Discurso durante a 128ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Censura à condução do julgamento do ex-Presidente Lula pela Operação Lava Jato. Indignação pelo pedido de transferência do ex-Presidente Lula para presídio comum no Estado de São Paulo.

Ponderação sobre o andamento da proposta da reforma da previdência. Pedido de união e respeito à população para o retorno da convivência no País.

Autor
Weverton (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MA)
Nome completo: Weverton Rocha Marques de Sousa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA:
  • Censura à condução do julgamento do ex-Presidente Lula pela Operação Lava Jato. Indignação pelo pedido de transferência do ex-Presidente Lula para presídio comum no Estado de São Paulo.
PREVIDENCIA SOCIAL:
  • Ponderação sobre o andamento da proposta da reforma da previdência. Pedido de união e respeito à população para o retorno da convivência no País.
Publicação
Publicação no DSF de 08/08/2019 - Página 51
Assuntos
Outros > CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA E IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Outros > PREVIDENCIA SOCIAL
Indexação
  • CENSURA, FORMA, JULGAMENTO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, RELAÇÃO, OPERAÇÃO LAVA JATO, REPUDIO, PEDIDO, TRANSFERENCIA, AUTORIDADE, PRESIDIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • COMENTARIO, TRAMITAÇÃO, PROPOSIÇÃO, REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL, SOLICITAÇÃO, POPULAÇÃO, UNIÃO, RESPEITO, RETORNO, VIDA, BRASIL.

    O SR. WEVERTON (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - MA. Para discursar.) – Eu agradeço V. Exa. Srs. Senadores, colegas aqui de Parlamento, toda a imprensa.

    Sr. Presidente, hoje, acho que, dos dez assuntos mais comentados do Twitter, cinco, seis são a questão da transferência do Presidente Lula para São Paulo. Durante esses seis meses de mandato aqui, todos os Congressistas sabem, mesmo com todas as nossas posições muito claras a respeito do que nós pensamos em várias matérias, nós sempre tivemos o cuidado de demonstrar a nossa serenidade na tratativa, acreditando, confiando na Justiça brasileira e também acreditando que o momento é o momento de união. Então, desarmam-se os palanques e unam-se as forças políticas todas do País, unam-se as pessoas de juízo para que a gente possa tentar encontrar, Senador Randolfe, uma solução para os problemas que estão aí, gravíssimos, assolando todo o povo brasileiro: trabalhadores precisando de emprego, nós sabemos que a economia vai de mal a pior, e os números que tentam vender, principalmente a grande mídia, quando tenta passar, através de soluções mirabolantes, que um projeto, A ou B, vai resolver o problema, nós sempre tivemos aqui a consciência e sempre e trouxemos aqui para este Plenário essa clareza de que o que vai resolver o problema, na verdade, é uma boa, grande e forte política, e para isso precisa-se de líderes.

    E é o que está faltando hoje no País, infelizmente. Por isso as pessoas acabam se prendendo a super-heróis, adoram escolher um super-herói achando que ele vai resolver o problema.

    E hoje nós estamos com o Brasil todo dividido. Poderíamos ter tido a oportunidade de unir o País novamente, porque, ao contrário de quatro anos atrás, agora quem perdeu a eleição admite que perdeu a eleição. Então, está fácil saber quem é oposição e que o governo. Há quatro anos, na eleição presidencial, quando a Presidente Dilma ganhou eleição, nós não sabíamos quem era oposição, porque quem perdeu a eleição não se colocou como oposição, e, sim, como um mal perdedor, lutando de todo jeito para derrubá-la – tanto que conseguiu, e isso implodiu todo o sistema.

    Por que que eu estou dizendo isso? Porque não só bastou toda a confusão que foi feita no Brasil e, hoje, a "vaza jato" está aí, confirmando que a prisão do Presidente Lula, de forma célere como foi feita, célere, foi uma forma que fizeram para tirá-lo do jogo democrático, da eleição. Agora, se vê mais um ato. Confesso que todos estão estarrecidos.

    Claro que a turma do ódio, a turma da raiva acha que quanto mais maldade melhor. E nós não podemos aceitar isso, porque, Presidente, veja só: o cronograma deles foi todo cumprido. Processaram de forma rápida, acusaram sem provas, no PowerPoint, um Presidente. E aquele crime pelo qual todos sabem ele está preso, até agora é apenas por delação.

    Mas eu não vou discutir aqui mérito de processo; a única coisa que eu vou dizer é que está claro, Presidente, que essa prisão do Presidente Lula é injusta. Ela é injusta por quê? Porque todos sabem que ele foi preso porque não podia ser candidato, porque se ele fosse candidato ele seria uma ameaça a quem defende a Constituição e a quem diz que defende o Brasil.

    Ora, se defende a Constituição, o Brasil e a democracia, por que ele não teve o direito de enfrentar as urnas? Tudo bem, foi retirado da eleição e foi preso. Agora, depois de preso, a "vaza jato" está aí e, num recado claro que é Lava Jato faz a ela, ela hoje toma essa decisão de transferi-lo para um presídio comum em São Paulo.

    "Ah, o Presidente Lula é igual a todos, é um cidadão comum igual a todos". Presidente, data venia quem ache diferente, mas ele é um ex-Presidente e, assim como todos os outros, merece, sim, todo respeito até porque é um no meio de 200 milhões.

    E eu falo isso aqui com tranquilidade porque eu não sou do Partido dele. Mas nós temos aqui, no mínimo, que ter a serenidade de lembrar que ele foi, por oito anos, o Comandante das Forças Armadas do Brasil. Então, ele não só foi o comandante, Senador Telmário, como também foi um Presidente popular, que saiu com mais de 80% de aprovação do País. Ele foi um Presidente que cuidou dos pobres, que ajudou a promover o emprego pleno – a economia estava aquecida no País.

    Então, eu não estou discutindo aqui acertos e erros. Só estou discutindo que se trata de um ser humano, de uma pessoa que deu uma contribuição para o País, e agora a única coisa que querem muitos é tentar tripudiar, porque não só o tiraram da eleição, não só tiraram dele a chance de disputar democraticamente no voto, não só o privaram da sua liberdade, ao ponto de até na morte de um ente querido seu, todos terem visto a crueldade com que foi tratado o assunto.

    Agora não, agora tem que humilhá-lo, agora tem que expô-lo mesmo, porque melhor ele estar morto para não ser uma ameaça para um projeto de poder futuro.

    Então eu venho aqui para esta Tribuna fazer esta defesa, com muita tranquilidade, e pedir ao País mais amor no coração, mais serenidade, porque não é possível que as pessoas achem que, nesta altura do campeonato, estimular mais raiva e mais ódio vai resolver o problema.

    Hoje a gente sabe que quem precisa esclarecer as dúvidas que estão aí colocadas no ar não é mais quem está preso, e, sim, quem o mandou prender. Senão vejamos, não só a comunidade internacional, mas todo Brasil, as pessoas que pelo menos querem parar para entender o jogo democrático, o que está aí, o Estado de direito, como funciona um País, onde um Juiz investiga, o Juiz julga, e aí, no meio do processo, o Juiz tira a sua camisa e vai virar Ministro do cara que ganhou a eleição contra ele... Parece normal só para quem participou do jogo para ganhar a eleição, mas não é normal.

    Primeiro, que é um absurdo a forma como foi colocado. Lá na CCJ, Senador Otto, o senhor viu lá, o Ministro Moro disse que foi sondado no segundo turno, já para ser Ministro do Bolsonaro. Se ele foi sondado naquele momento e já tinha na cabeça dele que ele poderia vir a ser Ministro de um Presidente que ele estava ajudando com as suas decisões, de lá para cá, quantas decisões ele tomou, de outubro até o final de dezembro, quando ele renunciou à sua magistratura? Além de tudo, todas as decisões que ele tomou durante o processo eleitoral influenciaram diretamente no jogo do time de que hoje ele faz parte, escalado como titular. Então, é preciso que a gente tenha aqui serenidade e saiba, sim, e está claro, que é perseguição, é um motivo de humilhação que querem fazer mais ainda, não só ao Presidente Lula, mas a todos os seus familiares, a maneira como o estão tratando e a maneira como o estão fazendo.

    Espero que o Supremo Tribunal Federal reveja essa decisão e, claro, se ele tiver que ir para algum local, que ele vá para um local mais seguro e um local que ajude a manter a ordem. Nós entendemos o pedido da Polícia Federal do Paraná até porque é claro que muda a rotina. Está-se falando de um líder popular, aliás, um dos maiores líderes populares que a América Latina já teve e tem. Então não é qualquer pessoa.

    E eu faço aqui este apelo, não só ao Supremo Tribunal Federal, mas a toda a sociedade, até aqueles que odeiam o Lula ou quem quer que seja, para que parem um pouquinho para lembrar que todos aqui têm família e que o jogo já terminou, a eleição já terminou.

    Esses que vocês estão defendendo, que estão agora no poder, rezem, orem para que o coração do Presidente Bolsonaro se abra mais, sim, para cuidar do povo pobre deste País, para cuidar dos trabalhadores deste País e para voltar a gerar emprego, que é isso que as pessoas estão querendo.

    O palanque eleitoral já terminou. A eleição presidencial é só daqui a quatro anos, três anos e meio. Então não tem porque continuar nessa luta desnecessária, principalmente quando a oposição reconhece a vitória nas urnas, legítima, no Estado democrático de direito em que vivemos.

    A democracia é isso. Você ganha e você perde. Se você ganha, você é Governo e tem que dar solução aos problemas. Se você perde, você vira oposição, passa a ser um cobrador democrático dentro das normas e, claro, fazendo o bom jogo. Não da forma como querem, que é impor a vontade e quem não vier beijar o santo não vai ter o milagre. Isso é um absurdo! Isso nem em regime de ditadura, porque a gente sabe que em regime de ditadura não se conversa. Mas o Presidente vir dizer que tem que reconhecer e que tem que, entre aspas, bajular o seu Governo para poder ser reconhecido através de ações e de dinheiro para programas é, no mínimo, insensato. E esta Casa não pode permitir. Temos temas importantes que, a partir de agora, nós vamos ter que debater.

    Hoje encerrou-se a discussão sobre a Previdência, lá na Câmara. Vai começar aqui a reforma da previdência. Vamos, de verdade, esclarecer o que está lá naquele texto porque, até agora, a população ainda não sabe, de verdade, o que está escrito ali. Infelizmente! Porque o debate ainda foi raso, há muitas coisas que as pessoas precisam saber. A reforma tributária que esta Casa vai comandar também precisa ser esclarecida para que as pessoas saibam por que queremos diminuir esse número interminável de siglas, que nem o brasileiro conhece, de impostos que paga, no Brasil. As pessoas querem discutir, de verdade, os juros que estão pagando de forma absurda: 300% ao ano, no cartão de crédito e no cheque especial. São bons pagadores, mas, mesmo assim, são tratados de forma pior do que como um agiota trata no mercado negro qualquer devedor. Ou seja, as pessoas querem resolver problemas da vida real e não mais olhar a luta do eu contra eles, do melhor contra o pior.

    Acho que é o momento de chamar todos para o diálogo. Este é o momento de a Casa conduzir. O Presidente Davi, juntamente com todos aqui, tem não só essa responsabilidade, mas essa noção de que ou a gente ajuda a fazer isso, ou não saberemos onde isso tudo vai parar, porque Brasil não é qualquer local, é um País continental, com mais de 200 milhões de habitantes, com todos os tipos de gerações aqui comprometidas. Nós sabemos que, se não der certo hoje, o amanhã já era.

    Então, nós precisamos unir, acima de tudo, as famílias, as pessoas de bem, inclusive aquelas de quem nós não gostamos. Nós temos que, no mínimo, respeitá-los para a gente poder voltar à ordem de convivência no País.

    Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/08/2019 - Página 51