Discurso durante a 134ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ocorrida no Mato Grosso do Sul, entre os dias 21 e 27 de julho. Críticas ao corte de recursos nas universidades federais e comentários sobre os prejuízos para o progresso da ciência e tecnologia do País.

Autor
Jorge Kajuru (PATRIOTA - Patriota/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CIENCIA E TECNOLOGIA:
  • Registro da 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ocorrida no Mato Grosso do Sul, entre os dias 21 e 27 de julho. Críticas ao corte de recursos nas universidades federais e comentários sobre os prejuízos para o progresso da ciência e tecnologia do País.
Publicação
Publicação no DSF de 14/08/2019 - Página 18
Assunto
Outros > CIENCIA E TECNOLOGIA
Indexação
  • REGISTRO, REUNIÃO, SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIENCIA (SBPC), OCORRENCIA, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), CRITICA, CORTE, RECURSOS FINANCEIROS, UNIVERSIDADE FEDERAL, PREJUIZO, PROGRESSO, CIENCIAS, TECNOLOGIA, BRASIL.

    O SR. JORGE KAJURU (PATRIOTA - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, minhas únicas vossas excelências e meus únicos patrões, como empregado público, eu, Jorge Kajuru, volto a esta tribuna, cumprimentando, na terça-feira, 13 de agosto de 2019, todos os amigos aqui presentes, até porque, os Senadores que estão aqui, eu os considero amigos. Os dois que eu considero inimigos, graças a Deus, não estão aqui.

    Bem, nesta semana, Presidente e amigo exemplar Lasier Martins, como jornalista que foi, histórico, as mídias sociais e todos os meios de comunicação deste País estamparam em suas manchetes acontecimentos no mínimo contraditórios: ambos dizem respeito à educação, que é minha preocupação fulcral nesta Casa.

    É nosso papel, como Senadores e Senadoras, fazer leis, analisar, debater, relatar projetos, criar as condições para a emergência de políticas públicas consequentes, capazes de impulsionar o bem-estar de nossa população e viabilizar o desenvolvimento do Brasil e, deste observatório extraordinário que é Brasília, olhar o que está acontecendo no País.

    O Senador histórico desta casa Esperidião Amin deve ter observado que, entre os dias 21 e 27 deste mês de julho, precisamos ficar atentos, pois ocorrerá na cidade de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, a 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. O tema daquele encontro dos cientistas brasileiros é "Ciência e Inovação nas Fronteiras da Bioeconomia, da Diversidade e do Desenvolvimento Social", Senador Humberto.

    A SBPC, como uma entidade civil sem fins lucrativos ou posição político-partidária, defende o avanço científico e tecnológico, o desenvolvimento educacional e cultural e a difusão e a popularização da ciência em todo o Brasil.

    Durante sete dias, milhares de pesquisadores brasileiros e estrangeiros se reunirão na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul para apresentar resultados de suas pesquisas e para debater estratégias e políticas de ciência, tecnologia e inovação.

    O contraditório desta reunião da ciência brasileira é que, por outro lado, como disse há pouco, os meios de comunicação nos mostram, neste mês de agosto, com toda a crueza, os efeitos dos cortes, contingenciamentos e limitações, seja lá o nome que se dê à falta de recursos para a educação neste Brasil, de recursos para o ensino brasileiro e para os pesquisadores.

    Eu fico estupefato e, como disse em meu primeiro pronunciamento sobre os cortes de recursos para educação, eu fico indignado, para não dizer revoltado. O fato é que a ciência brasileira promove, Presidente Lasier, o maior evento científico da América Latina, com as universidades e os centros de pesquisa sofrendo as consequências dos cortes orçamentários.

    Peço a atenção do Senador Amin, que já subiu nesta tribuna para falar de cortes nas universidades.

    Das manchetes que estamos vendo estampadas, Presidente Lasier, primeira: "Com cortes, universidades federais podem interromper atividades". Segunda: "Bloqueios atingem de 15% a 54% dos recursos que podem ser cortados das universidades federais". Terceira: "Reitores cobram do MEC repasse da verba que não foi [...] [encaminhada]". E para fechar o caixão, como dizem os comentaristas esportivos: "Os primeiros efeitos da asfixia financeira [...] sobre as ciências do Brasil".

    A região na qual as universidades mais sofreram cortes foi a Norte, 33,11%; seguida pelo Centro-Oeste, 32,01%; Nordeste, Senador Humberto, 31,52%; Sul, Senador Lasier, 27,62%; Sudeste, Senador Amin, 27,59%.

    Os professores e pesquisadores estão aturdidos sem saber para quem apelar. Esther Colombini, professora do Instituto de Computação da Unicamp, São Paulo, e Diretora de Competições Científicas da Sociedade Brasileira de Computação, também sentiu a mudança de percepção em relação à valorização da educação neste novo País – abro aspas: "Trabalhamos muito além do nosso expediente normal para alavancar a ciência e a inovação – agora somos tratados como o problema [...]". A cientista complementa: "[...] claro que a universidade pública tem problema, mas é, de longe, uma das poucas coisas que [...] funciona [no Brasil]", completa.

    Cortes no orçamento da ciência brasileira são destaque na imprensa internacional. Publicações como Nature, Science, Deutsche Well repercutem o manifesto, também o Financial Times, de entidades ligadas à ciência alertando para o desmonte da área.

    O Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ildeu Moreira, conseguiu ser cristalino, cáustico e até jocoso, ao mesmo tempo, ao dizer – abro aspas: "Nós estávamos rodando com um pneu furado; agora eles tiraram a roda".

    Agora, chegando perto de finalizar a minha peroração, não tenho como não perguntar, Presidente: qual é a importância da ciência para o desenvolvimento de um país? Não vou responder, porque tenho a certeza de que todos os meus pares e a população brasileira sabem a resposta.

    Diante do descaso que vemos pela ciência no Brasil, temos que mudar talvez a pergunta: qual é a importância da política científica para um País? Pergunto. Por tudo que está acontecendo em nosso País, o problema não é a ciência, mas a política científica praticada pelo Brasil hoje.

    É com dor no coração que tenho que concluir...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (PATRIOTA - GO) – ... que – já sabia que ia apitar, por isso expressei concluir – os cientistas brasileiros estão sendo tratados com migalhas, o que nos leva a concluir tristemente que, em consequência, sobram, então, apenas migalhas para a população.

    Para terminar, como é meu feitio, permito-me misturar poeta e cancioneiros. Primeiro, Caetano Veloso, ao dizer, em sua canção É Hoje, "nessa luta do rochedo com o mar", figura a luta dos cientistas do Brasil. Segundo, na mesma direção, o nosso poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, em seu primeiro livro, Alguma Poesia, ao dizer que "tinha uma pedra no meio do caminho", "no meio do caminho tinha uma pedra", parece que pensava nos cientistas brasileiros. E, em terceiro e último, Toquinho e Vinicius de Moraes, ao escrever na canção:

Um menino caminha

E, caminhando, chega no muro

E, ali, logo em frente, a esperar

pela gente o futuro está.

    O poeta e os cancioneiros me fazem lembrar o depoimento da jovem Ágatha Ribeiro, de 25 anos, mestranda em Medicina pela Universidade de São Paulo, abro aspas: "Cortar recursos da educação básica e da ciência é permitir que o futuro de crianças como eu fique para trás", literalmente para trás.

    Obrigado pelo pouco tempo estendido, Presidente Lasier.

    Agradecidíssimo, Pátria amada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/08/2019 - Página 18