Discurso durante a 111ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre o combate à corrupção no Brasil e sobre a situação econômica do País e do Estado da Bahia. Alerta para a necessidade de mais reformas além da previdenciária.

Autor
Angelo Coronel (PSD - Partido Social Democrático/BA)
Nome completo: Angelo Mario Coronel de Azevedo Martins
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA:
  • Reflexão sobre o combate à corrupção no Brasil e sobre a situação econômica do País e do Estado da Bahia. Alerta para a necessidade de mais reformas além da previdenciária.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2019 - Página 11
Assunto
Outros > ECONOMIA
Indexação
  • COMENTARIO, COMBATE, CORRUPÇÃO, PAIS, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, ESTADO DA BAHIA (BA), DEFESA, NECESSIDADE, AUMENTO, REFORMA, COMPARAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL.

    O SR. ANGELO CORONEL (PSD - BA. Para discursar.) – Sr. Presidente, Srs. Senadores, eu vejo o Senador Izalci presidindo interinamente esta sessão e sinto que, no seu eu, no seu cérebro, ele gostaria de um dia se efetivar como Presidente desta Casa. Evidente que o Senador Chico Rodrigues, esse grande representante do Norte do Brasil, ex-Governador, também almeja este cargo. E eu quero dizer a V. Exas. que estarei nesta Casa para poder exercer o meu voto, para que um de V. Exas. possa assumir um dia efetivamente este cargo. Eu sei que a palavra tem poder.

    Mas eu venho aqui esta manhã, uma manhã especial, cinco meses em que estou neste Senado... Eu hoje recebo a visita da minha esposa, ali presente, Eleusa, minha companheira de 41 anos, minha coordenadora de campanha – um mandato de Prefeito, sete mandatos de Deputado Estadual e, agora, nesses primeiros cinco meses de Senador. Ela que é responsável pelo meu marketing. Não é fácil chegar em casa e ela já ter uma trilha a seguir, ter um roteiro a seguir, e, como homem do interior, há hora em que eu não quero seguir, e aí a palavra dela tem que ser a última, porque senão a coisa não fica fácil em casa.

    De qualquer maneira, quero agradecer a ela por esse companheirismo nesses 41 anos do exercício da vida pública. Ela está ladeada da sua mãe, diretora eterna do nosso Hospital Angelo Martins, a D. Marinalva, hospital esse que eu fundei em 1989, quando eu fui Prefeito da minha cidade, onde nasci, Coração de Maria, hospital que leva o meu nome, atendendo a toda a região sem custar um real para nenhum paciente. São 20 cirurgias por dia, mais de cem atendimentos de urgência e emergência, hospital esse bancado em grande parte pelas empresas das nossas famílias, porque é uma maneira de você mostrar para a sociedade: se Deus te deu, você pode também repartir um pouco para aqueles que mais necessitam.

    Então, a D. Marinalva, que foi fundadora, diz que agora se cansou e veio aqui para o Senado para ver como é que funciona e para ver a diferença da Assembleia, que, realmente, é uma Casa, talvez, com o mesmo número de cadeiras daqui do Senado – lá são 63 Deputados, e aqui, 81, então parece que têm praticamente quase o mesmo tamanho.

    Mas também, meu caro Presidente Izalci, meu caro Senador Chico Rodrigues e demais Senadores, está ali o nosso Senador Arolde, que eu não tenho dúvida de que será futuro Governador do Rio de Janeiro, porque o Rio quer a experiência abalizada para governar os seus destinos e tirar o Rio daquela crise interminável, para que o Rio volte aos seus tempos áureos do nosso cartão-postal, daquela cidade maravilhosa, cidade que hoje é conhecida em todo mundo, mas que precisa efetivamente de uma pessoa abalizada, de uma pessoa ponderada, tranquila. O Rio de Janeiro, com certeza, vai convocar o Senador Arolde de Oliveira para governar os seus destinos daqui a três anos, não tenho dúvida disso. Pena que eu não vou poder transferir o meu título para poder exercer e elegê-lo Governador do Rio de Janeiro, meu caro colega de Partido, Senador Arolde de Oliveira.

    Mas recebo também aqui os meus dois netos – eu tenho três netos, tenho o quarto para nascer. Eu vejo ali o Angelo Terceiro, Angelo Mario Coronel de Azevedo Martins Terceiro, é o meu neto mais velho, 11 anos de idade, e, ali ao lado da minha esposa, está Benício Coronel, nosso segundo neto, por idade. Ele diz que não gosta de política – é o mais velho –, mas eu já vi que o menor tem alguma tendência para a política, porque nunca vi gostar tanto de sentar nessas cadeiras, mas espero que eles não entrem na vida pública. Não é que a vida pública seja ruim, talvez a carreira política seja uma das carreiras mais importantes da nossa República. Se nós temos energia elétrica, é fruto da política; se nós temos Medicina, é fruto da política; se nós temos estradas, são fruto da política. Enfim, a política é responsável por tudo o que acontece nas nossas vidas, no dia a dia, tanto é que nós fazemos política até em casa, com os filhos, com os netos e com a própria esposa.

    Quero aqui cumprimentar meus dois netos – o Benício e o Angelo Terceiro – e o meu afilhado Mathias, que está ali também nessa comitiva da Bahia que veio conhecer o Senado. Estão fazendo a visita guiada, conhecendo as instalações. Ali está a nossa Maluzinha, presente também, amiguinha deles de Brasília, a Maria Fernanda e o Matheus, filhos do Deputado Federal Juscelino, do Democratas, amigos da família. Está ali um time de seis pequenos, de seis garotos e garotas que vieram aqui conhecer por dentro o Senado, o interior do Senado. É muito importante despertar a curiosidade em crianças para conhecerem onde acontecem, onde são votadas as leis, de onde se dirige este País.

    Queria também dizer, meu caro Izalci, que cheguei a esta Casa com 4 milhões de votos, sendo o segundo Senador mais votado da história da Bahia. O Senador Wagner foi o primeiro Senador mais votado. Ele saiu com 1,5% de votos a mais do que Angelo Coronel, nas eleições passadas. Agradeço também a Wagner, porque fizemos um time, fez uma união muito forte o nosso partido, o PSD, com o Partido dos Trabalhadores, na Bahia. Reelegemos o Governador Rui Costa com mais de 70% dos votos. E nos deram o direito de estarmos aqui nos unindo a Otto Alencar, nosso Líder do PSD da Bahia, para que os três representem bem o nosso Estado aqui no Congresso Nacional.

    Queria aqui também fazer um balanço. Quando saí da minha cidade, com nove anos de idade, da idade do meu neto, com uma idade intermediária entre a de Benício e de Angelo, para estudar, interno, em Salvador, só tinha a oportunidade de visitar meu pai e minha mãe em época de Natal. Então, foi uma juventude que consegui precocemente, logo aos nove anos de idade, caro Chico Alencar, morando sozinho. Não é fácil ir para o internato e morar sozinho. Mas até agradeço porque isso, talvez, nos deu a condição de estudar. Por isso, me formei em Engenharia Civil, em Instrumentação Industrial, em Matemática, fiz especialização em concreto, especialização na área financeira, na área de consultoria empresarial. Isso me deu uma bagagem para que possa ajudar o Brasil a entrar nos seus prumos.

    Vivemos hoje uma situação delicadíssima. Sempre digo que o combate à corrupção deve ser, realmente, uma das grandes bandeiras, mas essa corrupção não vem somente de agora: ela já vem de anos e anos no nosso Brasil. Já tivemos várias operações no passado. Não podemos, também, querer centralizar, achar que esse combate à corrupção é somente fruto da determinação de uma só pessoa. Foi um conjunto de pessoas, Senador Arolde de Oliveira, que fez com que a corrupção fosse coibida neste Brasil. Nós temos que louvar o trabalho das polícias, tanto estadual quando federal, o trabalho do Ministério Público, o trabalho também de vários juízes que sentenciaram muitas ações. Não podemos aqui achar, como estão falando hoje, que é somente um homem, que está aí como Ministro da Justiça, que é o responsável pelo combate à corrupção. Quem foi o juiz da época do mensalão? Quem foi o juiz da época dos anões do orçamento? Houve tantas e tantas operações no passado e houve juízes que realmente também exerceram o poder da sua caneta.

    Então, eu discordo muito quando se quer endeusar alguém, porque, quando você endeusa alguém, você está tirando o mérito daqueles que colaboraram para que isso acontecesse. Então, eu não poderia, jamais, deixar de, nesta manhã, louvar o trabalho da Polícia Federal, louvar o trabalho da Polícia Civil, das Polícias Militares dos Estados, o trabalho dos procuradores e promotores, que fizeram com que várias operações pudessem ser desencadeadas e se chegasse ao que se chegou, para podermos, com isso, combater a corrupção.

    Muitas vezes, as pessoas ficam dizendo, e alguns dizem na Bahia: "Ah, Angelo Coronel é contra o juiz Sergio Moro, é contra Dallagnol, por isso fez um requerimento convidando os dois para prestar esclarecimento no Senado". Eu não sou contra. O que eu quero são esclarecimentos. Eu acho que, quando a pessoa não deve, ela não tem por que temer. Quando eu solicitei, meus caros Arolde de Oliveira, Izalci e Chico Rodrigues, que o Ministro Moro e o Procurador Dallagnol autorizassem o Telegram a apresentar as mensagens, foi para quê? Para acabar, de uma vez por todas, com essa ladainha, com essa novela de Ministro ir a comissão A, a comissão B, à Câmara, ao Senado, para esclarecer a mesma coisa que vem falando. Se quebra, se o Telegram fornece essas mensagens, eles vão logo confirmar para aqueles que acham que as mensagens são falsas se eles mentiram ou não, e acaba-se com essa celeuma.

    Eu acho que nós estamos atrapalhando o Brasil. Hoje, essas pautas de combate à corrupção são úteis, são importantes, mas o Brasil está emperrado, a indústria está parada, o Brasil está com mais de 13 milhões de desempregados...

    Eu vejo, na Bahia, o Estaleiro de Paraguaçu, que tinha 6 mil empregos diretos – saiu até no Fantástico do domingo passado –, literalmente, fechado, nem segurança tem. Quem vai pagar esse prejuízo?

    Que se punam os diretores das empresas, mas não podemos punir o CNPJ, não podemos punir a empresa. A empresa pode contratar, o próprio Governo pode intervir contratando profissionais para tocar essas obras para que a nossa economia não pare. E, com esses cinco ou seis anos de operação, a nossa economia está, literalmente, em frangalhos. A nossa economia está deteriorada, porque, tudo bem, de um lado, se combateu a corrupção, mas, de outro, também se deixou a reboque a nossa economia, e quem está pagando por isso é o povo brasileiro, principalmente aqueles que estão desempregados, batendo à porta, muitas vezes, da classe política atrás de emprego.

    Então, eu não posso, jamais, como Senador desta República Federativa do Brasil, me calar. A coragem... Meu pai diz sempre que foi por isso que colocaram meu apelido de Coronel, porque diziam que eu era muito peitudo, que eu não tinha medo de falar. Eu não posso ter medo de falar. O combate à corrupção é bom, repito e insisti várias e várias vezes, mas não podemos parar a nossa economia.

    Sei, pelos empresários com quem converso, porque faço parte da Federação das Indústrias do Estado da Bahia, sou Conselheiro de alguns sindicatos empresariais, que nós estamos sentindo a economia literalmente paralisada, estática. Hoje só se tem uma pauta, que é a da previdência. Até parece que, se votarmos a previdência amanhã, o Brasil vai virar um paraíso no dia seguinte. Nós temos pautas importantes. Temos a pauta da reforma tributária, uma pauta importantíssima. O Brasil é um dos países em que mais se paga imposto no mundo. Precisamos realmente é pegar essa pauta da reforma tributária e colocar aqui neste País um imposto justo tanto para a pessoa física quanto para a pessoa jurídica. Inclusive, já dei entrada até num projeto, já começando pelo Imposto de Renda, isentando quem ganha até cinco salários mínimos de pagar Imposto de Renda, taxando o lucro das empresas, taxando distribuição de dividendos, porque, com isso, não iremos frustrar a receita dos Estados e da União e também iremos reduzir a carga tributária dos que menos ganham. Então, é isso que nós precisamos fazer.

    Devemos sair para fazer essas reformas importantes. A prisão foi boa. Combateu-se a corrupção, mas o Brasil precisa acordar, precisa fazer com que essas pautas acordem e venham logo para esta Casa para serem discutidas e aprovadas, porque senão, Chico Rodrigues, chegaremos ao infinito, vamos assim falar – não é nem ao lugar finito, mas ao infinito –, de incertezas. E essas incertezas... Falo aqui como engenheiro, como empresário e também como político. Não podemos viver mais tempo no país das incertezas.

    Quais são as pautas? Eu estou há cinco meses no Senado, Senador Arolde, Senador Chico Rodrigues, Senador Izalci, e não vi até agora se discutir, nesta Casa, um projeto que fomente a economia brasileira. Não se discutiu nesta Casa um projeto que venha dizer: "Este projeto, se votarmos, vai melhorar a situação do povo brasileiro". Até então, nada! Há pautas que não podem nascer aqui no Senado, que têm que vir do Poder Executivo.

    Então, eu quero, neste momento, nesta quinta-feira, conclamar o PG, o Paulo Guedes, para que mande, paralelamente à previdência, as pautas das reformas para melhorar a vida do povo brasileiro. Se você gera emprego, a indústria produz mais. Se a indústria produz mais, o comércio compra mais. Se o comércio compra mais, o consumidor compra mais. Então, isso é uma engrenagem, é uma roda que tem que estar lubrificada. Hoje, a roda está emperrada, a roda não roda, a roda está paralisada. Precisamos fazer com que a indústria cresça para gerar emprego. A indústria crescendo, o comércio cresce. Com isso, a gente vai ter um povo brasileiro com esperança, pelo menos, de dias melhores.

    Não sou contra o Presidente. Eu sempre disse aqui: "Vim para esta Casa aliado ao Partido dos Trabalhadores, mas o que for de importância para a República brasileira eu estarei aqui pronto para votar, como eu voltei a favor do Governo no quesito das armas, porque eu acho importante armar o cidadão para defender a sua propriedade, principalmente...". Não vou aqui dizer que já fui vítima, mas muitos amigos já foram vítimas, tendo postos de gasolina nas rodovias assaltados, fazendas assaltadas, com produções no pátio sendo roubadas. E o cidadão não tem o direito de ter uma arma para se defender. Não importa se são pautas do Governo. São pautas em que eu acredito, e, se eu acredito, não tenho que olhar o partido a que eu estou filiado. Eu tenho que votar naquilo em que eu tenho convicção de que é bom para o meu Brasil.

    Mas, Srs. Senadores, Sras. Senadoras, eu sempre digo aos meus netos... Não incentivo nenhum deles a entrar na política, mas o meu filho mais novo, o Diego Coronel, que é Deputado Estadual pelo Estado da Bahia e já foi Prefeito também na minha terra – Deputado com mais de 100 mil votos e segundo mais votado do Estado –, um dia, com 16 anos, morando nos Estados Unidos, disse: "Pai, vou voltar para o Brasil depois do meu intercâmbio e quero segui-lo, quero ser político". Eu disse: "Rapaz, esqueça isso. Faça como o seu irmão mais velho, vá para o lado empresarial, vá gerar emprego, vá gerar renda". Ele disse: "Se você fumasse, você não teria autoridade de me pedir para não fumar. Se você é político, você não tem autoridade para que eu não entre na vida pública". Ele simplesmente me desarmou. Foi o Prefeito mais jovem do Brasil e hoje é o Deputado Estadual com uma votação expressiva, fazendo lá um grande mandato. Ele está me escutando neste momento. Um cilindro caiu no seu pé no domingo passado, por ocasião de um evento em que ele visitava a cidade de Remanso. O dedo do pé foi dilacerado. Foram quatro horas e meia de cirurgia para a reconstituição, mas, graças a Deus, já está tudo bem.

    Eu tenho um orgulho muito grande do meu filho Diego, o meu sucessor nessa área política, e um orgulho muito grande também do meu filho mais velho, Angelo Segundo, que está, a esta altura, lá no escritório, que representa... Eu sempre digo: é o dono dos nossos negócios, porque eu já me aposentei da atividade empresarial. Hoje, estou focado na atividade política. Eu sempre digo: política, para mim, não é profissão; política tem que ser por vocação. Eu fui vocacionado, Deus me instruiu, Deus me colocou no caminho da política, tanto é que são sete mandatos, o que não é pouco. São 30 anos ininterruptos de vida pública, e, graças a Deus, ficha limpa. Por isso que eu posso falar à vontade, não tem uma mácula sequer o meu nome. O Dr. Google está aí para responder quando a pessoa consulta. E posso falar aqui de peito aberto e com coragem. E, para você poder falar com coragem, você tem que ter a sua vida e a sua conduta ilibadas.

    Vamos consertar este País! Para isso, é preciso que o Senador Izalci levante essa bandeira, que o Senador Chico, o Senador Arolde, que esta Casa, enfim, levante essa bandeira, porque a bandeira do trabalho é a mais importante. Este Brasil só vai para frente se gerarmos emprego, porque é o emprego que fomenta a economia. E, para isso, nós temos que fazer uma união de todos os partidos deste País, fazer um "blocão", para que deixemos as querelas políticas para o período eleitoral e todos se unam para que possamos colocar este Brasil nos trilhos, independentemente de para quem vão ficar os louros dessa vitória, até porque, para mim, o grande vitorioso não serão os partidos políticos, será o povo brasileiro, que vai começar a olhar para a classe política com mais respeito.

    Hoje, é difícil o povo brasileiro olhar a classe política com respeito. Hoje, o povo brasileiro só vê a classe política com desconfiança, porque, infelizmente, muita lama correu e ainda deve correr na classe política. E nós precisamos resgatar isso, Arolde, precisamos resgatar isso, meu Presidente, para que a gente possa entrar nos aeroportos, nas rodoviárias, nos restaurantes e as pessoas levantem para pegar na nossa mão, e não levantar de uma mesa para nos vaiar. E, para isso, nós temos de nos respeitar e respeitar o povo brasileiro.

    Esse será o papel de Angelo Coronel, que vos fala.

    Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2019 - Página 11