Discurso durante a 136ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 40 anos da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), nos termos do Requerimento nº 168, de 2019, de autoria do Senador Lasier Martins e de outros Senadores.

Autor
Jorge Kajuru (PATRIOTA - Patriota/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 40 anos da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), nos termos do Requerimento nº 168, de 2019, de autoria do Senador Lasier Martins e de outros Senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 16/08/2019 - Página 23
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, FUNDAÇÃO, ASSOCIAÇÃO NACIONAL, JORNAL.

    O SR. JORGE KAJURU (PATRIOTA - GO. Para discursar.) – Obrigado amigo querido e exemplar Senador Lasier Martins.

    Desculpem-me, senhoras e senhores, pelo atraso. Ocorre que está acontecendo agora uma lamentável audiência sobre a tragédia da Chapecoense lá na Comissão de Relações Exteriores, e estão lá representantes de todos os segmentos, inclusive da seguradora que prometeu pagar as indenizações às famílias e não pagou. E eu acabei de fazer uma pergunta, a la Kajuru, para um inglês cara de pau, que em e-mail garantiu que pagaria e não pagou. E aí eu saí de lá agora neste momento nervoso. Só estamos lá, Romário, Leila, eu e o Senador Amin. Eu vou voltar, mas eu não gostaria de forma alguma de ficar ausente, por ser jornalista e por ter me preparado ontem para este momento em que cumprimento o Senador Lasier por esta homenagem.

    Eu gostaria de me dirigir à ANJ, à homenageada pelos seus 40 anos, aos Srs. representantes da Abert e aqui o Presidente, que é um amigo querido que eu tanto respeito, o Tonet, à Aner e demais presentes.

    Eu quero iniciar meu pronunciamento voltando no tempo para lembrar aspectos que acho, que tenho certeza, são curiosos e reveladores sobre o nascimento da nossa imprensa. De um lado o oficialismo, de outro, a rebeldia.

    O primeiro jornal aqui publicado, muitos devem se lembrar, A Gazeta, começou a circular em 10 de setembro de 1808, ano da chegada da família real ao Rio de Janeiro. Apesar de ser órgão oficial do governo português, A Gazeta era editada sob censura prévia para não escapar aos interesses da corte, que queria moldar a seu favor a opinião pública da nova sede do império português.

    Pouco antes de o governo português publicar o seu jornal, Hipólito José da Costa lançou o Correio Braziliense em 1º de julho de 1809, impresso em Londres e trazido clandestinamente para o Brasil.

    A publicação, reconhecida pelos historiadores como o primeiro jornal brasileiro, tinha um quê de caráter ideológico, chamando a atenção para o que qualificava de "defeitos administrativos do Brasil" e se engajou, de imediato, na defesa da emancipação colonial.

    A Gazeta deixou de circular em 1822, com a proclamação da Independência. O Correio Braziliense, também conhecido como Armazém Literário, viveu um pouco mais, depois de ver transformado em realidade o seu ideal de o Brasil deixar de ser colônia, e sobreviveu até 1823, ano da morte, inclusive, de seu criador.

    Feito esse preâmbulo, passo a uma citação recolhida de uma das publicações da homenageada aqui, a Associação Nacional de Jornais, que eu tanto respeito. Essa citação é de Albert Camus, o escritor e ensaísta franco-argelino que nasceu em 1913 e morreu em 1960. Lasier, jornalista que fez história, deve se lembrar dessa citação: "A liberdade de imprensa supõe, antes de mais nada, o direito à reflexão; o delírio é o contrário da liberdade".

    Seguindo o conselho de Camus, vou me permitir, para conclusão, sugerir que a grande reflexão que cabe neste momento à ANJ (Associação Nacional de Jornais), integrada por quase cem associados, que representam cerca de 90% do público leitor de jornais no Brasil nos meios impresso e digital, é sobre o futuro do jornalismo.

    A rigor, o desafio é presente, e enfrentá-lo exige ir além dos postulados básicos da defesa da liberdade de expressão, do livre exercício da profissão e do funcionamento da imprensa sem restrições.

    E não é só tarefa de quem é do ramo. Não; requer o envolvimento de todos os que defendem a democracia, sabedores que somos de uma verdade ensinada pela história. Sem jornalismo independente não há liberdade política. Vivemos tempos em que as práticas reduzem os limites entre o que é público e privado. E a clareza às vezes parece fugidia.

    Na chamada sociedade da transparência é quase impossível para pessoas e instituições deixar de ser objeto de desconfiança e de investigação. E isso vale para a imprensa, que, além dos novos desafios éticos, enfrenta ainda as grandes barreiras econômicas impostas pelos gigantes digitais, sobretudo Google e Facebook, que subtraem receita e audiência dos produtos de conteúdo.

    É uma fase difícil para a imprensa tradicional. Mudar é preciso e é complexo. Em tempos de fake news, pergunto: como a imprensa se mostra útil? Como dar os padrões de cobertura? De que maneira podemos ser eficientes em convencer o público da seriedade de nosso trabalho e sua compatibilidade com a verdade? Como produzir conteúdo atraente para o público dos positivos móveis e mídias sociais? Última pergunta.

    Tenho mais de 40 anos de atividade como jornalista em carreira nacional. Enveredei há algum tempo pelos caminhos das mídias sociais, até porque fui demitido, inclusive ao vivo, por políticos, em 2004, na Band, para defender os cadeirantes que não conseguiam entrar no Mineirão, no jogo Brasil e Argentina. E sem ofender o então Governador de Minas Gerais, apenas ouvindo os cadeirantes revoltados, eu fui o primeiro e único jornalista da história do Brasil a ser demitido ao vivo pela Band, em 4 de junho de 2004.

    E vou dar o nome, porque comigo nada é sem nome – Senador Marcos do Val, o senhor me conhece. Quem mandou me demitir por telefone é hoje Deputado Federal – na época, Governador –, o seu nome é Aécio Neves.

    Então, nesse novo caminho das mídias sociais, e sem ser um teórico, um estudioso, eu me arrisco a dizer que o jornalismo tem uma saída: fazer jornalismo, mostrar cada vez mais o seu valor fundamental para a sociedade, sem o ativismo das redes sociais, sem o sectarismo – histórica Senadora aqui presente, gaúcha Ana – de agrupamentos políticos, sem a soberba dos poderosos, sem a subserviência dos fracos. Ela tem de cumprir o seu papel de informar com isenção, correção, qualidade, técnica, ética, inovação, que dão suporte ao principal valor de aprofundamento do vínculo de um órgão de comunicação com o seu público – resumo: credibilidade.

    Agradecidíssimo, e parabéns pelos 40 anos da ANJ. Ela tem que ser respeitada neste País, especialmente pela classe política atual, que não entende que a liberdade de imprensa é o pilar de uma democracia.

    Agradecidíssimo. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/08/2019 - Página 23