Discurso durante a 115ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar aos familiares do músico João Gilberto.

Exposição sobre a comemoração dos 111 anos da imigração japonesa no Brasil.

Autor
Nelsinho Trad (PSD - Partido Social Democrático/MS)
Nome completo: Nelson Trad Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Voto de pesar aos familiares do músico João Gilberto.
CULTURA:
  • Exposição sobre a comemoração dos 111 anos da imigração japonesa no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2019 - Página 50
Assuntos
Outros > HOMENAGEM
Outros > CULTURA
Indexação
  • VOTO DE PESAR, FAMILIA, CANTOR, COMPOSITOR, JOÃO GILBERTO.
  • EXPOSIÇÃO, ASSUNTO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, IMIGRAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, JAPÃO.

    O SR. NELSINHO TRAD (PSD - MS. Para discursar.) – Sr. Presidente, Senador Izalci, estou um pouco prejudicado pelo clima seco que estamos atravessando aqui, na Capital da República. Gostaria de iniciar a minha fala, mas, paradoxalmente, tinha que estar com a voz desse jeito.

    De todo modo, quero aqui reverenciar e aproveitar a oportunidade de fazer uma moção de pesar para os familiares do Pai da Bossa Nova, João Gilberto, que nos deixou ontem, falecendo e deixando um legado enorme na música popular brasileira.

    E também aproveito a oportunidade para fazer alguns comentários a respeito dos 111 anos da imigração japonesa no Brasil.

    Em todo o nosso País, estima-se que o número de imigrantes japoneses seja de 1,5 milhão de pessoas, constituindo, assim, a maior comunidade nipônica fora do país asiático. O ano de 1908, mais de cem anos atrás, marcou o início da imigração japonesa no Brasil, com a chegada, aqui no nosso continente, do navio Kasato Maru ao Porto de Santos, trazendo a bordo 781 japoneses, que vieram descortinar essas terras na América do Sul para trabalhar nas fazendas de café do interior de São Paulo.

    Aproveito esta homenagem aos 111 anos da imigração japonesa no Brasil para falar um pouco da imigração e da comunidade japonesa no meu Estado, querido Mato Grosso do Sul, que atualmente é a terceira maior do País, com quase 80 mil pessoas, de acordo com o último censo da própria Embaixada do Japão.

    Das 781 famílias inicialmente no Brasil, 26 foram para o sul. E o Mato Grosso, Estado uno na época, foi receptivo em função das suas terras férteis, pouco exploradas naquele tempo e pelo clima agradável. A necessidade de mão de obra para a construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, na época considerada um bom emprego, também trouxe imigrantes desiludidos com as fazendas de café de São Paulo e de Minas Gerais.

    Em 1909, um grupo de 75 imigrantes, a maioria natural de Okinawa, lá no Japão, partiu de Santos em um cargueiro fretado pela construtora da ferrovia e veio pelo estuário do Rio da Prata até Porto Esperança, na base das obras da ferrovia, já no Estado uno de Mato Grosso. Devido às dificuldades encontradas na construção da ferrovia, como doenças, ataques indígenas, muitos desses imigrantes japoneses desistiram do trabalho e se concentraram em cidades como Campo Grande e Três Lagoas, onde se dedicaram à produção de hortifrutigranjeiros e de seda e ao setor de serviços. O sucesso fez com que eles atraíssem outros imigrantes para a nossa região.

    Lá no meu Estado, Sr. Presidente, Mato Grosso do Sul, nós temos várias características culturais incorporadas à nossa cultura trazidas pelos imigrantes japoneses. Na culinária, temos como característica da região de Okinawa o sobá e o yakisoba, delícias da culinária japonesa que praticamente estão no dia a dia da alimentação do povo de Campo Grande, do Mato Grosso do Sul. Trouxeram também o karaoke, o taiko, o haicai, o origami e a cerâmica, que hoje integram a nossa cultura.

    Como eles se dedicaram muito à venda de hortifrutigranjeiros, concentra-se, num comércio tradicional da cidade chamado Mercadão Municipal e na Feira Central, grande parte dos descendentes desses imigrantes. Esses pontos constituíram-se na minha cidade, na capital, em pontos turísticos. Quem visita Campo Grande não tem como não ir à Feira Central e ao Mercado Municipal. Seria a mesma coisa de um indivíduo visitar Roma e pelo menos não visualizar a imagem do Papa num dos sermões que ele pratica aos domingos.

    Em homenagem a esse povo que tanto colaborou com o nosso crescimento, Campo Grande instituiu, através dessa cultura, festivais como o Festival do Sobá, o Monumento da Imigração Japonesa, localizado numa praça central do nosso Município, e o Memorial da Imigração Japonesa, que se localiza na esplanada rodoviária.

    Em 2009, inauguramos, quando Prefeito da capital fomos, o Monumento ao Sobá. O sobá é um prato tão peculiar da nossa cultura que nesse mesmo ano foi eleito por voto popular como prato típico da cidade e também é tombado em Campo Grande como patrimônio cultural imaterial.

    A festa Bon Odori está inserida no calendário de comemorações de Campo Grande, no aniversário da cidade, e acontece todos os anos. Ela também é realizada nas cidades de Dourados, a segunda maior cidade do Estado; na cidade de Três Lagoas, que é terceira maior cidade do Estado; e em muitas cidades no interior com a presença das associações japonesas.

    E, por falar em associações japonesas, eles têm várias associações espalhadas pelos quatro cantos da capital Campo Grande. Se não me falha a memória, temos aqui o Clube Nipo Brasileiro, o Clube Okinawa e vários clubes onde os japoneses se encontram e confraternizam.

    As comemorações nas festas culturais são realizadas anualmente e representam uma homenagem aos antepassados com apresentações e participação do público em danças típicas.

    Em Mato Grosso do Sul, também temos o Japan Fest, em Dourados, e a Festa do Ovo, em Terenos.

    Nesses 111 anos de imigração japonesa no Brasil, podemos afirmar que nossa capital e nosso Estado foram e continuam sendo influenciados pela cultura e pela tradição dos imigrantes japoneses nas festividades, na culinária, na tradição e nos costumes milenares que permanecem fortes entre os cidadãos do Mato Grosso do Sul, Estado que eu represento.

    Mais que números em conquistas e na expressão cultural na sociedade, os nipônicos, os japoneses, têm uma relação muito forte na vida, principalmente, de descendentes de imigração, como é o meu caso. Ambos se ajudaram e se tornaram amigos e irmãos na luta pela sobrevivência dos seus descendentes, filhos e netos.

    Deixo aqui, Sr. Presidente, uma singela homenagem, recheada de muito orgulho e de muito respeito a todos os descendentes japoneses, que carregam no sangue os princípios de um povo guerreiro que muito nos orgulha. Com certeza, ajudaram muito o nosso País com a sua força de trabalho, com a sua ética, com a sua educação, com a sua paciência e com a forma e inegável que eles têm de se inserir na nossa sociedade.

    Parabéns a todos os descendentes da comunidade japonesa, que tem, neste Senador, o respeito, a admiração e o carinho por quem sabe valorizar as suas origens.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2019 - Página 50