Discurso durante a 111ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Insatisfação com a inexistência do legado olímpico prometido quando o Rio de Janeiro foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Autor
Romário (PODEMOS - Podemos/RJ)
Nome completo: Romario de Souza Faria
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESPORTO E LAZER:
  • Insatisfação com a inexistência do legado olímpico prometido quando o Rio de Janeiro foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2019 - Página 9
Assunto
Outros > DESPORTO E LAZER
Indexação
  • CRITICA, AUSENCIA, INFRAESTRUTURA, ESPORTE, LOCAL, RIO DE JANEIRO (RJ), OBJETO, PROMESSA, PERIODO, OLIMPIADAS, CIDADE.

    O SR. ROMÁRIO (PODEMOS - RJ. Para discursar.) – Bom dia, Presidente. Bom dia, Sras. Senadoras e Srs. Senadores. Bom dia a todos aqueles que nos ouvem e todos aqueles que nos veem pela TV Senado, desejando aí uma grande quinta-feira para todos e um fim de semana abençoado.

    Dez anos atrás, em outubro de 2009, o País e a cidade do Rio de Janeiro viviam uma expectativa da escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

    Amontoados nas primeiras filas de auditório em Copenhague, na Dinamarca, diversas autoridades públicas brasileiras e cariocas aguardavam, com enorme ansiedade e nervosismo, o anúncio da sede dos Jogos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Após o celebrado anúncio, alguns não se contiveram de tanta felicidade. Pularam em êxtase, em incontida explosão. Não escondiam ali a alegria exuberante que estampavam nas caras e nos gestos.

    Hoje, Sr. Presidente, sabemos o real motivo de tanta euforia, de tanta festa. Alguns dos que pularam naquela celebração estão, atualmente, na cadeia. Outros enfrentam vários processos de desvio de recursos públicos e corrupção. Os guardanapos usados na festa de 2009 hoje servem para secar as lágrimas de arrependimento em delações premiadas.

    E quem pagou toda essa conta, Sr. Presidente, fomos nós, infelizmente, mais uma vez, o contribuinte. Mais de R$41 bilhões de reais foram gastos com os aditivos de sempre, em obras, arenas e equipamentos, cujo funcionamento precário não atendem mais à população, como prometido antes dos jogos.

    O chamado legado olímpico, decantado aos quatro ventos como a solução dos nossos problemas, hoje é apenas um retrato sobrinho e rasgado na parede, um canto de sereia forjado por muitos que encheram os bolsos de dinheiro. Como vêm demostrando, a cada dia, o Tribunal de Contas, o Ministério Público e a Polícia Federal.

    Seja a linha 4 do metrô, cuja obra saltou de R$880 milhões para mais de R$9 bilhões, após farta distribuição de propinas, ou o Parque Olímpico, onde foram encontrados mais de 1.500 vícios de construção, vemos hoje inúmeros casos que, infelizmente, demonstram que estávamos certos ao denunciar lá atrás esses que festejavam, mas hoje confessam seus crimes.

    Diziam que tudo, após os jogos, ficaria à disposição da população do Rio de Janeiro. Hoje, 4 de julho de 2019, temos o Parque Olímpico fechado para o público, sem qualquer plano de conservação e em franco processo de degradação.

    Criada como uma autarquia federal temporária, a Autoridade de Governança do Legado Olímpico teve sua existência finalizada no último dia 30 de junho. Não há, até o momento, nenhum plano concreto de utilização do parque. Não há hoje sequer um órgão para gerir essas instalações. Nem segurança há no local, servindo de ponte para traficantes e usuários de drogas. Esse é o legado olímpico que tanto venderam lá atrás, Sr. Presidente, Sras. Senadoras, Srs. Senadores.

    Na maquete e na promessa havia instalações baratas e sustentáveis, que seriam utilizadas posteriormente pela população do Rio de Janeiro. Tudo muito bonito e segundo o caderno de encargo do COI. Hoje restaram a conta e um monte de entulho, com o qual não sabemos o que fazer.

    Perdemos também a oportunidades do legado humano e desportivo. Após os jogos de 2016, não houve o esperado e o prometido incrementos nas modalidades olímpicas. Nas áreas de mobilidade urbana, acessibilidade e ambiental, pouca coisa saiu do papel, embora muito se tenha alardeado.

    Os investimentos no esporte como um todo, seja na base, ou no alto rendimento, caíram de maneira expressiva. Todos os analistas diziam que os resultados dos jogos de Tóquio, em 2020, deviam expressar esse declínio técnico e financeiro em nosso esporte olímpico.

    Enquanto isso o principal promotor e organizador dos jogos do Rio, Carlos Arthur Nuzman, foi preso por 15 dias e hoje vive sob rígidas medidas cautelares. O ex-Governador Sérgio Cabral, também um dos seus protagonistas, está desde 2016 na cadeia sem previsão de saída e muitos outros estão sob a mira da Justiça.

    A chama olímpica hoje arde no bolso de cada contribuinte carioca e de cada cidadão brasileiro. Os anéis deram lugar às grades das prisões. Roubaram até o ouro e a prata das medalhas. O Rio e o Brasil, depois do sonho olímpico, vivem hoje o pesadelo de um legado que nunca chegou e de uma conta que teima em não acabar.

    Infelizmente, essa é a grande realidade do que ocorreu e do que ocorre depois dos Jogos Olímpicos do meu Estado do Rio de Janeiro.

    Era isso que eu tinha a dizer.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2019 - Página 9