Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação favorável ao posicionamento do Governo Federal em relação à Amazônia.

Autor
Marcio Bittar (MDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Marcio Miguel Bittar
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Manifestação favorável ao posicionamento do Governo Federal em relação à Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2019 - Página 63
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • DEFESA, POSIÇÃO, GOVERNO FEDERAL, PRESIDENTE DA REPUBLICA, JAIR BOLSONARO, REFERENCIA, QUEIMADA, REGIÃO AMAZONICA, MEIO AMBIENTE, COMENTARIO, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC. Para discursar.) – Nobres Senadores, nesses últimos dias, eu tenho impressão, o debate ganhou ares de irracionalidade e emoção, de parte a parte. Nós estamos perdendo uma grande oportunidade de conversarmos mais sobre um tema muito importante, mas à luz da razão. E eu me refiro à questão da Amazônia, à questão do Brasil.

    Veja, Sr. Presidente, a fumaça causada pelo fogo é um problema que o homem tem que enfrentar? É lógico que sim. O homem tem que enfrentar aquilo que ele se julga capaz de resolver. É um problema fácil? Não é. Se fosse fácil, em Portugal, dois anos atrás, não teriam morrido mais de 60 pessoas em decorrência de um fogo que, entre outras coisas, pegou desprevenida uma série de europeus, particularmente portugueses, que morreram no caminho. Se fosse fácil de resolver, a França não teria passado por esse problema há poucos anos. Aliás, a França não conseguiu, Sr. Presidente, evitar, dentro de uma cidade sua, uma das mais famosas do planeta, o fogo que praticamente destruiu a Igreja Notre-Dame. Se fosse fácil, a Austrália não viveria com esse problema. E, se fosse fácil, Sr. Presidente, os Estados Unidos, a maior potência econômica do planeta, não viveria com esse mesmo problema, e num dos estados mais ricos dos Estados Unidos, que é a Califórnia, que quase ano sim outro também, vive esse problema da queimada.

    Portanto, Sr. Presidente, não é fácil de resolver, mas esse é um problema ambiental que o homem tem, sim, que enfrentar. Mas não é, Sr. Presidente, com proselitismo e escondendo dados.

    Primeiro que não é verdadeiro, Kajuru... Como disse agora há pouco aqui o ex-Governador Jayme, o proprietário fazendeiro, que muitas pessoas adoram crucificar, principalmente o pecuarista, não queima sua área, amigo Kajuru, por uma razão simples: se ele queimar, ele vai passar três ou quatro meses... Vai colocar o gado onde? Na cabeça? Isso, Sr. Presidente, é um problema que, ao ser analisado à luz do dia, vai apontar mais perigosamente para as pequenas propriedades, onde o produtor não tem uma estrutura própria para adquirir uma quantidade de máquinas e vai encoivarar, e isso muitas vezes perde o controle.

    Portanto, o fogo e a fumaça são problemas para o homem enfrentar, sim, mas não com demagogia, e não esquecendo, Sr. Presidente, que nós ainda estamos muito longe de alcançar o auge do fogo e da fumaça no Brasil que aconteceu em 2002, em 2003, em 2004, em 2010, em 2011. E naquela época, Sr. Presidente, eu não me lembro de assistir aos mesmos atores que hoje pregam a catástrofe, fazerem nenhum tipo de ação para que o Governo brasileiro, o Brasil, passasse pelo constrangimento por que passa hoje. Será que é porque à época o Presidente era outro, era o Lula? A Ministra era a Marina. Marina Silva foi Ministra do Meio Ambiente do Brasil e ajudou a governar o Acre por 20 anos, que foram os anos em que bateu recorde de queima e, consequentemente, de fumaça na Amazônia. E eu observei um silêncio hipócrita, senão de toda a esquerda, mas de boa parte dela, porque eram outros que estavam no Governo.

    Portanto, Sr. Presidente, fogo e fumaça são um problema, sim, porque inclusive parte dele é criminoso, parte dele é acidental e parte dele, como eu já disse, é provocado inclusive por pequenos produtores que não têm como proteger uma área e não têm como comprar uma máquina. Agora, Sr. Presidente, isso não significa dizer... E eu fico envergonhado quando eu assisto a uma autofagia quase coletiva de brasileiros, de colegas nossos, Sr. Presidente, que me parece que dão razão à mais deslavada e cara de pau campanha internacional para, no mínimo, deixar a Amazônia governada não apenas pelo Brasil.

    O Presidente da República Jair Bolsonaro, concordo com ele toda vez que fala? Lógico que não, mas, Sr. Presidente, talvez o Jair Bolsonaro tenha que dar um presente para Macron. Sabe por quê? Porque o Presidente da República acertou, ele foi no argumento que era o único que uniria o País, que é o argumento da brasilidade, da nacionalidade, do interesse nacional, porque eu já disse da tribuna e repito: o Brasil não manda na Amazônia.

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – Se hoje o Presidente, qualquer que seja ele, determinar para a Agência Nacional do Petróleo que investigue as reservas que foram criadas na Amazônia para, pelo menos, tentar descobrir se tem petróleo e gás, ele não poderá fazer. O que um Prefeito de qualquer cidade do Brasil pode fazer, que é desapropriar uma avenida comercial inteira para duplicá-la em nome da coletividade, o Presidente da República não pode fazer se for na Amazônia.

    E quando o Presidente da França extrapolou o limite da diplomacia, extrapolou o limite da convivência com um país do tamanho do Brasil, deixou claro o seu interesse, lá, na França, que, eu repito, não conseguiu evitar o fogo na Notre-Dame, no centro de Paris. Não conseguiu enfrentar isso e de lá, da França, se arrota no direito de provocar...

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – ... na reunião do G7 para discutir sobre a Amazônia brasileira sem a nossa presença. Portanto, por que o Presidente talvez deveria dar um presente para o Macron? Porque a atitude do Presidente da França deixou evidente que o argumento que fazemos reiteradas vezes nesta tribuna, de que querem e já estão comandando a Amazônia de fora para dentro, é a mais pura verdade.

    No mais, Sr. Presidente e nobres colegas, o que fica de todo esse episódio, primeiro, é que usam dois pesos e duas medidas. Agora, já há colega querendo a prisão, a exoneração de Ministro do Meio Ambiente, que acerta, Líder do Governo. Vou repetir: o Ministro do Meio Ambiente acerta quando diz que o maior problema ambiental do Brasil não está no campo...

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – ... está nas cidades, no esgoto, nos igarapés, como é o caso de Rio Branco, no meu Estado, como é o caso do Amapá.

    Sr. Presidente, V. Exa., que representa tão bem o Amapá, diga, aqui nesta tribuna, o que foi que o Amapá ganhou ao transformar 90% do seu território em área em que o homem não pode mexer mais? O que foi que o índio, que foi praticamente expulso da Raposa do Sol, ganhou no Município, na capital do Amapá? O que ele ganhou na economia? O mesmo que os índios do meu Estado ganharam.

    Então, ficam claros dois pesos e duas medidas, porque o Brasil ainda está longe dos recordes que aconteceram em governos em que essas pessoas nada disseram, porque me parece que eram governos da mesma camarilha.

    Para terminar, Sr. Presidente, quero dizer que esse é um assunto em que o homem pode e deve...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – Um minuto para terminar, Sr. Presidente.

    Esgoto nas cidades, lixo hospitalar, tudo isso é assunto que o homem provocou e que o homem tem que enfrentar para resolver. Agora, olhe a mistura, o homem não dá conta das tarefas difíceis que ele tem para resolver e acha, Sr. Presidente, que pode resolver o problema do clima na Terra.

    Quero deixar aqui uma mensagem. Sr. Presidente, eu sei que está sendo criada ou foi criada a Comissão permanente para analisar o clima, as mudanças climáticas. Eu até brinquei, Sr. Presidente, nesse final de semana, porque um colega nosso, o Senador Nelsinho, ligou-me – e eu não sei se fui eu que entendi errado, ou se foi ele que me passou errado – e disse que ia se criar uma CPI para analisar a razão das mudanças climáticas no Planeta. Sabe o que disse a ele, Presidente? Que o primeiro convidado tinha que ser Deus...

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – ... ou, se ele estiver muito ocupado, tinha que convidar São Pedro, porque só eles, Sr. Presidente, para explicar aquilo que é provado cientificamente desde que o mundo é mundo: há mudança climática. Aí tinha que perguntar para o Criador por que ele fez o Deserto do Saara, que tinha água, ser árido. Tinha que perguntar para o Criador por que o Lago Titicaca, que já foi mar, hoje é de água doce. Tinha que perguntar para o Criador por que as placas tectônicas fizeram a separação e a criação dos continentes. Tinha que perguntar para o Criador, Sr. Presidente, por que nós já vivemos tantas eras glaciais e tanto aquecimento quando a ação do homem era praticamente nenhuma.

    Por isso, Sr. Presidente, eu não quero aqui antecipar juízo de valor, mas acho que uma Comissão permanente para estudar as mudanças climáticas pode ser mais uma enganação...

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – ... e pode chegar a uma conclusão... Se ela chegar a uma conclusão, Bezerra, em quatro, cinco meses, de que o homem muda o clima local, mas não muda o clima no Planeta, a Comissão deixa de existir?

    Por isso, Sr. Presidente, eu quero que...

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – Por isso mesmo, Senador Renan Calheiros, nosso querido Presidente desta Casa por quatro vezes.

    Por isso, eu estou dizendo que, para alguém como eu, que entendo – e não entendo da boca para fora, mas de estudar, de me debruçar sobre o assunto – que o homem não muda o clima no Planeta, ele muda o microclima, para quem entende isso como eu, se a Comissão chegar a essa conclusão científica, ela deixa de existir. Se ela entender, como eu entendo, que a mudança no Planeta acontece desde que o Planeta é planeta, sem ação do homem, ela perde a razão de existir.

    Mas, Sr. Presidente, de qualquer forma, fica esta lição: o Presidente da França deixou claro que...

(Soa a campainha.)

    O SR. MARCIO BITTAR (Bloco Parlamentar Unidos pelo Brasil/MDB - AC) – ... quando nós afirmamos o interesse internacional sobre o solo brasileiro, não é proselitismo, é a mais pura verdade.

    Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2019 - Página 63