "Olha, acho que têm, não tenho certeza".
Quer dizer, um diretor do Banco Central tem essas informações. Nós temos recursos aí – Senador Girão, já conversei isso com o senhor – de quase 4 trilhões se nós formos juntar o que tem de empréstimo que é feito, diariamente remunerado, aliás, que é remunerado pelo Banco Central, aos bancos por deixar o dinheiro dormir no Banco Central, que nos últimos 10 anos – esse é um outro número com que eu fiquei estarrecido –, nós pagamos quase R$1 trilhão de juros só desse dinheiro que dorme na conta.
Quanto que é a reforma da previdência? É esse o raciocínio e o debate que nós temos que trazer para esta Casa. Não é 1 trilhão só de juros desse dinheiro que dorme, Senador Oriovisto, no Banco Central, remunerando aos bancos? É uma reforma da previdência.
Então, o problema não é a Previdência; ela vem ajudar. O problema maior que nós temos que enfrentar e trazer ao debate é essa dívida pública.
Nós estamos sendo escravos, como meu pai foi, como eu fui por grande tempo. E hoje, chegando no Senado, quando aprofundo aqui, ouvindo todas essas explicações que eu ouvi ontem, ali na CAE – e eu já tinha alguns dados –, eu digo: misericórdia! Hoje também, como cidadão brasileiro, eu, o senhor, todo o Senado e toda a população brasileira, do menor ali, da pessoa com menor poder aquisitivo ao maior, está sendo escravo desses juros exorbitantes, dessa rolagem da dívida exorbitante.
(Soa a campainha.)
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – Já estou terminando, Sr. Presidente.
Senador Oriovisto, só de reserva para pagamento de rolagem da dívida desse ano nós temos quase R$800 bilhões, para rolagem da dívida.
Então, essa reflexão...
Senador Oriovisto, o senhor quer usar a palavra?
O Sr. Oriovisto Guimarães (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODEMOS - PR. Para apartear.) – Senador Vanderlan, estive lá ontem, aliás a convite seu – belíssima iniciativa, quero lhe cumprimentar por isso. Ouvi atentamente várias explanações, e agora, ouvindo a sua fala, economista que sou, empresário que também sou, acho importante salientar que, às vezes, a gente faz algumas confusões de ordem.
Nem tudo que é verdade em microeconomia é verdade em macroeconomia. Na microeconomia nós tratamos do fluxo de caixa, da tomada de recursos, da aplicação de recursos de empresas, sejam elas do tamanho que forem. Na macroeconomia, nós tratamos da economia de nações, sejam elas pequenas ou grandes.
Na verdade, todos os países do mundo possuem uma dívida interna. Não existe país que não tenha uma dívida interna. O Japão tem, os Estados Unidos têm, a França tem, Portugal tem, todo mundo tem dívida interna. Assim como as empresas, a maioria das empresas têm dívida, principalmente se elas estiverem crescendo. Se elas estiverem crescendo têm constante necessidade de aumentar o capital de giro.
Um fabricante que fabrica copos gasta um certo valor para fabricar cem copos, ele vende esses cem copos, e normalmente quem compra demora 60 a 90 dias para pagá-lo. Esse dinheiro sempre é um dinheiro em que ele não põe a mão, porque sempre vão estar devendo para ele o valor equivalente a cem copos. Se ele dobrar a produção dele, de cem para 200 copos, o capital de giro dele dobra – ele vai precisar, é um dinheiro em que a gente não põe a mão.
Então, dever não é um grande problema. Aliás, tudo o que eu fiz na minha vida, tudo o que eu construí na minha vida como empresário, eu fiz a partir de dívidas que eu tomei em bancos, pagando juro. O problema é saber administrar essa dívida. Dever é normal em qualquer país capitalista.
Fazem confusões enormes na macroeconomia quando misturam, por exemplo, reservas cambiais que não são conversíveis em reais. O Governo teria que emitir papel moeda para convertê-las em reais. Elas servem para nos proteger no comércio internacional, elas nos dão possibilidade de interagir no comércio internacional, mas não se poderia jamais, isso é um mito, pegar esse dinheiro e pagar a dívida interna. Isso não funciona assim. Em macroeconomia é diferente. O senhor, como um empresário, agiu corretamente ao diminuir os estoques e melhorar o seu fluxo de caixa. Perfeito, a sua receita é perfeita.
Quanto mais o senhor puder se autofinanciar é uma despesa a menos que o senhor tem. No caso brasileiro, para conseguir raciocinar um pouco, teríamos que imaginar o País, por um momento que fosse, assim: o País não deve nada, nenhum tostão; aí vamos fazer um círculo e vamos fazer aquela pizza das despesas que aquela senhora que foi lá ontem, que eu não me lembro o nome...
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – Fatorelli.
O Sr. Oriovisto Guimarães (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODEMOS - PR) – Como é o nome dela?
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – Maria Lúcia Fattorelli.
O Sr. Oriovisto Guimarães (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODEMOS - PR) – Pois é, a Sra. Maria Lúcia fez uma confusão de ordem terrível. Deu-me até, com o perdão da palavra, preguiça de argumentar com ela, porque teria que conversar com ela um dia inteiro para explicar a confusão que ela estava fazendo.
Ela fez um gráfico colocando, no meio de todas as despesas, a despesa com os juros da dívida. É de uma tolice total! Se você esquecer a dívida, colocar todas as despesas do Governo, as despesas obrigatórias, as discricionárias, todas as despesas que ele tem, você vai ver que, mesmo que ele não pagasse um centavo de juro, ainda estariam faltando 130 bilhões. Seria como se, na sua empresa, o senhor eliminasse totalmente os bancos e chegasse no final do ano com uma dívida de 130 bilhões. O senhor ia ter que financiar esses 130 bilhões, e a dívida não seria culpada. É claro que esses 130 bilhões vão se somar à dívida que já existe, e é claro que eles vão passar a gerar juros também. Mas ela mistura tudo.
O Governo não tem pago juro nenhum da dívida; a dívida só tem feito aumentar, porque ele emite de títulos, e a dívida sobe por conta disso. O problema do déficit é o déficit primário. Todo mundo que gasta mais do que arrecada um dia quebra, seja a pessoa física, seja a pessoa jurídica, seja na macroeconomia.
Então o nosso problema, a mãe e o pai de todos os males da economia brasileira, que gera infração, que gera juros altos, é o déficit primário, é a irresponsabilidade do Governo de gastar muito mais do que arrecada. São os privilégios que pagamos, é o mau uso do dinheiro público. E aí, é claro, nos endividando sempre. É aquela filosofia de um governante que se endivida cada vez mais, para que o próximo "que se arda". Ele vai sair bem com a população; faz a festa, mas a ressaca fica para o governante seguinte. Só para contribuir com a sua brilhante explanação.
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – Obrigado pela sua colocação, Senador. Eu concordo em algumas partes como que o senhor falou.
Como a gente aprofundou bastante, vamos pegar por exemplo o Japão. A dívida do Japão com relação ao PIB é 200%. Qual que é a diferença do Japão para nós – que nós já estamos aqui quase em torno de 90%? É que no Japão eles fazem dívidas para fazer investimentos e, no Brasil, é diferente, nós estamos fazendo dívidas para pagar despesas e abusos que estão sendo cometidos.
Nos Estados Unidos são cento e poucos por cento. Qual é a diferença dos Estados Unidos? Eles fazem dívidas para investimentos e chegam em países como o nosso, no Brasil, e pegam lá, das nossas reservas, quase 300 bilhões de nossas reservas a 1% e estão emprestando a 5%, 6%. Essa é a diferença.
O que nós defendemos? Se o senhor pegar até 2005, o que nós tínhamos de reserva no País? Até 2005, nós tínhamos 50 bilhões de reservas no País e vivíamos. Aliás, houve um crescimento. Hoje nós temos quase 400.
Qual é a defesa que eu faço, Senador Oriovisto? É que nós não vamos usar todas as reservas – que deixem 100 bilhões. Nós vamos parar de remunerar os bancos diariamente, esses juros que estão se pagando para os bancos, e pegamos esse 1,3 trilhão e jogamos na economia. O senhor pode ter certeza, quando eles forem aplicar esses recursos e jogar na economia, os juros vão baixar, vai gerar emprego e renda – aí a roda gira.
A nossa diferença é essa, nós não estamos dando um basta nisso, o País não está crescendo e nós estamos vivendo de ilusão. Nós estamos rolando uma dívida em torno de 700 bilhões, 800 bilhões por ano, nós estamos pagando juros de quase 300 bilhões, como foi o ano passado, 279 bilhões de juros, e rolando uma dívida para pagar despesa. Zero para investimento!
Nós tivemos, agora, e aprovamos no Senado, uma autorização para o Governo de quase R$250 bilhões. Se o senhor for observar para que são esses recursos, Senador e Sr. Presidente, desses quase R$250 bilhões não tem R$1 para investimento, é só para cobrir despesas!
O que foi feito ali para o programa Minha Casa, Minha Vida? Aquele R$1 bilhão? O que foi feito para as cooperativas, aquelas que trabalham na geração de emprego e renda? O que que foi feito para a indústria? O que foi feito para o agronegócio? O que aumentou? Zero. Só para despesa! E nós autorizamos aqui.
O que eu defendo é o seguinte, não adianta nós termos aqui...
(Soa a campainha.)
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – ... quase R$4 trilhões, Sr. Presidente, se juntarmos tudo isso vai dar em torno disso, e nós estarmos pagando aqui, emprestando dinheiro a 1%, e o banco, como foi aqui, a Selic, chegou a 14,25%, e nós pagarmos 14,25% emprestando a 1%. Gerando emprego nos Estados Unidos, gerando da Europa, Senador Girão, e nós aqui sem condições de entregar dinheiro para quem está gerando emprego e renda numa taxa melhor. São juros de agiota o que está sendo proposto para as empresas, para o agronegócio.
O senhor viu agora que aumentaram os juros. Nós tivemos juro real, quando a Selic estava 14,25%, de 7% ao ano. Nós não podemos falar em desenvolvimento da forma como nós estamos trabalhando.
Então, o que eu estou procurando é o seguinte: nós não precisamos ficar com essa reserva, pagando esse juro absurdo e rolando dívidas, se nós podemos baixar isso e pegar os juros que nós estamos pagando, essa rolagem de dívida, e jogar, parte dele, aqui, no País, para investir na geração de emprego e renda. Essa é a discussão que nós temos que trazer, porque parece que virou tabu aqui no Senado Federal.
Eu estava vendo a equipe econômica do Governo. A equipe econômica do Governo, o Sr. Paulo Guedes, o Ministro, nunca havia tocado no assunto de que a dívida pública era um problema – sempre era a previdência. Depois que nós protocolamos na CAE uma audiência pública chamando o Banco Central, chamando lá alguns que foram esclarecer para nós melhor como é que funciona isso, aí, sim, ele pronunciou: "Não, o segundo maior problema do País – é o segundo – é a dívida pública". E não é. E o primeiro problema do nosso País aqui, eu quero falar para vocês, é a dívida pública; o segundo problema nosso aqui é a reforma de que nós precisamos fazer aqui, é a reforma tributária; depois, é a reforma da previdência. E nós estamos, ao inverso, colocando como se a reforma da previdência fosse resolver todos os problemas dos quase 40 milhões de desempregados que este País tem, pois são 13 milhões mais os que estão vivendo de bico, e não vai resolver! Este é o debate.
Sou favorável, Girão, à reforma da previdência; sou favorável à reforma tributária, mas se nós não trouxermos isso aqui e encararmos, Senador, vou falar uma coisa para o senhor: nós vamos ser escravos desses juros dos bancos, do que estamos pagando. Isso aqui está sendo muito esquecido.
Para mim, o Sr. Paulo Guedes, o nosso Ministro, o que ele ia fazer? A primeira coisa que ele ia fazer é: "A partir de hoje, o Banco Central não remunera mais os bancos. Esse dinheiro eles vão ter que emprestar e, quando forem emprestar esse dinheiro, ele vai para o mercado, e os juros vão cair; quando os juros caírem, as empresas vão ter acesso, a pessoa física vai ter acesso, o profissional liberal." Ou seja, com os juros mais baratos, o pessoal se anima a investir.
(Soa a campainha.)
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – É isso que eu defendo, é isso que eu aprendi na vida. Do contrário, Senador, o que nós vamos ficar aqui debatendo? Reforma da previdência e até mesmo o sexo dos anjos. Agora, só debatemos aqui porte de arma, é isso, é aquilo; se o juiz conversou com o fulano lá, se é legal, se é ilegal; e os problemas do País estão piorando. A cada dia que passa, são empresas fechando. Eu ando por este País, gente! Girão, eu tenho andado pelo País. Agora mesmo, estive lá no seu Ceará, andando pelo Ceará.
Com a palavra, Senador.
O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PODEMOS - CE. Para apartear.) – Senador Vanderlan, demais colegas Senadores, Senadoras, eu tive a oportunidade, Senador Vanderlan, de participar daquela Audiência Pública que foi uma iniciativa de V. Exa. E eu quero aqui lhe dar os parabéns pela sua coragem, pela sua ousadia. Eu confesso que fiquei, assim, escandalizado com o que eu ouvi. Até depois nós conversamos. Não é um assunto que eu domino, mas me parece que tem uma caixa preta ali para ser aberta. Para mim, ficou muito claro isso, até pelas respostas dos profissionais do Banco Central que estavam lá e que, para mim, titubearam em algumas respostas.
Eu acredito que V. Exa. vá urgentemente pedir mais Audiências Públicas sobre esse assunto, porque eu considero que ali pode estar o mapa da mina do nosso País. É alguma coisa que a gente precisa buscar para que se faça a justiça.
A reforma da previdência é importante. Há algumas distorções, que nós vamos analisar, sobre as quais a Câmara vai deliberar nessas próximas semanas, e, depois, ela vai vir aqui para o Senado Federal, mas é importante. A reforma tributária também é fundamental. Eu acredito que ela vai ser uma pauta muito em breve, aqui, no Senado Federal, pelas movimentações que estamos vendo, como a reforma tributária solidária; outra do Deputado Hauly também, que é um trabalho que ele vem desenvolvendo há muito tempo.
Agora, essa questão da dívida pública, aqueles juros exorbitantes dos bancos, isso realmente me causou muita estranheza, o estoque de dinheiro que nós temos aqui. Então, tem que ter uma avaliação melhor e saber as respostas que V. Exa. perguntou, outros Senadores perguntaram e não tiveram ali.
Então, parabéns pela sua coragem. Continue firme! Conte com meu apoio para que a gente busque a verdade.
Obrigado.
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – Obrigado, Senador Girão. Eu quero aqui fazer jus ao que o Senador Alvaro Dias tem postado, tem falado, tem debatido. Projeto de 2008, com relação à dívida pública. Eu tenho acompanhado o senhor. O senhor está atento com relação à dívida pública, o que tem acontecido no nosso País.
Eu não sou economista, não sou melhor do que ninguém, mas eu sei fazer números, como o senhor faz. O Senador Anastasia, que foi Governador, é Senador, sabe fazer conta. Nós aprendemos em casa, a fazer conta, na escola, e a conta não bate, não fecha. Quando você pega o juro que está se apagando com o que é estabelecido por lei, está dando 20%, 30%, 50% a mais do que está na lei. Há alguma coisa estranha acontecendo que precisa de esclarecimentos, como foi o que o cidadão do Banco Central lá, o diretor... Estou com o nome dele aqui, agradeço a todos eles, mas foi o que ele disse.
Eu não sei se esses bancos têm; pode ser que tenham, pode ser que não tenham. Então, tem que ser claro: olha, é assim, acontece desse jeito, é dessa forma.
Então, eu queria aqui, já passou do horário...
(Soa a campainha.)
O SR. VANDERLAN CARDOSO (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/PP - GO) – ... agradecer, Sr. Presidente, essa oportunidade. Tinha mais alguns números aqui, em outra oportunidade, Senador Alvaro, nós vamos debater.
Obrigado a todos. Obrigado pela oportunidade.