Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apreensão com os dados alarmantes sobre o desmatamento amazônico, divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Autor
Rose de Freitas (PODEMOS - Podemos/ES)
Nome completo: Rosilda de Freitas
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MEIO AMBIENTE:
  • Apreensão com os dados alarmantes sobre o desmatamento amazônico, divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2019 - Página 106
Assunto
Outros > MEIO AMBIENTE
Indexação
  • APREENSÃO, DADOS, INFORMAÇÃO, DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA, MEIO AMBIENTE, DIVULGAÇÃO, INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE).

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES. Para discursar.) – Agradeço a V. Exa., Presidente. Vou pedir só um pouquinho de paciência, porque precisarei detalhar esse pronunciamento para que eu possa tratar do assunto que mais importa ao Brasil hoje, que é a questão do desmatamento da Amazônia.

    Sr. Presidente, no início do mês passado, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados alarmantes sobre o desmatamento amazônico que os brasileiros acompanharam.

    Apenas no mês de junho de 2019, mais de 920km² das florestas foram devastados. É uma área, Sr. Presidente, equivalente a quase dez vezes a extensão de Vitória, capital do Espírito Santo.

    O dado isolado já é ruim, mas piora quando comparado à derrubada de um ano atrás, dados que foram questionados por vários outros Parlamentares aqui no Plenário. Em junho de 2019, desmataram-se 88% a mais do que no mesmo mês de 2018. No fim de julho, os dados coletados pelo Inpe alertavam para o desflorestamento adicional de 2.254km² na Amazônia. Isso é mais do que as extensões dos Municípios de São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza somados.

    A urgência agora aumentou, com a intensificação das queimadas e, inegavelmente, merece atenção imediata.

    Nós não temos que discutir aqui, Sr. Presidente, quem tem razão nem ficar falando: "Olha, querem invadir a Amazônia, vão tomar a Amazônia". Eu estou nesta Casa há 32 anos. Nunca vi a Amazônia ameaçada. A discussão é internacional – não adianta dizer que não é.

    Então, até o último dia 18, registrando aqui, cerca de 70 mil pontos de queimadas haviam sido identificados no Brasil, um aumento de 70% em relação ao ano passado e o maior índice registrado desde 2013 pelo Inpe. Em agosto, quase dois terços das queimadas brasileiras se concentraram em território amazônico.

    Há pouco mais de uma semana, a cidade de São Paulo – todos sabem porque isso foi noticiado no Brasil inteiro – sentiu os efeitos das queimadas. Uma enorme nuvem de fumaça oriunda de incêndios na Bolívia, no Paraguai e na Região Amazônica cobriu nossa maior metrópole, transformando a tarde paulistana em noite.

    Preservar o meio ambiente não é coisa de ONGs estrangeiras, de bicho-grilo, de ecochatos, pessoas que falam em preservar o ambiente. Esse é um trabalho nosso, de brasileiros e de brasileiras que estão preocupados com o futuro.

    O Governo Federal pôs em dúvida o número do Inpe, mas admitiu que a cobertura florestal vem diminuindo. Em que pese o argumento dos dois lados, é incontestável a destruição crescente de uma das maiores reservas do Planeta.

    Atualmente, existem cerca de 300 espécies de mamíferos, 1,3 mil espécies de aves e 40 mil de plantas, sem mencionar um sem-número de peixes, répteis, anfíbios e invertebrados, numa área que recobre perto de 50% do Brasil.

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Então, Sr. Presidente, eu estou preocupada com os relatórios que chegam a esta Casa. E esse relatório do Fundo Mundial para a Natureza indicou a descoberta de 379 espécies de flora e fauna na Região Amazônica. Isso não é importante? Ou seja, a riqueza biológica da região, certamente, é maior do que sabemos. Em que outra parte do Planeta, Sr. Presidente, seria possível tamanha biodiversidade? E essa riqueza é nossa. A derrubada indiscriminada em grande velocidade ameaça erradicar todo esse tesouro.

    Eu diria que a floresta já perdeu 20% da sua cobertura original em razão da ação humana, e, se esse processo não for interrompido, parte da Amazônia se transformará em uma savana...

(Interrupção do som.)

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Peço um pouco de tolerância a V. Exa.

    Eu dizia que a savana é um ambiente de biodiversidade significativamente menor.

    Há variações no que diz respeito ao quanto da floresta pode ser destruído até que possamos atingir o ponto de não retorno, quando o dano será irreversível. Alguns estudos apontam a eliminação de 40% de sua superfície original; outros, de 50%.

    Mas todos os dados que foram levantados aqui, o discurso preocupado do nosso Líder, que seja do PMDB, mas Líder nesta Casa... Eu tenho certeza de que todos sabem que nós temos perdas óbvias em relação à floresta da Amazônia. A mais evidente delas, como dissemos, é a extinção da biodiversidade na região.

    Contudo, há também as mudanças do ciclo hidrológico, que eu queria ressaltar que em outras partes do Brasil já começam a danificar...

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – ... o plantio.

    Eu queria perguntar se nós vivemos sozinhos no Planeta, se nós não temos que respeitar a preocupação daqueles que falam da Amazônia como patrimônio da humanidade. Portanto, se os países estão dispostos a colaborar, Sr. Presidente, com a preservação de um dos últimos e riquíssimos sistemas naturais da Terra intactos, por que não aceitar? Nunca tivemos a nossa soberania afetada. Por que não aceitar que ambientalistas possam nos ajudar a preservar o que é nosso? Por que não reconhecer que nós não vivemos sozinhos no Planeta Terra?

    Portanto, eu queria só dizer que o agravamento dos incêndios, a preocupação dos países que se reuniram, tudo que está em jogo nessa tarefa, nessa discussão, ajuda o Brasil, ajuda a refletir.

    Eu quero perguntar...

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – ... que utilidade, Sr. Presidente, haverá em mais pastos ou lavouras se não houver chuvas que possam regar essas terras. Mais terra seca não traz vantagem alguma ao produtor rural. Sem falar que a maior floresta tropical do mundo vale mais em pé do que devastada.

    Era isto, Sr. Presidente, que eu queria abordar de uma maneira até mais superficial, mas sem deixar de ter o compromisso público de dizer que essa fala de que aceitar o recurso para preservar a Amazônia ameaça a soberania do Brasil é falácia. Isso não existe. Há muitos anos aceitamos a participação de outros países, protegendo, preservando também a nossa Amazônia. O que nós não podemos deixar de dizer é que o Governo brasileiro seja ele qual for... Jair Bolsonaro é passageiro, como foi Fernando Henrique, como foram outros Presidentes...

(Soa a campainha.)

    A SRA. ROSE DE FREITAS (PODEMOS - ES) – Mas na luta pelo Brasil não é a soberania só a palavra de ordem; é mais do que isso, é preservar aquilo que nós temos de muito mais importante e rico neste País.

    Eu queria dizer que, em junho, desmataram-se 88% a mais do que no mesmo período em 2018.

    É só um alerta, Sr. Presidente. Agradeço a tolerância de V. Exa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2019 - Página 106