Discurso durante a 166ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar o aniversário de Juscelino Kubitschek e aniversário do Memorial JK.

Autor
Randolfe Rodrigues (REDE - Rede Sustentabilidade/AP)
Nome completo: Randolph Frederich Rodrigues Alves
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar o aniversário de Juscelino Kubitschek e aniversário do Memorial JK.
Publicação
Publicação no DSF de 13/09/2019 - Página 40
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, MEMORIAL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, JUSCELINO KUBITSCHEK.

    O SR. RANDOLFE RODRIGUES (Bloco Parlamentar Senado Independente/REDE - AP. Para discursar.) – Caríssimo Senador Izalci Lucas, representante daqui do Distrito Federal, da Brasília tão sonhada e idealizada por JK, cumprimento também o Sr. Deputado Federal Lafayette de Andrada, companheiro já de caminhadas da Comissão Curadora do Bicentenário da Independência da Câmara e do Senado, que representa aqui a bancada de Minas Gerais, as Minas Gerais de JK.

    Meu cumprimento todo especial ao Senador Paulo Octávio Pereira, permita-me, já meu caro amigo. Obrigado pela honra do convite a estar no Memorial JK e pelas parcerias que estamos estabelecendo.

    Da mesma forma, cumprimento aqui a primeira herdeira, representante, minha querida Anna Christina Kubitschek, neta do Presidente Juscelino Kubitschek. Eu quero, ao cumprimentá-la, Anna, e ao cumprimentar também o Dr. Paulo Octávio, reiterar aqui a parceria que este Senado, em especial através do Conselho Editorial do Senado, com muita honra, estabelece com o Memorial JK.

    Ainda hoje, na cerimônia pela manhã, vocês agradeciam pela parceria. O agradecido devolve o agradecimento. Somos nós do Senado, deste Senado – com esses tapetes azuis, com essa arquitetura de Niemeyer, pensado por Juscelino Kubitschek para sediar aqui –, através do seu Conselho Editorial, que tem a enorme satisfação e honra de, também no dia de hoje, desta sessão solene, fazer o lançamento deste, que é o primeiro de uma série de seis livros, com os discursos do Presidente JK.

    Então, os agradecimentos em meu nome, do Senador Izalci, de todos os Srs. Senadores, desta instituição e do Conselho Editorial do Senado ao Memorial JK e a você, Anna, em especial, pelo papel que o seu avô cumpriu pelo Brasil.

    Em nome também de Anna e do Senador Paulo Octávio, quero cumprimentar todos os familiares e amigos do Presidente JK aqui presentes.

    Quero também cumprimentar o meu querido Sr. Carlos Murilo Felício dos Santos, um dos pioneiros da construção de Brasília, Deputado Federal no período 1959 a 1962. É motivo de grande honra e satisfação tê-lo conosco aqui, neste momento solene, um dos, junto com JK, fundadores pioneiros na construção desta sociedade.

    Cumprimento as autoridades, as missões diplomáticas aqui representadas. Reitero os cumprimentos aos familiares e amigos do Presidente Juscelino, às demais autoridades. Permitam-me, em particular, cumprimentar o Conselheiro Amiraldo Favacho, Conselheiro do Tribunal de Contas do meu Estado, o Amapá, que também tem uma relação direta... A hidrelétrica, as primeiras obras, a instalação da indústria e comércio de minérios... A inauguração da Estrada de Ferro do Amapá, Conselheiro Amiraldo Favacho, que o Senhor conhece tão bem, que liga Santana a Serra do Navio, foi inaugurada no ano de 1957 pelo Presidente Juscelino Kubitschek.

    Já que iniciei falando do Amapá e falando de obras de JK no meu Estado, no Estado do Amapá, eu queria aqui reiterar a enorme emoção desta sessão solene, deste 117º aniversário.

    Alguns podem imaginar... Eu quero falar das obras de Juscelino, mas há uma obra que foi revelada aqui no documentário exibido, ao Senador Izalci utilizar aquela tribuna: a outra obra de Juscelino são as lágrimas que eu vi sendo derramadas por Anna Christina, pelo Sr. Carlos Murilo, por algumas das senhoras e dos senhores, as lágrimas derramadas pelo Senador Izalci, quando se lembrava do seu pai, trazido para cá por Juscelino, porque foi Juscelino que estabeleceu essa epopeia.

    O Brasil é grande, e nós muito nos orgulhamos de sermos a quarta geografia do Planeta, 8,511 milhões de quilômetros quadrados. Essa geografia foi desenhada no século XVIII pela disposição obviamente de bandeirantes, pelo sangue de negros e indígenas derramado, pela determinação de Pombal, mas houve um brasileiro no século XX que consolidou essa fronteira. O Brasil concentrava 80% de sua população no litoral até os anos de Juscelino Kubitschek.

    Brasília não é uma obra qualquer. Brasília, eu já disse de manhã, na cerimônia no Memorial JK, e quero reiterar, é a maior obra da humanidade no século XX. É uma obra equiparada às pirâmides egípcias, à Muralha da China. Imagine o que é a determinação de um governante, nos anos 1950, no final dos anos 1950, em dizer, em alto e bom som, o seguinte: a primeira Constituição falava na transferência da Capital. Já dizia isso a Constituição de 1891 também, no seu art. 4º, aliás, em 1891 é inclusive designada uma missão para vir até o Planalto Central e pensar na construção da Capital, já com as concepções de interiorizar e ocupar o centro do Brasil.

    Só que, mesmo com a determinação nesses textos constitucionais, foi a determinação de Juscelino que levou à condição da construção de Brasília. Imagine o que era, no final dos anos 1950, alguém dizer: "Vamos construir a Capital no Planalto Central".

    Só que não bastou dizer isso, tinha que fazer. Para fazer, não havia estrada; foram feitas as estradas. Para fazer, não havia pontes que ligassem; foram feitas as pontes. Para fazer, não havia energia; foi levada a energia. Para fazer, a região era muito seca, nós sabemos disso nesta época do ano; façamos um lago, foi construído o lago. Governos que antecederam, mesmo havendo a determinação constitucional, não fizeram. Governos que sucederam não fizeram obra igual na história do País. E, repito, foi a maior obra da humanidade nos séculos XX e XXI. Alguns poderiam dizer, ficou em Brasília.

    O Brasil, entre os anos de 1956 e 1960, teve um crescimento superior a 12%. Hoje falam do crescimento chinês, dizem que é um crescimento exponencial, 10%, e este ano vai crescer algo em torno de 6%, 7%. O grande crescimento econômico do século XX foi o crescimento do Brasil, dos anos 1955 até 1960, 1961. Foi um período em que o Brasil se tornou pujante, em que, ao mesmo tempo em que a nossa economia crescia a uma média superior a 14%, 15%, nós construímos Brasília. Nós construímos um projeto de desenvolvimento nacional.

    As ideias de Celso Furtado já falavam na criação da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), as ideias já falavam na construção da Sudam, a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. E o desenvolvimento da Amazônia, que o Presidente JK pensava, é importante destacar. Está aqui no livro, no discurso que ele pronuncia em Manaus, qual modelo que ele pensava de desenvolvimento da Amazônia.

    Manaus, 18 de abril de 1956. Eu quero só destacar um trecho para entendermos um pouco como pensava o Presidente JK:

A solução dos problemas da Amazônia é, em grande parte, facilitada pela existência de uma rede hidrográfica de grande extensão, sem paralelos, construída de rios volumosos e de cursos desimpedidos, o que permite o transporte e o escoamento de sua produção, com recursos minerais ainda mal conhecidos, mas que as pesquisas já realizadas revelam ser conhecidos. É a Amazônia das terras anualmente desabitadas e inexploradas do globo.

    O Presidente JK, em 1956, falava em desenvolver a Amazônia sem abrir estradas e sem devastar a floresta, utilizando as estradas que já estão lá, o potencial hidrográfico, o maior rio navegável do Planeta, o Rio Amazonas. Ele já falava isso em 1956. Já pensava, Conselheiro Amiraldo, o nosso Amapá como um caminho mais rápido da foz de encontro com a China, o Oriente Médio, a Europa, com o encontro com os demais mercados. Já pensava na Amazônia num ponto setentrional de encontro do Brasil. Já pensava na Amazônia como um modelo de desenvolvimento sustentável, sem devastação sem necessidade. Já pensava em um modelo de desenvolvimento sustentável sem devastação da floresta, sem necessidade de grandes queimadas, com a compreensão de que qualquer modelo de desenvolvimento da Amazônia só poderia partir conversando com os povos amazônidas.

    Tudo isso o Presidente JK fez em um período de cinco anos, mas o mais importante de tudo isso que foi feito é que foi feito sob a égide da democracia. Aliás, se há alguém que tinha o exercício democrata, era o Presidente Juscelino Kubitschek. Ele dialogou com o Congresso, dialogou com a imprensa, com o Supremo Tribunal Federal, com as Forças Armadas, com a Igreja, com todas as instituições estabelecidas. E, quando se esgotava o diálogo, ele insistia em mais diálogo, Tinha a convicção de que não havia nenhum caminho que não fosse dentro das regras do Estado democrático de direito. É uma lição para as gerações atuais. É uma lição e um modelo para o Brasil que queremos construir. É possível este País ser grande, ter uma média de desenvolvimento e de crescimento econômico de 13%, de 14%, de 15%, sem que para isso tenhamos que instaurar um regime de exceção, sem que para isso seja necessário ofender a liberdade de imprensa, sem que para isso seja necessário ofender a autonomia dos Poderes e do Congresso Nacional.

    É possível dialogar com as oposições. É possível construir os consensos na diversidade. Não existe essa história de que é possível fazer uma coisa que não seja na democracia. Só é possível para a humanidade construir algo se for na democracia. Fora da democracia não há alternativa. E esse, de todos os ensinamentos do Presidente JK, sem dúvida é o mais importante, é o melhor de todos os legados. (Palmas.)

    É no legado em que temos que nos inspirar. Que fique claro isso para os Parlamentares do presente, para nós, Senadores e Senadoras do presente, para os Deputados e Deputadas do presente, para o Presidente e Vice-Presidente da República, ministros, Governadores e todas as autoridades do presente. Aliás, foi o regime de exceção, a ditadura que nos sequestrou JK, que foi capaz de fazer as barbaridades a que nós assistimos nesse belo documentário da TV Senado.

    Impedir o fundador desta cidade de pousar com a aeronave em condição de emergência na cidade que ele fundou, é a demonstração mais clara que Hannah Arendt tem muita razão quando disse que a maldade, às vezes, quando é banalizada, não tem limite para ser aplicada. É a demonstração mais clara.

    Aliás – aliás –, a vida de JK é para nós um pleito para a democracia, é para nós um ensinamento para a democracia, não só de Juscelino. Repito: nós vivemos, durante e sob a liderança Juscelino, um período de belle époque brasileira, um período em que, ao passo que crescíamos na economia, que construíamos estradas, que tínhamos modelos de desenvolvimento das regiões mais pobres do País, éramos também campeões mundial de futebol, superando, como dizia Nelson Rodrigues, nosso complexo de vira-lata. Tempo em que a Bossa Nova e a música brasileira de João Gilberto, que agora há pouco tempo nos deixou, tomavam conta do mundo e de todos os corações.

    Nós temos que reencontrar esse país, esse país existe dentro de cada um de nós, existe dentro das gerações atuais e das gerações que virão. Existe um país que foi grande, foi belo e foi modelo para o mundo e fez tudo isso com democracia. Esse país, o país não só de Juscelino, de fundadores e de tantos outros, como o pai do Senador Izalci, um país que conviveu naquele mesmo período com posições tão distintas, mas tão geniais como de João Goulart, como de Carlos Lacerda. Aliás, não à toa, quando se instaurou o arbítrio, o regime das trevas e da exceção, os três tiveram a generosidade e a altivez de se associarem e montarem a frente ampla pelo restabelecimento da democracia. Não acaso, não acaso que a morte dos três ocorre sob circunstâncias suspeitas no mesmo e fatídico ano de 1976. Foi um período de gerações de lideranças políticas que tem que inspirar a todos nós e, mais que inspirar a todos nós, nós temos que sempre olhar.

    Eu quero, mais uma vez, Anna Christina e Dr. Paulo Octavio, agradecer ao Memorial JK.

    Este é o primeiro da série. Aqui as senhoras, os senhores e todos, que procurarem nessa obra os discursos do Presidente JK em 1956, encontrarão o pronunciamento dele quando diplomado Presidente da República e verão, nos diferentes discursos aqui, como este sobre a Amazônia, pronunciado em Manaus, e tantos e tantos outros, um Presidente que tinha uma belíssima oratória, mas mais do que a belíssima oratória era louco por fazer. A cada palavra de JK nós vemos a sequência de um fato sendo realizado. Ele faz questão e inclusive diz isso, Anna Christina, no discurso da Amazônia: não pronunciarei palavras em vão que não possa cumprir – outro grande ensinamento para as gerações atuais da política. Não fez nenhum tipo de pronunciamento que não tivesse a base concreta para a realização.

    Repito: este é o primeiro, nós teremos mais outros cinco livros, cada um relativo a um dos anos do Presidente JK. E eu quero, Dr. Paulo Octavio e Dra. Anna Christina, colocar o conselho editorial à disposição, porque há uma outra fase do Presidente JK que nós temos que também publicar: a fase do Presidente JK Senador por Goiás, os seus pleitos e suas ações como Senador e os belos pronunciamentos que fez já nesta tribuna do Senado, neste Senado arquitetado e construído na Brasília que ele edificou.

    Eu que tenho, na verdade, que agradecer; agradecer pelo Senado por termos trazido esta lembrança, por termos trazido esta referência, não para nós, mas em especial para o Brasil.

    O Brasil tem que reencontrar esse país, esse país que cresceu como nenhum outro país no mundo cresceu, esse país da música que encantou todos os povos do Planeta, esse país do futebol e da ginga, mas esse país também capaz de liderar um processo civilizacional neste Planeta, o país idealizado e sonhado por Juscelino Kubitschek está em algum lugar. Que nós brasileiros o encontremos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/09/2019 - Página 40